MIGACHA RUTO, reformada - Ó menina acha que eu tenho idade para me preocupar com isso? Deixe-me cá fumar o meu charuto em paz. Bendito Isaltino que me pegaste o vício! Deus vai-te recompensar por tudo o que tens feito...
Ainda hás-de ser ministro! Salvé!
UGLY KID JOE, frequentador de um centro de estudos - Acho muito mal. Ando há anos a esforçar-me por me comportar bem sempre naquela de alguém reparar em mim mas tenho tido sempre azar. Da última vez que ajudei uma velhinha a atravessar a estrada fui derrubado por uma mota e parti os óculos. Ficámos os dois ali no meio até vir um ceguinho que nos tirou dali. Acho que eu também merecia uma medalha, meu.
DESATINOS IMORAIS, Presidente de uma Edilidade - Isto é a confirmação daquilo que sempre desejei, ser o concelho com mais medalhados por perímetro quadrado, a par do mais moderno parque tecnológico. Hoje foi uma reputada professora contracorrente, a prova de como eu sou um mãos largas de coração generoso que adora a populaça e meter-se no meio das fotos de grupo, mas amanhã poderá ser o dono da barraca dos churros. Sou um ser imprevisível.
PICACHU RASCO, dona de uma banca na praça - Aiaaaaaa! Vou receber uma medalha? Eu?! Belisque-me para eu acreditar! E porquié? Alguém deve ter ido contar que tenho as mai lindas rosas vermelhas aveludadas da praça! Passo a manhã a borrifá-las mas nunca pensei que isto acontecesse! Aiiiiii se eu adivinhasse tinha-lhe dado algumas quando ele cá veio comprar nabos...
REBÉUBÉU PARDAIZONINHO
Voltámos sem pretensões. Com mais criações. E opiniões. O verdadeiro blogue sem borbulhas.
16 abril 2011
25 março 2011
ólhamêste!
23 março 2011
REFORMEM-ME, JÁ!
Se vocês soubessem o que eu, Costa-Rica, Costa de Prata, o homem das costas largas, tenho passado, não me maçavam tanto.
Os cabelos brancos que tenho ganhei-os todos nesta escola. No ano passado não tinha nem um, até parecia o Burt Reynolds, um verdadeiro galã do cinema. Nesta escola ninguém me leva a sério. Se chego atrasado, já tenho alguém a morder-me os calcanhares. Quando falto é apenas por um motivo maior. Ou porque estou doente ou porque a minha sogra passa a vida a morrer. Mesmo assim, ainda queriam que eu cá viesse entregar a justificação. Ora, uma pessoa dente não tem que justificar nada; perder uma sogra põe um homem doente mas não provoca cabelos brancos, por isso é que digo que é a escola que mos faz.
Pedem-me planeamentos, planificações, aqueles documentos em que se escrevem as previsões. Eu, quando quero previsões consulto a Maia. Sei lá se quando chegar dia de dar certa matéria me apetece! Sei lá se nesse dia estarei cá. Ora, mudem de disco.
Há dias perdi o meu telemóvel. Foi o dia mais triste da minha vida. Pois na escola atazanaram-me o juízo por causa disso. Ninguém mostrou respeito pelos 170 euros que me custou nem pelas 2500 fotografias que lá tenho. A minha mulher coitadita, o que sofreu por me ver aflito. Quando, desesperado, voltei à escola e a senhora dona Irrita me acenou com ele, até lhe espetei dois grandes beijos, eu que não sou nada dado a manifestações públicas de qualquer tipo de afecto. Tenho uma excepção - o meu amigo Arsénico. Grande compincha. Dou-lhe largos abraços.
Querem-me impingir algumas funções e fazer com que eu apresente uns documentos que me aborrecem. Um dia destes vou reformar-me e depois quero ver quem me chateia. A minha chefe fez horas extraordinárias porque compreendeu o deu dilema e explicou-me tudinho. Os outros, entre os quais três moças de pés repousados em cima das cadeiras (coisa estranha, esta que não me explicaram, será um ritual?) faziam esgares de enfado como quem estivesse a ouvir aquilo pela terceira vez. A dita chefe não conseguiu dizer-me em que diário da república está escrito o que me pedem para fazer, qual é a lei que diz que eu tenho que ser júri de um exame e entregar uma matriz dentro dum certo prazo. Alguém me pode dizer? É que se está na lei, eu faço, senão, deixem-me em paz.
Os cabelos brancos que tenho ganhei-os todos nesta escola. No ano passado não tinha nem um, até parecia o Burt Reynolds, um verdadeiro galã do cinema. Nesta escola ninguém me leva a sério. Se chego atrasado, já tenho alguém a morder-me os calcanhares. Quando falto é apenas por um motivo maior. Ou porque estou doente ou porque a minha sogra passa a vida a morrer. Mesmo assim, ainda queriam que eu cá viesse entregar a justificação. Ora, uma pessoa dente não tem que justificar nada; perder uma sogra põe um homem doente mas não provoca cabelos brancos, por isso é que digo que é a escola que mos faz.
Pedem-me planeamentos, planificações, aqueles documentos em que se escrevem as previsões. Eu, quando quero previsões consulto a Maia. Sei lá se quando chegar dia de dar certa matéria me apetece! Sei lá se nesse dia estarei cá. Ora, mudem de disco.
Há dias perdi o meu telemóvel. Foi o dia mais triste da minha vida. Pois na escola atazanaram-me o juízo por causa disso. Ninguém mostrou respeito pelos 170 euros que me custou nem pelas 2500 fotografias que lá tenho. A minha mulher coitadita, o que sofreu por me ver aflito. Quando, desesperado, voltei à escola e a senhora dona Irrita me acenou com ele, até lhe espetei dois grandes beijos, eu que não sou nada dado a manifestações públicas de qualquer tipo de afecto. Tenho uma excepção - o meu amigo Arsénico. Grande compincha. Dou-lhe largos abraços.
Querem-me impingir algumas funções e fazer com que eu apresente uns documentos que me aborrecem. Um dia destes vou reformar-me e depois quero ver quem me chateia. A minha chefe fez horas extraordinárias porque compreendeu o deu dilema e explicou-me tudinho. Os outros, entre os quais três moças de pés repousados em cima das cadeiras (coisa estranha, esta que não me explicaram, será um ritual?) faziam esgares de enfado como quem estivesse a ouvir aquilo pela terceira vez. A dita chefe não conseguiu dizer-me em que diário da república está escrito o que me pedem para fazer, qual é a lei que diz que eu tenho que ser júri de um exame e entregar uma matriz dentro dum certo prazo. Alguém me pode dizer? É que se está na lei, eu faço, senão, deixem-me em paz.
04 março 2011
28 fevereiro 2011
O CONCURSO
Está aberto o concurso para um lugar de assistente à acção educativa.
Os candidatos ficarão deste modo a saber quais as funções implicadas no contrato.
A função principal do assistente será a de assistir aos registos efectuados pelas câmaras de vigilância da escola nuns ecrãs que estarão situados no posto de saúde, pelo que deverão estar familiarizados com os professores do departamento que mais usa esse espaço.
O candidato não pode sofrer de doença ortopédica ao nível da cervical e não pode sofrer de daltonismo. Deve identificar alguns objectos que podem circular pela escola e quais os procedimentos a tomar nesse caso, a saber: uma faca, uma naifa, um x-acto, um balão com água, uma vassoura, um cadeado de cacifo, uma marreta, um pé de cabra - tudo o resto é insignificante uma vez que deve estar exclusivamente atento às eventuais agressões às câmaras de vigilância. Poderá também estar atento a toda a investida contra os computadores situados nas salas, embora para isso vá ser contratado um outro assistente.
Deverá desprezar qualquer ataque a pessoas, uma vez que elas deixaram de ser a prioridade do nosso ministério, embora os objectos enumerados lhes possam causar algum tipo de dano físico.
Nesse caso, não deverá largar o seu posto mas poderá fazer uma chamada para o director da escola assegurando-se de que a chamada é grátis.
O prazo de candidaturas termina hoje às 17horas.
Isabel Calçada e João Pé-de-Chinelo.
26 fevereiro 2011
25 fevereiro 2011
Poesia do Quotidiano Escolar
Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a sub ordena
Que as furtadas carteiras e telemóveis,
O bando dos quatro os ponham ali,(ou seriam cinco?)
Zézinho, moço imberbe e caga-tacos,
Lhe diz coa aflautada voz que o ar arrepia:
- «Perderam carteiras ? É forte pena;
Olhe não fiquem todos arruinados...»
- «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a sub não tem mãos?» E, dizendo isto,
Arremete-lhe um chapadão.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Saiem-lhe as carteiras de dentro das algibeiras!...
Batendo o pé na casa, a sub ordena
Que as furtadas carteiras e telemóveis,
O bando dos quatro os ponham ali,(ou seriam cinco?)
Zézinho, moço imberbe e caga-tacos,
Lhe diz coa aflautada voz que o ar arrepia:
- «Perderam carteiras ? É forte pena;
Olhe não fiquem todos arruinados...»
- «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a sub não tem mãos?» E, dizendo isto,
Arremete-lhe um chapadão.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Saiem-lhe as carteiras de dentro das algibeiras!...
09 fevereiro 2011
O QUE FOI E JÁ NÃO VOLTA A SER
Longe vão os dias em que dona Aninhas perdia as estribeiras quando era acusada de exagero na limpeza. Ela, que sempre tratou do seu pavilhão com o esmero de quem trata da própria salinha de televisão; que crochetava naperons e metros de franjas nas horas vagas, que plantava flores em vasinhos que dispunha ao longo dos corredores e em cima dos quadros eléctricos; que punha Alelex fora de si quando a água que escorria dos vasos fazia disparar o quadro e dilatar os tacos do chão; os tacos soltavam-se e as professoras tropeçavam. Os professores reclamavam e dona Aninhas era quem pagava as favas. As favas eram abundantes na sua horta mas que só alguns tinham o direito a provar. Os quadros de giz eram esfregados com tanto aprumo que ganhavam o brilho do verniz. Ninguém mais conseguiu ler neles e os professores perderam a cabeça. Dona Aninhas era quem pagava as favas. Dona Aninhas oferecia malaguetas e couves da sua lavra aos professores com quem simpatizava. Hoje seriam chamados de produtos biológicos mas naquela altura, parece já muito tempo que o que dista cerca de dois anos, eram meras couves. Quando a semana não chegava, disponibilizava orgulhosamente uns sábados para tratar do canteiro.
Mariazinha colaborava com ela na rega mas não na discussão acerca dos grossos livros que lia. Tinha tempo para ler nos intervalos das limpezas que fazia no mesmo ritmo morno.
Hoje não existem nem dona Aninhas nem Mariazinha nem nada que se lhes pareça.
Do tempo delas nada resta, nem sequer o pó. O pó é outro. Os caixotes são os mesmos mas o lixo é outro. Os caixotes ganham novas dimensões, rebentam com a escala, criam baratas e maus cheiros. Na horta há ervas daninhas que começam a ser retiradas por uma brigada. Debaixo das mesas há cotão e teias de aranha.
Dona Coluna não gostava que o Sindroma falasse dela na internet. Durante meses pediu-lhe o endereço, enquanto cortava uns tomates e queijo fresco às rodelas para fazer sandes na sala de professores; queria ver onde é que ele tinha escrito sobre as suas sabrinas de bolinhas pretas. Hoje, onde outrora havias sandes, sumos e iogurtes, jazem os restos mortais de um balcão frigorífico.
O Senhor-Com-Nome-de-Galeria cansou-se de varrer tacos e passar tardes a saltitar entre três letras - CFE, EFC, FCE, conforme. Decidiu-se recentemente pelo E, de Escondido, de forma permanente até desaparecer.
Ganhámos um solícito, simpático e educado limpador de polivalente.
Mas mantemos um antipático boneco-de-cera que sofre de sensibilidade dentária...
(talvez continue)
07 fevereiro 2011
02 fevereiro 2011
NAQUELA TARDE FUGI
Gosto daqueles momentos em que o dia se despede de nós e a noite começa a chegar. Adoro as cores vermelhas do sol quando se despede do dia. Adoro o frio na cara. Adoro a projecção dos corpos nas cores do pôr do sol. Gosto de andar na rua a essas horas de fim de tarde. Pensar enquanto ando. Ou finjo andar. Ou finjo pensar. Adoro o cheiro da terra molhada. Adoro o som de uma boa música que nos invade os pensamentos e vindo de longe. Cruzando o frio do inicio noite. No escuro da noite admiro a luz da cidade. Senti o poema desenhado no sentimento de quem procura alguém por encontrar. Entendi o poeta e o seu grito. Entendi que o amor é uma busca sem rumo. Então decidi fugir da tarde e invadir os sentimentos da noite. Não vou querer regressar para continuar a navegar no vazio de um amor em fuga
Koristupor,Jr.
Koristupor,Jr.
29 janeiro 2011
QUERIAM O QUÊ? UMA CONTA DA PANDORA?
Luci-Lima estava a perder as estribeiras. Tinha um duplo pai sentado à mesa redonda ia para duas horas e não sabia como ver-se livre dele. O pai, que era ao mesmo tempo pai de um filho e pai de santo voltava sempre a um assunto que ela sabia de cor porque repetia tudo o que de véspera lhe tinha dito ao telefone. O pai era insistentemente chato mas tinha uma voz maviosa; apenas por isso ela ainda não tinha dado um murro na mesa.
À beira de um ataque de nervos estava o gato Zorbas que, curioso como qualquer gato vivo, corria a cada cinco minutos por cima de tudo o que era cadeira, mesa e instrumento musical para a portaria, vulgo pbx, para ser o primeiro a receber o presente. Não estava ninguém, havia sido alarme falso. De cauda descaída e bigodes murchos, retornou ao seu recanto, repetindo "Ai valha-me um burro!"...
Indiferente a tudo isto, O Presidente adicionava uns pontitos ao regimento da CCAD; hesitava entre o ponto final e o ponto de exclamação, agora em desuso, meneando a cabeça ora para a esquerda ora para a direita a ver qual ficava melhor. Madame queixava-se à Pascoela da dor da cabeça que o voltear de Luci-Lima e de Zorbas lhe provocava, muito pior que qualquer arrombar de cacifo.
O sonho começou a desabar quando dona Frita entrou com a informação: estava o desejado senhor com uma pasta, no pbx, para fazer a entrega de um presente.
Na escola bebia-se muita gasosa, iria haver uma recompensa pelos extraordinários lucros; havia uma oferta para cada membro da direcção. Os nervos estavam à flor da pele, Zorbas rasgava as caixas com os dentes, Luci-Lima tomava um calmante...
Cada elemento recebeu uma tampinha de plástico verde com um fido-dido em cima...
21 janeiro 2011
OS CORTES
20 janeiro 2011
AI SE ELE CAI
Este tu cá tu lá de conversa fiada já me está a tirar do sério.
Já não basta escreverem pouco e ainda vêm para aqui com choraminguices e desgostos de amor, narizes, saldos e o diabo a quatro. Minhas senhoras, lamentem-se por causas justas.
Têm falta delas? Eu dou-vos um: consultem o vosso email e vejam uma certa mensagem que vem dum senhor que se chama Vencimentos.
Esse senhor que não usa nome próprio e que apenas revela o apelido anda a ir-nos aos bolsos. Para já, deve ser um gajo poderoso porque tem acesso aos dados das pessoas. Segundo porque nos gamou uma maquia considerável neste mês. O inacreditável é que ninguém reclama. Isto revolta-me.
Uma vez, estava eu na recruta, saiu uma ordem para reduzir a ração de combate. Eu, o Tira-linhas e o Teixeira armamos um pé-de-vento que ninguém conseguiu dormir naquele acampamento. Fomos à cozinha roubar umas panelas e batemos neles toda a noite com uns maços. No outro dia, o rancho foi melhorado. Isso eram outros tempos, quando as pessoas tinham sangue na guelra. Agora a carne é fraca. Fazem-nos trinta por uma linha e todos se calam. E depois vêm queixar-se que não podem ir aos saldos.
Penso que esta Doutora Ruth devia sugerir temas em vez de dar livre arbítrio às suas leitoras. Não me leve a mal. Vejo que continua inspirada e sedutoramente opinativa mas eu no seu lugar não alimentaria estes comentários algo desabridos ao nariz duma pessoa polida e discreta que até tem feito furor entre o mulherio da escola. Na escola sempre houve homens que tiveram as mulheres a seus pés. Ele não é o primeiro nem o último, lhe garanto, a fazê-las tombar. Admiro-o por isso.
Já não basta escreverem pouco e ainda vêm para aqui com choraminguices e desgostos de amor, narizes, saldos e o diabo a quatro. Minhas senhoras, lamentem-se por causas justas.
Têm falta delas? Eu dou-vos um: consultem o vosso email e vejam uma certa mensagem que vem dum senhor que se chama Vencimentos.
Esse senhor que não usa nome próprio e que apenas revela o apelido anda a ir-nos aos bolsos. Para já, deve ser um gajo poderoso porque tem acesso aos dados das pessoas. Segundo porque nos gamou uma maquia considerável neste mês. O inacreditável é que ninguém reclama. Isto revolta-me.
Uma vez, estava eu na recruta, saiu uma ordem para reduzir a ração de combate. Eu, o Tira-linhas e o Teixeira armamos um pé-de-vento que ninguém conseguiu dormir naquele acampamento. Fomos à cozinha roubar umas panelas e batemos neles toda a noite com uns maços. No outro dia, o rancho foi melhorado. Isso eram outros tempos, quando as pessoas tinham sangue na guelra. Agora a carne é fraca. Fazem-nos trinta por uma linha e todos se calam. E depois vêm queixar-se que não podem ir aos saldos.
Penso que esta Doutora Ruth devia sugerir temas em vez de dar livre arbítrio às suas leitoras. Não me leve a mal. Vejo que continua inspirada e sedutoramente opinativa mas eu no seu lugar não alimentaria estes comentários algo desabridos ao nariz duma pessoa polida e discreta que até tem feito furor entre o mulherio da escola. Na escola sempre houve homens que tiveram as mulheres a seus pés. Ele não é o primeiro nem o último, lhe garanto, a fazê-las tombar. Admiro-o por isso.
19 janeiro 2011
CARA RUTH
Cara Dra. Ruth
Escrevo-lhe para, por um lado manifestar a minha concordância e admiração pelos seus conselhos, por outro lado acrescentar algo à visão sobre a actual conjuctura.
Considero que o seu conselho à anónima brasileira é magistral - não precisamos de concorrência desleal em tempo de crise - "desista!", disse. Não precisamos de brasileiras bronzeadas (com sol todo ano), com bens de primeira necessidade feminina (manicure, massagens, estética...) ao preço da chuva(reáis).
Por outro lado (e sujacente à 1ª razão)considero que a crise generalizada de homens disponíveis sente-se à escala nacional: no meu serviço passa-se o mesmo!...
Porém, permita-me discordar, perante uma procura maior do que a oferta defendo o princípio da rotatividade. Passo a explicar: em tempo de crise as dificuldades devem ser distribuídas por todos/todas. Se um cavalheiro, bem parecido e gentil, é solicitado por várias damas, não devemos alimentar a sua indecisão, mas levá-lo a desfrutar, à vez, as diferentes possibilidades. Todas/todos usufruirão das vantagens, sem daí colher inconvenientes.
Também não sou mulher de desistir. Aliás, gosto de chegar em primeiro. Não como essas mulheres que correm para chegarem primeiro na abertura dos saldos. Sou antes do tipo da cliente especial que é convidada para as promoções antes do fim de estação. Não há desespero aqui. Não levo a vida/o amor demasiado a sério. É antes uma insustentável leveza da existência que me anima.
No meu caso, que já passei os 40,reconheço no cavalheiro em questão os seus defeitos visíveis - tem um nariz demasiado adunco - e quanto aos ocultos, adivinhou: o tipo é mesmo poeta, com uma queda para a música (fruto de vidas anteriores)que manifesta com headphones ligados ao MP3 ouvindo a sua própria música, sem partilha. Porém, isto para mim não é defeito,antes me empolga neste clima de sedução. Para certo, e serial killer de emoções, já tenho um lá em casa que me entedia.
Matilde Beijaflor (juro que não sou brasileira)
Escrevo-lhe para, por um lado manifestar a minha concordância e admiração pelos seus conselhos, por outro lado acrescentar algo à visão sobre a actual conjuctura.
Considero que o seu conselho à anónima brasileira é magistral - não precisamos de concorrência desleal em tempo de crise - "desista!", disse. Não precisamos de brasileiras bronzeadas (com sol todo ano), com bens de primeira necessidade feminina (manicure, massagens, estética...) ao preço da chuva(reáis).
Por outro lado (e sujacente à 1ª razão)considero que a crise generalizada de homens disponíveis sente-se à escala nacional: no meu serviço passa-se o mesmo!...
Porém, permita-me discordar, perante uma procura maior do que a oferta defendo o princípio da rotatividade. Passo a explicar: em tempo de crise as dificuldades devem ser distribuídas por todos/todas. Se um cavalheiro, bem parecido e gentil, é solicitado por várias damas, não devemos alimentar a sua indecisão, mas levá-lo a desfrutar, à vez, as diferentes possibilidades. Todas/todos usufruirão das vantagens, sem daí colher inconvenientes.
Também não sou mulher de desistir. Aliás, gosto de chegar em primeiro. Não como essas mulheres que correm para chegarem primeiro na abertura dos saldos. Sou antes do tipo da cliente especial que é convidada para as promoções antes do fim de estação. Não há desespero aqui. Não levo a vida/o amor demasiado a sério. É antes uma insustentável leveza da existência que me anima.
No meu caso, que já passei os 40,reconheço no cavalheiro em questão os seus defeitos visíveis - tem um nariz demasiado adunco - e quanto aos ocultos, adivinhou: o tipo é mesmo poeta, com uma queda para a música (fruto de vidas anteriores)que manifesta com headphones ligados ao MP3 ouvindo a sua própria música, sem partilha. Porém, isto para mim não é defeito,antes me empolga neste clima de sedução. Para certo, e serial killer de emoções, já tenho um lá em casa que me entedia.
Matilde Beijaflor (juro que não sou brasileira)
OS CONSELHOS [ATRASADOS] DA DRA RUTH
Queridos leitores:
Venho hoje responder à carta de uma senhora desesperada. Uma senhora brasileira, embora não seja esse o único motivo do seu desespero.
A questão é que ela se apaixonou por um colega de serviço. Sentando-se, num almoço de Natal da sua empresa, diante do objecto de seu amor, percebeu que este não lhe ligava especialmente. Não é que a ignorasse. Ou que chegasse a entornar-lhe vinho para cima, servindo-a por educação enquanto mirava o decote de outra. É que as solicitações abundavam, e o gentil senhor mal sabia para onde se voltar.
Eu compreendo-a, boa amiga. Pelo que deduzo, na sua empresa, um jovem ainda apresentável, gentil, bem vestido, há-de ser caso raro, daí atrair o mulherio. E há que compreender: não vivemos tempos propícios à apresentação de homens apresentáveis. O género masculino anda por baixo. Desde há algum tempo. (Em Portugal, desde, sei lá, Dom Afonso Henriques). Pessoalmente, não consigo lembrar-me, de repente, de três amigos meus que não sejam carecas, ou gordos, ou obcecados pela bola e em mamas, ou bebedolas, ou tudo isso ao mesmo tempo. Aparece-lhe na empresa um sujeito cheio de charme, queria o quê?
Eu tenho um conselho para lhe dar, minha amiga. Pede-me um conselho para o conquistar? Dou-lhe um conselho: desista dele. E console-se com uma ideia: um homem tem de ter defeitos. Uma mulher poderá não os ter, mas um homem tem por força de os ter. Os defeitos da maioria são visíveis: mais vale ficarmo-nos por esses, porque quem não tem defeitos à vista, pode ter, secretamente, um dos piores. E se fosse um serial killer? Ou um poeta? Já viu bem..?
Venho hoje responder à carta de uma senhora desesperada. Uma senhora brasileira, embora não seja esse o único motivo do seu desespero.
A questão é que ela se apaixonou por um colega de serviço. Sentando-se, num almoço de Natal da sua empresa, diante do objecto de seu amor, percebeu que este não lhe ligava especialmente. Não é que a ignorasse. Ou que chegasse a entornar-lhe vinho para cima, servindo-a por educação enquanto mirava o decote de outra. É que as solicitações abundavam, e o gentil senhor mal sabia para onde se voltar.
Eu compreendo-a, boa amiga. Pelo que deduzo, na sua empresa, um jovem ainda apresentável, gentil, bem vestido, há-de ser caso raro, daí atrair o mulherio. E há que compreender: não vivemos tempos propícios à apresentação de homens apresentáveis. O género masculino anda por baixo. Desde há algum tempo. (Em Portugal, desde, sei lá, Dom Afonso Henriques). Pessoalmente, não consigo lembrar-me, de repente, de três amigos meus que não sejam carecas, ou gordos, ou obcecados pela bola e em mamas, ou bebedolas, ou tudo isso ao mesmo tempo. Aparece-lhe na empresa um sujeito cheio de charme, queria o quê?
Eu tenho um conselho para lhe dar, minha amiga. Pede-me um conselho para o conquistar? Dou-lhe um conselho: desista dele. E console-se com uma ideia: um homem tem de ter defeitos. Uma mulher poderá não os ter, mas um homem tem por força de os ter. Os defeitos da maioria são visíveis: mais vale ficarmo-nos por esses, porque quem não tem defeitos à vista, pode ter, secretamente, um dos piores. E se fosse um serial killer? Ou um poeta? Já viu bem..?
12 janeiro 2011
AS COMADRES
As comadres marcaram um chá com muitos bolinhos com o pretexto de trabalhar em conjunto, definir algumas estratégias de acção. Os dias passavam rápido e a vida social de uma das comadres não lhe deixava tempo de sobra para floreados. No entanto, ela adorava floreados e desconfiava que era por isso que até se entendiam as duas. Mas havia algum tempo que o trajar da outra comadre era discreto, tinha até abandonado os chapéus com floreados.
Uma das comadres mostrou o seu dossiê à outra enquanto adoçava o chá, com o orgulho estampado no rosto. Já ia no segundo volume e pretendia atingir sete antes de acabar o ano. Gostava de fazer floreados.
A outra comadre empalidecia a cada folha volvida e cantarolava baixinho com o olhar esgazeado... ai a minha vida...
Este dia a dia é duro
É duro de se levar
É de casa pró trabalho
E do trabalho pró lar
Ai a minha vida
Ai a minha vida
08 janeiro 2011
ESTOU TRISTE
Porque nunca podemos aceitar a morte mas devemos curvar-nos perante a sua inevitabilidade, estou triste. Acabo de saber que um homem que me fez exultar perante os seus textos, acabou de deixar o nosso mundo. Terá partido um grande homem, que tanto me inspirou; terá partido em busca de outros mundos quiçá mais calmos, mas onde de certeza lhe faltarão os temas preferidos da sua escrita.
Tive alguns ciúmes dele, devo confessar. Da sua língua viperina que me fez muitas fezes desejar ter a sua coragem. Não tanto do seu cabelo branco porque eu nunca ousaria deixar-me fotografar e muito menos aparecer em público sem retocar uma ou outra branca que teimosamente me vai contornando o rosto. Ah! ela fraquejou, pensarão. Não, queridos, Paula Thrombone nunca fraqueja. Paula Trombone é sincera tal como Carlos Castro o foi. Não teve foi a mesma projecção porque este blogue, convenhamos, não tem o impacto de uma Nova Gente ou de uma VIP. Essas revistas fazem furor nas secretárias das funcionárias desta escola que dedicam horas do seu tempo a folheá-las vezes sem conta, mesmo que sejam do ano passado. Algumas fazem até as palavas cruzadas, esse joguinhos pindéricos de praia que não aconselho a ninguém.
Queriduchas, oiçam com atenção: usem essas revistas como guias do bom trajar. Sigam exemplos, não inventem. Mas prefiram revistas deste ano. É que, a ver pelas vossas roupitas, as revistas que lêem já devem ter uns aninhos...
Deixo-vos a pensar nisto enquanto me recolho para meditar na calamidade que se abateu hoje sobre o nosso país.
Beijo-vos a todos, queridos, prometendo que em breve vos direi mais umas verdades.
06 janeiro 2011
28 dezembro 2010
As minhas roupas encolheram!!!!
Agora eu estava a ficar deveras preocupada...n é q a cada dia q passa tenho mais dificuldades em abotoar o meu fato de super heroína?!!As riscas, apesar de horizontais, davam m 1 ar arredondado mas neste momento estou quadrada!!!!!!!!!!!!!help!!Deve haver qq coisa nos detergentes ou n água q tem este efeito...
22 dezembro 2010
ME AJUDE!
Oi,Dra Ruth!
Lhe peço ajuda, urgente. Me estou apaixonando por um cara do meu serviço, e ele não está nem aí. Ainda, no almoço de Natal da Empresa, me postei, bem em frente a ele, na sua mesa,com aquele meu ar enigmático, tipo esfinge que tem um segredo por desvendar, com o meu perfil a condizer, e nada! Quer dizer, o cara distribuía sorrisos e conversa, à esquerda e à direita, e claro também para mim...Sim, porque o cara é muito educado, mas parece muito indeciso perante tanta solicitação.
Que devo fazer para chamar sua atenção, sem parecer desesperada?
Sei que deve estar muito ocupada nesta época de tanto amor, mas arranje um tempinho para me dar uma dica.
Estou esperando sentada
Anónima
Lhe peço ajuda, urgente. Me estou apaixonando por um cara do meu serviço, e ele não está nem aí. Ainda, no almoço de Natal da Empresa, me postei, bem em frente a ele, na sua mesa,com aquele meu ar enigmático, tipo esfinge que tem um segredo por desvendar, com o meu perfil a condizer, e nada! Quer dizer, o cara distribuía sorrisos e conversa, à esquerda e à direita, e claro também para mim...Sim, porque o cara é muito educado, mas parece muito indeciso perante tanta solicitação.
Que devo fazer para chamar sua atenção, sem parecer desesperada?
Sei que deve estar muito ocupada nesta época de tanto amor, mas arranje um tempinho para me dar uma dica.
Estou esperando sentada
Anónima
17 dezembro 2010
UMA PÁGINA DO MEU DIÁRIO
Querido Diário que eu tanto estimo.
Venho em busca da tua compreensão porque no sítio onde eu trabalho ninguém me compreende.
Sabes que há muitos anos venho adicionando folhas a este volume que tu és, e estás quase tão antigo como eu. Quando a vida me corre pior, é a tu que recorro, lamentando-me numas pequenitas folhas de papel que encontro aqui e ali. Rabisco uns desenhos e umas letras e quando os papelinhos são de monta, colo-os nas tuas folhas. Nunca consegui deixar a caneta e por muito que me digam que a tecnologia facilita a vida, tenho resistido implacavelmente.
Este ano comecei mal. Comecei logo por me enervar quando fiquei de luto; diziam-me que eu tinha que justificar as faltas que dei. É claro que eu não conseguia ir trabalhar porque apanhei uma corrente de ar no funeral que me deitou para uma cama durante muitos dias. Estive à beira da pneumonia e às tantas eu já nem sabia se estava a faltar porque estava de nojo (palavra feia, não achas?) ou se estava apenas constipado. Lá me aceitaram as minhas desculpas e mandaram-me dar aulas a uns catraios que têm a mania de pôr a mão no ar para falar. Isso irrita-me. Não gosto, faz-me pensar que estou numa aula de educação física, o que odeio.
Outra coisa contra a qual me revolto é com a mania de escreverem tudo nos computadores. Já reparaste que se eu aderir a essa moda vou deixar de falar contigo? Por isso, tenho feito finca-pé mas hoje tive azar - não estava lá a minha colega que me tem dado umas dicas que eu anoto nuns papelinhos que acabo por perder... Abriram-me um computador e eu lá escrevi as notas mas fiquei tão cansado que deixei para pôr as que me faltam noutro dia, lá para depois do natal, ou assim.
A grande descoberta que fiz nesta escola foi o meu amigo Migalhões com quem dou grandes passeios pelos pátios. Gosto de ver os canteiros pejados de flores e os miúdos a correr à nossa volta. Sempre é melhor que andem a brincar do que metê-los a todos numa sala de aula a fazer uns desenhos quaisquer.
Até já, querido diário
Venho em busca da tua compreensão porque no sítio onde eu trabalho ninguém me compreende.
Sabes que há muitos anos venho adicionando folhas a este volume que tu és, e estás quase tão antigo como eu. Quando a vida me corre pior, é a tu que recorro, lamentando-me numas pequenitas folhas de papel que encontro aqui e ali. Rabisco uns desenhos e umas letras e quando os papelinhos são de monta, colo-os nas tuas folhas. Nunca consegui deixar a caneta e por muito que me digam que a tecnologia facilita a vida, tenho resistido implacavelmente.
Este ano comecei mal. Comecei logo por me enervar quando fiquei de luto; diziam-me que eu tinha que justificar as faltas que dei. É claro que eu não conseguia ir trabalhar porque apanhei uma corrente de ar no funeral que me deitou para uma cama durante muitos dias. Estive à beira da pneumonia e às tantas eu já nem sabia se estava a faltar porque estava de nojo (palavra feia, não achas?) ou se estava apenas constipado. Lá me aceitaram as minhas desculpas e mandaram-me dar aulas a uns catraios que têm a mania de pôr a mão no ar para falar. Isso irrita-me. Não gosto, faz-me pensar que estou numa aula de educação física, o que odeio.
Outra coisa contra a qual me revolto é com a mania de escreverem tudo nos computadores. Já reparaste que se eu aderir a essa moda vou deixar de falar contigo? Por isso, tenho feito finca-pé mas hoje tive azar - não estava lá a minha colega que me tem dado umas dicas que eu anoto nuns papelinhos que acabo por perder... Abriram-me um computador e eu lá escrevi as notas mas fiquei tão cansado que deixei para pôr as que me faltam noutro dia, lá para depois do natal, ou assim.
A grande descoberta que fiz nesta escola foi o meu amigo Migalhões com quem dou grandes passeios pelos pátios. Gosto de ver os canteiros pejados de flores e os miúdos a correr à nossa volta. Sempre é melhor que andem a brincar do que metê-los a todos numa sala de aula a fazer uns desenhos quaisquer.
Até já, querido diário
16 dezembro 2010
O RAMBO
O Rambo, como todos sabem, deixou de fazer filmes há bué de tempo. Um dia, foi ao seu banco e descobriu que não tinha dinheiro, apenas uns papéis que diziam ter direito a lucros avultados de investimentos de alto risco, que deram para o torto. Fora tramado pelos seus amigos!... Sim, que aos inimigos ele tinha-lhes feito a folha.
Desorientado, quando um desconhecido seu compatriota,lhe disse que em Porugal qualquer estrangeiro conseguia viver com um punhado de dólares, achou que seria uma boa ideia vir para este país cheio de sol e de pessoas simpáticas.
Chegado a Portugal, dotado de um perfil altamente atlético (cortou o cabelo),foi trabalhar para o Holmes Place, como personal trainer.
Tudo parecia correr bem até ao final do mês. Aí, descobriu que só lhe pagavam consoante o número de sócios pagantes e não utilizadores dos serviços. Contas complicadas de fazer: 1º porque nunca foi bom em Matemática; 2º porque nunca lhe diziam quantos eram os tais sócios que lhe pagariam o seu salário, e quanto era descontado a si próprio pelo uso das instalações e equipamentos. Quer dizer, pagavam-lhe, quando lhe pagavam, o que muito bem queriam e lhes apetecia (Tinha um contrato individual de trabalho, cheio de letras pequeninas, onde tudo isso era explicado em dialecto advoguês).
Um colega de trabalho disse-lhe, confidencialmente, que fizesse como ele e arranjasse um 2ºemprego: "Por exemplo, eu estou a trabalhar numa Escola, como guarda-nocturno"
Grande ideia, como é que ele ainda não tinha pensado nisso?!
Muito perto do Holmes Place onde trabalhava, há uma Escola. Dirigiu-se lá e, com toda a facilidade, conseguiu também um lugar de guarda-nocturno. Trabalho fácil: não havia aulas à noite, havia uns sofás muito geitosos para descansar, internet grátis, televisão, uma colecção de dvd's...
O que aparentava ser "canja", veio a revelar-se uma fonte de pesadelos. Rambo começou a perceber que tinha medo do escuro. Aquela escola não tinha iluminação exterior. Em cada sombra, penumbra, escuridão começou a ver assaltantes, entes indescritíveis (até porque não os conseguia ver), ameaçadores... Enchia-se de suores frios, tremia, escondia-se na guarita da entrada e fechava a porta à chave. Só sossegava ao amanhecer, quando finalmente, conseguia sair e fumar um cigarro.
Aquilo não podia continuar! Não tinha passado sequer uma semana, dirigiu-se ao Director da Escola, implorando que lhe atribuísse um trabalho mais diurno, até porque havia outro guarda nocturno que adorava dormir na marquesa do posto médico.
Olhando para aquele latagão, o Director condoeu-se e achou que um papel que o Rambo podia desempenhar bem era o de segurança. "Pois que assim seja: passa a controlar as entradas e saídas da Escola"
Rambo respirou de alívio, e afiançou que esse serviço ele cumpriria como ninguém.
Ó ilusão! Bastou fazer o 1º intervalo das 10h para perceber que nunca poderia combater contra tantos. Eles saíam aos magotes. Os miúdos do básico olhavam-no de alto a baixo, e nas suas barbas, clamavam para o colega que estava de fora."Eh pá, passa aí o cartão para abrir a porta!"
Então, só lhe restava fazer uma coisa em que era bom: camuflar-se. Desde essa altura,o Rambo, quer esteja ou não, nunca se dá pela sua presença.
Desorientado, quando um desconhecido seu compatriota,lhe disse que em Porugal qualquer estrangeiro conseguia viver com um punhado de dólares, achou que seria uma boa ideia vir para este país cheio de sol e de pessoas simpáticas.
Chegado a Portugal, dotado de um perfil altamente atlético (cortou o cabelo),foi trabalhar para o Holmes Place, como personal trainer.
Tudo parecia correr bem até ao final do mês. Aí, descobriu que só lhe pagavam consoante o número de sócios pagantes e não utilizadores dos serviços. Contas complicadas de fazer: 1º porque nunca foi bom em Matemática; 2º porque nunca lhe diziam quantos eram os tais sócios que lhe pagariam o seu salário, e quanto era descontado a si próprio pelo uso das instalações e equipamentos. Quer dizer, pagavam-lhe, quando lhe pagavam, o que muito bem queriam e lhes apetecia (Tinha um contrato individual de trabalho, cheio de letras pequeninas, onde tudo isso era explicado em dialecto advoguês).
Um colega de trabalho disse-lhe, confidencialmente, que fizesse como ele e arranjasse um 2ºemprego: "Por exemplo, eu estou a trabalhar numa Escola, como guarda-nocturno"
Grande ideia, como é que ele ainda não tinha pensado nisso?!
Muito perto do Holmes Place onde trabalhava, há uma Escola. Dirigiu-se lá e, com toda a facilidade, conseguiu também um lugar de guarda-nocturno. Trabalho fácil: não havia aulas à noite, havia uns sofás muito geitosos para descansar, internet grátis, televisão, uma colecção de dvd's...
O que aparentava ser "canja", veio a revelar-se uma fonte de pesadelos. Rambo começou a perceber que tinha medo do escuro. Aquela escola não tinha iluminação exterior. Em cada sombra, penumbra, escuridão começou a ver assaltantes, entes indescritíveis (até porque não os conseguia ver), ameaçadores... Enchia-se de suores frios, tremia, escondia-se na guarita da entrada e fechava a porta à chave. Só sossegava ao amanhecer, quando finalmente, conseguia sair e fumar um cigarro.
Aquilo não podia continuar! Não tinha passado sequer uma semana, dirigiu-se ao Director da Escola, implorando que lhe atribuísse um trabalho mais diurno, até porque havia outro guarda nocturno que adorava dormir na marquesa do posto médico.
Olhando para aquele latagão, o Director condoeu-se e achou que um papel que o Rambo podia desempenhar bem era o de segurança. "Pois que assim seja: passa a controlar as entradas e saídas da Escola"
Rambo respirou de alívio, e afiançou que esse serviço ele cumpriria como ninguém.
Ó ilusão! Bastou fazer o 1º intervalo das 10h para perceber que nunca poderia combater contra tantos. Eles saíam aos magotes. Os miúdos do básico olhavam-no de alto a baixo, e nas suas barbas, clamavam para o colega que estava de fora."Eh pá, passa aí o cartão para abrir a porta!"
Então, só lhe restava fazer uma coisa em que era bom: camuflar-se. Desde essa altura,o Rambo, quer esteja ou não, nunca se dá pela sua presença.
15 dezembro 2010
IGNORANTIA
Ignorantia era uma moçoila, rosada, luzidia, bem dispoata, cheiínha (vá lá, gordinha!). Trabalhava numa Escola, e tinha uma existência normal: namorou, casou nova, teve dois filhos...
Porém, a partir de certa altura, os quilos que "ganhou" com as gravidezes, começaram a incomodá-la, ou melhor, começaram a incomodá-la por causa do seu peso; as amigas diziam:" Ignorantia, és tão nova, devias fazer alguma coisa quanto aos teus quilos a mais!..."
Fez aquilo que é costume: dieta da abolição dos hidratos de carbono, dieta da sopa, dieta vagetariana, dieta líquida, etc, etc... Os resultados não eram animadores, nem muito menos visíveis. O marido, atento às preocupações da sua cara metade e, uma vez que era enfermeiro no Hospital, conseguiu que o médico declarasse que se tratava de uma obesidade mórbida, e que era um caso prioritário para a introdução de banda gástrica.
A intervenção cirúrgica foi feita e, eis se não quando, Ignorantia se viu dotada de um corpo que nunca tinha tido. Todos lhe diziam:"Estás impecável! Ninguém te dá mais do que 20 e tal anos!..."
Passou a viver como tal: despachou o marido, demasiado sério e preocupado, e passou a acompanhar com malta de 20 e tal anos. Passou a fazer aquilo que não tivera oportunidade de fazer. Passou a sair à noite, divertir-se. Viver o dia de hoje, e amanhã logo se vê!...
No trabalho começaram a chateá-la, porque faltava sem avisar, porque arranjava desculpas para sair mais cedo, porque raramente chegava a horas...
Ela e os seus recentes amigos diziam: "Velhadas!! Larga esse emprego que não interessa para nada! E se aceitasses aquele emprego fora do país, bem pago?! Em três meses ganhavas aquilo que aqui levas um ano a conseguir!
Embandeirou em arco, e foi atrás de sonho, confiante da sua figura e presença.
Porém, quando parecia correr tudo tão bem, os planos de emprego no estrangeiro falham,e vê-se confrontada com um tipo de vida que não pode sustentar.
Volta ao seu velho emprego na Escola.
O que tinha sido euforia, recuperação de juventude e liberdade, tinha-se convertido num pesadelo.A depressão instalou-se: já não era o que tinha sido no passado, nem se sentia confortável com o que se tinha tornado. A sua vida encontrava-se num beco sem saída, e sem capacidade para reagir à situação...
Ignorantia tinha constactado, da pior maneira. que NÃO SE DEVE ALTERAR O PACOTE PORQUE SE DANIFICA, INEVITAVELMENTE, O CONTEÚDO.
Porém, a partir de certa altura, os quilos que "ganhou" com as gravidezes, começaram a incomodá-la, ou melhor, começaram a incomodá-la por causa do seu peso; as amigas diziam:" Ignorantia, és tão nova, devias fazer alguma coisa quanto aos teus quilos a mais!..."
Fez aquilo que é costume: dieta da abolição dos hidratos de carbono, dieta da sopa, dieta vagetariana, dieta líquida, etc, etc... Os resultados não eram animadores, nem muito menos visíveis. O marido, atento às preocupações da sua cara metade e, uma vez que era enfermeiro no Hospital, conseguiu que o médico declarasse que se tratava de uma obesidade mórbida, e que era um caso prioritário para a introdução de banda gástrica.
A intervenção cirúrgica foi feita e, eis se não quando, Ignorantia se viu dotada de um corpo que nunca tinha tido. Todos lhe diziam:"Estás impecável! Ninguém te dá mais do que 20 e tal anos!..."
Passou a viver como tal: despachou o marido, demasiado sério e preocupado, e passou a acompanhar com malta de 20 e tal anos. Passou a fazer aquilo que não tivera oportunidade de fazer. Passou a sair à noite, divertir-se. Viver o dia de hoje, e amanhã logo se vê!...
No trabalho começaram a chateá-la, porque faltava sem avisar, porque arranjava desculpas para sair mais cedo, porque raramente chegava a horas...
Ela e os seus recentes amigos diziam: "Velhadas!! Larga esse emprego que não interessa para nada! E se aceitasses aquele emprego fora do país, bem pago?! Em três meses ganhavas aquilo que aqui levas um ano a conseguir!
Embandeirou em arco, e foi atrás de sonho, confiante da sua figura e presença.
Porém, quando parecia correr tudo tão bem, os planos de emprego no estrangeiro falham,e vê-se confrontada com um tipo de vida que não pode sustentar.
Volta ao seu velho emprego na Escola.
O que tinha sido euforia, recuperação de juventude e liberdade, tinha-se convertido num pesadelo.A depressão instalou-se: já não era o que tinha sido no passado, nem se sentia confortável com o que se tinha tornado. A sua vida encontrava-se num beco sem saída, e sem capacidade para reagir à situação...
Ignorantia tinha constactado, da pior maneira. que NÃO SE DEVE ALTERAR O PACOTE PORQUE SE DANIFICA, INEVITAVELMENTE, O CONTEÚDO.
14 dezembro 2010
QUEIMEM OS CARCEREIROS DOS PÁSSAROS
As emoções são eternas e são constantes. Reagimos e sentimos. Ficamos tristes. Gritamos de alegria e de sofrimento. A emoção surge por uma imagem ou pela palavra alheia. Sentimos a emoção da solidão. Muitas vezes na multidão estamos sós e a emoção sentida é a revolta do próprio sentimento. Procuramos alguém e quando conseguimos encontramos a emoção do egoísmo. Ficamos tristes e fugimos. Procuramos o refugio. Damos pernas ao pensamento. Queremos o que a vida nos nega. Mas continuamos a busca. Queremos voar. É o eterno sonho. Mas quando vejo tanto espaço para voar sinto a revolta. Sinto uma triste emoção. Então quero e vou gritar bem alto, SOLTEM OS PÁSSAROS QUEIMEM AS GAIOLAS e aos que o não queiram fazer façam deles prisioneiros de consciência porque assim desaparecem as emoções o que quer dizer perdem o direito a viver. Que se queimem os carcereiros dos pássaros. Construa-se o direito à anarquia da emoção.
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