31 julho 2007

BOAS FÉRIAS !


Enquanto o atelier e os professores vão a banhos...

17 julho 2007

E EU QUE SÓ QUERIA ELOGIAR...

APOLOGIA DO SUPLENTE

FALA PEIXÔCO, ENTRANDO CALMAMENTE, DE CAMISA COM MOTIVOS HAVAIANOS E CHINELOS:

Ai que bom ser suplente à vigilância de exames! Ter livros para ler e não os ler, sentarmo-nos antes com um jornal desportivo sobre os joelhos, para rir das últimas confusões do Benfica! E, sobretudo, saber que há colegas a vigiar nas salas, trancadíssimos, sem poderem fazer chichi, muito menos cocó, o calor a apertar, a fome a apertar... ah, enquanto eu, o suplente, posso ir à casa de banho as vezes que me apetecer, posso até dar-me ao luxo de fazer duas pinguinhas de cada vez para ter o prazer de lá voltar, posso dedicar-me ao divertidíssimo jogo de tentar acertar com urina nas moscas que esvoaçam no urinol, posso ir ao bar beber abatanados, posso

ENTRA UM ELEMENTO DO SECRETARIADO:
Até que enfim que chegas, Peixôco! Tens de entrar, vá...!
PEIXÔCO [genuinamente feliz] Ah ah ah ah ah. É isto que eu aprecio no secretariado. Mimam-nos, pá, mimam-nos mesmo. Ele é cerejas, ele é chocolates, ele é este humor refrescante, que dispõe bem logo pela manhã. Que piadão!
ELEMENTO DO SECRETARIADO: Piada?! Que é isso? Desconheço o termo. Estou a falar a sério.
PEIXÔCO [principiando a preocupar-se] - Mas, mas, mas... eu suplente, aaah...
ELEMENTO DO SECRETARIADO - Eras. Tens de entrar. É o Exame de Desenho Auricular Pré-parto. Três horas e meia. Na sala mais quente da escola. É que este exame precisa mesmo de uma sala quente, instruções do GAVE. Os alunos têm de pintar no fim os desenhos com o seu próprio suor...
PEIXÔCO - Mas, mas, mas... mim suplente, mim ter jornal...
ELEMENTO DO SECRETARIADO - Olha, cá vem a que vais substituir.
EFECTIVA DESEFECTIVADA - Pois, Peixôco, eu não posso. Tenho de ir fazer umas coisas muito importantes. Muito importantes, mesmo, que isto de ser titular é só responsabilidades! Tenho um gelado ao lume, até já...
PEIXÔCO - Mas o meu cartão da ADSE também tem escrito «titular», aqui no fundo. Não?! Tenho de ir?! Mas...

DESABAFOS

Acontece por esta altura, estarem muitos professores emalando a trouxa e a preparar-se para zarpar, da escola e do burgo eslavense. A maior parte, parte reclamando. Queria ficar por cá, a ver com que linhas se cose o próximo ano lectivo, mas isso está nos segredo de alguns deuses, que parece que já partiram de férias antecipadas. Quem viveu de perto o problema das ausências antecipadas foi quem tinha que lidar com certos computadores, em cujo assistente informático, no sentido literal do termo, resolveu ir de férias. O que vale é que há sempre um portátil para substituir os assistentes, os assistentes efectivos e os assistentes suplentes...
Espantosamente, quem tenha pedido uma licença especial para interromper as férias; o banheiro não estava de acordo, que o toldo estava alugado até ao fim do mês e não lhe apetecia devolver a diária. Mas pronto, como era só um dia, o homem lá teve em conta o desespero bem visível na cara do requisitante e cedeu. Mas só por um dia, para reunião de grupo. Porque não há nada mais importante que o grupo. Que o diga o novo habitante da eslav, o Ratinho do Campo. Agora, que a escola está quase vazia, o Ratinho do Campo descobriu que o polivalente eslavo é um ótimo lugar para passar as férias. Extenuado pea luta do dia a dia no campo agora remexido pelas escavadoras, de esburacar de toca em toca à procura duma sandocha reconfortante, o Ratinho do Campo acampou com a família debaixo da rampa. Mas só aparece ao fim da tarde, quando já sabe que não há exames para vigiar. E principalmente porque sabe que o secretariado já fechou as provas no cofre. Assim, sabe que não há provas contra si. Sim, enquanto lhe for possível, vai permanecer no anonimato. Nem que o secretariado o convide para o almoço de sexta-feira.

16 julho 2007

UM BARBICU

No sábado fui convidado pelos meus vezinhos para um churrasco. Sendo eu um tipo intervertido, mal conheço as pessoas que moram ao meu lado. É só "bom dia" e "boa tarde" e nem chega a ser "boa noite" porque depois que o sol se põe raramente saio de casa; só quando o grandanuar do vezinho se põe a ladrar desalmadadamente é que espreito pela jelosia que dá para o quintal dele e quase sempre é porque algum gato ladrão lhe foi rapinar a comida, coisa que o enerva; como é natural, a mim também me enerva slenemente.
Como dizia, o barbicu foi muito bom; havia sardinhas, fêbras e costelas, que é uma coisa que as pessoas aqui chamam entregosto e até já ouvi chamar-lhe piano. Para mim, piano é um instrumento que se toca com as mãos e que eu adoro muito ouvir. Quando andava na escola ainda aprendi umas coisas com uma vezinha que me ensinou a destinguir as técalas pretas das técalas brancas, mas que já me esqueci.
Como já perceberam, sou muito sociável e sempre me dei bem com os meus vezinhos, o problema é que agora sou muito mais tímido. Sou tão tímido que não consegui meter conversa com a filha deles, uma moça que é baby-sister e é muito gira. Ainda puxei conversa quando lhe contei que tinha ido ver a xanfana da GNR em Belém. Ela disse que aquilo não era xanfana que era a sanfona. Mas o pai dela, que é um complicativo, veio meter-se na conversa e disse que aquilo era a xaranga e que se tivessemos dúvidas ela ia perguntar ao vezinho do outro lado, que é alferes e percebe disso e que se calhar aquilo era mas é a fanfarra. Eu respondi que não valia a pena mas mesmo assim o homem insitiu e lá foi ele chamar o alferes que ficou todo sastefeito porque a mulher dele tinha estorricado o almoço e até lhe calhou bem. Ficamos assim todos a saber que aquilo que eu tinha visto era a charanga e que é a única no mundo que toca a galope; nada como um espacialista para escarcer certos assuntos.
Além destes, eu ainda tenho outro vezinhos muito engraçados. Quando já estavamos a comer, uma outra vezinha foi lá pedir uns limõezitos...um ou dois e levou quatro. Estava com muita pressa porque tinha lá dezanove pessoas para jantar mas nunca mais se ia embora. Explicou que vai de férias e que precisava de alguém que lhe tomasse conta da Fiona. Ninguém sabia quem é a Fiona, embora eu já tivesse ouvido esse nome em algum lado. Descobrimos entretanto que se trata de uma ratinha e que um de nós vai ter que dar atenção e de comer à Fiona, mas que não é preciso passeá-la. Ficou decidido que vou ser eu que terei a meu cargo essa tarefa. Logo eu, que detesto ratos.
Depois de tudo isto, já nem consegui engolir a bifana que tinha no prato e muito menos o gelado tutti-fruta com chentilim e que tinha tão bom ar. Mas ficou combinado que, na próxima vez que eu for ver o render da guarda no palácio de Belém, a baby-sister vai comigo.

13 julho 2007

UMA PÁGINA DO MEU DIÁRIO

Querido Diário:

Espero que não pareça demasiado amaricada esta maneira de me dirigir ao meu diário.

Hoje, Sexta-feira 13, foi um dia complicado.
Passei a manhã a trabalhar como um doido e, quando se aproximou a hora do almoço, comecei a perceber uma interessantíssima agitação em meu redor. Era o grupo de homens da escola que preparava o almoço no refeitório. « Já compraste o vinho?», e tal, «Eu, comprar? Bolas, tenho lá em casa uma caixa com seis garrafas», e tal, «Mas que é que isso interessa se não trouxeste nenhuma...?», e tal, de maneira que me fui encostando ao bando. Não só por causa do vinho, e tal, mas sobretudo porque roubaram a pochete ao pochato e isso seria parte do prato.
PLANETAZUL (convidando-me) - Sim, pá, o gajo está inconsolável, ah ah ah, portanto já estás a ver que o almoço vai ser um consolo para o pessoal, no fim o pochato até chora, e a gente obriga-o a beber para esquecer...
Toda a temática do almoço parecia, pois, imperdível.

Mas já era tarde para ir marcar.
Quando se aparece tarde para marcar, as senhoras ralham um bocadinho, e dizem «ai ai ai ai ai», e, o que é pior, depois avisam que vão ter de chamar o sr Gonçalves, o que é uma ameaça assustadora. Mas só para não perder o almoço subordinado ao tema «Roubo da Pochete», preparei-me para enfrentar tudo.
Ameaçaram-me que chamavam o sr. Gonçalves. Lá veio ele, palitando pesadamente. Arrancou-me o cartão das mãos ansiosas. Passou-o. E... e... e...
Sirenes!
Letras vermelhas num monitor ao alto, à vista de toda a gente: ESTE GAJO NÃO TEM SALDO NEM PRA MANDAR CANTAR UM CEGO!!!
Vozes em redor.
Sussurros.
SÔ GONÇALVES - Boxemexê nã tem xaldo!!!
Fujo, corrido.
Ainda oiço, ao longe, a voz de Juju Ximon.
JUJU - Vê lá, queres que te empreste???

Vou almoçar sozinho, lá fora, uns pastéis de bacalhau...
De longe, chegam-me ecos de risos, odor de vinho. O almoço temático brilha. Oiço o Pochato a contar pela quinquagésima vez como é que lhe desapareceu a Pochete