17 maio 2006

THE BOOK OF NONSENSE

ADOZINDA - Olha, pedem do ministério que lhes enviemos os dados dos professores.
MARCOLINA - Dados? Nós já lhos enviámos, não te lembras?
ADOZINDA - Estás a falar daquele pacote em que iam uns dados de jogo? Uns cubinhos com pintas nas faces?
MARCOLINA - Sim. Eram inegavelmente dados dos professores. Até tivemos de interromper-lhes um jogo para lhes sacarmos esses dados, não foi?
ADOZINDA - Pois foi. Só que esta carta dá a entender que não era isso que o ministério queria.
MARCOLINA - Ai não? Então o que era?
ADOZINDA - A idade, o sexo, os filhos resultantes de tanto sexo, a data em que foi concluído o curso e as notas, a data do ingresso na carreira...
MARCOLINA - Ai isso é que são os dados?
ADOZINDA - Isso é que são os dados.
MARCOLINA - E onde temos nós isso?
ADOZINDA - Ah! Ah! Ah! Ah!
MARCOLINA - Ah! Ah! Ah! Ah!
ADOZINDA - Na altura em que começou tudo não havia computadores, pois não?
MARCOLINA - Não. Era tudo feito à mão.
ADOZINDA - Nós perdíamos essas coisas. Não registávamos nada. Era um descanso. Como não ficava nada registado, ninguém nos podia pedir contas. Sabiam lá eles quem tinha tratado do quê...
MARCOLINA - Na verdade, nunca ninguém tinha tratado de nada, não era?
ADOZINDA - Depois, apareceram os computadores.
MARCOLINA - E quando começámos a ser ultrapassadas por pessoas que sabiam de computadores, conseguimos que, mesmo assim, elas ficassem dependentes de nós.
ADOZINDA - É verdade. Nós é que lhes dizíamos o que escrever.
MARCOLINA - E como não tínhamos nada em sítio nenhum, inventávamos.
ADOZINDA - O que nós inventámos, não foi?
MARCOLINA - Divertimo-nos tanto! Dizíamos que fulana tinha nascido em 1919, coitada. Ah! Ah! Ah!
ADOZINDA - Ou que era do sexo masculino. Ah! Ah! Ah!
MARCOLINA - E ainda há quem diga que a função pública não é criativa. Meu Deus! Só mesmo para quem não quer.
LUÍSA - Bom dia, meninas.
ADOZINDA - 'Dia!
MARCOLINA - 'Dia!
ADOZINDA - Olha, já viste, Luisinha? Parece que vais ter de enviar os dados dos professores lá para o ministério.
LUÍSA - Eu!? Mas aquilo está tudo uma barafunda. Os professores estão sempre a protestar.
ADOZINDA - Desenrasca-te, filha. Tu é que és a «boa» nos computadores, não és? A responsabilidade é toda tua. Nós não temos nada que ver com isso... Nós somos as lesmas, não é? Não era assim que nos tratavas? As lesmas, hein? Agora, arranja-te.
LUÍSA - Ó meninas, pelo amor de Deus ajudem-me. Arranjem-me maneira de responsabilizar outra pessoa qualquer...
MARCOLINA- Hum...!
LUÍSA - Peço-vos. Eu conto-vos uma história que acabei de ouvir no CE. Aquilo foi cá uma discussão que nem queiram saber...
MARCOLINA - A sério? Ai, querida, conta, conta...
LUÍSA - Só se me ajudarem, só se me ajudarem.
ADOZINDA - Bem. Atiramos as culpas para cima da Maurícia?
LUÍSA - Acham!?
MARCOLINA - Olha, lá vem ela. Disfarcem, disfarcem.
MAURÍCIA- Bom dia, meninas.
MARCOLINA - 'Dia!
ADOZINDA - 'Dia!
LUÍSA - 'Dia!
MARCOLINA - Parece que vais ter problemas, não é? Ai não sabes? Precisam dos dados dos professores. Lá do ministério. Grande azar o teu, hm?
MAURÍCIA - Mas... Mas... Mas... eu... eu...
LUÍSA - Pois é. Grande bico d'obra, não é? Vai sobrar para ti.
MAURÍCIA - Ai, vinha mesmo agora a rir-me de uma história... daquele professor, o que...
LUÍSA - Esse...? O do cabelo que...? Ah! Não me digas. E sempre é verdade que ele... hein? E a professora...! hein? Diz lá, diz lá.
MAURÍCIA - Não digo.
TODAS - Diz!
MAURÍCIA - E vocês apoiam-me nesta situação dos dados?
ADOZINDA - Ó filha, mas como é que queres? (Conta lá, vá). A gente não pode fazer nada, menina. (Anda conta, conta). A não ser...
TODAS - A não ser...!?
ADOZINDA - Que responsabilizemos os professores por isto.
TODAS - Ena, pá!
ADOZINDA - Que lhes entreguemos isto como está, umas fichas absurdas, uma barafunda inconcebível, e os obriguemos a actualizar a coisa, eh! eh! eh!
TODAS - Eh! Eh! Eh!
ADOZINDA - Sob pena de não receberem o ordenado. Olha, telefona aí para o ministério a dar essa sugestão, que vais ver que agrada. É mesmo o género de ideia que eles apreciam...
MARCOLINA - Está? Está lá? É do ministério da Educação? Estou a falar com...?

5 comentários:

Anónimo disse...

E se não dessem ainda mais ideias? Não acham que já chega?...Ainda querem mais?! São lesmas mas só se fazem de lorpas...

Anónimo disse...

Não te preocupes,desencantado, que a Luísa, a Marcolina, a Maurícia e a Adozinda não lêem o blogue !

Déjà Loin disse...

ahahahahahahah x)



Eu não sei é o que fazem aos processos dos alunos, mais específicamente às fotografias dos alunos... todos os anos damos novas, uma vai para o cartão e as outras devem ir para o lixo porque a fotografia do livro de ponto é sempre a mesma! (é rídiculo haver gente no 12º e no livro de ponto estar a fotografia de quando andavam no 7º).

De quem é a culpa? :)))

Gil Duarte disse...

Miss Mandylion é uma aluna com sentido de humor, ideias lúcidas; é criativa; gosta de poesia; sei, sem a conhecer a não ser do blogue, que aprecia Mozart e Dali. Miss Mandylion é um must desta nossa casa. Adoro-a!

Abelha Maia disse...

»«