23 dezembro 2005

DIÁRIO DE BORDO DA ESLANAVE (A NAVE ESPACIAL DA ESLAV) - ANO 2348

1. A Eslanave prossegue no seu curso intergaláctico. Todos os membros da tripulação se encontram vestidos com aquela espécie de pijamas de maluquinhos do espaço. O nosso capitão, sentado na sua poltrona de comando, na ponte, está deprimido. Começa a perguntar-se a si mesmo se o planeta que visamos existirá, sequer - ou se se trata de uma mera utopia.
2. Entram bruscamente, na ponte, Lady Mavilde e Ju-dit-Si-mon. O capitão assusta-se.
- Assustei-te? - pergunta-lhe Lady Mavilde, sorrindo-lhe enigmaticamente.
- Não - responde gentilmente o capitão. - Não foste tu que me assustaste...
3. Uma das razões da depressão do nosso capitão está no facto de ter de lidar todos os dias com os extra-terrestres da nossa tripulação. Em filmes de ficção científica, há extra-terrestres extraordinários: Mr. Spock, por exemplo, é inesquecível. Ou ET, lembram-se? Mas os nossos, são extra-terrestres mais fracos. Sindroma, do planeta Blogue, com os cordões dos sapatos sempre desatados (não é estranho que, no ano 2348 persista esse método obsoleto?) e com sapatos rotos, ou Zegar Cya, do planeta Kossa, com o seu singular ritual (que alguns ignorantes pensam ser um tique), ou Ju-dit-Si-mon, do planeta Argh (de onde fugiram os demais habitantes) são seres demasiado peculiares.
4. Mas a pior das razões para a depressão do nosso capitão é outra: perdemos, há já algum tempo, qualquer contacto coerente com a Terra. Continuam a chegar-nos medidas e contramedidas, circulares e planos, é verdade. Mas desconfiamos de todas essas mensagens. Parecem-nos falsas. Terá ocorrido alguma catástrofe no planeta? Serão as ordens enviadas por um planeta hostil que se faz passar pelo controle terráquio? Uma coisa é certa: estas ordens e contra-ordens não nos parecem provenientes de pessoas com os pés bem assentes na terra...
5. Entretanto, enviámos Fátima Franco e Ofélia Mendes numa missão de reconhecimento a um planeta de que nos estamos a aproximar. Infelizmente, esquecemo-nos de que há um problema: a Fátima tem andado a fazer uma dieta drástica, e cismou em comparar-se, a cada dia que passa, com a magríssima Ofélia. Tememos que Fátima tenha principiado mesmo a tresloucar, porque já em vários momentos procurou destruir Ofélia, dizendo depois, quando chamada à pedra, que se tinha distraído um pouco. Mesmo quando tivemos de lhe desapertar as mãos do pescoço de Ofélia. «Ah! Eu fiz isso? Ai, que distracção...», comentou mais tarde. Teria sido boa ideia enviarmo-las juntas?
6. Os nossos piores receios confirmaram-se. Fátima regressou sozinha, com um ar hipocritamente pesaroso:
- A Ofélia foi apanhada. Nunca mais a veremos, feliz... aaah, infelizmente.
- Apanhada por quem?
- Por... [olhando para o fantasmadaopera]... um ser de bigode... [olhando para Mr. Pedro]... que aparece e desaparece quando menos se espera... [olhando para Abel]... com uma espécie de malinha de mão...
- Mas que ser é esse? Nunca vi um desses.
- Nem sei dizer, capitão. [Olhando, por fim, para Teresa Santos]. É um ser devorador. Comeu a Ofélia. Deve ter ficado cheio de fome, coitado do bicho. Que não é para dizer mal, agora que ela já não está entre nós, mas a Ofélia era uma carga de ossos. Os homens preferem assim as mais cheiínhas, como eu. Mas vou ter saudades dela, magricela e tudo!

2 comentários:

Anónimo disse...

Sindroma, estás a tornar-te num verdadeiro assassino. Aprendeste, certamente com a Lara Croft, a disparar em todas as direcções. Pode-se dizer que não hesitas em dar tiros... nos teus próprios pés! Continua, veneno!

fantasmadaopera disse...

...é verdade...se mordes a língua vais de charola para os Cuidados Intensivos, sem regresso...