Querido Diário:
Espero que não pareça demasiado amaricada esta maneira de me dirigir ao meu diário.
Hoje, Sexta-feira 13, foi um dia complicado.
Passei a manhã a trabalhar como um doido e, quando se aproximou a hora do almoço, comecei a perceber uma interessantíssima agitação em meu redor. Era o grupo de homens da escola que preparava o almoço no refeitório. « Já compraste o vinho?», e tal, «Eu, comprar? Bolas, tenho lá em casa uma caixa com seis garrafas», e tal, «Mas que é que isso interessa se não trouxeste nenhuma...?», e tal, de maneira que me fui encostando ao bando. Não só por causa do vinho, e tal, mas sobretudo porque roubaram a pochete ao pochato e isso seria parte do prato.
PLANETAZUL (convidando-me) - Sim, pá, o gajo está inconsolável, ah ah ah, portanto já estás a ver que o almoço vai ser um consolo para o pessoal, no fim o pochato até chora, e a gente obriga-o a beber para esquecer...
Toda a temática do almoço parecia, pois, imperdível.
Mas já era tarde para ir marcar.
Quando se aparece tarde para marcar, as senhoras ralham um bocadinho, e dizem «ai ai ai ai ai», e, o que é pior, depois avisam que vão ter de chamar o sr Gonçalves, o que é uma ameaça assustadora. Mas só para não perder o almoço subordinado ao tema «Roubo da Pochete», preparei-me para enfrentar tudo.
Ameaçaram-me que chamavam o sr. Gonçalves. Lá veio ele, palitando pesadamente. Arrancou-me o cartão das mãos ansiosas. Passou-o. E... e... e...
Sirenes!
Letras vermelhas num monitor ao alto, à vista de toda a gente: ESTE GAJO NÃO TEM SALDO NEM PRA MANDAR CANTAR UM CEGO!!!
Vozes em redor.
Sussurros.
SÔ GONÇALVES - Boxemexê nã tem xaldo!!!
Fujo, corrido.
Ainda oiço, ao longe, a voz de Juju Ximon.
JUJU - Vê lá, queres que te empreste???
Vou almoçar sozinho, lá fora, uns pastéis de bacalhau...
De longe, chegam-me ecos de risos, odor de vinho. O almoço temático brilha. Oiço o Pochato a contar pela quinquagésima vez como é que lhe desapareceu a Pochete