04 dezembro 2006

OS DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS (I)

I

No preciso momento em que Agamemnon aterrava brutalmente sobre um professor da eslav no qual deveria, simplesmente, encarnar, provocando um penoso desmaio, também eu, Termómetro, companheiro inseparável de Ulisses, encarnava no corpo de um funcionário da mesma escola. Os Deuses devem estar loucos: pelos vistos, agora deram em catapultar vários heróis mitológicos para os corpos dos pobres eslavianos. Mas para que fazem os deuses isso? Para se divertirem? Terão algum objectivo?

II

Sou Termómetro, amáveis leitores. Não se lembram de mim, nem da história de paixão atormentada que vivi com a minha amada Clister? E, no entanto, eu fui um no meio do punhado de heróis que aguardava, no bojo do cavalo de Tróia, que a cidade adormecesse. Bem, na verdade, eu nunca cheguei a sair do interior do cavalo para tomar a cidade: fiquei entalado. Suponho que foi por causa disso que Homero, o velho biltre, decidiu nem sequer se referir ao meu nome. Dizia ele a um grupo, numa taberna de má nota: «Quando chegar à parte do Termómetro, passo à frente. Eu quero que o meu poema provoque emoção, não gargalhadas!»

III

Devo confessar que fiquei ligeiramente preocupado por vir a encarnar num funcionário. É que não sabia o que isso seria. Um «funcionário»!? Temia que me fossem atribuidas tarefas menores, funções desprezíveis. Mas,pelo que pude observar, já percebi que não fazem parte das suas funções tarefas tais como limpar o pó, varrer ou arrumar. De que modo funciona um funcionário é que ainda não decobri.

IV

De modo que, apesar de tudo, estar na pele de um funcionário não é muito mau na hierarquia das transmigrações. Poderia ter-me calhado ser tartaruga. Ou pior: professor! Zeus me valha!

V

Tenho algum asco a essa corja que dá pelo nome de «professor», que, pelo que me dizem, tudo faz para não trabalhar. Há dias, conta-se, um deles teve uma apoplexia e morreu. Pois querem acreditar? Já não foi fazer AAA. Como vêem, qualquer coisinha lhes serve de desculpa. Consta que, este, chegou ao cúmulo de se fazer enterrar: o que se inventa para escapar ao trabalho...!

VI

Existe aqui, nesta eslav, um grupo de sacerdotizas, umas pitonizas, que, embora eu ainda esteja a investigar, me parece desde já que constituem o verdadeiro fulcro do poder na escola. Estão num reduto sagrado, chamado «a secretaria», onde têm a função de dar respostas particularmente enigmáticas às mais banais perguntas.

VII

Ora quando eu entrei no corpo do funcionário (não me interpretem mal, por Zeus), deu-se, também, tal como com Agamemnon, um grande estrondo, e o fulano caiu inerte no chão.
Quando eu despertei, tinha, sobre o meu rosto, um rosto extremamente pálido, de mulher, que me fixava. Gritei, enrouquecido, como se conhecesse o seu nome desde sempre:
- Dona Noémia!!!
E ela:
- É favor não virem p'ráqui fazer barulho. Dói-me a cabeça. Desde que fui operada, preciso de calma, de tranquilidade e de SILÊÊÊNCIO! Parece que ninguém quer saber. Tenho de atender os telefonemas e não consigo ouvir nada. POUCO BARUUULHO!!! São piores que os miúdos, apre!!!

1 comentário:

Anónimo disse...

Termómetros apaixonados por clisteres? Parece-me uma grande porcaria ...
E serão as pitonizas vestais? Adensa-se o mistério ...