28 fevereiro 2011

O CONCURSO

Está aberto o concurso para um lugar de assistente à acção educativa.
Os candidatos ficarão deste modo a saber quais as funções implicadas no contrato.
A função principal do assistente será a de assistir aos registos efectuados pelas câmaras de vigilância da escola nuns ecrãs que estarão situados no posto de saúde, pelo que deverão estar familiarizados com os professores do departamento que mais usa esse espaço.
O candidato não pode sofrer de doença ortopédica ao nível da cervical e não pode sofrer de daltonismo. Deve identificar alguns objectos que podem circular pela escola e quais os procedimentos a tomar nesse caso, a saber: uma faca, uma naifa, um x-acto, um balão com água, uma vassoura, um cadeado de cacifo, uma marreta, um pé de cabra - tudo o resto é insignificante uma vez que deve estar exclusivamente atento às eventuais agressões às câmaras de vigilância. Poderá também estar atento a toda a investida contra os computadores situados nas salas, embora para isso vá ser contratado um outro assistente.
Deverá desprezar qualquer ataque a pessoas, uma vez que elas deixaram de ser a prioridade do nosso ministério, embora os objectos enumerados lhes possam causar algum tipo de dano físico.
Nesse caso, não deverá largar o seu posto mas poderá fazer uma chamada para o director da escola assegurando-se de que a chamada é grátis.
O prazo de candidaturas termina hoje às 17horas.

Isabel Calçada e João Pé-de-Chinelo.

26 fevereiro 2011

25 fevereiro 2011

Poesia do Quotidiano Escolar

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a sub ordena
Que as furtadas carteiras e telemóveis,
O bando dos quatro os ponham ali,(ou seriam cinco?)

Zézinho, moço imberbe e caga-tacos,
Lhe diz coa aflautada voz que o ar arrepia:
- «Perderam carteiras ? É forte pena;
Olhe não fiquem todos arruinados...»

- «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a sub não tem mãos?» E, dizendo isto,

Arremete-lhe um chapadão.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Saiem-lhe as carteiras de dentro das algibeiras!...

09 fevereiro 2011

O QUE FOI E JÁ NÃO VOLTA A SER

Longe vão os dias em que dona Aninhas perdia as estribeiras quando era acusada de exagero na limpeza. Ela, que sempre tratou do seu pavilhão com o esmero de quem trata da própria salinha de televisão; que crochetava naperons e metros de franjas nas horas vagas, que plantava flores em vasinhos que dispunha ao longo dos corredores e em cima dos quadros eléctricos; que punha Alelex fora de si quando a água que escorria dos vasos fazia disparar o quadro e dilatar os tacos do chão; os tacos soltavam-se e as professoras tropeçavam. Os professores reclamavam e dona Aninhas era quem pagava as favas. As favas eram abundantes na sua horta mas que só alguns tinham o direito a provar. Os quadros de giz eram esfregados com tanto aprumo que ganhavam o brilho do verniz. Ninguém mais conseguiu ler neles e os professores perderam a cabeça. Dona Aninhas era quem pagava as favas. Dona Aninhas oferecia malaguetas e couves da sua lavra aos professores com quem simpatizava. Hoje seriam chamados de produtos biológicos mas naquela altura, parece já muito tempo que o que dista cerca de dois anos, eram meras couves. Quando a semana não chegava, disponibilizava orgulhosamente uns sábados para tratar do canteiro.
Mariazinha colaborava com ela na rega mas não na discussão acerca dos grossos livros que lia. Tinha tempo para ler nos intervalos das limpezas que fazia no mesmo ritmo morno.
Hoje não existem nem dona Aninhas nem Mariazinha nem nada que se lhes pareça.
Do tempo delas nada resta, nem sequer o pó. O pó é outro. Os caixotes são os mesmos mas o lixo é outro. Os caixotes ganham novas dimensões, rebentam com a escala, criam baratas e maus cheiros. Na horta há ervas daninhas que começam a ser retiradas por uma brigada. Debaixo das mesas há cotão e teias de aranha.
Dona Coluna não gostava que o Sindroma falasse dela na internet. Durante meses pediu-lhe o endereço, enquanto cortava uns tomates e queijo fresco às rodelas para fazer sandes na sala de professores; queria ver onde é que ele tinha escrito sobre as suas sabrinas de bolinhas pretas. Hoje, onde outrora havias sandes, sumos e iogurtes, jazem os restos mortais de um balcão frigorífico.
O Senhor-Com-Nome-de-Galeria cansou-se de varrer tacos e passar tardes a saltitar entre três letras - CFE, EFC, FCE, conforme. Decidiu-se recentemente pelo E, de Escondido, de forma permanente até desaparecer.
Ganhámos um solícito, simpático e educado limpador de polivalente.
Mas mantemos um antipático boneco-de-cera que sofre de sensibilidade dentária...
(talvez continue)

02 fevereiro 2011

A FOLHINHA QUE CHEGOU ÀS ESCOLAS

Para aquele que fugiu...

NAQUELA TARDE FUGI

Gosto daqueles momentos em que o dia se despede de nós e a noite começa a chegar. Adoro as cores vermelhas do sol quando se despede do dia. Adoro o frio na cara. Adoro a projecção dos corpos nas cores do pôr do sol. Gosto de andar na rua a essas horas de fim de tarde. Pensar enquanto ando. Ou finjo andar. Ou finjo pensar. Adoro o cheiro da terra molhada. Adoro o som de uma boa música que nos invade os pensamentos e vindo de longe. Cruzando o frio do inicio noite. No escuro da noite admiro a luz da cidade. Senti o poema desenhado no sentimento de quem procura alguém por encontrar. Entendi o poeta e o seu grito. Entendi que o amor é uma busca sem rumo. Então decidi fugir da tarde e invadir os sentimentos da noite. Não vou querer regressar para continuar a navegar no vazio de um amor em fuga

Koristupor,Jr.