31 maio 2006

CENAS OCULTAS, DEBATE E TAL

Filme 1: Vê-se aquilo que, assim de repente, mas mesmo de repente, poderia parecer uma sala de aula.
Dois alunos muito altos e muito fortes, com bonés enfiados até aos olhos, lutam um com o outro usando cadeiras e mesas.
Alunas grandes e fortes puxam-se os mútuos cabelos.
Um jovem, também de boné, esfaqueia outrem.
Um rapaz magro, franzino, espirra. A professora volta-se para ele, furiosa, e desata a gritar-lhe por ele interromper a aula com o seu despropositado espirro.

Filme 2: Um professor prepara-se para olhar o relógio, a fim de confirmar quanto tempo falta para terminarem os 90 minutos de suplício. Repara que já lhe levaram o relógio. Disfarça, para não lhe fazerem mal.
Entra na sala um jovem possante, de boné com pala para trás.
O professor pede-lhe simpaticamente que saia.
O aluno manda-o sair. Malcriadamente, o que parece fazer toda a diferença. O professor sai.

REPÓRTER ESTRÁBICO - Temos aqui no estúdio dois rapazes da escola [aparecem duas sombras de que não se distingue nada, nem nariz, nem olhos, nada senão as palas dos bonés], o Manel e o João, que concordámos em tratar por nomes fictícios. Que tal Lalá e Lelé?
LELÉ (o texto aparece distorcido, para não identificarmos o rapaz)- Lelé? Eu te dou o Lelé!
LALÁ - Deixa, deixa! A gente apanha o gajo lá fora!
REPÓRTER ESTRÁBICO - Então, Lalá, parece-te bem aquilo que estivemos a ver?
LALÁ - Não senhor. Não parece. Estou muito envergonhado.
REPÓRTER ESTRÁBICO - Ah!
LALÁ - Eu não estava nos meus dias. Nunca demoro mais do que três segundos a fazer fugir um professor. É o meu record. No filme, viram que precisei de quase cinco segundos. Não torna a acontecer...
REPÓRTER ESTRÁBICO - Mas vocês tratam todos os professores desta maneira?
LALÁ - Não. Com outros, ainda é pior, muito pior.
REPÓRTER ESTRÁBICO - Ó Lelé. A tua família não fala contigo sobre a escola?
LELÉ - Fala, fala.
REPÓRTER ESTRÁBICO - E tu?
LELÉ - Digo-lhes que está tudo a correr bem.
REPÓRTER ESTRÁBICO - E por que lhes mentes?
LELÉ - Não minto, não. Logo que eu chego à escola, o pessoal desata todo a correr à minha frente. E bem. Corre tudo bué da bem...
REPÓRTER ESTRÁBICO - O que é que se poderia fazer para mudar a situação? Tens alguma sugestão?
LELÉ - Não. Está tudo nos conformes.

DEBATE:

REPÓRTER ESTRÁBICO - Senhor secretário Sempêlo. O que tem a dizer sobre estas imagens?
DR. SEMPÊLO - Francamente más. Acho inadmissível que uma televisão que se preza não tenha camera-men a sério, capazes de filmar sem aqueles riscos e sem aquele grão.
REPÓRTER ESTRÁBICO - Mas, e quanto à situação das escolas...?
DR. SEMPÊLO - Atenção, aquilo é UMA escola. Não generalizemos. E aquela, que eu identifiquei imediatamente, já foi pior, hein? Já lá esteve polícia e tudo. A nossa informação é, portanto, de que a situação melhorou francamente!
REPÓRTER ESTRÁBICO - Mas não lhe parece que deveria melhorar muito mais? Assistimos a cenas verdadeiramente...
DR. EDUARDO CHÁ (PSICÓLOGO) - Ah, mas isso é porque nem sempre os professores respeitam os alunos. O problema está todo aí. Há professores que são verdadeiros casos patológicos. Embirram com tudo. Que o aluno use boné, que o aluno grite... os alunos, coitados, são presos por ter cão e presos por não ter. Se não fazem nada, os professores queixam-se. Se se mexem muito, os professores queixam-se. Afinal, em que ficamos? Os alunos têm de perceber claramente o que se quer deles. Além de que estas brincadeiras são saudáveis.
REPÓRTER ESTRÁBICO - Brincadeiras? Saudáveis???
DR. EDUARDO CHÁ - A juventude tem de se mexer, tem de ser irreverente. Enquanto os professores não entenderem isso, o país não avança.
DR. SEMPÊLO - Não se preocupe, Dr. Chá, que os professores vão entendê-lo. Daqui a pouco até vamos pôr os pais a avaliá-los. É uma ideia minha. Toda minha. Acho que me esmerei. Vai ver como eles acalmam.
REPÓRTER ESTRÁBICO - Quem!?
DR. SEMPÊLO - Os professores, quem mais?
DR. EDUARDO CHÁ - Acaba de pôr o dedo na ferida. Como pai, estou sempre pronto a avaliar os professores. Andam muito nervosos, muito agitados. Precisam de ser acalmados; temos de melhorar os problemas do ensino em Portugal. Parabéns, Dr. Sempêlo. Olhe, senhor Estrábico... Senhor Estrábico...? Senhor Estrábico...!?

Temos de interromper este debate, uma vez que o nosso repórter foi assaltado e levado, num veículo roubado, pelo Lalá e pelo Lelé. Não se tratou, porém, de um debate em vão. Congratulamo-nos por ter diagnosticado o principal problema da educação em Portugal: os professores são histéricos. Algumas medidas terão de se impor rapidamente.

MUDANÇA DE POSIÇÕES NO RANKING

Depois do debate sobre o estado da Educação a que ontem assisti na RTP1, venho só advertir - entre o muito que me apeteceria e não digo, porque não vale a pena -, para o facto de que o lugar de psicólogo mais disparatado do país, tantos anos orgulhosamente ostentado pelo Dr. Daniel Sampaio, foi ontem conquistado pelo Dr. Eduardo Sá. O que faz alguma pena. Tantos anos que o senhor Sampaio levou a apurar-se no erro e na banalidade, para chegar de repente um gajo e, numa única noite, num só programa, sem perder a compostura nem alterar a doçura da voz, lhe arrebatar o lugar. (O Pedro Strecht também dá luta, mas ao lado destes...)
Se não fossem as nossas queridas psicólogas, que admiro, começaria a interrogar-me sobre se poderemos mesmo considerar a psicologia uma ciência!

29 maio 2006

UMA QUESTÃO DE MARKETING

Com a moda das avaliações de professores a chegar, há que pensar numa eficaz campanha de marketing, a iniciar com o próximo ano lectivo junto dos Encarregados de Educação.
Deixa-se aqui uma sugestão:

O meu nome é Fraústo da Silveira. Sou graduado (0,5 na vista esquerda e 2,5 na direita). No ano passado chumbei apenas três alunos e dois dentes. Manga de Alpaca e director de turma.

Chamo-me Botelho da Silveira. Sou um mestre em educação:
educação visual, educação musical, educação tecnológica e educação cívica e educação sexual. Especialista em educação à antiga com anos de prática em educação à moderna. Manga de Alpaca.


O meu nome é Zé da Silveira. Sou professor com tratado. Integrei a equipa que elaborou o tratado de Bolonha e tornei-me especialista no esparguete à bolonhesa. Só quero ver os meus alunos felizes. Dez anos de experiência como manga de alpaca. Adoro preencher papéis.



O meu nome é Toninho da Silveira. Professor encartado, especializado em condução de pesados e veículos articulados com tracção às quatro rodas.
Manga de alpaca.

Chamo-me Lélé da Silveira. Especialista em resolução de conflitos, com diploma obtido na brigada vitor jara, em regime de voluntariado e estágio na Fretilin, onde ganhei prática de apanhar fretes. Manga de Alpaca.

Sou o Silveira mas entre colegas chamam-se Silveirinha. Dou línguas românicas e germânicas em regime de substituição. Dou referências. Manga de alpaca.

A COLUNA DE D.J. CARA DANJO: O MEU COTA VAI CHUMBAR OS PROFESSORES, AH AH AH

ei k sêna mén açério êu nein akerdito êu nein akerdito isto é du best. atão taméin já ôuvírão dezêr k apartir dagóra os páis vão pudêr xunbár os prófes. o mêu kóta vái fikár bué da felís isto agóra é k vái çêr baríl. êu vôu çêr o conçelheiro do kóta pq éstas sênas ção sênas de mta rsponçablidáde mêu não çe póde dezatár a xunbálos tôudos de kuálkér manêira. mas á prófes k ção bué da frios tipo a minha çetôura de istória. por izênplo no ôutro dia êu táva a olhár pa trás e tráu dêume uma coínbra no pescôusso k inda não conçigo endireitár a cára. pôis a çetôura nein ficôu con pêna nein náda e até díçe açin (désta vês não pódes negár k távas a olhár pa trás ããã. até ficáste paralizádo néça puzição. kualkér juís asseitáva éça próva). e vôu êu e dígo (ó çetôura isto fôi tipo 1 geito por êu çêr uma vitima désta gérassão k anda çempre carregáda c as muxilas). pois a çetôura dêusse ó trabálho de vir vêr a minha muxila k pur akázo táva vazía pq os mêus bukes tão guardádos nos cassífos donde nunca os tiro. çenão pra kê k çervíão os cassifos. e a çetôura arrespondêume (não fôi pur cáuza da muxila vazia filho fôi mêsmo castigo de dêus. até çinto k a fé já me voltôu e vôu a fátima agardessêr o milágre. o cára danjo kiéto). o peçuál tôudo a rirsse. ção tão estúpidos êstes kertinos. mas a çetôura de istória éça não pérde pla demóra. tá ein primêiros na minha lista de xunbos.

E SE JUNTAR GORDAS E PRÉMIOS!?

PRÉMIO «SE MUDARMOS AS MOSCAS, OS PACÓVIOS NEM TOPAM QUE A BOSTA É A MESMA»:
«A mudança do nome da Constituição Europeia, acompanhada da alteração de algumas das suas disposições, poderá ser uma das formas de salvar um texto cuja sobrevivência está em risco desde há um ano, quando a França a rejeitou, logo seguida da Holanda.»

PRÉMIO «ATÉ ESTE CONSEGUE VER O QUE HÁ QUEM NÃO VEJA»:
Da coluna de Eduardo Prado Coelho, cito (é um pouco longo, mas vão ver que merece):
«[que os professores sejam avaliados pelos pais dos alunos]: A ideia é manifestamente absurda, mas tem aquele toque de demagogia que agrada às populações. Pergunto-me: mas os pais avaliam o quê? Se os professores são bonitos ou feios? Se as professoras usam ou não as saias curtas? Se os professores são partidários da gravata? Se vão à escola regularmente? Se participam naquelas intermináveis reuniões em que tudo se discute e nada de essencial se decide? [Não sou que o digo, é ele]. Se lêem livros na matéria da sua especialidade (o que é muito pouco frequente, diga-se de passagem)? Se vão ao cinema, à ópera, ao teatro, a concertos, a exposições? [Com o ordenado de professor...?] Se praticam futebol ou se limitam a jogar matraquilhos? Primeiro [...] são raríssimos os pais que estão em condições de avaliar os professores. Segundo [...] os pais apenas se podem basear no relato dos filhos, e nada permite dizer que aquelas encantadoras crianças, que tratam as professoras de "p...", e lhes atiram preservativos à cara e as fecham na sala de aula, sem que o ministério aparentemente se rale muito, estejam em condições de avaliar as capacidades pedagógicas de uma forma isenta e ponderada.»

PRÉMIO «FREITAS DO AMARAL AINDA BRINCAVA COM ESSE BARQUINHO NO BANHO, MAS FOI GENEROSO»:
«O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Frreitas do Amaral, respondeu positivamente ao pedido de ajuda feito por Cabo Verde, no sentido de Portugal enviar um navio que possa ajudar a controlar os fluxos de imigrantes ilegais que atravessam as suas águas territoriais.»

PRÉMIO «QUANDO A ESMOLA É GRANDE, O POBRE DESCONFIA...!»
Preço da gasolina desce.
E não é só meio cêntimo. Não. Nem um cêntimo. Não. UM CÊNTIMO E MEIO! OK, logo à noite as companhias já devem ter dado pelo engano, mas até lá...!

UMA AVALIAÇÃO

A avaliação da qualidade do professor constará de: 1. Auto-avaliação (sabem?, aquela parte em que se diz sempre muito bem de si próprio); 2. Avaliação feita pelo Coordenador de Departamento e 3. Avaliação dos Encarregados de Educação (integrada no parecer da Direcção Executiva).

Temos já, à nossa disposição, um excelente exemplo dos moldes em que deverá ser elaborado e apresentado o documento:

«Nome do docente: Martina Pénacova.

I Parte - AUTO-AVALIAÇÃO:

Sinto que a escola brilha mais no momento em que eu chego. O sol surge para me cumprimentar e, como num musical, alunos e colegas vão entoando belos cânticos à minha passagem, o senhor Gonçalves distribui gratuitamente as sandes e a felicidade irradia de todos os rostos.
Os meus alunos adoram-me. Já me chegaram a dizer (o que pode ser comprovado, trata-se do 7º T): «Stora, a stora é a nossa melhor professora». Comovida, perguntei-lhes: «Meus amores, quem são os vossos outros professores?» - «O Gagá, a Guigui, a Juju, o Abominável Homem das Neves...», responderam-me, estremecendo.
Nunca precisei de pôr um aluno na rua (até porque a maioria não vem às aulas) e, com orgulho o digo, nunca apanhei um aluno a copiar. Uma vez desconfiei de um que vinha para o teste com auscultadores e um microfone, mas ele falava tão baixinho que não posso jurar que estivesse a copiar. Também desconfiei de um outro que vinha com espelhos retrovisores fixados nos óculos, mas ele justificou-se dizendo-me que era para não chocar com ninguém quando fizesse marcha-atrás.
As aulas correm muito bem. Não tenho insucesso. Ou melhor, tenho pouco sucesso com o sexo oposto, mas os meus alunos - que penso que é o que para aqui interessa - não têm negativas.

II PARTE - AVALIAÇÃO DO COORDENADOR DE DEPARTAMENTO:

A participação da colega no trabalho do departamento é nulo. Tem o péssimo hábito de passar as reuniões a comer uns ruidosos amendoins, limpando as partículas que ficam entre os dentes com uma unha que deixou crescer no dedo mindinho, especialmente para o efeito. Nunca se oferece para nada. Aliás, sempre que lhe começa a parecer que há trabalho no horizonte, afivela o seu ar adoentado, começa a queixar-se com uma certa antecedência e, depois, na altura diz que está muito doente. Em suma, aparece sempre adoentada. Algumas colegas do departamento, que não a podem ver, vão ao ponto de afirmar que a Martina não tem qualquer doença, só preguiça. Eu não vou tão longe. Penso que, com efeito, a Martina é doente: a sua doença chama-se preguiça.

III PARTE - AVALIAÇÃO DOS ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO/ DIRECÇÃO EXECUTIVA:

Gostamos muito do trabalho da senhora Dra. Martina Pénacova. Os nossos filhos apreciam o seu método francamente motivador, que consiste em ir para as aulas falar acerca de outros professores. São aulas abertas, em que toda a gente pode dizer abertamente mal de quem não está. A Dra. Martina aprecia todas as informações, ri-se muito de tudo o que lhe contam. Tem o poder de acalmar as crianças, não deixando que elas se enervem a ter de estudar e isso.

IV PARTE - PARECER FINAL DA COMISSÃO:
Propomos um 10 (em 10) para a Dra. Martina Pénacova. (Estudar a penalização da coordenadora de departamento).

28 maio 2006

AS GORDAS, AS INDISPENSÁVEIS GORDAS!

O ensino que, como todos sabíamos, não tinha cura, está, finalmente, nas mãos de uma médica a sério, a ministra da Educação: assim, se é certo que se encontrava à beira do precipício, hoje prepara-se, graças a Deus e à dona Lurdes, para dar um grande passo em frente!

O DN esclarece: «Pais Passam a Participar na Avaliação dos Professores».
Os professores que trabalham, não precisam de ter medo dos pais. Só aqueles que são exigentes com o trabalho dos seus alunos.
Mas tranquilizam-nos: «Não há o risco de um pai prejudicar deliberadamente o professor, porque serão vários a participar». Uf! Respiro mais calmamente: percebo que não há a menor hipótese de que «vários pais», em vez de um único, possam «prejudicar deliberadamente o professor».
Mas não sejamos redutores. Há outros elementos a ser considerados na avaliação da qualidade dos docentes. Tais como? Tais como: «o desempenho dos alunos, nomeadamente as taxas de insucesso e abandono». Isso é fácil. Nunca mais torno a dar negativas. Não volto a ter insucesso.
Para os melhores professores, haverá prémios. Para os piores, penalizações.
Será que é desta que me habilito a um portátil? Ou irei receber umas chibatadas? E se eu for masoquista, as chibatadas passarão a ser consideradas prémio...?

Claro que tudo isto traz sempre a possibilidade de algumas injustiças. Deixem-me chamar a atenção para uma: por que raio não está previsto que os alunos também possam, já agora, avaliar os professores? Nós não os avaliamos, por acaso? Não influenciamos a sua progressão? Então...!?

(E, se quisermos alargar a ideia: por que não hão-de os réus poder avaliar os senhores juízes, que julgam sem serem julgados? Hmmm?)

E só mais uma, retirada de um jornal mais leve, para desamargurar:

O «24 Horas» conta que Castelo Branco e Lady Betty Frankenstein foram apresentados à Shakira, na sexta à noite, antes do concerto no Rock in Rio. Coitada da Shakira!
Mas o jornal, sem qualquer vestígio de ironia nem de riso, deixa escapar que a conversa demorou 5 minutos. Fico mais descansado pela colombiana! 5 minutos é o tempo de se conseguir que Lady Betty compreenda quem era a rapariguita que lhe estava a dar a beijoca. «What? Who? But who? Who is she, José? You have to speak aloud, dear! What???»

Adeus. Agora vou chorar para outro lado.

26 maio 2006

O SIMPÓSIO DE PSICOLOGIA

DR. SAMPAIO - Meus senhores, hoje trago algo da Escola de Linda-a-velha.
UMA VOZ - Bem pensado, sim senhor. É a senhora psicóloga bonita?
DR. SAMPAIO - Não, caramba. É um assunto. É um assunto importante! É um objecto de estudo, um problema para... para...
TODOS - ooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooh!
DR. SAMPAIO - Ora bolas para os senhores, meus senhores! Parecem crianças. Piores do que crianças. Não, o que trago é um desenho. Estão a ver? É um desenho feito por um aluno em Área de Projecto. Só que as professoras daquilo, como são professoras de desenho, trau!, não vão de modas, negativa ao miúdo. Coitadas. Elas não vêem mais longe do que os traços e as linhas. Não se preocuparam com mais nada. Não tentaram analisar o desenho psicologicamente, por exemplo, para ajudar o gaiato. Ora, olhando para aqui, é evidente que o gaiato precisa de ajuda psicológica. Já viram que ele só usa azuis? Diversos tons de azul, é verdade, mas só azuis???
UMA VOZ - É verdade. Que curioso! Que estranho!
DR. SAMPAIO - Mas não é só NESTE desenho. Aí é que está! Eu trouxe... onde é que está isto? Papéis, só papéis, que barafunda... um bilhete de cinema, não, a fotocópia de uma receita, também não, uma carta da Dra. Ruth, não, não, não, ando a perder tudo, não é normal, se calhar devia ir ao psicólogo, eu... ah!, cá está. Ora cá está. Os desenhos que este rapaz tem feito ao longo deste ano lectivo. Vêem? Vêem?
TODOS - Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeh!
UMA VOZ - Tudo azul.
OUTRA VOZ - Tudo, mas é que tudo.
DR. SAMPAIO - E na vossa opinião, que poderá isto significar?
DR. UMA VOZ - Raiva! Eu detecto aí claramente a raiva contra o sistema de ensino em geral. Embora haja aí um tom de azul mais ténue que revela alguma esperança...
DR. OUTRA VOZ - Não me parece! Azul, raiva? O Dr. Uma Voz desculpe-me, mas isso parece-me bastanta parvo. Nunca ouvi dizer...
DR. UMA VOZ - Parvo? Parece-lhe parvo? Mas está a insultar quem, ó labrego?
DR. OUTRA VOZ - Labrego, eu? Bem, vou deixar passar, vou fingir que não ouvi.
DR. UMA VOZ - Labrego! Pochete!
DR. OUTRA VOZ - Pochete? Eu???! O colega chama-me pochete? A mim? Isso é que não lhe admito. Exijo desculpas. Imediatamente. Pochete? Eu???
DR. SAMPAIO - Colegas, colegas, estamos a afastar-nos do tema. Calma. Ai!
DR. OUTRA VOZ - Desculpe, não era para si. É que pochete, não. Insultem-me a mãe, se quiserem, mas pochete não me chamam. Nunca admiti nem admitirei a ninguém...!
DR. SAMPAIO (esfregando um olho) - Vamos passar adiante. Pelo amor de Deus. Até porque eu trouxe o rapaz! Eu trouxe comigo o rapaz, que nos vai poder ajudar na nossa pesquisa. Anda cá, pequeno. Não tenhas medo...
PAULETA - Medo? Fónix! Dá baixa dessa, man. Sai dessa. Oi, people! Como é, tudo na maior? Quero ouvir-vos gritar: Good Night, Pauleta! Vá, all together now. Não há crise. Tás down, velho?
DR. SAMPAIO - Estes azuis, rapaz, o que é que tu... o que é que tu... quais eram os teus sentimentos? Consegues lembrar-te? O que é que estavas a pensar... por exemplo, quando estavas aqui a pintar esta... o que é isto?
PAULETA - Tava a pensar: Que cena! Que me aconteceu à [palavra censurada] das tintas que só me ficaram azuis?

25 maio 2006

É VERDADE, ELASTIGIRL, MAS OLHA QUE AINDA HÁ ALUNOS EXEMPLARES

Dra. Gungunhana - Mandei chamar o seu filho para reunirmos os três, porque, como Directora de Turma, achei dever dizer-lhe que... que... olhe, lá vem ele. Venha cá, Pauleta, sente-se aqui com a sua mãe e comigo.
Pauleta - Fixe! Cool! Supercool. Bué de bazóf!
Dra. Gungunhana - Como?
Dona Sirigaita - Olhe como ele fala. Isto é tudo tão giro, não é? Cool, filho, cool!
Pauleta - Grasna aí, cota! Tudo em cima, teatcher? Já posso bazar?
Dra. Gungunhana - Não, ainda agora chegou. Sente-se aí, Pauleta. Minha senhora, já reparou nos olhos dele?
Dona Sirigaita - Já, já, já. Brilhantes, não são? Lindos, não são? Ficam com este brilhozinho sempre que vê a mamã. Não é, querido? Cool, não é? Cool!
Pauleta - Fónix! Que esquema, meu! Baril. Mega-baril. Grasna aí, cota.
Dra. Gungunhana - Mas não acha os olhos dele muito vermelhos?
Dona Sirigaita - Vermelhos? Que disparate! São verdinhos, lindos, lindos como os da mamã. Cool, menino, cool!
Dra. Gungunhana - Não, mas eu digo ali à volta... aquelas ramificações todas, que até parece um mapa do metropolitano de Londres...
Dona Sirigaita - Ah, mas isso é de ter estado a estudar até às tantas. O meu cool é muito estudioso, coitadinho.
Dra. Gungunhana - E o que é isto, Pauleta? Este cubo esverdeado que tem aí, o que é isso?
Dona Sirigaita - Ora, vê-se logo que é um caldo Knorr. Ele não gosta da comida daqui, diz-me muito mal. Assim vem prevenido com uma sopinha... junta o cubinho em água...
Dra. Gungunhana - Com este cheiro?
Dona Sirigaita - É, não cheiram lá muito bem...
Dra. Gungunhana - E este cachimbo? O que é isto?
Dona Sirigaita - Ah, é para brincar aos índios e cóbois, no fundo ainda é uma criança, não é cool? Isto é o cachimbo da paz. Anda sempre a brincar com ele. Às vezes enfia lá o caldo Knorr e queima-o. Pra fingir que é um índio, ah! ah! ah!
Dra. Gungunhana - Mas...
Dona Sirigaita - Não me diga que... Ah, já percebi onde quer chegar. Já percebi tudo.
Dra. Gungunhana - Ainda bem. Peço-lhe desculpa por ter sido assim, mas é importante que estejamos atentos e...
Dona Sirigaita - Chamou-me para me mostrar que o meu filho é uma criança super-fofa, um menino exemplar, não é verdade? Muito obrigada, doutora. Eu já sabia, mas faz-nos sempre bem ouvi-lo. É sempre bom para o ego. Sobretudo quando sabemos que há tantos que se perdem, que andam para aí no disparate.
Dra. Gungunhana - Mas...
Pauleta - Bem, vou bazar. Tá na minha hora. G'anda ganza! Tchau, blondie. Adeus, super-cota. Nada de espigas! Calmex aí! Curte. Isto é do best. Bem, que cena marada, meu.
Dra. Gungunhana - Mas...

PARTICIPAÇÃO

Ex. mo Senhor Presidente do Conselho Executivo:

No dia 25 de Maio de 2006, pelas treze horas, estava eu na aula do 7º T quando um menino desconhecido, mas julgo que aluno desta escola, veio à janela fazer gestos e tagatés para os que se encontravam no interior da sala. Furiosa, fiz-lhe, também gestualmente, advertência de que devia ir de imediato embora dali, cessando de nos incomodar, ao que, rindo muito, o aluno respondeu com outros tantos gestos, vários deles com todo o ar de serem franca e gravemente obscenos (embora eu não seja especialista em linguagem gestual). Por minha vez, fiz-lhe gestos no sentido de que não me incomodasse mais ou eu iria fazer uma queixa. Perante isto, o jovem pôs-se a imitar animais, entre os quais conseguimos identificar - eu e os meus alunos, que pareciam julgar que se tratava de um jogo -, um elefante, um cavalo, um rinoceronte e um javali.
Saí da sala com o intuito de apanhar o aluno no momento em que estava em plena imitação de uma girafa.
Iniciou-se um desagradável diálogo.
Perguntei-lhe o que julgava ele que estava a fazer, ao que me respondeu que pensava que, com o meu gesto, eu lhe tinha pedido que fizesse de animais. Disse-lhe que era absurdo, que estava a disparatar, e que os meus gestos haviam sido para o mandar embora e para avisá-lo de que, a não ser assim, iria ter problemas. Insistiu em que percebera mal; e que tinha esse problema de compreensão em relação a tudo o que os professores lhe diziam, quer por gesto, quer oralmente, quer por escrito, e que, mesmo nos testes, interpretava sempre as perguntas no enunciado como significando coisas diferentes daquelas que os professores expressavam.
Perante isto, disse-lhe:
- Vá-e lá embora, e não quero ouvir nem mais uma palavra!
Retorquiu-me, desafiador:
- Uma palavra! Uma palavra! Uma palavra!
Comecei a persegui-lo. Ele fugia-me. A turma tinha vindo à janela. Alguns estavam à porta. Aplaudiam todos. Procuravam moralizar-me, mas eu não conseguia apanhá-lo e, portanto, uns tantos já começavam a vaiar-me.
Nesse momento, cruzei-me com o colega João Catalão, a quem, desesperada, pedi, num sopro de voz:
- Apanha-o, João! Agarra-me esse...!
Ao que, por sua vez, o professor João me respondeu, com a sua característica pronúncia nortenha:
- Eu??? Era o que faltaba! Num suô de educaçõ física!
Venho, pois, por este meio, fazer uma participação do professor João Catalão (uma vez que não tornei a ver o aluno e não faço a mínima ideia de quem ele seja).
Que o Conselho seja justo e exemplar.
Que não se deixe passar esta inaceitável falta de solidariedade.

A professora,

Martina Pénacova

O ESTATUTO DO ALUNO INFERIOR DO ENSINO... INFERIOR?

Andamos há muitos anos a falar e ouvir falar dos problemas de indisciplina nas escolas. Bububuuuuu! Já chateia. Fala-se de maus comportamentos, do uso de armas brancas, dos roubos, das ameaças, das partidas mal pregadas, das agressões físicas. Longe vai o tempo da malvadeza mais incocente mas preferida do aluno vingador: os pneus furados vazios ao fim do dia de trabalho. Era chato, mas inofensivo. Um risco na pintura do carro pouco amolgava a nossa humildade.
Nos nossos dias mais que presentes, fala-se à boca calada da má educação e da falta de respeito com que somos confrontados diariamente, mas ninguém das instância superiores parece importar-se muito com isso. Sim, daí não advém nenhum mal maior. Não há cabeças partidas nem olhos negros entre professores (isto fez-me lembrar um outro episódio...), não há fuga de gás que provoque explosão. Os nossos dias sucedem-se pacatamente, leia-se, sem sobressaltos de monta.
Longe vai o tempo em que uma falta valia mais que duas palavras. Hoje a falta de presença ou mesmo disciplinar não tem o mínimo efeito, porque, para além do aluno não reprovar (o que é isso?) o encarregado de educação não se importa muito com isso.
O que a maior parte das pessoas não sabe ou não quer saber é o esforço que desenvolvemos para conseguir que os nossos alunos nos OIÇAM!!! Que não nos respondam com um "em mim ninguém manda" ou "não me apetece" enquanto boceja refastelando-se na cadeira. Remédio para combater o "dolce far niente" instalado em muitos grupos de alunos parece ninguém ter encontrado. Forças para combater a má educação parece que nos começam a faltar.
Chama-se a atenção para as aulas educação sexual, para o insucesso (em algumas disciplinas), para as aulas de substituição, para o preenchimento de papéis e mais papéis com justificação para os mais diversos actos.
Qualquer professor ou funcionário da escola pode advertir o aluno fora da sala de aula, ou seja, chamar a atenção ao aluno perante um eventual comportamento perturbador passível de ser considerado infracção disciplinar. Algo que, no fundo, já existia na prática e que até está regulamentado no papel. Mas alguém sabe dizer para que serve? Alguém sabe que efeito tem para o aluno esta advertência quando ele, em plena advertência, encolhe os ombros e nos vira costas? Alguém conhece melhor prática do que uma palmada bem assente no momento oportuno?

24 maio 2006

O XIQUE E O XOQUE

Olé, olé, queridérrimas e quericuchos da escolinha da linda.
Tinham saudades, não tinham? Mal suportaram uma semana interirinha que passou sem os meus comentários? 'Brigada, 'brigadinha. É que tenho estado, tal como toda a escola, atenta, super-atenta, atentérrima ao desenrolar de uma promessa de romance pelo qual andamos todas a torcer. É uma coisa embrulhada, porque são ambos timidérrimos! (Se calhar, é por serem assim tímidos que são os dois ainda tão-tão-tão solteirões. Pensando melhor, se calhar não é só por isso...). Mas foram feitos um para o outro. Vão é precisar, talvez, de um empurrãozito. E mais não digo! Quem tiver olhos que veja! Quem não tiver, pergunte por aí. (Agora vejam lá, não se deitem a adivinhar à parva, tá?)
E num cantinho dedicado aos homens, não posso deixar de mencionar o tio Gugu , que, no seu espaço reservado na sala dos professores, vestia um lindo polo de riscado negro e branco, qualquer coisa entre uma zebra e um presidiário. Mas bem, mas bem, com o seu charme a luzir em cada lista. Gugu, espero não estar na sua lista negra! Aprovadérrimo.
Por falar em listas, não viram as listas de tamanho variável e um laranjão vivíssimo em fundo branco que trazia a loirérrima Lay Freire? Muito bem! Sempre actual.
Também o tio Nené vinha com um estilo mais informal, o chamado «casual», sabem?, chique e desportivo ao mesmo tempo, com uns acastanhados a condizer, que muito apreciei. (Ó tio Nené, se quando andou ofendido me lançou com o Descartes, agora que lhe dou nota máxima, não aceito menos do que um filósofo desses de nomes mais arrevezados, um Kirketralará ou Shopping-center, tá? Um Shopping-center vinha a calhar...)
Passando a coisas sérias, adorei o conjunto bermuda/bolta alta/decote baixo debruado a tule/fecho éclair/verde tropa/cabelos soltos da Lailai!
Quem também deu nas vistas foi a Cricri, combinando lindamente a roupinha, mas por partes, percebem? Ou seja, da cintura para baixo combinava tudo perfeitamente, e da cintura para cima também, só que a parte de baixo (calça axadrezada tipo Burberry’s e sapatos de corda) não combinava com a parte de cima (camisola com um boneco Manga, possivelmente inspirado nos desenhos dos seus alunos). Rica, procure outras fontes de inspiração, que acha? Lembra-se dos conselhos do Cara D’Anjo? Patos Donalds, compassos, and so on...
On and on, on we go! Até para a semana! Um chuac-chic. Para todos!

23 maio 2006

Poesia
















A Poesia numa janela ou a janela com poesia...


Da penúria do poeta

Diria Camões sem cheta, com pena, à sua amada:

Minha pena tenho já no extremo fio
De tão gasta, Senhora, de tanto uso lhe dar.
Como arranjarei para vos escrever nova pena?
Se nem um cêntimo, Senhora, tenho para gastar.

E nem aos cisnes poderei roubar uma pena
Para vos mandar novas de mim, Senhora, ai de mim, coitado.
No reino grassa o temor de praga estranja
A gripe das aves traz a todos em cuidados.

Nestes tempos de tormentos e magras bolsas
Fechai bem, Senhora, de vossa casa o ferrolho.
Ah a desdita e a má fortuna que nos fazem assim andar
A vós descalça, Senhora... E a mim teso e sem um olho.

Florbela transpiraria no canapé:

Ah … Quando penso em ti meu amor...
Fica tão quente este meu pobre e triste corpo abandonado.
Ah… Não fora estar tão lisa como o meu Alentejo
E compraria um canapé com ar condicionado...

Esperar-te-ia, então, de bom grado meu amor
Desde o raiar do sol até à noitinha.
Ah meu amor… Tivera eu um ar condicionado
E a espera seria bem mais fresquinha.

Ary declamaria arrebatado:

Poeta que é poeta
É um esfomeado!
Um órfão
Um deserdado!
Árido, estéril
Se sem inspiração
Sem poesia.
Poeta que é poeta
É um operário!
Um teso, um pobre
Um libertário
Que constrói de mãos nuas
O poema itinerário,
O verso em que caminha.
Ao poeta que é poeta
Pode faltar tudo!
O vinho, o pão
E o conteúdo.
Mas que não lhe falte a musa
Pois morre o poeta
Que não come poesia.

Pessoa pensaria olhando o porta-moedas:

“Não sou nada.”
Não tenho nada
Nada quero senão meditar.
Mas davam-me jeito uns trocados
Que o dono aqui da esplanada
Já me disse quinze vezes:
- Queres fiado? Nem pensar!

UMA CARTA DO MENINO DOMINGOS, DO SEMINÁRIO DE SÃO LUCAS DE FORA

Queridas pessoas todas aí da escola de Linda-a-velha:

Eh, pessoal, que saudades que tenho de vós. E pensar que às vezes praguejava contra a escola e contra os professores que me obrigavam a estudar. Em primeiro lugar, aí não era preciso dar-me sequer ao trabalho de praguejar, porque acabava sempre por não estudar na mesma. Em segundo lugar, antes ter possibilidade de praguejar sem haver necessidade, do que ter necessidade e não poder. Praguejar, aqui no seminário? Tá quieto! Ameaçam-me logo com o inferno. E obrigam-me realmente a estudar, que é uma coisa cujo conceito ainda não entendi, mas parece que é isto: tenho de ficar uma hora ou mais numa sala, sentado numa cadeira, com um livro aberto diante dos olhos. Eles querem que eu sublinhe, e eu sublinho. Devem acreditar que, sublinhando, a gente fica a saber a matéria. O que é ser padre, o que é ser um homem de fé!
Claro que aquilo que mais falta me faz é a presença feminina. Por estes lados, saias, saias, só as dos padres. Ou, quando muito, as da dona Vicência, que é uma senhora que vem aqui fazer as limpezas uma vez por mês.
Ai, o que eu me lembro das raparigas da escola. Como me marcaram. (Ainda tenho os dedos de uma bem marcados na face só por lhe ter pedido um beijo. Coitada. Ela não percebeu que eu já tinha vocação e, portanto, o que lhe pedia era um beijo casto. Não. Viu-me de língua de fora e trás!, arreou-me logo uma estalada. Ainda tentei explicar-lhe a história da vocação, mas respondeu-me: «Vocação, sim, sim, bem vejo, bem vejo...!»)
Também tenho saudades dos professores. Havia aquele que andava sempre à procura da pasta que lhe escondíamos, ou o que entrava e nos cumprimentava assim: «Viva o Benfica», ou uma senhora que tinha a dentadura constantemente a tremelicar e a bater como castanholas (e nós a fazer apostas sobre quando é que aquilo lhe caía mesmo)...
E o pessoal todo, que saudades: as senhoras contínuas, sempre tão antipáticas connosco, mas porque nos adoravam - no fundo, no fundo, no fundo, no fundo, no fundo, no fundo, no fundo, no fundo, eu sei, porque nos adoravam! E as teatradas (não, não estou a falar DESSAS teatradas, estou mesmo a falar do teatro dos professores Mário, Suzette e Dolores)! E tudo, e tudo! Que saudades. Que chatice. O papel vai agora um bocadinho molhado por causa de uma lágrima que me caiu.
Lembrai-vos de vez em quando de mim, que eu nunca vos esquecerei.
Estais sempre nas minhas orações. Todos. Até a menina que me deu a chapadona. Talvez até principalmente ela.

Até sempre

Brevemente Padre, vosso
Domingos e Dias Santos

ANGÉLICA TITA e o MONITOR

Aquele papelito andou no meio da pilha de estes para corrigir durante dias e dias. No último dia do prazo de entrega a depois da sandes engolida à pressa no bar, dirige-se à secretaria para entregá-lo e evitar ficar sem ordenado.
-Bom dia! Bom dia, sr monitor.
-
-Bom dia, já disse.
-
Lá dentro, atrás do monitor, alguém parece ter ouvido o cumprimento, denunciado pelo esgar de olhos e pelo amarfanhar de papéis, mas nada acontece.
-Venho entregar a fichinha. É que o prazo está a acabar.
-
-Olhe, pensava que estava aqui para fazer alguma coisa. Era mais simpático da sua parte se se virasse para mim, não acha?
-
-Talvez desse modo conseguíssemos comunicar, digo eu, oiça lá, o que é que está aqui a fazer? Este é um lugar de trabalho, não sei se sabe.
Algures atrás do monitor:
-Oh! Não reparei nesta linha! Já devo ter vindo de casa com isto pendurado. O quê? achas que me fica mal isto assim muito justo? Marca muito, não é? Pois, já desconfiava.
-Bom dia, importa-se de receber este papelinho?.
-Ó Linda! Parece que ouvi qualquer coisa ali atrás do monitor...
-Consegue ver alguém?! Eu daqui não vejo nada...
-Tou aqui, aqui!, Aqui! - grita AngélicaTita acenando os papéis por cima do monitor.
-Ah! Professora vou já aí. Ou então deixe ficar em cima dessa pasta.
"Pasta, qual pasta?"pensava Angélica.
-Aí, ao lado do monitor.
-Francamente, senhor monitor, é mesmo mal educado, ao menos desvie-se, não? Já que não faz aqui mais nada.

22 maio 2006

DRA RUTH RESPONDE A JUSTO FIXOLA

Querida Dra. Ruth:

Sou um jovem com poucas competências para lidar com a vertiginosa velocidade da vida. Os meus alunos bem me ensinam, mas é tudo muito novo. E rápido. Quando começo a compreender alguma coisa e vou para dizer «Ah!», já essa coisa passou à história e um dos rapazes tem de me responder «Não, isso era antes (há um minuto atrás, por exemplo), agora já não é bem assim...»
Eles andavam a fumar comigo uns cigarritos que me provocavam tonturas. Pensei que fosse disso. Mas havia mais do que tonturas. Também tinha fome. Comprava um pão de leite com fiambre ao senhor Gonçalves e, logo à primeira dentada ficava empanturrado. Sentia frio. Mas, ao mesmo tempo, começava a suar. Sobretudo se me cruzava com a Fofinha. (Quando a via, ou tropeçava na perna de uma cadeira, ou escorregava, ou fazia uma parvoíce qualquer. Ia cumprimentá-la mas arrependia-me, e a voz saía-me num estertor de moribundo. Corava, fugia, tornava a tropeçar. Nunca fui capaz de lhe dizer nada que tivesse um aspecto vagamente interessante; inteligente, muito menos. A última vez que me esforcei por manter conversa com ela, o único assunto que me vinha à cabeça era o das vantagens do pão integral. Bolas!!! Deve pensar que sou completamente bronco). Levei algum tempo a compreender que me dera uma coisa chamada paixão. Isto não pode ser bom, Dra. Como raio poderia ser boa uma doença que me faz estar sempre a pensar numa única pessoa, ainda por cima sentindo frio, mas, ao mesmo tempo calor? E principalmente, uma doença que me torna no homem mais estúpido e ridículo à face da terra logo a partir do momento em que a lobrigo, mesmo aparecendo ela lá muito ao fundo, onde só eu a vejo antes de qualquer outro? Não queria que me desse explicações sobre isto, Dra. Queria que me oferecesse uma cura. Rápida. Eficaz. Definitiva. Uma constipação, ainda vá! Agora isto é que não pode ser...!

Desesperadamente ridículo,
Justo Fixola



Querido Justo:

Temos de saber tirar partido das doenças enquanto elas duram. Algumas permitem-nos faltar ao serviço, ficarmos refastelados em casa, com pilhas de revistas do Expresso. Outras, quanto mais não seja, servem para conhecermos o grande alívio de quando passam. Agora, cura para aquela de que me fala? Ó filho! Não tenho pena de si por estar padecendo disso; tenho pena de si é por saber tão pouco da vida que ainda acredite num remédio. Gostei de o ajudar. Gosto sempre muito de ajudar.

Sua
Ruth

20 maio 2006

A COLUNA DE D.J. CARA DANJO: ATACANDO O POMO DA DISCÓRDIA

á três côizas ein k çôumos tôudos bué da bôns cá ein portugál. uma é ençinár cômo çe trêina uma ikipa de futeból. ei mén axâmos çempre k o treinadôr é 1 nábo e k çe tivéçemos lá nós é k akéla sêna funssionáva mêsmo. ôutra côiza é a pulítica. çabêmos çempre arrezolvêr o k nenhun govêrno arrezolvêu. kuando ôisso o mêu kóta a eispelicár tudo çôubre futeból e pulítica pênço (mén. o vélho tásse a perdêr nun çervisso onde não fás nenhun e onde detésta tudo e tôudos prinssipálmente o xéfe k grita con êle e le atíra predigôutas da bôuca kuando ein vês de aturár iço tudo podía tár mas éra tipo a çalvár a icónomia do paíz ôu a fazêr a seléssão nassional ganhár. o mêu kóta nunka tería deichádo de fóra o kuarésma). a terssêira côiza ein k çôumos bué da bons é no dezânho. mêu. tôuda a jente çábe fazêr un dezânho e pintár e iço. até as keriãssas mén. é ou não é. puriço é k êu não perssêbo ésta sêna do inssuçéço a évt. vâmos lá aver. atão os putos não çábein dezenhár ôu kê. avêr uma dechipelina de dezânho é aver uma dechipelina ein k tôudos os alunos já çábein tudo cômo çe fôçe 1 dechipelina de treinassão de futeból ôu de bitátes pulíticos. é cômo a dechipelina de jinástica ein k a jente vai dár sáltos e corrêr. não çe póde têr negativa a iço mén. êu por acázo têinho mas çei k çou injustissádo. a minha prófe de évt por izêmplo pérde a cabêssa çó pq êu têinho 1 conpáço difrente. eispelicolhe. (ó setôura a setôura até devia dár mais valôur ó mêu conpáço pq isto é tudo artezanál fui êu mêsmo k o fis com 2 gálhos 1 curdél e 1 bico de lápis). o mêu kóta já me diçe k ein materiál pâ dezânhos e bincadêiras é k não gásta dinhêiro. êu eispelico á purfeçôura (ó setôura mas o purbelêma do conpáço é purcáuza das cicunfrênssias mas ólhe k êu pa fazêr cicunfrênssias çó perssizo de 1 lápis e de uma muéda mai náda. pôunho a muéda ein sima da fôulha e dezânho con o lápis á vólta e fika inpék). não çenhôur não entende isto. çe êu le pregunto çe póço dezenhár o páto donaldo k é 1 bunéko jiro k êu gósto mt de dezenhár e k fásso na prufeissão fika fúla. çe êu çáio das linhas a pintár fika fúla. kuál é o purbelêma çerá pâ não gastár tinta. mas êu não m impórto mêu a tinta não é minha péssoa imprestáda k mál fás gastár mais ôu gastár mênos. o mêu kóta bêin dis. (não liges. çe não tivéres pusitiva a dezânho ôu a jinástica não te arráles k iço é pa intertêr os pútos e çó os purfeçôures déças dechipelinas é k inda não perssebêrão iço coitádos). vôu dizêr máis uma côiza. as minhas pintúras ção tão bôuas k até estão eispóstas. é verdáde. não çabíão pois não. têinho o mêu kuárto xêio de pátos donaldos k êu dezenhêi.

O PROBLEMA SINDICAL: UM ENSAIO DO PROFESSOR BARNABÉ

1. Ele há, na carreira dos professores do Ensino Secundário, grandes e graves dúvidas, há sim senhor. A primeira grande e grave dúvida, a que se convencionou chamar a «Dúvida Sindical», consiste nisto:
Por que é que, tendo os professores tantos sindicatos à sua disposição, não conseguem, de facto, encontrar um único que não seja a brincar?
Claro que devemos percepcionar diversos graus de brincadeira. Se excluirmos os sindicatos que são de tal maneira «a-brincar» que até palhaços têm, aqueles sobre que não vale a pena acrescentar nem mais uma palavra a não ser que, em vez de um ensaio académico, eu queira escrever um livro de anedotas, resta a Fenprof. Não que seja, propriamente, menos «a-brincar» do que os outros: mas porque se trata de uma brincadeira levada mais a sério, feita sempre com um ar muito compenetrado. Mesmo os maiores disparates são, ali, perpetrados com toda outra seriedade.

2. Contudo, a Fenprof padece daquilo para que gostaria de reservar a designação de «Problema Sindical». Ora de que estou eu a falar?
O «Problema Sindical» consiste, em poucas palavras, num senhor sindicalista que deve ser boa pessoa e vem, às vezes, à minha escola (e suponho que a outras) prestar informações sindicais ou, periodocamente, recolher assinaturas para se subscrever uma lista que reincide, sempre que possível, nas eleições para determinados órgãos do sindicato. É uma lista sem nada de mal a apontar. Sem vícios de poder. Diria mesmo: impoluta - nunca ganhou. Mas continua tentando.

3. O senhor de que falo, com uma camisa à pescador e patilhas, especializou-se em usar de métodos violentos para conseguir que os professores, amedrontados, façam o que ele quer: o seu aperto de mão estilo quebra-ossos ou as suas palmadas nas omoplatas de colegas a quem trata por «amigo» (imaginem se os considerasse «inimigos») são, obviamente, formas eficazes. Resta saber de quê. De ganhar votos, já vimos que não. Eu simpatizo muito com a personagem. Fujo-lhe, mas fujo-lhe simpaticamente. E já votei neles. Ou não? Não me lembro.

RELATÓRIO

De: Gaspar Olhovivo, Detective e Bufo.
Para: T.P.C., meu contacto no ministério.

Minha senhora:

Reporto, conforme solicitado, que na escola que temos vindo a designar prudentemente pelo nome de código «A Velha é Linda», as portas dos pavilhões estavam ontem encerradas com gesso, de modo que não foi possível, até muito tarde na manhã, a leccionação de várias aulas. Quando chamado um senhor serralheiro para tratar deste problema, foi perseguido e vaiado por bandos. De alunos, pensa a senhora? De professores, garanto-lhe eu.

Tornou-se-me imediatamente suspeita de haver perpetrado o crime horroroso a seguinte professora, aqui apresentada sob o código que combinámos.
Fáti da Mesa X: da sua mala já eu vi sairem tesourinhas, bisnagas de cola, correctores, moedas para a máquina de café, pacotes de açúcar, colherinhas, trufas de chocolate. Até um lápis e uma caneta já vi de lá sair. Não é difícil acreditar que daquela mala proviesse a espátula com que, ao que parece, o gesso foi colocado. Porque, precisamente, pareceu-me detectar um brilho (de orgulho e vaidade) nos seus olhos, quando nos disse, como quem se gaba: «O serralheiro afirma que aquilo foi trabalho de um adulto. Usaram espátula e tudo!»
Em todo o caso, estas simples frases permitem eliminar de uma assentada várias hipóteses. Se se trata realmente de um «trabalho de adulto», o criminoso NUNCA poderia ter sido:
1. Pochato.
2. Fantasmadaopera
3. Guerra
4. Aliás, para que enumerar? Não podia ter sido ninguém do sexo masculino em geral.

Já, por outro lado, a Professora-menina Timota chamou a atenção pela alegria que, nessa manhã, lhe rasgava um sorriso de orelha a orelha. Não creio que tenha sido a executora. Distraída como é, se ainda agora, quase no fim do terceiro período, não acerta com o caminho para os pavilhões em tempo de aulas, e a encontramos, muitas vezes, completamente perdida e desorientada no pátio, como raio daria com eles à noite, e carregando às costas sacos de gesso? Em todo o caso, não tendo sido ela, o crime deu-lhe um evidente prazer, o que já é uma forma de culpa, certo?

Vou continuar procurando.
Julgo, entretanto, que já aqui há bom material.

SANGUE AZUL

Na Idade Média, blasfemar era um pecado mortal e, os camponeses, jamais se arriscavam a nele incorrer.
Os senhores feudais, porém, costumavam fazê-lo sem o menor escrúpulo, até ao dia em que certo jesuíta, favorito do rei, lhes proibiu empregar o nome de Deus em suas blasfémias predilectas. Eles contornavam essa dificuldade substituindo “Deus” por “Azul”.E , assim, essas imprecações foram-se modificando:
Par la mort de Dieu (pela morte de Deus) passou a ser Morbleu;
Sacré Dieu (Santo Deus) passou a ser Sacrebleu;
Par le sang de Dieu (Pelo sangue de Deus), Palsembleu, etc...
A criadagem, que ouvia essas imprecações, retinha apenas o final, ou seja, Sang Bleu, sangue azul.
O uso dessa blasfémia era privilégio da nobreza. Então, para distinguir um nobre de um plebeu, os criados costumavam dizer: "Esse é um sangue-azul!".
Poderemos então sintetizar que “ sangue azul” se tornou sinal de nobreza e de privilégio.
Vide foto que ilustra bem essa situação de “ favorecido”… O camponês como “animal de carga” para nobres e religiosos, mantêm-se ainda no século XIX e grande parte do século XX….
Doença azul ou sangue azul tem também a ver com uma situação clínica em que o indivíduo revela, numa parte do corpo, veias de coloração azul, devido à fraca oxigenação dessa zona. Parece ser também uma expressão popular.

17 maio 2006

THE BOOK OF NONSENSE

ADOZINDA - Olha, pedem do ministério que lhes enviemos os dados dos professores.
MARCOLINA - Dados? Nós já lhos enviámos, não te lembras?
ADOZINDA - Estás a falar daquele pacote em que iam uns dados de jogo? Uns cubinhos com pintas nas faces?
MARCOLINA - Sim. Eram inegavelmente dados dos professores. Até tivemos de interromper-lhes um jogo para lhes sacarmos esses dados, não foi?
ADOZINDA - Pois foi. Só que esta carta dá a entender que não era isso que o ministério queria.
MARCOLINA - Ai não? Então o que era?
ADOZINDA - A idade, o sexo, os filhos resultantes de tanto sexo, a data em que foi concluído o curso e as notas, a data do ingresso na carreira...
MARCOLINA - Ai isso é que são os dados?
ADOZINDA - Isso é que são os dados.
MARCOLINA - E onde temos nós isso?
ADOZINDA - Ah! Ah! Ah! Ah!
MARCOLINA - Ah! Ah! Ah! Ah!
ADOZINDA - Na altura em que começou tudo não havia computadores, pois não?
MARCOLINA - Não. Era tudo feito à mão.
ADOZINDA - Nós perdíamos essas coisas. Não registávamos nada. Era um descanso. Como não ficava nada registado, ninguém nos podia pedir contas. Sabiam lá eles quem tinha tratado do quê...
MARCOLINA - Na verdade, nunca ninguém tinha tratado de nada, não era?
ADOZINDA - Depois, apareceram os computadores.
MARCOLINA - E quando começámos a ser ultrapassadas por pessoas que sabiam de computadores, conseguimos que, mesmo assim, elas ficassem dependentes de nós.
ADOZINDA - É verdade. Nós é que lhes dizíamos o que escrever.
MARCOLINA - E como não tínhamos nada em sítio nenhum, inventávamos.
ADOZINDA - O que nós inventámos, não foi?
MARCOLINA - Divertimo-nos tanto! Dizíamos que fulana tinha nascido em 1919, coitada. Ah! Ah! Ah!
ADOZINDA - Ou que era do sexo masculino. Ah! Ah! Ah!
MARCOLINA - E ainda há quem diga que a função pública não é criativa. Meu Deus! Só mesmo para quem não quer.
LUÍSA - Bom dia, meninas.
ADOZINDA - 'Dia!
MARCOLINA - 'Dia!
ADOZINDA - Olha, já viste, Luisinha? Parece que vais ter de enviar os dados dos professores lá para o ministério.
LUÍSA - Eu!? Mas aquilo está tudo uma barafunda. Os professores estão sempre a protestar.
ADOZINDA - Desenrasca-te, filha. Tu é que és a «boa» nos computadores, não és? A responsabilidade é toda tua. Nós não temos nada que ver com isso... Nós somos as lesmas, não é? Não era assim que nos tratavas? As lesmas, hein? Agora, arranja-te.
LUÍSA - Ó meninas, pelo amor de Deus ajudem-me. Arranjem-me maneira de responsabilizar outra pessoa qualquer...
MARCOLINA- Hum...!
LUÍSA - Peço-vos. Eu conto-vos uma história que acabei de ouvir no CE. Aquilo foi cá uma discussão que nem queiram saber...
MARCOLINA - A sério? Ai, querida, conta, conta...
LUÍSA - Só se me ajudarem, só se me ajudarem.
ADOZINDA - Bem. Atiramos as culpas para cima da Maurícia?
LUÍSA - Acham!?
MARCOLINA - Olha, lá vem ela. Disfarcem, disfarcem.
MAURÍCIA- Bom dia, meninas.
MARCOLINA - 'Dia!
ADOZINDA - 'Dia!
LUÍSA - 'Dia!
MARCOLINA - Parece que vais ter problemas, não é? Ai não sabes? Precisam dos dados dos professores. Lá do ministério. Grande azar o teu, hm?
MAURÍCIA - Mas... Mas... Mas... eu... eu...
LUÍSA - Pois é. Grande bico d'obra, não é? Vai sobrar para ti.
MAURÍCIA - Ai, vinha mesmo agora a rir-me de uma história... daquele professor, o que...
LUÍSA - Esse...? O do cabelo que...? Ah! Não me digas. E sempre é verdade que ele... hein? E a professora...! hein? Diz lá, diz lá.
MAURÍCIA - Não digo.
TODAS - Diz!
MAURÍCIA - E vocês apoiam-me nesta situação dos dados?
ADOZINDA - Ó filha, mas como é que queres? (Conta lá, vá). A gente não pode fazer nada, menina. (Anda conta, conta). A não ser...
TODAS - A não ser...!?
ADOZINDA - Que responsabilizemos os professores por isto.
TODAS - Ena, pá!
ADOZINDA - Que lhes entreguemos isto como está, umas fichas absurdas, uma barafunda inconcebível, e os obriguemos a actualizar a coisa, eh! eh! eh!
TODAS - Eh! Eh! Eh!
ADOZINDA - Sob pena de não receberem o ordenado. Olha, telefona aí para o ministério a dar essa sugestão, que vais ver que agrada. É mesmo o género de ideia que eles apreciam...
MARCOLINA - Está? Está lá? É do ministério da Educação? Estou a falar com...?

PARTICULAS DE IDEAS

(A MIOS QUERIDOS AMIGOS PLANETA AZUL E SPANISH)


«Particulas de Ideas» es un farmaco que se puede tomar
En comprimidos de color vierde.

Los comprimidos deben ser mantenidos lejos, lejos,
Muy lejos de los niños

(Sobretodo se hay pajaritos
En esos niños)

Se eres mujer puedes tomarlos
Mismo con el período

(Pero es preferíble tomarlo
Con un simples vaso de agua)

Atención a los efectos secondários:
Si lo tomas, no podrás conducir a tractores ni a nabes espaciales

Outro efecto es el sueno en classes
(Sobretodo en las classes de ciertos professores...

Pero probablemente ocorreria lo mismo
Sin el farmaco)

Para sabier como tomarlo - y para quê
Hay que consultar a tu medico.

16 maio 2006

HISTÓRIAS

HISTORIA DE PORTUGAL (Condensada)

Tudo começou com um tal Henriques que não se dava bem com a mãe e acabou por se vingar na pandilha de mauritanos que vivia do outro lado do Tejo.
Para piorar ainda mais as coisas, decidiu casar com uma espanhola qualquer e não teve muito tempo para lhe desfrutar do salero porque a tipa apanhou uma camada de peste negra e morreu.
Pouco tempo depois, o fulano, que por acaso era rei, bateu também as botas e foi desta para melhor.
Para a coisa não ficar completamente entregue à bicharada, apareceu um tal João que, ajudado por um amigo de longa data que era afoito e danado para a porrada, conseguiu pôr os espanhóis a enformar pão e ainda arranjou uns trocos para comprar uns barcos ao filho que era dado aos desportos náuticos. De tal maneira que decidiu pôr os barcos a render e inaugurou o primeiro cruzeiro marítimo entre Lisboa e o Japão com escalas no Funchal, Salvador, Luanda, Maputo, Ormuz, Calcutá, Malaca, Timor e Macau.
Quando a coisa deu para o torto, ficou nas lonas só com um pacote de pimenta para recordação resolveu ir afogar as mágoas, provocando a malta de Alcácer-Quibir para uma cena de estalo. Felizmente, tinha um primo, o Filipe, que não se importou de tomar conta do estaminé até chegar outro João que enriqueceu com o pilim que uma tia lhe mandava do Brasil e acabou por gastar tudo em conventos e aquedutos.
Com conventos a mais e dinheiro a menos, as coisas lá se iam aguentando até começar tudo a abanar numa manhã de Novembro. Muita coisa se partiu, mas sem gravidade porque, passado pouco tempo, já estava tudo arranjado outra vez, graças a um mânfio chamado Sebastião que tinha jeito para o bricolage e não era mau tipo apesar das perucas que usava, um bocado amaricadas.
Foi por essa altura que o Napoleão bateu à porta a perguntar se o Pedro podia vir brincar e o irmão mais novo, o Miguel, teve uma crise de ciúmes e tratou de armar confusão que só acabou quando levou um valente puxão de orelhas do mano que já ia a caminho do Brasil para tratar de uns negócios.
A malta começou a votar mas as coisas não melhoraram grande coisa e foi por isso que um Carlos anafado levou um tiro quando passeava de carroça pelo Terreiro do Paço. O pessoal assustou-se com o barulho e escondeu-se num buraco na Flandres onde continuaram a ouvir tiros mas apontados a eles e disparados por alemães. Ao intervalo, já perdiam por muitos mas o desafio não chegou ao fim porque uma senhora vestida de branco apareceu a flutuar por cima de uma azinheira e três pastores viram e acabaram por dar em beatos.
Se não fosse um velhote das Beiras, a confusão tinha continuado mas, felizmente, não continuou e Angola continuava a ser nossa mesmo que andassem para aí a espalhar boatos. Comunistas dum camandro! Tanto insistiram que o velhote se mandou do cadeirão abaixo e houve rebaldaria tamanha que foi preciso pôr um chaimite e um molho de cravos em cima do assunto.
Depois parece que houve um Mário qualquer que assinou um papel que nos pôs na Europa e ainda teve tempo para transformar uma lixeira numa exposição mundial.
E o Cavaco? Bem…
O Cavaco foi com o Pai Natal e o palhaço no comboio ao circo.
(Um Santana também queria entrar mas já não teve lugar no comboio…)

FIM

CONFIDÊNCIAS DE ZHHZ# (pronunciar: Zhhz#)

As pessoas não acreditam em mim, noto-o perfeitamente. Apesar do meu ar credível, basta começar a contar que fui raptado por extra-terrestres, e pronto, está tudo estragado.
E no entanto, é a mais pura das verdades: uma noite, vi-me sugado por um raio e slurp!, como uma criança a comer uma colherada de sopa, também o raio do raio me absorveu para uma nava espacial, onde me submeteram a diversas experiências. Será isto assim tão difícil de crer, bolas!?
A que género de experiências me submetiam? Bem. De manhã, injectavam-me logo nitro-não-sei-quê nas veias; muitas vezes, obrigavam-me a assistir a um penoso cerimonial religioso, designado por «Berzegun» (que poderíamos traduzir por: Reunião de Sector, de Parcela ou de Departamento), em que me prendiam a uma cadeira, com palitos nos olhos para não os poder fechar, elásticos nos ouvidos, para que nada me escapasse, mãos e pés bem seguros, enquanto umas sacerdotizas falavam na sua linguagem fechada, que eu estava longe de dominar. Também me obrigavam a preencher bz's («fichas») onde absolutamente nada tinha sentido - palavras e números na sua língua que, quanto mais eu aprendia, mais me pareciam nada significar...
Eu conto. Sobretudo nas festas e sobretudo a partir do quinto copo. As pessoas riem-se de mim:
- Este tipo é realmente muito divertido, no género chalupa! Eh, pá, ó Guerra, Ó Abel, cheguem aqui. Ó Guerra, ah ah ah, há aqui um gajo que diz que vem do planeta não sei quê...
Depois, com o correr da noite, quando se apercebem de que eu não me rio, de que não esboço um sorriso sequer e mantenho a coerência do relato, há aqueles que principiam a ficar nervosos. Topo-os logo. É um dom, um poder telepático que ganhei no planeta. Alguém começa a tremer, ou diz: «Eh, caramba, estás a nervar-me...», e eu não preciso de mais nada para intuir de imediato: «Este não me engana. Está nervoso...»
Também há os que gritam.
Certa vez, uma criança saiu a correr, pedindo socorro ao pai:
- Papá, papá! O maluquinho diz que se eu continuo a atirar-lhe oreos de chocolate à cara, vai chamar o Darth Vader e a Juju Ximâun!
- Anda cá, querido. Isso é ficção científica. Achas que tais seres podiam existir mesmo?
Finalmente, quando a história começa a perturbar seriamente as pessoas e a provocar desmaios, expulsam-me.
O miúdo vem atrás, sempre a atirar-me oreos de chocolate e entoando, numa arrogante ladainha:
- A Juju não existe, a Juju não existe!
Sabem lá eles...!

Naquele planeta, onde me deram o nome de ZHHZ# (o meu nome terrestre é Serôdio), os machos são em número reduzido. Mantêm-nos em cativeiro, num espaço mínimo, sem se poderem mover, vendo as barrigas aumentando. Mas é, apesar de tudo, um doce e tranquilo cativeiro, que não mata ninguém.
Algumas fêmeas, chegando ao fim de um ciclo, desaparecem. Mas são, digamos, substituídas: a Substitutrix é sempre alguém muito agitado e estranho, sobretudo cheia de vontade de trabalhar. A vontade de trabalhar é, ali, uma doença, uma espécie de espasmo, de tique nervoso. Eu mantive-me imune - não trouxe de lá doenças desse género, não se preocupem. No que toca a trabalhar, sou são como a Maria Elisa. Evito, evito. Mas, naquele planeta, a Substitutrix vem sempre afectadíssima, ansiosa, correndo atrás dos elementos do seu Sector (ou Parcela, ou Departamento), lamentando-se, e nunca passa despercebida.

Periodicamente, o feixe de luz volta a sugar-me. Ainda não acabaram as experiências. Sequestram-me. Querem por força ver se me pegam o tal tique nervoso. Tenho sido forte. Gostaria que os humanos me ajudassem, que me protegessem. Mas não. Já percebi que me não levam a sério. Ninguém acredita numa palavra. E ainda me atiram oreos de chocolate à cara!

15 maio 2006

VAMOS AO CINEMA

"OS INTOCÁVEIS"

Ficha Técnica
Título Original: Os Intocáveis
Gênero: (Pouca) Acção
Tempo de Duração: Em contínuo
Estúdio: ESLAV Pictures
Direção: Brian Óleo de Palma
Música: Ennio Morcone
Figurinos: Armani (em exclusividade)
Efeitos Especiais: Luccas Entertainment,Inc.

Sinopse:

A acção deste deslumbrante filme decorre numa comunidade escolar do século XXI, situada numa pacata vila perto do mar.
A comunidade tenta adaptar-se a regras e métodos inovadores, com meios e mão de obra do século passado. As leis são ditadas por um ser superior, a que eles ingenuamente se habituaram a tratar por (m)sinistra Dona Lurdes; as penalizações para quem as não cumprir começam lentamente a fazer efeito. Apesar se alguns não concordarem com elas, esforçam-se por cumpri~las com brio e polidez.
Porém, em todas as histórias há um porém, nesta versão eslavense existem alguns intocáveis renitentes, que continuam a furar as leis, a quebrar juras, de amor e das outras. Ignoram avisos e placards com proibições; não cumprem horários; não estão nunca onde deviam estar e provocam o caos naquela pacata comunidade que, lentamente, lhes tenta fazer o cerco. A pequena mas poderosa comunidade é regida por um xerife que se esforça por apaziguar os mais rebeldes e convocar todos para o trabalho comum, mas sem grande efeito; mão pesada não é o seu forte. Em troca, empadilece-se-lhe o rosto e afundam-se as suas olheiras.
A acção do filme decorre pois à volta dessas lutas e revela-nos grandes actores nos papéis de Eliot Mess, Jim Tonic Malone, AL Capone, Frank Rintintin, Jonhy Be-Always-Good, Dany Dolce-Far-Niente, entre outros.
O realizador Brian Óleo de Palma revelou em curta entrevista que o mais difícil durante as gravações foi mesmo filmar os principais actores, uma vez que estes nunca estavam onde era suposto estarem; "eles escapam-se sempre, mesmo recebendo chorudos cachets, arranjam maneira de irem fazer outras coisas. Com actores assim não se podem fazer bons filmes. Tivemos que gravar a maior parte das cenas em croma azul porque os cromos nunca apareceram para as cenas".
Apesar disso, o resultado é uma miscelânea colorida e cheia de efeitos visuais desenvolvidos sobre um argumento não muito original mas que não deixa de ser o reflexo daquilo que se passa em muitas comunidades.
A não perder!

A arca do Noé

Ele há cães que vagueiam na arca, cadelas que, quem sabe atrás destes, por lá andam, até que algumas almas caridosas se lembrem e envidem esforços no sentido de os encaminhar para outras tantas almas caritativas. No baú há também pássaros que invadem o ginásio e como não conseguem sair, acabam por fenecer. Por mencionar óbitos, falemos da tartaruga que saíu do seu habitat improvisado e, por não ter rampa para voltar à água, finou-se desidratada. (Para mim foi suicídio)!
Sugestão para o ecossistema ficar completo:
- Mantenham as ervas altas do lado de dentro da arca (junto aos campos desportivos) porque além de alojarem os fundamentais rastejantes viscosos hermafroditas, vulgo caracol, começam agora a atolharem-se de pulgas, que desejavelmente, na busca das bolas perdidas, passam para esses alunos que carinhosamente lhes providenciam alimento.

Benvindos para a ceia do Senhor! (Mesmo que seja por convite).

A MINHA FICHA

Nome: ElastigirlElasticadaEsticada
Morada: De um modo geral, na sala 10 à espera que os computadores funcionem.
Sexo: SSSim.
Nacionalidade: PT/CLIX
Emissão:Em directo
Data de nascimento: 6/5/NA
Suplemento: Cálcio, fósforo e magnesio.
Grupo: Vários
Categoria: Imensa
Nº horas semanais: (7x5)+(7x5)+(7x2)
Data de entrada na escola: todos os dias às 8:30h
Data de ingresso na carreira: não uso transportes públicos porque não páram à minha porta.
Actividade: 192 ? Muita!
Conta bancária: abaixo do nível da água.

DECISÕES, CONSTATAÇÕES E ASSIM

Num dos últimos concelhos dos muitos que se reunem na escola, ficou decidido que:
-a partir do próximo ano lectivo a data a inscrever em todos os documentos produzidos na escola, passarão a ter um novo formato: dd/mm/aa, AB ou dd/mm/aa, DB, como no seguinte exemplo:
6/5/2006, DB.
AB = Antes do Blog
BD = Depois do Blog
Esta é uma das mais bombásticas decisões algum dia tomadas, uma vez que reconhece decididamente, o importante papel desempenhado pelo blog na comunidade escolar.
-ainda no presente ano lectivo, todos os professores poderão passar meia horinha por mês na secretaria, para poder localizar os documentos que permitem comprovar as habilitações e outras afirmações prestadas na actualização do cadastro.

14 maio 2006

MAIS UMA FICHA

Nome: Lara
Morada: Sala de Directores de Turma, à espera que a impressora desencrave, ou à espera de novo tinteiro.
Sexo: Sempre.
Grupo: Sport Lisboa e Benfica, sócia nº 79796.
Categoria: Resmas...
Nº horas semanais: Ora deixa cá ver, 7 dias vezes 24h/dia... é... uma questão de fazer as contas.
Vínculo: Só quando não passo a roupa a ferro.
Deficiente: Às vezes.
Data provável de subida de escalão: HAHAHAHA!!!... BUÁÁÁÁÁÁ!!!... Snif, snif...
Grau Académico: Já disse que sou do Benfica, bolas!

Pensamientos (Voces)



(Especialmente à Spanish)

VOCES

Te ayudaré a venir si vienes y a no venir si no vienes.

Quien ha visto vaciarse todo, casi sabe de qué se llena todo.

De lo que tomo, tomo de más o de menos, no tomo lo justo.
Lo justo no me sirve.

El misterio apacigua mis ojos, no los ciega.

Lo lejano, lo muy lejano, lo más lejano, sólo lo hallé en mi sangre.

La verdad, cuando es una pequeña verdad, casi es toda verdad,
y cuando es una grande verdad, casi es toda duda.

Ellos también son como yo, me digo. Y así me defiendo de ellos.
Y así me defiendo de mí.

Iria al paraíso, pero com mi inferno; solo no.

Un amigo, una flor, una estrella no son nada, si no pones en ellos
un amigo, una flor, una estrella.

Cuando todo es hielo, una copa de alcohol es todo.

Estar en compañía no es estar con alguien, sino estar en alguien.

Lo más de nosotros lo ignoramos, pero está en nosotros.

Cuando no ando en las nubes, ando como perdido.

Un hombre solo es mucho para un hombre solo.

Sí, se va igualando todo. Y es así como se acaba todo: igualándose todo.

Lo bello se halla removiendo escombros.

El mal de no creer es creer un poco.

A veces lo que deseo y lo que no deseo se hacen tantas
concesiones que llegan a parecerse.

Todos pueden matarme, pero no todos pueden herirme.

Hay sueños que necesitan reposo.

Antonio Porchia. Voces Reunidas. Valencia: Pre-Textos, 2006

13 maio 2006

ACONTECE

ALVARINHO

Eu pesso desculpa´ mas nao vouu conserguir esquerver nada de geito no blog hoje à noit.
Abriu-se Alvarinho do Solar de Serrade a 12% para cromomorar uma boa noticia ao jantar e o mais que comsigo é copiar um poema de Bai Juyi (China, Séc. IX D.C.), da antologia "O vInho e as RoSas" (Assírioe Alvim), tarduzido pelo Jorge de Sousa Barga (obiRGADO por tudo Jorege)

UM COPO DE VINHO

Basta um copo para eu despertar
dois para afastar a tristeza de vez
Após três ou quatro copos
sobrevema mais luminosa embriagueze

eu n~ºao devia ter passado do quarto...

12 maio 2006

O LEILÃO DO ZÉ ABREU

Um outro tio meu (como vêem, tenho tios espalhados pelo mundo inteiro) é muito chegado à coroa britânica. Quando vem cá de férias até lhe chamamos «Sir» Joaquim; é um bocado snob e às vezes tende a esquecer-se de que eu também sou rei (das bifanas), mas, ao meu tio, aturo-lho, porque ele é mesmo um tipo fino. É o terceiro tratador de «Modess», o cavalo de onde Lady Camilla Parker-Bowles cai regularmente. O meu tio é que o limpa e o alimenta às terças e às sextas. Como vêem, quase sangue real.
Mas a questão não é essa. A questão é que o meu tio estava num restaurante tipicamente inglês, que frequenta muito, o «Pizzaria Mamma Rosa», quando, segundo ele, reparou num fulano de cara conhecida sentado numa mesa mesmo próxima. Donde conheces tu esta cara, Joaquim, donde conheces tu esta cara, Joaquim...? - e nada, não havia maneira.
Até que o tal fulano se levantou, pegou num guardanapo de papel, limpou a boca, amarfanhou o dito guardanapo, atirou-o para cima de um grupo, que nem deu por isso, e foi-se embora. Aí, fez-se luz. Essa mania de atirar coisas para cima das pessoas só podia ter um nome: Mourinho. Era o Mourinho «himself», como «Sir» Joaquim gosta de dizer.
Sabendo que na «net» se fazem leilões em que têm disparado os preços dos artigos mourinhais (por exemplo, da medalha que ele atirou à multidão, ou de um sobretudo «Hugo Bossa» que ele também atirou à multidão), o meu tio correu a apanhar o guardanapo de papel em que o herói luso limpara a vitoriosa boca e a que, felizmente, os ingleses não ligavam.

Pede-me o meu tio que aproveite para anunciar, agora que também estou metido nestas coisas de blogues e isso, que o dito artigo está já posto em leilão.

Quem estiver interessado em arrematá-lo terá de se despachar.
Vá já a www.mourinhonap.com, e veja a fotografia

Vosso, Rei Zé Abreu

O XIQUE E O XOQUE

Alô, meus lindos!
Alô Suzy, rica! Quero saudá-la neste seu regresso da praia de Peniche. Como é que eu adivinhei? É que, um dia destes, a menina vinha linda, mais do que linda, lindérrima, com as calças que fez com a lona de uma daquelas barraquinhas de listas vermelhas que há na praia. E pronto, com esta prometo que fico duas semanas inteiras sem me meter consigo. Fica contente a queriducha (que deve estar farta de que me meta consigo), fico contente eu, que não tenciono cumprir a promessa.
Eu não queria, mas vocês obrigam-me! Eu não queria falar dela, mas, querida Matilde, oh!, a menina é tão, mas tão cheia de graça! Adoro as suas saínhas rodadas, as barras bordadas, os seus cachecoeurs, os seus crochets, tão bem, tão frescos e fôfos, sem serem bimbos. Sim, reconheço, alguns por aí na escola estão a milhas de serem assim, doces como bombocas.
Prometo não me meter mais com uma outra reincidente, mas, rica Chachão, é inevitável falar da menina, embora seja a última vez (estou a fazer figas). Gostei do seu penteado, apesar de pouco arrojado. Esperava mais, vindo de si. O que ainda não descobri é onde é que faz as suas compras e também não faço questão em saber, mas se me der o seu endereço de correio electrónico (quem não o tem, não é verdade?), posso enviar-lhe uma lista de lojas super- chiques onde pode renovar o seu guarda-roupa. Haverá outras lojas que poderão aceitar os seus trapinhos para vender em segunda-mão, mas esse tipo de loja já não faz parte dos meus endereços, como calcula.
Esta sugestão atrevo-me a dá-la a todos! Façam um bom investimento com o vosso subsídio de férias! Digam lá, meu ricos, quem melhor conselhos lhes poderia dar? O BPI? O Mourinho? O Scolari? Vêm o que digo? Ninguém entre vós vos faz tanta falta!
Não se esqueçam: só tem subsídio de férias quem apresentar a fichinha preenchida!

Eu queria ficar por aqui! Mas não resisto! Já repararam na delicadeza com que vos pedem um trabalhito extra?! Aposto, queriduchos, todos vós têm mais habilitações do que aquelas que ali estão, certo? Eu sabia!
Um Xi-coração!

JOGOS, BRINCADEIRAS, PASSATEMPOS, ENFIM, MUITO DIVERTIMENTO

Do Ministério da Educação chega-nos agora uma «Ficha Individual» cuja ideia, percebe-se perfeitamente, é testar a nossa atenção. Uma espécie de jogo, em suma, um passatempo, uma prova, enfim, da alegre missão do ME no sentido de que nos não falte entretenimento. Devemos, pois, pescar os erros dessa ficha e corrigi-los. São inúmeros, mais ou menos subtis, mais ou menos ocultos. Vários dados estão omissos. Para ser tudo mais engraçado e interessante, um jogo desta qualidade deverá, obviamente, prever castigos: se não procedermos rapidamente às correcções, não receberemos ordenado em Junho. Como se tudo isto não fosse já divertimento bastante, uma colega ainda se lembrou de tornar a coisa mais animada, levando para casa, em vez da sua «Ficha Individual», a lista onde os professores deveriam assinar em como receberam as respectivas fichas. Não sei que mais vos diga. Isto tem sido só rir, só rir.
Aqui vai uma cópia da minha Ficha Individual:

Nome: Sindroma, etc, etc, etc.
Morada: Escola, a maior parte do tempo.
Categoria: Muito pouca.
Grupo: Mesa do canto direito na metade dos fumadores (onde tenho ido poluir o ambiente com o meu péssimo hábito de não fumar). Outras mesas por aí.
Deficiente [acreditem, é uma das informações requeridas]: Crise de identidade; uns ataques por diagnosticar.
Data de entrada na escola: 06/06/2015
Cessou funções em: 1932
Apoio Educativo: Não tem, mas aconselha-se veementemente.
Vínculo: A pouca gente.
Número de horas: 300
Horário completo: 300
Data provável de subida de escalão: Muito improvável
Material fornecido pela escola: Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Sindicato: 21 332 05 06

Mãos à obra. Vamos lá brincar, está bem? Quero ver caras divertidas; esqueçam lá as angústias do Xispas.

11 maio 2006

AS PALAVRAS QUE NUNCA VOS DIRÃO, por Nicolau Xispas

Eles andam cansados de procurar. Estão exaustos de vasculhar. Procuram a resposta em dicionários, roles de compras, bilhetes da vimeca e da carris, talões de supermercado e de gasolina. Houve até quem já procurasse nos tickets da portagem de alguém que viajara para longe. Nada.

Procuram qualquer coisa, mas não sabem o quê. Tudo o que querem é uma resposta. Perseguem-na há anos. Mas ela esconde-se por debaixo das mesas, "escapa-se mesmo nas nossas barbas", diz Guto War. Investido do seu papel de restaurador da ordem pública, GW não poupa esforços para os acalmar. Délita, ainda em convalescença, disfarça mal o seu incómodo e alega ser por causa da anestesia. Criselástica enjoa-se e afoga-se em cafés. ZéTó recusa chávenas de plástico, por causa dos nitrofuranos. Ninguém acredita nele. Fafátinha está triste. Também não sabe a resposta. Os que desconfiam não querem dizer. O cenário está negro, diz o Desiludido.

Paira no ar quente destes dias de maio um pó fininho que teima em poisar. Alguém o levantou e começa a entranhar-se nas peles e nas unhas, as pessoas estão incomodadas. Querem respostas, mas não as encontram. A pergunta anda de boca em boca, baixinha, suavezinha, discreta. AVOLUMA-SE, torna-se GIGANTESCA a cada dia que passa.

Eu, que tenho passado a vida no meu posto de observador atento, não sei o que é pior: se passar a vida toda a procurar qualquer coisa e jamais encontrar ou encontrá-la e perder a esperança de encontrar melhor. Não lhes digo nada. Não quero desconcentrá-los. Deixo-os procurar, assim andam entretidos. Um dia escrevo um livro sobre isso; vão poder vê-los nas prateleiras de sociologia ou entre os manuais de gestão escolar. A resposta nunca chegará, digo eu, que vejo tudo.

10 maio 2006

* L O S T * CAPÍTULO DEPOIS DO ÚLTIMO (TIPO RTP 1)

No meio das coisas que regressavam, infelizmente, à normalidade, alguma coisa mudara. Havia esperança. Que bom era poder terminar isto com uma nota positiva. Sim, agora, que se recompunham das notas negativas que todos e mais alguns os recriminavam de ter dado.

Marius Souzelas remexia os bolsos à procura dum ben-u-ron perdido, lost, neste caso, mas o melhor que encontrou e que só lhe aumentava as dores de cabeça: era a folha do sucesso/insucesso. Ao vê-la reincidente, obstinada, Mada Branquinho teve uma solipampa, caíndo estarrecida não chão, duas cruzinhas nos olhos. Aquela folha não havia meio de sumir. Não bastavam os projectos feitos ao ar, a carga negativa não se dissipara. Afinal, nada tinha mudado. Os hiper-super-heróis viram-se envoltos numa sombra negra para todo o sempre. Alguns, crentes, acreditavam que era um modo de expiar os seus pecados.

A COLUNA DE D.J. CARA DANJO: AZARES - UM TEXTO PARA MAIORES DE 18 ANOS

encuanto êu andáva a tentár k a zita vanéça reparáçe ein min o mêu amigo canélas até me dáva lissões. a zita vanéça é a beibe mai gira da xcola. o canélas é o bacano k aki mais perssébe de beibes. óra bein o canélas andáva a espelicárme akéla çêna do ponto gê. não çei çe já ôvírão falár. custávame a akerditar nakilo mén. (é açin tipo un butão k çe carréga e as imunda de prazêr) preguntáva eu inkrédlo. (çin çin) jurávame o gáijo. atão istudei o açunto. vi desânhos e eskêmas. fís desânhos e eskêmas. até perparêi cábulas tipo pa uzár no momênto. andáva çenpre a pençár néça çêna do ponto gê. as mulhéres ção mêsmo o mássimo mén. entertanto o têmpo fôi paçando e finálmente cumessei a namorár con a zita vanéça. é kestão açente. çômos mêsmo namorádos mêu. passiâmos de mãodáda e tudo. çó k agóra a zita vanéça disme que pertensse tipo a uma açuçiação de jóveins lá da parókia k çe xama (túdo tein o çêu têmpo) e cujo lêma é (guárdate pó cazamento). êu já le díçe (por favôr ó zita vanéça guárda tudo o k kizéres pa te cazáres un dia con 1 bacano kualkér guárdale bolaxinhas de xokoláte guárdale o têu aparêilho dos dêntes k te fika tão fiche guárdale as purpurinas mas não perçizas de TE guardar). negativo. e eu k çó keria fazêla ir á lua. têinho mêsmo azáááááááááár mén.

DEFINITIVAMENTE, UM BACIO (RE)PENICADO

* L O S T * . CAPÍTULO NÚMERO ÚLTIMO

Ooooooooooooh!
Ooooooooooooh!!!
Então era isto? Que decepção. Não estavam noutro mundo? Noutra dimensão? Noutra... aaah... coisa qualquer? Era a escola? Ninguém tinha chegado a sair da escola?
Ooooooooooooh!
Mas sim, todas as evidências apontavam para isso. Lá estava o presépio do refeitório - a única obra que não havia maneira de desaparecer. Lá vinha um pai queixar-se de que o seu filho tinha batido num professor, o qual o tinha posto a seguir na rua, e saber se não se poderia actuar com pulso firme contra esse professor que impedira de modo infame o seu filho de assistir à aula. Lá vinha não sei que coordenador de Departamento marcar uma reunião que «não duraria mais do que duas horas, só para pôr umas ideias em ordem»...

Mas, algures, no meio das coisas que regressavam, infelizmente, à normalidade, alguma coisa mudara.
Havia esperança. Que bom poder terminar isto com uma nota positiva.
Esperança de quê? O que mudara exactamente?
Caramba, não queiram saber de mais! Sei lá eu!

09 maio 2006

INGENUIDADES


Romance ingénuo de duas linhas paralelas

Duas linhas paralelas
Muito paralelamente
Iam passando entre estrelas
Fazendo o que estava escrito:
Caminhando eternamente de infinito a infinito
Seguiam-se passo a passo
Exactas e sempre a par
Pois só num ponto do espaço
Que ninguém sabe onde é
Se podiam encontrar
Falar e tomar café.
Mas farta de andar sozinha
Uma delas certo dia
Voltou-se para a outra linha
Sorriu-lhe e disse-lhe assim:
"Deixa lá a geometria
E anda aqui para o pé de mim...!
Diz a outra:
"Nem pensar!
Mas que falta de respeito!
Se quisermos lá chegar
Temos de ir devagarinho
Andando sempre a direito
Cada qual no seu caminho!
"Não se dando por achada
Fica na sua a primeira
E sorrindo amalandrada
Pela calada, sem um grito
Deita a mãozinha matreira
Puxa para si o infinito.
E com ele ali à frente
As duas a murmurar
Olharam-se docemente
E sem fazerem perguntas
Puseram-se a namorar
Seguiram as duas juntas.
Assim nestas poucas linhas
Fica uma estória banal
Com linhas e entrelinhas
E uma moral convergente:
O infinito afinal
Fica aqui ao pé da gente.

José Fanha

* L O S T * CAP V

Os canídeos estavam como que pregados ao chão, assustados pelo estrondo. Como se o susto não bastasse, a sua intuição natural dizia-lhes que a qualquer momento poderiam levar um safanão no traseiro. Limitavam-se a rosnar, timidamente, reservados.
Lentamente, a escola ganhava vida, interrompida que fora por instantes; desde que o aeroplano caíra, a escola silenciara. Mas alguém, teimosamente, deambulava pelo espaço, observando o desenvolvimento dos amores-mais-que-perfeitos que desabrocham com a primavera.
- Xô xô xô! Va vá! Vamos embora daqui. Tu, ó farrusco, não apareças aqui mais, ouviste?
-Falou para mim, chefe?
-Ahm ahm ah, tás aí?! Hum, desculpa tava a enxotar esta canzoada. Não há desgraçado que não venha cá parar. E eu até sei de quem é a culpa…
-Não me meta nisso, chefe, eu eu eu… estou só a fazer o meu melhor. E além do mais tou aqui todo torcidinho. Ajude lá a tirar esta asa de cima de mim.
-Bem, vamos embora a despachar. Temos que fazer o levantamento dos estragos provocados por isto que aconteceu aqui hoje. Vou nomear uma brigada para fazer isso.
O sr Cordeiro balbuciou qualquer coisa ao chefe, mas ele continuou o seu caminho em direcção ao bunker central cuja escotilha estava bloqueada por um batalhão de funcionárias, (a ver pelas risquinhas das batas) e que repetiam “está ocupado, não vê a luz vermelha?”.
De ente elas, Sãozinha tinha sido a escolhida para accionar o botão que mantinha o sistema intacto, a cada 90 minutos; não podia abandonar o seu posto sob o risco de se perder a ligação à realidade.
-Soutôr, se calhar era melhor chamar os bombeiros. Ainda há aí umas réstias de fogo.
-Não é preciso, aí vem um.
-Oh soutôr, não vê que é o senhor da telepiza?
-Hummm… humpf…

Joãozinho Hiperactivo, Mada Branquinho, Marius Souselas, Jo Cor-de-caça, Lenita Matoso, Kiki Delgadinha, Cris Elasticada e Chachão Baptizado reaparecem entre a folhagem e conseguem reunir-se; a custo, alguns com escoriações, mas (re)unidos. Vêm todos de mãos dadas. Entre tantos mistérios que os assombram, uma descoberta importante é feita: a de que existem mais sobreviventes na escola. Lentamente vão descobrindo também que também que o perigo está em cada esquina e que não devem confiar em ninguém pois até os heróis têm segredos.

08 maio 2006

ZÉ ABREU: BEM-ME-QUER(O) NUMA VIAGEM MAIS EM CONTA

Ainda agora principiaram as aulas e a senhora dona Lula espanhola já bem-se-quer em férias. Mas, se aquilo que descreve não foi um sonho que teve, lá aproveitou entretanto para ir a Espanha. O senhor azul, como não podia deixar de ser, aplaude, dá nota e agradece. Mais: pede um bacio, vá-se lá perceber porquê - deve ser um comentário de intelectuais, desses que me passam ao lado.

Fiel à intenção de aqui ir dando conta de uma cultura toda ela feita de gostos e interesses normais, leituras normais, músicas normais, filmes normais e viagens ao alcance de pessoas normais, venho então falar-vos do meu passeio a Vila Nova de Alhos-Brancos, que é um local em pleno Alentejo, aprazível, terra do meu tio Ernesto, que põe a casa à nossa disposição (cada vez, aliás, com menos disposição, à medida que as visitas se repetem...), o que aproveitamos, está claro, porque um passeio sempre é um passeio, e com habitação e comida à borla até sabe melhor...

Chegando a Vila Nova de Alhos-Brancos, pelo amor de Deus não deixem de se extasiar com a visível influência árabe, que se resume ao dono da padaria, o senhor Ahmed. Amigos, o senhor Ahmed tem um harém: ainda não decidi se o hei-de invejar, se apiedar-me. Uma coisa é certa: no meu caso, não servia. Não quero senão a minha querida esposa. (Mais iguais a ela davam certamente cabo de mim...)

A seguir, não deixe de ir visitar o castelo. É verdade: em Vila Nova existe um castelo. Mas o melhor é que o senhor Ahmed, que afirma que aquele castelo pertenceu aos seus antepassados, quer fazer lá um restaurante. E está a pensar substituir as portas velhíssimas, muito pesadas, de madeira carunchosa, por umas portas em vidro, dessas que abrem automaticamente e muito depressa. Quando voltar a Vila Nova talvez já tenhamos a possibilidade de almoçar no «Alhos-Brancos», que é como o restaurante se vai chamar.
Por enquanto, pode visitar o vetusto (hã? que tal?) castelo, mas tem de se pedir a chave à dona Gertrudes. A dona Gertrudes é surda. Portanto, façam favor de bater com uma colher num tacho que ela tem pendurados à porta de sua casa, a fazer de campainha. Esperam que ela vá à procura da chave. Demora um bocado e, às vezes, leva a chave errada, de modo que há que voltar atrás, o que é um óptimo passeio que devem aproveitar para respirar o ar puro.

Em Vila Nova de Alhos-Brancos não há água canalizada. Que há de mais típico do que irem ao poço ou ao chafariz? Mas não há água, atenção!, por motivos políticos: o Presidente da Junta gaba-se de ser o único político português que não tem promessas por cumprir. Ora ele nunca prometeu água ao povo. Quando lhe falam nisso, responde, sabiamente: «Água? Para quêi? Inda se fosse para se canalizar o vinho eram capazes de me agradeceri...»

Posto isto, quando lá vamos, ao fim de um tempo temos de regressar. Como é que sabemos quando é a altura? A minha tia começa a servir-nos peixe, e esse é o pretexto para a deixa do meu tio: «Ó Adozinda, pêxi outra veiz??? Nã sabes que o pêxi é como o hóspede? Ao tercêro dia aborrece...»
Aí, percebemos que estamos a mais, e só ficamos mais uma ou duas semanas.
Depois abalamos, com a mala do carro a abarrotar de azeite, batatas e um monte de repolhos que fariam a alegria e as delícias da senhora dona Lara Couve.
Não deixem de ir, que não se arrependerão.

07 maio 2006

A COLUNA DE D. J. CARA DANJO: NÃO QUERO QUE ME CORTEM AS ASAS

ôje tôu xatiádo mén mas é k tôu mêsmo bué da xatiádo pq cômo êu çôu bon a purtugês e iço kis concurrêr áu concurço de língua purtugêza da dôna bárba gimarãis mais do jurnál eispréço mais da çic e atão lá fui e tive de fazêr lógo 1 téste e no fin de fazêr o téste diçérãome k a dôna bárba gimarãis keria falár peçuálmente cômigo e lá vôu êu çúper felis e disme açin a çenhôura (parabéins o têu téste foi uma côiza cômo nunca na vida tínhamos visto não foi rapázes) e os rapázes k até érão tôudos uns kótas tipo os câmaraménes e iço respondêrãole em côro (foooiii) e acrechenta éla (çó k não váis pudêr concurrêr pq êste concurço não é pa vêr kein fás mais êrros ein mênos têmpo). mêu. isto é tudo invéja. a çenhôura déve têr mêdo k êu fássa sonbra áu marido k é un gáijo k ançiáva tipo çêr o markês de ponbál de lisbôa e até andôu a mostrár fótos e vídeus da mulhér e do filho cômo çe pedíçe ós eleitôres (é pá mén têinhão pêna de min já vírão bein a famílha k êu têinho de aturár e o puto é 1 xáto k çái mêsmo á mãi dêien lá os vótos para me arranjárein êste taxinho) çó k mêsmo açin o gáijo não ganhôu népia. a dôna bárba não kér que os bacânos cômo êu k pódein çêr algéin fássão sonbra ó marido. o k vále é k êu não me deicho ir abáicho. a minha prófe de purtugês encurájame bué. diçeme lógo (tu ainda ádes ganhár gandes perémios cára danjo ólha lá o saramágo atão não arressebêu o nóbel. já vês. básta k ája un júri k não perssêba patavina de língua purtugêza). penço k o k éla keria dizêr é k os purtugêzes ção bué da invejózos e tão çempre prontos pa curtár as ázas a un gáijo k brilha bué. mas êu çintome cada vês mais parssido con o saramágo. até çôube k o mén anda tipo con çulussos e açin. êu áxo k é por cáuza do géniu. o géniu tein de çe mustrár çempre por algun ládo. cômigo é mais os gázes e açin. a minha avó não me xama géniu xamame purcalhão. é ôutra k me kér curtár as ázas. inútil mêu. o géniu vein çempre ó de çima. con lissenssa.

VISUALMENTE PROVOCANDO

E agora, Lara? Que é feito do teu repolho?

06 maio 2006

* L O S T * CAP IV

Uma delas (já não me lembro quem estava no uso da palavra) ia responder à outra, quando qualquer coisa bizarra sucedeu.
A estrutura parecia ter vida. Abria-se toda, sem que lhe tocassem. Mas não só. Aquelas farpas cresciam como braços e rodeavam-nas, como se as fossem abraçar e prender.
- Que é isto? Que é isto? SOCOOOORRROOO! - gritou Kiki.
- O quê? Fala mais perto deste ouvido - respondeu Jo Cor-de-caça tirando, de um outro estojo, um aparelhinho auricular, porque também os seus ouvidos já não eram os de outros tempos.
Nesse momento apareceu a correr, com um ar muito feliz, Cris Elasticada, que lhes gritava, como se não se apercebesse do perigo que as duas enfrentavam:
- Este sítio é estupendo, meninas. É lindo. Há cá cães!!! Há cá cães!!!
De facto, uma horda de animais famélicos, que já havia farejado a sua bondade para com todos os animais deserdados, vinha correndo atrás de si.
Só que - Cris não estava a falar com ninguém: as duas meninas que ainda há pouco se encontravam ali, tinham desaparecido. A bela estrutura também.
Pairava um estranho silêncio. Os cães não diziam nada. Como se pressentissem problemas, complicações.
Cris teve medo. Afinal, naquele lugar, as estruturas artísticas também desapareciam depressa.
- Quando um problema se aproxima, a aproximação torna-se um problema - sentenciou.
- Au! Au! - respondeu-lhe um canídeo.
- Shhh! - fizeram os outros todos, assustados, atentos.

CONTINUA

AS SAUDADES QUE EU JÁ TINHA DE PASSAR OS OLHOS PELAS GORDAS!

O incontornável Expresso titula, em 1ª página:

«SOLUÇOS ATRAPALHAM SARAMAGO»

É por estas e por outras que este maciço jornal me é imprescindível.
Para as próximas semanas, saiba tudo acerca da incómoda comichão de Lobo Antunes, a unha encravada no dedo do pé de Agustina Bessa-Luis e as aftas que incomodam Mário Cláudio.

Outro título da mesma 1ª página (por este andar nem vale a pena ler mais, tudo o que tem importância na vida dos portugueses parece estar aqui concentrado):

«FREITAS CANSADO NO MNE»

Ficamos a saber que a vida de um ministro dos Negócios Estrangeiros é estoirante. Muitas viagens de avião pelo mundo fora, cansativas «para quem tem problemas de coluna», demasiados jantares, que também irritam os estômagos mais sensíveis, festas, bailes, enfim, coisas que fatigam muito. Realmente, a vida não está fácil para todos os portugueses!

E, por fim, tenho direito ao noticiário televisivo, que me informa que, doravante, as faltas dos professores deverão ser planeadas com antecedência, para que o material a usar por quem os substitua possa ser entregue com tempo. (Sob pena de terem falta injustificada). Vou, portanto, tratar imediatamente da planificação das minhas próximas faltas. Deixem-me ver: um furo no pneu do automóvel para dia 17 de Maio, uma diarreia para dia 26, escorregar numa casca de banana no dia 3 de Junho! Pronto! Assim, nada de surpresas.

E, para concluir, uma citação:
«Há largas décadas que eu digo que mulher atrás não é comigo». Não, não significa que não queira mulheres atrás dela; leiam até ao fim, por favor: «A mulher pode estar ao lado (do marido), atrás nunca». Foi proferido por Maria Cavaco Silva, na cerimónia da campanha do «Pirilampo Mágico», enquanto se esforçava por apanhar o senhor Aníbal que, no seu passo rápido, já ia um pouco à frente.

BEM-ME-QUER(o) DE FÉRIAS

Depois da grande azáfama da avaliação, eis que termina o fernesim burocrático! Bem-me-quer respirou de alívio e pensou: "esqueçamos o bom professor, o metódico organizado e estimulemos o sensível, o fantástico...". Pegou nas malas e foi de viagem. Escolheu a música - talvez uns sambinhas bem ritmados na bonita voz da Marisa Monte, ou a Rosa dos Passos a cantar Vinícios e Tom Jobim, ou um irreverente Mozart, ou ainda umas notas nostálgicas de Jazz no feminino com Dina Washington, Billy Holliday, Ella Fitzgerald... - Mete-se no carro, leva a sua companhia de eleição e aí vai em busca de história, arte, poesia... Deixa-se enfeitiçar pela cálida e relaxante planície andaluza e ruma a Córdova que, nesta altura do ano, se perfuma de flor de laranjeira e oferece aprazíveis páteos com sisternas de água fresca para o aliviar do calor que já se faz sentir. No carismático bairro judeu surpreende-se com monumentos históricos bem recuperados e restaurados, uns a recordar as épocas áureas da sua construção, outros já transformados/adaptados às exigências dos dias de hoje, onde o antigo convive harmoniosamente com a modernidade e o conforto. De entre todos, a Mesquita é, sem dúvida, o mais espectacular e surpreendente, não só pela dimensão, como pelos ricos e variados estilos arquitectónicos a testemunhar as religiões, as culturas das diferentes épocas, onde cristãos e islâmicos souberam partilhar pacíficamente o espaço comum, no respeito e na aceitação da diferença. Bem-me-quer pensou:"o que é que se perdeu? O que é que nós esquecemos?...". Mas, ser humano é ser humano e, necessidades que urgem troxeram Bem-me-quer de volta à crua realidade! Pois é, a fominha batia à porta, era a hora de la comida . Bem-me-quer anseia por saborear umas tapazinhas variadas! Faz uma boa selecção das especialidades locais, escolhe um bom vinho de Rioja e, numa também aprazível esplanada, disfruta a merecida refeição frugal e requintada. Agora era a hora de la siesta mas não se podia perder tempo, não se veio aqui para dormir! Havia ainda muito para ver e rever... Úbeda, Baeza, Jáen, Granada, entre outros... Bem-me-quer ainda se deliciou com a riquíssima antiguidade histórica de Úbeda e Baeza (património da humanidade), com a paisagística de Jáen e o seu mar de olivos e com Granada, cujo cenário - a Serra Nevada coberta de neve - reflecte sobre a cidade uma luminosidade única! E Ronda, e Ronda? Bem, indescritível, único, uma maravilha!!... Muito e muito mais Bem-me-quer poderia contar, mas decidiu ficar por aqui, embora tenha ainda que dizer como foi bom ver o colorido das cidades que, ao fim da tarde se enchem de gente comprando, petiscando ou apenas passeando e convivendo, beneficiando de uma vida ao ar livre que o bom clima, a vivacidade e a alegria lhes proporcionam. Bem-me-quer observou, registou todos estes benefícios na certeza da efemeridade do momento mas, na convicção de poder interiorizar e, mais tarde, partilhar todas estas riquezas que muito o sensibilizaram e sensibilizam.

DE VOLTA À TEORIA

Sim. Sim. Sim, sim, sim. Sim, senhor. E mais sim.
Provocador nato, observador perspicaz (embora não obviamente neste caso), escritor desenfreado e inspirado, o arguto sindroma, um dos nossos favoritos super-heróis, comediantes e professores (não necessariamente por esta ordem, e não necessariamente por ordem nenhuma), quer esgrimir portanto argumentos com a conhecida-por-ser-rápida-no-gatilho Lara. Ora então vamos lá:

Primeiro tiro: “cornucópia”. Aha! Esta deixou-te abalado, não foi? Palavra mais retorcida não poderia haver, verdade? Recompõe-te rapidamente, pois vem aí o
Segundo tiro: “manteiga”. Tenho a certeza que não te consegues desviar deste. Palavra dengosa, gordurosa e pastosa como o próprio material. Que dizer de um “manteigueiro”? Dengoso, gorduroso e pastoso, claro. Já recuperaste? Endireita-te agora, pois este pode ser fatal. Olha para o
Terceiro tiro: “mixórdia”. Belo nojo de palavra, não? Coisinha asquerosa. “Olha para essa mixórdia!” Alguém comeria um prato com uma mixórdia lá dentro?

Barco de três ao fundo.
A super-heroína volta agora ao seu merecido descanso.

* L O S T * CAP III

Remexendo a vegetação cuidadosamente, Jo Cor-de-caça descobre qualquer coisa fria, uma base metálica. Intrigada, abre a mala para tirar os óculos, que a idade não perdoa, e observa. Um emaranhado de rectas intersectadas no espaço formavam uma peça escultórica de rara beleza. Rectas coloridas mas tão rectas que pareciam farpas. "Isto não foi criado por humanos! Ná! E muito menos por... numa escola". Surpreendia-se: "como é que eu consigo chegar a esta conclusão com a forte pancada que levei na cabeça? Alguém tem andado a produzir mesmo sem haver um atelier, um espaço planeado...". A custo, levanta-se e observa mais de perto mas suficientemente longe para não se ferir.
Está nesta contemplação quando é abordada por alguém "vindo sabe-se lá de onde", mas cuja cara ela reconhecia, sabia que já a tinha visto antes, mas não se lembrava de onde. A pancada estava a causar-lhe danos.
Kiki Delgadiña estava ali, parada, admirando atónita a escultura geométrica, intrigada com a delicadeza das formas e mais ainda com a autoria. Aproxima-se de Jo Cor-de-caça: "isto é muito lindo! Quem fez?"
-Não faço ideia, mas deve ser alguém do grupo, só pode ser. Como é que alguém teve tempo pra fazer isto?!
-Onde é que eles caíram? Viste algum? Hoje há reunião?

VISUALMENTE FALANDO

Deixem-se de teorias...