29 dezembro 2006

O MEU POST DE BOM ANO

Como não sou um dos blogueiros modernos, cheios de recursos, capazes de «postar» bonecos, resta-me, para o meu cartão de Boas-festas, pedir aos leitores que façam um esfoço de imaginação. Não há boneco, mas vamos fazer de conta que sim. Vamos imaginá-lo. Ao fundo, montanhas de neve. Em primeiro plano, uma mulher horrenda, monstruosa, com verrugas - mas, atenção, uma cabeça muito bonita, com um cabelo encantador. Conseguem imaginar? Está bem, mais um esforçozinho, já vos deixo ir descansar. Para essa mulher horrenda se dirigem filas de professores entusiasmados, felizes, sorridentes.

A legenda:

«Como a beleza exterior não tem qualquer importância, desejo a todos os professores (e, portanto, também a mim próprio), para o ano que aí vem, uma outra ministra - que até pode ser tão feia como a actual - ou mais feia do que esta - desde que tenha uma cabecinha melhor!»

BOM 2007

ESPERO COMENTÁRIOS!!!

E POR FALAR EM MILAGRES...

Já agora, gostaria de recordar que se deu outro milagre naquele abençoado almoço de Natal. Não é que o terrível presépio, não o vivo, mas o morto e bem morto, esse... desapareceu!??? Na altura pensei nisso de relance, depois esqueci-me, porque já estavam entretanto a chamar-me para fazer a habitual figura de parvo. (A ver se me consigo esquecer disso...) Mas, quanto ao presépio, o morto, vem-me agora de novo o desaparecimento à ideia. Ou terá sido um sonho?

E não é que esta ausência me provoca alguma nostalgia? Primeiro desaparece o fantasmadaopera. Depois desaparece o presépio. Mantém-te firme, Pochato, se não fico sem assunto...

DESEJOS DE DOIS QUASE ANÓNIMOS

1. Estou triste. O Pai Natal ignorou a longa carta que eu lhe tinha escrito, e não me trouxe rigorosamente nada do que eu lhe rogara, nem sequer o Action Man. Restava-me que se realizasse um grande desejo meu, a ser secretamente pedido na passagem de ano (levando eu, ao mesmo tempo, doze passas à boca): que a escola rebentasse, ou afundasse, em suma, que eu nunca mais tivesse de lá ir, porque os professores são muito chatos e os meninos são maus. Só que depois reconsiderei. Já tenho cinquenta e tantos anos, sou o Presidente do CE da escola, sobre os meus ombros recaem responsabilidades, há que assumi-las. Se não fosse eu, os professores seriam ainda mais chatos e, os meninos então, totalmente insuportáveis. Portanto, já não vou pedir que se realize esse desejo. Será que posso tornar a desejar o Action Man para o ano novo? Um que eu idealizei, muito giro, assim de barba de três ou quatro dias e um casaco de bombazina, com as mãos nos quadris? Será que alguém me oferecia um desses???

2. Quanto a mim, não me identifico nada o que vem escrito acima. Para já, eu não peço que se realizem desejos para o ano novo: mando-os realizarem-se. E ai deles se me falharem! Ora para 2007, vou exigir: colegas que não me contrariem tanto, e um carnet novo. É só!

23 dezembro 2006

21 dezembro 2006

A TODOS UM BOM NATAAAAL!

PARABÉNS, RAÍNHA de INGLATERRA!




















Isto é REALMENTE espantoso! Fazem-me editar este post para fazer uma correcção, apenas porque uma pessoa quer desejar parabéns à Raínha de Inglaterra! Bolas, um reino não lhe basta, ela deve ter poderes alargados ao entire universe! Vocês...

20 dezembro 2006

O MEU DIÁRIO

Dia 1.
11.30h.Talvez porque o dia estava lindo ou apenas por ser a primeira, a reunião correu dentro da normalidade, escreveu-se.
16.3oh. DTLS (chamo-lhe assim porque não tenho tempo para mais e até fica bonito, não fica?) tem pressa, não gosta de perder tempo com conversas fúteis (um caso raro, bem sei). C despede-se. Tudo bem, não deixa muitas saudades. E quer esclarecer a sua posição, sim, está de partida, é uma das suas últimas reuniões, quer mostrar empenho e dedicação à causa que considera quase perdida, a educação dos pequenos; tudo porque "ensinar boas maneiras está fora de moda". E fica algum azedo no ar. Há quem tinha dificuldade em partilhar o mesmo ar; o mesmo ar, a mesma sala, as mesmas ideias, o mesmo rascunho de acta, as mesmas indicações para a ficha de avaliação. Em surdina, aquilo transformou-se num campo de batalha em que ninguém se tarevia a levantar a voz. Cruzavam-se olhares e piropos venenosos, baixinho, não fosse alguém ouvir. Para ilustrar melhor a ideia, fiz um desenho, que me escuso a legendar, pode ser que alguém adivinhe o sentido das chispas.
Ainda que não adivinhem, eu atrevo-me a continuar. RC não suporta o olhar da C e bufa cada vez que ela fala, tratando todos por você, o que a irrita solenemente. Alheia a estas questões, HS, desempenha perfeito o seu papel de secretária. MM espirra constantemente ao meu lado e repete vezes sem conta "amanhã vou ficar doente"; amarfanha pilhas de lenços de papel em cima da mesa. Eu encolho-me na minha cadeira, não quero adoecer e perder o almoço de natal. Xiça, chega pra lá.
Dia 2.
11.30h. Eu, DTSubstituta cumpri o meu papel na perfeição, isto é: a reunião foi rápida, tão rápida que deixou AB feliz da vida por poder ir assistir aos preparativos para o almoço de natal enquanto pode aquecer o estômago.
16.30h. DTPV começa por distribuir Mercis com a secreta convicção de que aquilo vai ser um instante. AB repete "vai ser rápido, vai ser rápido". O que não estava previsto era que C estava ali para se despedir; mais uma vez... Coitada da SF que só queria passar um bom bocado a contar histórias giras, como aquela do cubano que casou com a miúda gira que afinal era tesa. Mais uma vez, saltou a tampa à TJ, como lhe vinha acontecendo desde o dia anterior. Pudera! com as dificuldades que diz que temos para resolver os problemas dos alunos, dos pais dos alunos, dos substitutos de pais dos alunos...nem com a vertente 3 se consegue fazer nada. Muito menos com ritalina, palavra que me atrevo a destacar como sendo aquela que mais ouvi nestas reuniões. DTPV não se poupa em explicações acerca de como lidar com um chinês que não percebe patavina do que se lhe diz e vai dormir para as aulas e um angolano que não consegue ficar sentado na cadeira. E nós com vontade de fugir dali.
Dia 3.
8.30h, o fardo já é pesado. Mas há CT que são, digamos assim, pouco userfriendly. Valeu RdeI para trocar olhares sempre que CB começava a contar de onde conhecia este aluno ou a mãe daquele; e com quem partilha a sauna e às vezes o jacuzzi.
Para chegarmos ao fim e não termos tempo de analisar os PCT que nos vão obrigar a reunir em Janeiro.
Descansem que em Janeiro não farei diário.















Ou como do branco se faz tinto num almoço de natal...

OUSADIA E INOVAÇÃO NO TEATRO NATALÍCIO: A ESLAV, UM EXEMPLO A SEGUIR

Este ano, o almoço natalício da eslav teve, como ponto triste, a ausência de Lara Croft, e como ponto alto, um auto de Natal pós-moderno, de um arrojo invulgar, que eu passo a narrar para benefício dos que não viram (ou dos que viram mas não estavam intelectualmente preparados para tão revolucionária arte). Esqueçam o menino, S. José, a Virgem. Esqueçam o burro e a vaca. Esqueçam tudo o que já viram em matéria de teatrada natalícia...

Tudo começou com a sensacional entrada em palco de um mercador àrabe de tapetes, com a barba por fazer - o mercador é que tinha a barba por fazer, não os tapetes -, o qual se reconhecia imediatamente pelo facto de trazer à cabeça um tapete: tal personagem - o mercador, não o tapete - era brilhantemente interpretado pelo Chefe Lucas, numa representação verdadeiramente inexcedível (sobretudo na parte da barba por fazer).
O dito vendedor começou logo a tentar impingir os seus tapetes a uma senhora loira, papel executado, e bem!, pela colega Su7.
Eis senão quando surge um professor de Educação Física pela mão de um professor de Filosofia, ambos enfiados nuns trapos estranhíssimos, simbolizando, obviamente, o primeiro actor, um aluno com dificuldades diversas e comportamentos desadequados; e o outro, um professor em sérias dificuldades por causa do aluno com dificuldades sérias.
O menino, por alguma razão que o drama, enigmática e deliberadamente, mantém na obscuridade, não aprovava que o vendedor de tapetes estivesse enganando a pobre senhora loira e, por isso, mandou chamar o seu gang, constituído por dois mariolas com umas toucas de lã e cujo grito de guerra era «Meeeeh Meeeeh!»
Naturalmente, havia que se pôr ordem nesta desordem. Para o efeito, veio um dos vigilantes, o senhor Borrego, fazendo o papel de si próprio, acompanhado por um jovem professor de Matemática que, para assustar o gang (como se já não lhe bastasse ser professor de Matemática), apareceu vestido de pirata e com uma bengala na mão, destinada a correr toda aquela malta à bengalada. Foi um momento de pânico na assistência. Sentia-se o frémito e o suspense percorrendo os convivas, ainda há pouco tão alegres e, de repente, tão atónitos com o inesperado desenrolar da acção.

Toda a representação ia sendo pontuada pela voz de uma senhora que subiu para uma cadeira, como aliás tem feito todos os anos, apesar de estar reformada. (É que, como se percebe, não há maneira de a reformarem das teatradas natalícias). E a senhora lá ordenava aos actores que se distanciassem das personagens para fazer discursos que nada tinham que ver com estas. Era o toque brechtiano que faltava. Brecht puro! Reparem: O mercador, repentinamente, tornava-se Presidente do CE e, nessa qualidade, dizia umas coisas ao público que já não cabia em si de riso (porque, onde haja inovação, já se sabe, há sempre uns papalvos e uns ignorantes cujo papel é gozar!). À senhora loira pedia-se, também, que dissesse umas quantas coisas. E mesmo ao aluno mal-comportado. Até ao professor de Filosofia se ordenou que falasse grego (numa clara alusão ao facto de, para os estudantes, os professores estarem sempre «a falar grego»), o que ele cumpriu conscienciosamente, repetindo: «Rabanadas, rabanadas!»

Fomos uma autêntica vanguarda na arte teatral. Nada nos detém. Chora, Croft, o que perdeste!

E, para que conste, até milagres se operaram neste almoço de Natal. Juro que me passou pelas mãos uma garrafa cujo rótulo prometia «Branco» e que tinha, lá dentro, vinho tinto! Não, não era eu que já estava com os copos. Aconteceu. Há testemunhas!

Feliz Natal!

19 dezembro 2006

DIÁLOGO NATALÍCIO

JOCA XUNGA - Olhó Pai Natal! Feliz Natal, man.
PAI NATAL - Não me digas nada, homem. Feliz Natal? Isto já não é o que era...
JOCA XUNGA - Pois não é, não. Eu, pr'ixemplo. Tou aqui todo o dia a ajudar as pessoas a arrumar os carros, pá, a dar bitaites, «troce, troce, troce, agora destroce tudo», meu, e a dar indicações, «a madame controla ali o redondo e vira na terceira...», e o pessoal depois dá-me umas moedas que são uma miséria. E pior, a bófia ainda anda em cima. No outro dia levaram-me à esquadra porque eu andava a fazer pela vida...
PAI NATAL - Ai sim?
JOCA XUNGA - Tás a ver, meu, só porque eu apontei uma seringa a uma velha que não me queria dar um aéreo, a bófia, trau, deitou-me logo a luva. É não deixar um gajo ganhar o seu.
PAI NATAL - Se calhar fizeram bem. Para que andaste a assustar a velha?
JOCA XUNGA - A assustar? A seringa tinha chá, não fazia mal a ninguém. Nem sequer era chá da dieta 10, que se fosse isso já se percebia, mas não, era um cházinho de cidreira, a velha até devia ficar-me agradecida, aquilo era pós nervos, achei que tava um bocado mal...
PAI NATAL - Mas tu não penses que a minha vida vai melhor. Isto é uma desgraça. A crise deixou o país muito deprimido. Já não há presentes. E, pior, quando me vêem, nos centros comerciais, os putos fogem logo de mim. Anda um clima que nem te digo nada. Um miudo dizia assim para outro: «Não vás ali, que está lá um velho que senta os putos no joelho e põe-se a sorrir muito para eles, e a prometer-lhes prendas e não sei quê...»
JOCA XUNGA - Eh pá. Mas olha, olha ali aquele grupo!
PAI NATAL - Ah, os excluídos. Os marginais!
JOCA XUNGA - Quando os vejo, meu, apesar de tudo o que ando a passar, penso: Aguenta-te, Joca, tu, pelo menos, ainda não chegaste ao fundo da escala social.
PAI NATAL - É verdade. Fica-se com pena deles, mas ao mesmo tempo fazem-nos sentir menos mal connosco e com a nossa vida.
JOCA XUNGA - Olha, queres ver o que lhes digo? VÃO TRABALHAR MALANDROS! A MULHER É QUE VOS VAI PÔR NA LINHA!
PAI NATAL - Coitados, não sejas cruel.
JOCA XUNGA - Professores! Pff, que nojo!
PLANETAZUL

O prémio será entregue no Almoço de Natal pela Croft no papel de "Virgem Maria".

18 dezembro 2006

17 dezembro 2006

Kraus canta Zarzuela

Especialmente para a Spanish
il divo unchained melody

A pedido de alguém muito especial...e com muito bom gosto!

A COLUNA DE D.J. CARA DANJO: O MEU COTA VAI DEIXAR DE FUMAR nos próximos quatro anos

a minha vélha táva ásservir o café e o mêu cóta cômo de custume puchôu do sigarrito. vai a minha vélha e disle acín (nein pênçes niço atão não çábes k agóra é puribido fumár ein ressintos fexádos). e vai açín o mêu vélho. (mas êu tôu ein minha cáza bólas). e respõdele a vélha. (ái díço não kéro çabêr. ôu isto é un ressinto fexádo ôu não é). o mêu cóta k não gósta de não têr a última palávera meditôu un cóxe e depôis tipo çaíusse con ésta. (xpéra lá tu tás enganáda. atão não ôvistes dezêr k os restórantes tínhão quátero ânus pâ çe adaptárein á nóva lêi. as peçôuas não pódein deichár de fumár ein ressintos fexádos dun momênto pó ôutro. tu pênçávas çe calhár k éra çó o dôno do restórante dezer fáxavôr de apagár o sigárro. mas ólha k não. éstas côizas lévão o çêu têmpo. êle tein de ganhár curájein pa aburdár o fumadôr depôis têin de fazêr un bucádo de convérça não vái lógo dezêr tipo não çe fúma aki e depôis tein de vêr çe o fás pagár a cônta não vá o fumadôr xatiarçe e çaír sein pagár purtanto é perçizo têmpo). e vái a minha mãi. (tôu a vêr. mas quátero ânus não é têmpo demáis). e vái o mêu cóta. (não. o menistero é bué daspérto. açín ivita purbelêmas nos restórantes. pq ein quátero anos os fumadôres têien têmpo pra acabár o çêu sigarrito sein têrein de les dezêr náda. ó atão mórrein d1 purbelêma nos pulmõis. tás a vêr. ólha. êu purizêmpelo côn ésta convérça já acabêi intertânto o mêu sigarrito).

DRA. RUTH DÁ UMA MÃOZINHA A LARA CROFT

Minha muito querida amiga Lara Croft:

Acabo de ler a sua carta, publicada no blogue, e devo dizer que não gosto de a ver assim. Tão infeliz!
Deixe-me tentar animá-la. Sim, eu sei que os professores estão pela rua da amargura; sim, eu sei que a ministra conseguiu que o país inteiro os desprezasse. Mas, minha amiga, por acaso pensa que a senhora dona Lurdes é mais feliz do que alguns professores? Desengane-se. Ainda há, entre os docentes portugueses, pessoas que sabem vibrar com as grandes-pequenas alegrias que a profissão lhes traz. Por exemplo: um almoço de Natal concebido pela Guilhermina, com o chefe a fazer pela centésima vez de Nossa Senhora. Acha que a dona Lurdes conhecerá alguma vez uma alegria semelhante à dos professores que consigam sobreviver a esse almoço e possam, no fim, dizer: «Que alegria! Isto já acabou, deixa-me cá pirar antes que se lembrem de mais qualquer coisa»? Ou o natalício momento da troca de prendas. Acha que a ministra conhecerá a euforia de poder gozar com as prendas que calham aos outros? «Já viste? A moldura com a fotografia do Tony Carreira calhou ao senhor Gonçalves... Huaaah! Ah! Ah! Ah! Ah!...»

A dona Lurdes é uma mulher azeda e infeliz. Devemos ter pena dela. Claro que a pena é relativa. Andamos a preparar um grupo, com tudo organizado e capitaneado pela Guilhermina, que vá representar um presépio vivo à porta de sua casa, na noite de Natal. Com o chefe a fazer de Nossa Senhora, os reis gordos do costume, etc. Houve quem achasse que, como maldade contra a ministra, era um bocado pesadote, mas ela merece isso e muito mais. E só se lhe fizermos isso é que poderemos ter alguma pena da senhora...

Entretanto, Lara, como não quero vê-la tão infeliz, deixe-me dar-lhe uma mãozinha. Tinha-a comprado para a troca de prendas; andava a ver se calhava a quem me ofereceu, no ano passado, aquele cãozinho para pôr à janela trazeira do carro, com uma cabeça que abana a cada solavanco - mas olhe, ofereço-lha já. É de louça.
Está melhor? Eu sabia que ia ficar melhor. Gosto muito de ajudar.

Sua

Ruth

16 dezembro 2006

A RAVE

Acerca do «Inquérito que era uma Vergonha», mais haveria ainda a dizer. Sobretudo, nunca é de mais perguntar: como estão os seus «fabricantes» tão familiarizados com aqueles nomes e expressões? «Rasta»? «Bomba»? «Deca»? «ColdPlay»? Aposto que muitos de vocês nem sabem de que se está a falar. (Ok, com a excepção de Juju...). Não é estranho? Hum...? Não seria isso digno de uma investigação? Estará o Ministério da saúde infiltrado de drug adicts, vulgo «drógados»???

O blogue, sempre em cima do acontecimento, vai aos bastidores mais esconsos e ocultos do parto deste inquérito-que-era-uma-vergonha.
E conta, em primeira mão, ONDE, COMO e POR QUEM foi fabricado o dito inquérito-que-era-uma-vergonha. Talvez esta viagem alucinante pelas profundezas nos ajude a explicar algumas coisas.

Cenário: Uma «rave».
Personagens: Num canto, ao fundo, um grupo (em que se misturam alguns «junkies», uns quantos «rasta» e fãs de ColdPlay, todos médicos e/ou enfermeiras)discute-se que perguntas se hão-de fazer aos alunos.

DOUTOR RASTA (já com uns copos, em maré de confidências) - O meu pai biológico era um substituto, porque o seu trabalho consistia em substituir pais que faltavam, como hoje se faz entre professores, nas AAA. Quando o marido da minha mãe chegava a casa, punha-se a fungar, e depois dizia assim: «Já cá esteve o substituto! Ainda lhe sinto o cheiro!»
ENFERMEIRA JUNKIE - E depois? E depois?
DOUTOR RASTA - Depois, batia na minha mãe. E puxava-lhe os cabelos. E dava-lhe murros. Acham que podíamos fazer esta pergunta no inquérito? Se o pai ou o substituto fazem essas coisas à mãe? Ou a mãe ao pai? Ou a mãe ao substituto? Ou o substituto ao pai? Ou o pai à substituta, ou substituto à substituta, ou a substituta ao substituto, ou...?
JUNKIE DAS PERNAS TORTAS - Põe isso, põe isso. Mas, ó Rasta, tu já estás com o charro há bué de time, meu. Tás a ser um egoista do caraças. Passa aí essa cena, meu. Só tu é que fumas, não?
DOUTOR RASTA - Estou a pensar na minha infância (puf!puf!). Sofri muito, meu. Por exemplo (puf!puf!), uma vez o meu pai encontrou uma rapariga e começou a falar com ela, queria pagar-lhe um café, e um copo, e não sei mais quê. A miuda até foi, só que entretanto apontava para mim, e perguntava-lhe, meio encabulada: «Mas ele é seu filho? O senhor é casado?» Aí, o meu pai respondeu: «Não, não, casado, eu? Ele é meu sobrinho». Fiquei preocupado com estas falhas de memória, achei que talvez fosse uma doença como a do meu avô, que esquecia tudo e trocava tudo. Por isso, comecei a dizer: «Ó pai...», mas o meu pai mudava logo de conversa. A miuda já tava a ficar desconfiadíssima. A partir daí, sempre que eu abria a boca, o meu pai dava-me carolos e mudava de conversa...
JUNKIE DAS PERNAS TORTAS - Eh, man, eu só quero é saber uma coisa. Passas o charro ou não passas o charro...???
JUNKIE DE MEIAS À FLORIBELLA - Eh, pá, tu és bué da cruel. Deixa lá o homem, não vês que ele tá triste? Acho que podíamos pôr isso no inquérito. «Sempre que tu começas a falar, o teu pai muda de conversa...»! Que tal?
POCHATO - E a bomba? Alguém me passa aí a bomba?
JUNKIE DAS PERNAS TORTAS (segredando para a enfermeira) - Este tipo da pochete não te parece um bocado deslocado? Tem um ar tão «straight».
ENFERMEIRA JUNKIE (em segredo, também) - Ui, são os piores. Se imaginasses o que este marado traz dentro da pochete...
FÃ DOS COLDPLAY - Isto está a compor-se, está. Acho que o inquérito começa a tomar forma. Agora há que pôr isto em sobrescritos ultra-secretos.
POCHATO - Arranjem-me uma bomba, se não quem explode sou eu!!!
ENFERMEIRA JUNKIE - Sobrescritos ultra-secretos? Para quê?
FÃ DOS COLDPLAY - Ora! Para não ir parar a algum blogue...!

NÃO É SOBRE REPOLHOS, MAS PREFERIA QUE FOSSE

No outro dia, ao falar com uma amiga (que não é professora) quase que ia sacando das armas durante a conversa. Acho que estou a ficar doida. D. Lurdes conseguiu mesmo denegrir a imagem dos professores perante a opinião pública. E o pior é que parece que não há nada a fazer. Havemos de ser os eternos madraços, mesmo quando eu vejo colegas ou a cair de cansaço ou a ter de meter baixa psiquiátrica. Já não vale a pena falar sobre o assunto, ou daqui a pouco quem mete baixa psiquiátrica sou eu. Parece que ninguém consegue aperceber-se do desgaste que esta profissão implica e do quão desmotivante se está a tornar.

Hoje falava com uma colega que já é professora há anos, mas que ainda não conseguiu passar da eterna contratada. Saltita de escola em escola, com horários miseráveis. Com a restruturação do estatuto da carreira docente, e ainda fora dela, está a pensar abandonar a ideia de continuar a ser professora. Não porque não goste, não é isso. É que um professor contratado trabalha tanto como os outros, mas ganha mais miseravelmente ainda. E não consegue um mínimo de estabilidade. Ora pode estar aqui, ora pode estar em Freixo de Espada à Cinta. E a família tem que se sustentar. Mais vale arranjar um emprego numa loja, dizia ela. Ao menos posso conseguir ficar perto de casa, não tenho tanta despesa e sempre estou mais perto da família. E assim se perde uma óptima professora.

É isto que vai suceder: o nosso país vai ficar sem professores. Acreditem que esta não é a única colega com quem falei que está a pensar abandonar a profissão. Já vão sendo muitos. E esta que vos escreve está muito desiludida. Continua a trabalhar o melhor que sabe, mas é pelo seu brio e pelos seus alunos. Não consigo respeitar uma tutela que me desvaloriza e me desrespeita.

Gostava mais de ter escrito sobre repolhos. Daqui em diante vou tentar cingir-me aos vegetais, talvez especializar-me em leguminosas. Tristezas não pagam dívidas. E este fim de semana até vou conseguir folgar!

15 dezembro 2006

UM INQUÉRITO QUE ERA UMA VERGONHA

Aconteceu com uma turma de sétimo ano. Era a última aula antes das férias do Natal. Pensávamos que íamos ter uma aula de avaliação, mas fomos, eu e eles, surpreendidos por um inquérito provindo do Ministério da Saúde, que se destinava a um estudo sobre a droga nas escolas. O INQUÉRITO, ele próprio uma droga, não era um inquérito qualquer, era confidencial e devia ser preenchido no mais absoluto silêncio e anonimato. Devia, mas não foi. Só quem não sabe o que anda a fazer podia ter feito um inquérito deste calibre.

- Tão grande? Mas isto vai levar a manhã toda! Anonimato? Stôra, o que é isso?!
- Mas o que é que eles têm a ver com isso? Para que é que querem saber isto?
- A minha mãe disse que nós não devemos responder a estes inquéritos sem autorização dos pais… Mas deixe estar, eu faço na mesma.
- Eu conheço góticos mas não me dou com eles, também não os rejeito, o que é que ponho?

- ColdPlay é o quê? É rock?
- És burro, meu! É punk! Como é que se escreve R&B?
- O que é um “rasta”?
- O que é uma rave? E uma “festa trance”?

- O que é que eu ponho aqui? Quando vejo uma pessoa fumar não a rejeito, não me afasto mas não tenho desejo de a ajudar. Porque é que havia de a querer ajudar?!
- Se estou com pessoas que “fumam cannabis”?! Eu sei lá o que é que eles fumam!
- “Com que frequência consumiste esteróides anabolizantes (bombas, decas, etc)”? Eu já fiz uma bomba, sabe como é que fiz? Cortei as cabeças dum monte de fósforos, embrulhei em papel de alumínio, acendi um fósforo e aquilo fez um ganda estardalhaço!
- Eu também, eu também! Já experimentei fazer bombas no Carnaval.
- Tas parvo? Mas não as consumiste! Não se consomem bombas!
- Mas fui eu que as fiz! Não sei é onde é que ponho: “menos de 1 vez por semana”, 1 a 2 dias por semana”?


- Uma vez fui com o meu pai tomar café e ele pediu um daqueles copinhos pequeninos com uma coisa que parecia água. Eu engoli aquilo duma vez e depois vomitei. Devo por aqui que consumo bebida alcoólica “nunca” ou “menos de 1 dia semana”?
- Eu bebo um shot por semana, mas isso não dá pra beber até ficar embriagado.
- “Quando estás com pessoas embriagadas sentes repulsa, vontade de ajudar“? Destas todas? Simpatia, claro! As pessoas quando estão com os copos são tão engraçadas.

- A minha mãe tem o estrelato mas aqui só tem “licenciatura”, “mestrado” e “doutoramento”, onde é que eu ponho?
- Para que é que eles querem saber se “o meu pai está sempre a mudar de assunto quando eu tenho alguma coisa para dizer”?
- Eu não tenho que responder a isto, pois não? “Diz com que frequência o teu pai (ou substituto) insulta a tua mãe”.
- “Diz com que frequência a tua mãe (ou substituta) bate no teu pai”. Eu não vou responder a isto. A partir daqui ninguém tem nada com isso. Bora bazar! Pessoal, não façam mais nada.

-Stôra, como é que se fecha o envelope? Esta fitinha tem que se tirar ou é com cola?

POTATOES MOZART




















Mozart is a new tasty variety with a nice attractive skin.
The delicious flavour makes Mozart special, unlike traditional red potatoes that offer color only.
Eat it and you believe it!
Muntatge de Mozart

É prá coltura man

14 dezembro 2006

WRESTLING NA ESLAV

O wrestling é puro entretenimento. É o que se vai já ver.
Mas atenção, planetazul, atenção, miss mandilyon, atenção, spanish lullaby, não deixem de ler o que se segue, hein?, não regressem já ao Dostoievski que vos pisca dali o olho: porque o wrestling é, também, cultura. E, para o provar, reparem só nos nomes dos locutores, os senhores Mozart e Beethoven.

MOZART - Aqui, no magnífico Pavilhão «Tás a dar-me Música», de que o departamento de Educação Física queria deter o exclusivo - «para os dias de chuva», diziam eles, «quando não se pode utilizar o ginásio...» -, estamos hoje reunidos a fim de assistir a um grandioso espectáculo de wrestling. Estás bom, Beethoven?
BEETHOVEN - Obrigado, Mozart. Neste combate temos, antes de mais, o odioso fantasmadaopera, que se especializou no fatal golpe de não fazer népia, que é um golpe tecnicamente de muito difícil execução...
MOZART - Nunca é de mais pedir aos senhores espectadores que não tentem repetir estas coisas em casa. É muito perigoso, muito perigoso. O golpe de não fazer népia requer uma total paralização dos músculos, das veias, das artérias, o indivíduo tem de ficar sentado sem mexer uma palha durante dias inteiros...
BEETHOVEN - É um golpe que mata o adversário por exaustão. Aí está o odioso fantasmadaopera...
A multidão apupa, erguem-se cartazes de «VAI TRABALHAR, MALANDRO», ouvem-se sons de fúria e desprezo.
MOZART - Mas eis que aparece o belo Greenlight, o delírio das multidões. Está até entre a assistência a ministra da Educação, com um cartaz que eu consigo ler daqui, ora vejamos... «DEIXA-ME DAR-TE UM BEIJO NO NARIZ, Ó GREENLIGHT, E PROMETO QUE SEREI MEL PARA OS PROFESSORES»
BEETHOVEN - Atenção ao gongo, rapazes. O espectáculo começou. Que é isto? Greenlight limita-se a dar um estalo e fantasmadaopera cai redondo no chão? Nunca vi nada assim. E não se levanta? E não se mexe???
MOZART - Bem, na verdade não é nada de novo. Não é uma situação em que não tenhamos já visto o fantasmadaopera. Mas... que é que se passa? Entram outros lutadores? Não estava previsto. Atacam o Greenlight à traição? Hmamão apareceu... de onde apareceu ele? E a Xaxão Bap, com a sua arma letal, o terrível chapéu inumano, que mata literalmente de riso? E também o Pochato, atacando à pochetada? Mas que se passa? O ringue está cheio de lutadores, atirando-se todos ao gracioso Greenlight?
BEETHOVEN - E o fantasmadaopera já está de pé. Estava a fingir. Aquilo era tudo fingido!!! Vai aplicar um golpe. Será o Pick Down? Será o Flash Lizzard? O Scissors? O TLEBS? O Croissant com fiambre? Não. É o Tiroliroliro. Ah, que apuramento técnico. Fantasmadaopera principiou a dançar o tiroliroliro. Temo que o Greenlight não consiga resistir a tamanho ridículo...!

13 dezembro 2006

O XIQUE E O XOQUE

Queridas! Há quanto tempo não escrevia a minha crónica!!! Aposto que notaram a minha ausência! Eu dei conta que estava a fazer falta e sabem porquê? Não adivinham? A começar pelo Sindroma, que escreveu um texto sobre a primeira dama do país, que por coincidência é a primeira dama também no mal-vestir. Rico!, para a próxima, inspire-se noutra dama, que prime pelo bom gosto, sim? Faça-nos esse favor.
Também se notou a minha falta para dar algumas sugestões: agora que o frio aperta, as minhas amiguinhas puseram os agasalhos a arejar! Mas cuidado, nota-se o cheiro a naftalina...
Uma coisa que me desagradou esta semana, é que ninguém cumpre as sugestões da direcção da escola e entristece-me quando as sugestões são boas. Por exemplo: à entrada do polivalente vêmos uma proposta afixada em cartaz - SEMANA do XADRÊS, entre 11 e 17 de Dezembro. O único xadrês que vi foi o das elegantes bermudas de quadradinhos da Soledade! Parece que ainda ninguém reparou que neste inverno o xadrês está na moda! Andam distraídas, ou não têm tempo para comprar umas roupinhas novas?! Bebé Moreia ainda aludiu a um axadrezado com o seu cachecour aos quadradinhos, provavelmente tricotado por si própria. Actualizem-se, pleeease!
Mas nem tudo é mau: Lenita Matos, estava de arrasar, com um casaquinho de veludo preto, ou seria azul escuro? Super chique, super bem! Também Lailai Freire, habitué no bom gosto, estava lindérrima com um casaco comprido mesclado.
E agora, uma dica: que tal inspirarem-se para as toilletes do próximo evento importante da escola? Não digam que as minhas queridas ainda não pensaram no que vestir no Almoço de Natal! E está à porta, é já na próxima terça-feira! Não estão a pensar naquela fatiota fora de moda que já foi vista no Natal passado, pois não? E também não estão a pensar vestir de vermelho com um barretinho de Pai Natal, pois não? Claro, isso é coisa para o distribuidor de presentes.
Aproveitem o fim de semana para fazer umas comprinhas arrojadas. E já agora, aqui entre nós que ninguém nos ouve, se for verdade o sururu que fui ouvindo hoje pela sala de professores, as minhas queridas não me vão desiludir!
Até para a semana!

12 dezembro 2006

Joan of Arc Leonard Cohen

Esta foi a primeira das muitas horas na compnhis de Cohen.
Era ele bem mais novo e eu também...
Leonard cohen - the future. Jools Holland

Give me back my broken night
my mirrored room, my secret life
it's lonely here,
there's no one left to torture
Give me absolute control
over every living soul
And lie beside me, baby,
that's an order!

Give me crack and anal sex
Take the only tree that's left
stuff it up the hole
in your culture
Give me back the Berlin wall
give me Stalin and St Paul
I've seen the future, brother:
it is murder.

Things are going to slide, slide in all directions
Won't be nothing
Nothing you can measure anymore
The blizzard, the blizzard of the world
has crossed the threshold
and it has overturned
the order of the soul
When they said REPENT REPENT
I wonder what they meant
When they said REPENT REPENT
I wonder what they meant
When they said REPENT REPENT
I wonder what they meant.

You don't know me from the wind
you never will, you never did
I was the little jew
who wrote the Bible
I've seen the nations rise and fall
I've heard their stories, heard them all
but love's the only engine of survival
Your servant here, he has been told
to say it clear, to say it cold:
It's over, it ain't going
any further
And now the wheels of heaven stop
you feel the devil's riding crop
Get ready for the future:
it is murder.

There'll be the breaking of the ancient
western code
Your private life will suddenly explode
There'll be phantoms
There'll be fires on the road
and a white man dancing
You'll see a woman
hanging upside down
her features covered by her fallen gown
and all the lousy little poets
coming round
tryin' to sound like Charlie Manson
and the white man dancin'.

Give me back the Berlin wall
Give me Stalin and St Paul
Give me Christ
or give me Hiroshima
Destroy another fetus now
We don't like children anyhow
I've seen the future, baby:
it is murder.

11 dezembro 2006

AVISO À NAVEGAÇÃO

O site da escola encontra-se desactivado devido a uma falha de comunicação. Esperamos que o problema seja resolvido a todo o momento.

Entretanto, têm que marcar o almocito na escola.

ENTREVISTA COM DONA MARIA CAVACO: «EU SOU DO CENTRO-ESQUERDA»

A grande revelação desta entrevista é que a senhora dona Maria Cavaco se situa... no Centro-Esquerda... mas não quero antecipar nem deixar-vos com água na boca. Avancemos, avancemos...

REPÓRTER ESTRÁBICO - Então, quando a senhora era uma gaiata, tratavam-na por «delgadita» por apoiar o General Humberto Delgado? Conte lá isso, conte lá.
DONA CAVACO [gargalhada] - Pois era. Dava imenso apoio, sobretudo na base da conversa. Estava sempre a dizer «Delgado», a propósito de tudo, e a censura nunca me apanhou. Dizia, por exemplo: «Ó mãe, não me dê um pedaço de bolo tão... DELGADO, por favor!»; ou então: «Ena, que ramito tão... DELGADO!». Sinto-me hoje muito orgulhosa deste apoio. Foi por causa disso que principiaram a tratar-me por delgadinha...
REPÓRTER ESTRÁBICO - A senhora era muito revolucionária, parece. Chegou a fazer greve às aulas, na universidade?
DONA CAVACO - Mas houve alguma greve? Não dei por nada. Havia uns alunos que não iam às aulas, sim, mas esses já não iam antes. E outros que faziam pouca coisa, é certo, mas nunca tinham feito muito. Eu não. Nunca teria aderido, porque, para mim, ser revolucionária é fazer coisas, não é não fazer coisas. E gostava muito de ir às aulas, sempre gostei. Se tivesse tido uma professora como eu, talvez não gostasse tanto...
REPÓRTER ESTRÁBICO - Quando a senhora e o seu marido foram viver para Inglaterra é que tropeçaram pela primeira vez numa verdadeira democracia, não foi?
DONA CAVACO - Ah, sim, e gostámos muito. Eu e o meu Cavaco até perdemos a cabeça naquele clima de liberdade, e fizemos coisas... [corando muito]... não é que me arrependa, mas hoje não as faríamos...
REPÓRTER ESTRÁBICO - Por exemplo...?
DONA CAVACO - Não, não digo. Não digo, tenho vergonha...
REPÓRTER ESTRÁBICO - Só uns quantos exemplos.
DONA CAVACO - Bem. Puxa-me pela língua. Por exemplo, o meu marido saiu do hotel, uma vez, sem ter de bater com o dedo indicador da mão direita sete vezes no fecho da porta, que é uma neurose que ele ainda hoje tem. E eu cheguei a não ir à missa um ou dois domingos...! E, perdidos por um, perdidos por cem, num gesto de total rebelião contra o sistema, até fomos uma vez jantar sem ter lavado as mãos...
REPÓRTER ESTRÁBICO - Uma pessoa com uma juventude tão revolucionária, onde se situa hoje?
DONA CAVACO - No Centro-Esquerda!
REPÓRTER ESTRÁBICO [mal crendo no que ouve] - No...? No...? E porquê...?
DONA CAVACO - Porque, na cama, nunca consigo ficar do lado direito, que é muito próximo da janela. O meu lado é o esquerdo. Mas também se fico muito à esquerda... já me aconteceu duas ou três vezes acordar no chão. Caio muito. Por isso fico do lado esquerdo, mas mais ao menos a meio. É o Centro-Esquerdo.
REPÓRTER ESTRÁBICO - Conta-se que que uma vez escreveu o discurso do seu marido, não foi?
DONA CAVACO - Ah, foi num hotel de segunda, nem tínhamos mesa, escrevíamos na cama, encontravam-se os papéis todos por ali espalhados, o tempo era pouco; ora como estávamos na cama, tudo aquilo me dava umas ideias, e eu não queria deixá-lo trabalhar, de modo que ele impingiu-me um tema qualquer para ver se me entretinha...
REPÓRTER ESTRÁBICO - E escreve-lhos ainda, às vezes?
DONA CAVACO - Não. Eu só corrijo. Vício de professora. Rapo da bic vermelha e corrijo, corrijo, corrijo. Ele escreve muito bem, sobretudo se comparo os seus discursos com os textos dos meus alunos.
REPÓRTER ESTRÁBICO - Diz-se que não queria que ele entrasse para a política.
DONA CAVACO - Detestei a ideia. Até lhe disse: «Ó Cavaco, se te pões a armar em parvo, ainda acabas em Presidente da República...»; era uma ironia, mas ele tomou-me a sério e respondeu: «Presidente, eu...? Ó filha, não insultes o povo português...»

10 dezembro 2006

Cartão parabens

Muitos parabéns Croft aí desterra na Parede (salvo seja...) Um beijo.












PARABÉNS LARA CROFT!

07 dezembro 2006

PONTO E VIRGULA

Importância de ser ponto.

Sou um ponto. (.)
Final, quando usado por si (mim) só, expectante quando em grupos de três, exemplificativo se estiver em pares e ao alto.
O meu papel no mundo gramatical é, indubitavelmente, primordial. Apesar da importância que me é reconhecida, nem sempre me sinto respeitado. Escritores de craveira internacional e lóbulos da orelha bem lusos têm-me prestado as mais lisonjeiras homenagens, usando e abusando de mim em frases de alto gabarito.
Só.
Sinto-me só.
Bolas! Porque é que ninguém me compreende?
Por outro lado, há quem receba nóbeis (leia-se "nó-beich") e me ignore, pura e simplesmente, optando por narrar momentos de intensidade dramática, como o acasalamento do pardal de bico pardo, em cinco páginas sem qualquer tipo de pontuação.
Mas como me sinto melhor é mesmo acompanhado pela minha melhor amiga, a vírgula.
Oh, quando nos juntamos os dois é um fartote, uma barrigada!
Partimos textos por tudo e por nada, não o conseguimos evitar - às vezes, parecemos o Blog da ESLAV, com tanta ideia encadeada.
Sou um ponto, sem final, e estou à espera da vírgula para poder partir este texto.
Vírgula?

OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS (II)

Aceitar o Futuro: COMO???

I

Entretanto, como eu precisasse ainda de me acalmar, já reanimado, levaram-me para o gabinete de gestão de conflitos - que é o local para onde mandam os alunos que pecisam de acalmar. E lá estava a professora Julinheta Limão, que me obrigou a escrever uma redacção sobre o que eu tinha feito de mal. Parece que, neste local, é assim que acalmam as pessoas...

II

Conduziram-me, depois, até casa. Até ao que parece que será doravante o meu lar. Eu, o terrível Termómetro, que tantos combates enfrentou noutros tempos, umas vezes sob o auspício dos deuses, outras vezes irritando-os (como daquela vez em que decidi convencer os meus companheiros a não fazer nada, como forma de protesto: e os deuses, irados, teimavam em que só três tinham aderido ao protesto, enquanto eu insistia em que foramos trezentos - contando, é verdade, com os que tinham morrido em combate...), eu, que acompanhei Ulisses, e lhe fiz partidas (como de uma outra vez em que o convenci, coitado, de que era ele que ia ter de substituir um guerreiro que faltara ao combate desse dia... o que nós nos rimos! - todos menos ele...), eu, que amei profundamente a minha doce Clister, por muito que a rainha de inglaterra se divirta com o seu nome e faça trocadilhos, eu, o herói mítico de que ninguém fala, pois bem, eu, uma vez encarnado no corpo de um funcionário, terei, ao que parece, de viver a sua vida, assumir-lhe os gostos, os comportamentos, o casamento...

III

É terrível. Eu, Termómetro, que amei e fui amado pela doce Clister (VAI PASSEAR, RAINHA DE INGLATERRA!) tenho agora em casa, à minha espera, nada mais nada menos do que uma esposa chamada Gertrudes, com buço e pêlos nas pernas, tenho um filho com um boné permanentemente enfiado na cabeça e umas calças permanentemente a desenfiarem-se-lhe pelo rabo abaixo e tenho uma televisão com um naperon de renda por cima... ao que um herói mítico pode vir a estar reduzido!!!

IV

Gostaria de ter força para aceitar o futuro que os deuses me reservaram: MAS COMO??? Se ao menos conseguisse compreender a missão que me está destinada...! Defrontar-me, mais adiante, com Agamemnon? Mas porquê? Quererão os deuses divertir-se com um combate, uma espécie de wrestling entre os dois? Ou será minha missão fazer desaparecer o presépio do refeitório? (Já comecei a tratar disso: todos os dias como um bocadinho daquilo, até que desaparecerá... se eu não morrer primeiro de indigestão...). Deverei roubar a mariconera a um tipo que para aí a passeia, e devolvê-la à sua legítima proprietária? Esforço-me por aceitar o meu futuro: MAS COMO??? (A Gertrudes pegunta-me pela vigésima vez se vamos passar o fim-de-semana prolongado a Coelheiros-de-cima... o meu futuro não me cheira nada bem...!)

ACERCA DA TRISTEZA DE AGAMEMNON

Agamamenon está triste, entre outras razões, porque não vê suficiente partcipação neste blogue. Não vê comentários...

Não amargures, Agamemnon. As pessoas lá vão participando. Se lêem, já não é mau. Mas queres ver que este mero «post» se vai encher de comentários? Então, aprecia...

06 dezembro 2006

UM MISTÉRIO COMO NUNCA SE VIU NADA ASSIM: EPISÓDIO DEZ

Depois de tamanha decepção, as três velhas juraram nunca mais voltar à Eslav. Desta vez tinham apostado no homem errado. Partiram, para longe em busca de um outro cavaleiro, talvez menos black, mas partiram sem se terem dado conta de que o comprido general ainda jazia inanimado no chão. Oh! Soubessem elas quanta sapiência jazia naquele ser ainda inanimado!
Depois do aparecimento da sala de professores, as actividades pareciam decorrer normalmente, incluindo as AAA. Dona Pylar passou a deter o exclusivo de pregar partidas ao Zézé Totó, desde que com a aprovação de Marius e Madame; Sou GonÇalves ficou incumbido de distribuir pipocas nas sessões de cinema, agora que tinha desaparecido o tabuleiro dos bolos.
Os professores de história andavam intrigados e Zézé Garcia não compreendia a que época pertencia o auto-denominado-general prostrado no chão.
-Ó Felina, senta-te aqui comigo nesta mesinha redonda.
-Zézé, eu que não sou de cá, custa-me a acreditar em certas coisas. Como é que uma escultura grega vem parar aqui? Logo aqui? Vai lá apalpar a ver se é bronze, dizem que é rijo que se farta.
DasDores empurra Su7:
- Vai lá tu, ó loira! Vá, mexe-te! Faz qualquer coisa.Tu não sabes disso? Arte é contigo.
- O Marius que vá quando não entrar em AAA, o que deve ser sempre.
Fáfá Madapleno pensava na oportunidade única de fazer vagar um lugar da mesa X - pensava em algo que fizesse articular a colega do lado, agora que o vício do tabaco tinha dado lugar a uma penosa e prolongada lamentação...
- Olhe, eu acho que está ali um bom tema a inserir na sua pesquisa semanal. Senão, repare: o senhor caíu prostrado. Está ali há dias e ninguém lhe mexe. Quantas vezes isto já aconteceu na história? Podia desenvolver uma pesquisa, tentar descobrir quantos generais tombaram por acção dum químico. Olha, o próprio Viriato, as teorias dizem que o seu assassinato se deu por efeito dum gás nocivo. Heim? Que lhe parece?
Aidélia, desesperada, põe em evidência a sua perícia em (des)bloquear conversa:
- Veludo! Veludo! Quem vai comigo à baixa comprar veludo?! É ou não é um bom pretexto para desaparecer daqui duma vez por todas?

REPÓRTER ZAROLHA - A REPÓRTER QUE ESTÁ

Aconteceu ontem na Eslav e a Repórter Zarolha estava lá, onde é preciso, sempre.
O assunto era a eleição dum símbolo capaz de representar a Corrida da Escola, a eminente corrida que era para ser e já não é, mas que ainda vai ser; a corrida que faz correr as Físicas, que não decidiram como defini-la: corta-mato? corta-estrada? corrida-mato?

O soberano júri era constiuído por cinco não membros soberanos elementos, a quem o departamento de educação física atribuíu poderes decisórios, perto de mágicos.
Os desenhos estavam estendidos sobre as mesas. Duas, porque não cabiam numa só. Os alunos deram-lhe, heim? Pensarão. Pois, eu também pensei, mas depois de se acenderem as luzes...

Black Knight afadigava-se, corria em volta das mesas, dispondo melhor os papéis; estava indeciso, este, talvez, mas aquele ali também, com outras letras, com outras cores, isto é, refazendo-o todo...
Chefe Lukas inclinava-se para um com uma forma ponteaguda, que fazia lembrar um emblema de xerife; azul, com um bico em cima e umas letras pirosas, douradas, mas ele gostava e que ninguém lhe dissesse o contrário. Devia estar a imaginar-se a cortar a meta com aquele emblema ao peito, no tempo em que corria os 100 metros barreiras, ainda antes de terem inventado o Obikwelu...
A aluna, representante dos alunos, pensava em voz alta - Eu não faria melhor. Gosto deste em forma de diamante, tipo... tipo super-homem...
O Chefe dos Encarregados de Educação estava preocupado, tinha que tomar uma atitude, senão nunca mais se via livre daquilo - Mas nenhum corresponde ao regulamento! Ou não tem data, ou não tem o nome da corrida. A propósito, como é que disse que se chama a corrida?
Estão neste impasse e nada da Elástica, quem tinha ficado de trazer mais uns bonecos num portátil; estava na reunião de Projecto, apoiando moralmente Céuzinha que queria fazer a calendarização das actividades de projecto e estava deprimida por alguém com poder para isso não lhe feito certas e determinadas perguntas.
Esbaforida, Elástica junta-se ao júri; lá fora chove a cântaros e o Chefe Lukas tem que saír por um bocadinho, muitas vezes, para pensar.
A selecção começa a ser feita por eliminação: dos mais pirosos, dos mais foleiros, dos mais mal desenhados, dos que têm cores horríveis; dos que representam os mortos do S.C.I., dos que têm figuras a patinar, fantasmas a voar, sapatilhas a secar, unhas dos pés a saltar; dos que são copiados de outros, dos que parecem estrelas de xerifes e o Chefe Lukas fica com vontade de bater na Elástica. Restam 5 desenhos e nenhum reúne condições. As Físicas, condensadas num cantinho da sala, ruidosamente silenciosas, cochicham -"Aquele" ainda la está.
ELÁSTICA - Se se trocassem as cores, as letras, se se alterasse a composição...
BLACK KNIGHT - Mas isso não é fazer um novo? Vamos a votos, que eu tenho que me ir embora, a não ser que queiram deixar isto para outro dia...
O Chefe Lukas vai pensar mais um bocadinho.
CHEFE dos EEs - Espere aí que eu também preciso de pensar...
Votou-se, democraticamente. Houve desilusão, quase choro. Vontade de repetir tudo de novo.
As Fisicas acotovelam-se - Não foi o que nós queríamos, mas vocês é que sabem.
PITA SHOARMA - Vais ver que fica lindo, fica. Estou mesmo a ver, dentro dum plásticozinho ao peito, debaixo dos kispos, num dia de chuva, não se vê nada. Mas vocês é que sabem.
São Al-piarça vai buscar os cartazes que os alunos fizeram para o dia da corrida-corta-mato, ou lá o que é.
SÃO AL-PIARÇA - Estão lindos, não achas? Há aqui umas ideias giras.
ELÁSTICA - Só ideias, não? Cartazes?! Isso são cartazes?! Ok, vocês é que sabem.
PitaShoarma exibe, vaidosa, o estojo de canetas que comprou, para aligeirar o ambiente.
Pronto, agora só temos que decidir que cores vamos atribuír a cada parte da corrida...

A PARTIDA

Zezé Totó, cada vez menos Zezé e mais Totó, chegara em cima do momento para substituir algum colega que tivesse faltado.
Vinha ensopadíssimo porque caira num rio.
Lurdes Orvalhada, que estava por perto, falou com o seu próprio zipper:
- Este tem sempre umas histórias muito estranhas. Não aparece às reuniões, ou atrasa-se, e depois são sempre umas trapalhadas muito mal contadas, ora que ficou sem gasolina quando vinha de boleia, ora que apanhou um murro de um desconhecido em pleno Central Park, ora agora caiu ao rio... este tipo...!
Totó entrou, pois, na casa de banho, para torcer as peugas, enfiar papéis absorventes nos sapatos encharcados, sacudir a cabeça como um cão molhado; mas, cuidadoso, preveniu Dona Pylar, que já afiava o carimbo das faltas:
- Dona Pylar, olhe que que eu estou cá. Vou só à casa de banho secar-me um poucochinho. Mas se telefonarem e for eu a entrar, já sabe, estou aqui...
(Secretamente, Totó tinha a intuição benfazeja de que nesse dia não entraria).

DONA PYLAR (para o grupo maldoso que ficou na sala dos professores) - Tenho cá uma partida em mente, querem ver? Eu vou ali à recepção fazer tocar para a sala de professores. Os senhores atendem. Pode ser, professor Marius? O senhor depois diz ó professor Totó que é uma turma sem professor, para ele ir a correr...
MARIUS (muito feliz) - Ah, isso é teatro, que bom, eu adoro representar...
Dona Pylar ausenta-se. O telefone toca.
MARIUS (falando para o vazio, mas de forma a ser escutado por Totó, lá da casa de banho onde procura retomar um aspecto vagamente humano) - Quem? Sim. O Pavilhão B? Sim, sim, sim. E que turma é? O sétimo T? Ó diabo, essa é a pior da escola, coitado. Sim, já aí vai alguém. Quem é? O Totó? TOTÓ!!! ÉS TU!!! ANDA CÁ!!!
DONA PYLAR (que entretano aparecera, rindo muito) - Ó PROFESSOR TOTÓ; VÁ LÁ SE NÃO MARCO-LHE FALTA!!!
Totó sai da casa de banho, branco como a cal, com um sapato na mão, um peúgo molhado na outra, o cabelo desgrenhado. Não repara nos risos melífluos, no gozo que desencadeia à sua triste passagem, não percebe que Madame tem de se esconder atrás de um sofá para se rir à vontade, não percebe nada. Anda por ali aos encontrões e aos tropeções...
MARIUS (implacável na sua brincadeira) - Tens de ir buscar o livro de ponto. Estes são frescos! O professor que está a faltar, está a faltar porque eles atiraram com ele pela escada abaixo.
TOTÓ - Estou-me a sentir mal. Tenho uma dor aqui. Ai, ai, que será isto?
DONA PYLAR - Vá lá, professor Totó, despache-se, ruaaaaaah... mpfffff... vá lá, depressa...
Totó tem um princípio de qualquer coisa grave. Marius dá-lhe o livro de ponto, mostrando-lhe as fotografias, fazendo imensas recomendações: «Este tem de ser desarmado logo à entrada. Se o deixas ficar com a ponta-e-mola, estás tramado. Se este te fizer uma pergunta, sobretudo não lhe respondas...!»
Totó está no chão. Será outro general grego?, pergunta alguém. Mas que mania. Sai-lhe uma espuma pela boca.
LURDES ORVALHADA - Vamos lá a ver qual será a desculpa desta vez...
A ambulância chega. Totó é levado, entre a vida e a morte. O pessoal fica-se a rir, na sala de professores.
MARIUS - Esta história das AAA é uma seca, não é? O que vale é que a gente ainda se diverte. Se não fossem estes momentos...
MADAME - Podes crer. Vou passar a pôr o Totó sempre em primeiro lugar. Viste a cara que ele fez? Ai que giro...
DONA PYLAR - Sim, a brincar isto leva-se tudo melhor. Tive boa ideia, não tive? Eu cá sou assim, sou muito reinadia.

Ao longe, ouve-se a sirene de uma ambulância. Totó vai a caminho. Não se sabe se tem bilhete de ida e volta.

05 dezembro 2006

Esquecer um passado: COMO?

I

Que tristeza. A estas horas da noite constato ser o único a estar presente neste espaço criativo. O que se passa? Que indiferença é essa por uma coisa que é nossa? Só ouço dizer que ninguém lê o que se escreve neste espaço. Mentira. Creio que muitos são aqueles que não perdem uma oportunidade para verem as últimas. Vamos concentrar a nossa parca atenção pelo número de visitantes que têm passado. Mais de doze mil. Então? Será que sou só eu a visitar este espaço cultural? Quantas e quantos já passaram, em segredo por aqui? Quantos procuram descobrir, se alguns dos escribas, dos tempos modernos, se lembrou de citar o seu nome? Quantas das pessoas que falam mal do que por aqui se vai brincando, sim, porque tudo não passa, de um exercício intelectual com as palavras. De colocar mal algumas virgulas e de aqui e ali sair alguma desatenção com este português de Fernando Pessoa. Pelo meu lado até admito alguma ignorância. Mas brinco, rio, dá-me um gozo tremendo partilhar algumas coisinhas do nosso tempo. Tempo que ninguém consegue ter. Conseguir algum e partilhar com os outros constitui um tal prazer que só quem o sente é que de facto dá valor.

II

Confesso que estou profundamente perturbado. É verdade. Não vou saber brincar neste meu escrito. Há demasiados pensamentos a circularem por esta cabeça solta no espaço. Perdida pelas memória ainda e sempre presentes. Não consigo descobrir o botão em que possa desligar as imagens que se repetem em cada noite, em cada barulho, em cada corpo transformado.

III

Passaram-se tantos anos e continuo a verificar que os generais não conseguem mudar de discurso. Continuam fechados em si mesmos. Continuam convencidos que o mundo gira à volta do seu poder.

IV

Passados tantos anos e escutar o mesmo discurso da disciplina, da hierarquia, da obediência cega e da obrigação de calarem opiniões para que tais senhores possam continuar o seu patético poder. Fico fulo. Lembro-me de tantos feridos e de tantas mortes.

V

Cometi o erro de ver um programa que surge de dentro de um dos piores eléctrico - domésticos chamado televisão. Não sei se o programa procurava ser dos prós ou dos contras. Só sei que escutei tanta palermice. Tanta arrogância. Tanto militar que pela sua incompetência deviam ter sido julgados. Mas ali estavam eles, como se nada de mal, tivessem feito. Puros. Genuínos representantes da instituição castrense. Patetas, digo eu Agamemnon.

VI

Lembrei-me, daqueles coronéis que apontando para um mapa, cuja realidade desconheciam, dizerem com toda a arrogância que acabei por escutar naqueles malfadados momentos que fiquei diante do tão maldito eléctrico doméstico
- O Senhor Comandante vai por aqui, desce ali, ataca pelo sul e regressa pela rota do leste.
- Mas Senhor coronel, já viu que essa rota conduz a um possível cruzamento com as nossas tropas que estão em operação nessa mesma zona
Aqui, sempre surgia, a tão famigerada opinião que, pelo que me pareceu, ainda constitui a ideia fundamental, naqueles, que hoje são generais e não só...................
- Só quero disciplina, não admito comentários ao que estou a dizer. Ou o senhor obedece ou então terei de tomar medidas drásticas.

VII

Quem sabe se para uma nova metodologia de gestão das escolas, não está na hora, de sugerir à tia Lurdes que recrute todos esses ditos generais que se encontram na reserva. Alguns também no activo, e os coloque como presidentes dos Conselhos executivos das escolas.
Um momento por favor, naturalmente que alguns almirantes também podem ser recrutados para o mesmo oficio.

VIII

A disciplina irá certamente surgir. Os professores não vão poder manifestar-se. Passearem, ainda vai que não vai. Se falarem vão para a rua. Se respirarem mais profundo e acordarem os generais, almirantes e outros que mais, logo serão deportados. Vão para o quarto escuro onde se guardam os disponíveis.

IX

Passados tantos anos do combate em Tróia, em que pela primeira vez partilhei momentos de prazer com Helena, ter assistido a um programa em que coronéis e alguns generais, temperados aqui e ali por um almirante, a usarem os mesmos argumentos, a mesma linguagem para defenderem as suas pseudo causas, não dá. Não quero voltar ao passado. Não voltei para escutar isto. Zeus não me abandones neste momento de tamanha provação. Quero continuar a ser professor. Sim, aqui mesmo, nesta escola, onde não há aqueles em quem deixei de acreditar..

X

Só um louco deixava de aproveitar este local, visitado secretamente por muitos, para deitar cá para fora, para partilhar, neste momento, aquilo que o faz passar acordado tantas noites. E já lá vão tantos anos. Mas aqueles gritos de dor, aqueles estranhos barulhos, continuam todos bem presentes, numa memória que não consegue ser apagada.

- Vão por ali, cumpram os que vos mando.

Quantas vezes escutamos este palavreado dos oficiais,(atenção do quadro-os tais profissionais) que jamais palmilharam um metro que fosse, no verdadeiro ambiente da guerra.

XI

Quanta hipocrisia, falsidade e incompetência, desses, que agora são generais. Quantas zangas, quanta irritação, quantos palavrões animalmente emitidos, quando recebiam a noticia que um grupo de combate regressava com feridos e mortes.

- Porra! já me lixaram a comissão, estou aqui todos estes meses e já nem vou consiguir um louvor............................estes gajos nem sabem andar no mato....

XII

Caí nesta escola, para ser um professor. Tróia está longe no tempo. Há sempre um perfume agradável que nos mantém acordados. Ainda subsiste uma paixão por descobrir nesta eslav tão criativa. Nesta eslav de sentimentos e sentidos apurados. Despertos pelos caçadores. Aliás os grandes senhores do saber. Da compreensão. Da garantia do futuro.Tenhamos calma.

XIII

Boa noite a todos porque estou só com os meus fantasmas, e ainda mais solitário neste espaço mágico da eslav.

Nota semi final

Desculpem, não tenho vontade de ler e corrigir o que acabo de escrever. Se o fizer tenho a certeza que irá para o lixo.....
Deitei a moeda ao ar e a sorte disse....................................edita..............................então....... aqui vai.

Do vosso amigo Agamemnon

04 dezembro 2006

Professor(II): Ter missão!

Professor (II): QUE MISSÃO?

I

Era possível escutar um piano que suavemente emitia um som tão agradável em ritmo de jazz. Uma melodia que consegue levar o pensamento até longe. A lugares onde o imaginário faz história, realiza sonhos e constrói o bem estar interior. As imagens surgiam turvas, sem sombras mas sem a clarividência que se impunha perante aquela música magistralmente tocada. Durante um tempo indeterminado ali ficou, pregado no sofá, inerte, mais hipnotizado que concentrado, pensando num futuro tão hipotecado como a nova missão junto dos eslavianos.

II

A dúvida aumentava. Até agora o que escutara era imperceptível. Será mesmo desempenhar a missão de acompanhante, de entretenimento ou de andar a ser escalonado, tal como numa lista de serviço de um exercito, armado com as frustrações, de nada conquistar. Estas eram as grandes discussões que ia escutando aqui e ali. Com a experiência, acumulada, em tempos passados, deslumbrava as fugas tácticas de alguns, pouquinhos, em determinados momentos. Sobretudo ao som do toque mágico do telefone. Pensava, pensava....pensava sobre a verdadeira missão que Zeus lhe atribuíra.

III

Decidira que não bastava estar ali. Teria de ouvir, perguntar, intervir, ver e reagir.

IV
Primeiro passo: ver o que esta ESLAV tem de bom. Certamente tem algo em que possamos centrar a atenção na qualidade. Aliás esta é uma das grandes funções de qualquer professor, isto é, ver o positivo. Será que aqui também é assim?

V
Segundo passo: o que há a transformar. Será que esta não será a mais glorificante tarefa.

VI

O CD chegara ao fim. Foi a muito custo que este professor despertou, mas nada se moveu. Mudar para outra melodia? Nahhhh!!!!!!!!!, mais um pouco aqui e logo se verá.

VII

O contacto com os caçadores provocara já o seu primeiro efeito. Deixa para amanhã o que também podias despachar hoje. Será que na ESLAV circula algum vírus de efeito imediato sobre a capacidade de trabalho?

VIII

Circula, que muito possivelmente, os desaparecimentos que se têm verificado nos últimos episódios, explicam os estranhos acontecimentos registados na ESLAV. Consta mesmo que a fuga cerebral será o grande caos do futuro docente e decente. Muitos preparam-se para entrar na carreira que os levará para outro local. Sugerem mesmo que o 102 será a melhor opção.

IX

Como evitar a fuga. Foi com este pensamento que lá foi para mais uma daquelas cenas de entreter meninos que perderam assim, mais uma oportunidade, de gozar o furo oferecido pela falta de um professor.

X

- Sabe Colega é o sistema, é o sistema que nos empurra para estas desonras.
- Sistema que sistema?
- Ah, sabe, é melhor perguntar àquele grupo que costuma estar sentado junto do bar da D. Pylar. Eles é que discutem futebol e isso dos árbitros. Eles sabem muito sobre sistemas e sobretudo dominam muito bem alguns esquemas.
- Vou andando que se faz tarde.

OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS (I)

I

No preciso momento em que Agamemnon aterrava brutalmente sobre um professor da eslav no qual deveria, simplesmente, encarnar, provocando um penoso desmaio, também eu, Termómetro, companheiro inseparável de Ulisses, encarnava no corpo de um funcionário da mesma escola. Os Deuses devem estar loucos: pelos vistos, agora deram em catapultar vários heróis mitológicos para os corpos dos pobres eslavianos. Mas para que fazem os deuses isso? Para se divertirem? Terão algum objectivo?

II

Sou Termómetro, amáveis leitores. Não se lembram de mim, nem da história de paixão atormentada que vivi com a minha amada Clister? E, no entanto, eu fui um no meio do punhado de heróis que aguardava, no bojo do cavalo de Tróia, que a cidade adormecesse. Bem, na verdade, eu nunca cheguei a sair do interior do cavalo para tomar a cidade: fiquei entalado. Suponho que foi por causa disso que Homero, o velho biltre, decidiu nem sequer se referir ao meu nome. Dizia ele a um grupo, numa taberna de má nota: «Quando chegar à parte do Termómetro, passo à frente. Eu quero que o meu poema provoque emoção, não gargalhadas!»

III

Devo confessar que fiquei ligeiramente preocupado por vir a encarnar num funcionário. É que não sabia o que isso seria. Um «funcionário»!? Temia que me fossem atribuidas tarefas menores, funções desprezíveis. Mas,pelo que pude observar, já percebi que não fazem parte das suas funções tarefas tais como limpar o pó, varrer ou arrumar. De que modo funciona um funcionário é que ainda não decobri.

IV

De modo que, apesar de tudo, estar na pele de um funcionário não é muito mau na hierarquia das transmigrações. Poderia ter-me calhado ser tartaruga. Ou pior: professor! Zeus me valha!

V

Tenho algum asco a essa corja que dá pelo nome de «professor», que, pelo que me dizem, tudo faz para não trabalhar. Há dias, conta-se, um deles teve uma apoplexia e morreu. Pois querem acreditar? Já não foi fazer AAA. Como vêem, qualquer coisinha lhes serve de desculpa. Consta que, este, chegou ao cúmulo de se fazer enterrar: o que se inventa para escapar ao trabalho...!

VI

Existe aqui, nesta eslav, um grupo de sacerdotizas, umas pitonizas, que, embora eu ainda esteja a investigar, me parece desde já que constituem o verdadeiro fulcro do poder na escola. Estão num reduto sagrado, chamado «a secretaria», onde têm a função de dar respostas particularmente enigmáticas às mais banais perguntas.

VII

Ora quando eu entrei no corpo do funcionário (não me interpretem mal, por Zeus), deu-se, também, tal como com Agamemnon, um grande estrondo, e o fulano caiu inerte no chão.
Quando eu despertei, tinha, sobre o meu rosto, um rosto extremamente pálido, de mulher, que me fixava. Gritei, enrouquecido, como se conhecesse o seu nome desde sempre:
- Dona Noémia!!!
E ela:
- É favor não virem p'ráqui fazer barulho. Dói-me a cabeça. Desde que fui operada, preciso de calma, de tranquilidade e de SILÊÊÊNCIO! Parece que ninguém quer saber. Tenho de atender os telefonemas e não consigo ouvir nada. POUCO BARUUULHO!!! São piores que os miúdos, apre!!!

UM MISTÉRIO COMO NUNCA SE VIU NADA ASSIM: EPISÓDIO NOVE

A garotada, ansiosa por ir ao cinema, porque alguém lhes teria dito que nesse dia iriam distribuir pipocas, gritava:
- Pi-po-cas! Pi-po-cas!
E elguns, no meio da confusão, sem saberem bem ao que iam:
- Aulas de substituição não! Aulas de substituição não!
Black Knight, que se habituara a contar com tudo menos com público no clube de cinema, apertou a urna ao peito e soprou:
- Desculpem lá, rapazes. Agora, não pode ser. Tenho de ir espreitar esta urna.
- Urna? Qual urna? - perguntava uma das velhas...
Na verdade, Black Knigth não tinha qualquer urna, mas um sapato entre as mãos trementes de ansiedade. Que confusão. Foi num instantinho reler o episódio sete, e percebeu que QUEM fugira com a urna tinha sido JP, o fantasmadaopera, e não ele. Mau! Já estava também a ser afectado pelo perfume. Pelo produto quìmico. Mau...
- Que achas disto? - perguntou uma das velhas à outra.
- Acho mal. O rapaz está a falhar.
- Que pena - rematou a terceira. - Parecia um tipo tão promissor...

02 dezembro 2006

Que grande confusão

Ainda nem estava totalmente refeito da queda e já chegavam noticias da chegada daquele que irá finalmente ,por em sentido, tamanha confusão sobre os desaparecimentos. De facto a ESLAV andava particularmente nervosa. Constava ter desaparecido algumas notáveis posses de não menos notáveis personalidades. Constava que algumas estranhas visitas à Escola não eram mais que detectives que a custo zero queriam encontrar quem, de tão baixa inteligência, desejava ter em sua posse informações que trariam à tona muitos dos segredos registados num booklet por tantos procurado. Quem sabe se não será o novo herói a descobrir alguns segredos tão desejados. Quantas palavras não terão escutado os caçadores armados em verdadeiros marretas da nova geração. O que dirá a página quatro daquele carderno que até Zé Abreu tem medo de ler. Qual o poder que poderá cair se a página dezoito for posta a nu. Quer queiram quer não a causa de tudo o que desapareceu na ESLav está naquele perfume secreto, naquele perfume que fez aterrar, de forma estranha, o general dos generais. O predador dos predadores. Aquele que tem como missão dizer a verdadeira razão porque muitos se esquecem de ocupar o banco onde, diariamente, se sentam os caçadores. Descobrir o que pensam aquelas cabeças é uma missão que em muito ajudará a esclarecer as verdadeiras causas da grande preocupação e inspiração do Sindroma. Será estarem rodeados de belas professoras da ESLav? Onde e com quem passa o esperto Sindroma os intervalos? Será ao lado? Será no meio? Ou será ao lado da busca da perda de tão desejado documento? Que mais irá acontecer.

UM MISTÉRIO COMO NUNCA SE VIU NADA ASSIM: EPISÓDIO OITO

Havia muito tempo que não se via uma coisa assim: um super herói prostrado no chão, supostamente vítima de um ataque produzido por uma arma química de elevado poder desmaiatório; outro super herói acamado numa enfermaria de hospital, alvo duma qualquer investida que lhe estragou a vesícula. Agamemnon e Miguelampião são os dois mais recentes alvos duma cabala que, para alguns, tem como objectivo impedir que se chegue ao “carnet” de Madame.
“Ninguém me tira da cabeça que aqui há coisa”, diz Tonieta Paço d’Arcos, que se sentiu obrigada a intervir no assunto apenas e tão só por estarem implicados elementos químicos; atarefada, dirige-se à máquina 319, engole um cafezito e de imediato convoca uma reunião de emergência do seu departamento. A reunião tem um único ponto na ordem de trabalhos: “identificar a fórmula química da substância que ataca super heróis e inanimou Agamemnon”. Mas não poderia contar com Lara Croft, exímia descobridora de pistas e conhecedora dos maiores segredos, aquela que tinha sido afastada da escola faltava-lhe agora, num momento crucial!
Entretanto, na sala de professores, os hiperactivos reúnem-se nos sofás vermelhos, isto é, mantêm-se no mesmo lugar onde Agamemnon os tinha visto. Cruzam as mãos sobre as proeminentes barriguitas e pensam, pensam, pensam, mas não chegam a nenhuma conclusão. Dior? Channel? Davidoff? Que perfume foi aquele?
É Planetazul que mexe uma palha: agarra Agamemnon pelos pés e tenta puxá-lo para o centro dos sofás, mas sem sucesso. Agamemnon envolto na sua armadura, está irredutível.
D.Pylar aproxima-se com as mãos nos bolsos da bata azul “Eu já tinha avisado: pessoas muito compridas ou muito largas não se podem atirar pró chão. E agora, quem é que o levanta?”.
Entretanto, aproveitando o burburinho que se observa em volta do super herói, as três velhas, de braço dado, seguem extasiadas Black Night que não esconde a sua satisfação por poder escapulir-se com a urna.
Porém, ao aproximar-se do portão, a passagem é-lhe barrada por um grupo de alunos; eram tantos como nunca se tinha visto nada assim. Iam para o clube de cinema.

01 dezembro 2006

UM MISTÉRIO COMO NUNCA SE VIU NADA ASSIM: EPISÓDIO SETE

Black Night, que dera pela confusão no polivalente, tinha saído do gabinete, no seu passo de herói solitário (se não fossem as velhas que não o largavam...) e vinha ver o que se passava.
JP continuava a fazer desenhos, cada vez mais nervoso.
Nesse momento, alguém saiu da sala dos professores a correr. Era Juju:
- Acudam, ó da guarda, a mim, a mim, socorro!!!
O que foi?, o que não foi?, perguntavam várias pessoas aflitas, enquanto JP aproveitava para se escapulir de uma forma extremamente suspeita - levando a urna debaixo do braço.
Black Night tomou nota. Mas, de momento, alguma coisa lhe chamava a atenção. Era a gritaria de Juju.
- Acalma-te, acalma-te, vá, então, que foi?
E as velhas, cada vez mais rendidas, mais babadas: - Que maravilha, que poder de acalmar, é um dom, isto é um dom, o homem é mesmo extraordinário.
Juju, entretanto, explicava:
- Está ali dentro um senhor que caiu no chão. Diz que é um herói da mitologia. Grego ou assim. Acho estranho, mas ele insiste, se calhar bateu com a cabeça em qualquer lado. Que está inebriado com um perfume, que está inebriado com um perfume. Mas eu só pus um bocadinho de perfume, se soubesse que inebriava assim um homem, tinha despejado a garrafa toda...
- Hum...! São episódios laterais. Nada disso nos aproxima mais do «carnet» de Madame -, raciocinou Black Night.
- Ah - exclamou Juju -, mas têm de vir fazer qualquer coisa pelo grego, têm de mo acordar, pelo amor de Deus, não é todos os dias que alguém desmaia por causa do meu perfume...