29 maio 2006

UMA AVALIAÇÃO

A avaliação da qualidade do professor constará de: 1. Auto-avaliação (sabem?, aquela parte em que se diz sempre muito bem de si próprio); 2. Avaliação feita pelo Coordenador de Departamento e 3. Avaliação dos Encarregados de Educação (integrada no parecer da Direcção Executiva).

Temos já, à nossa disposição, um excelente exemplo dos moldes em que deverá ser elaborado e apresentado o documento:

«Nome do docente: Martina Pénacova.

I Parte - AUTO-AVALIAÇÃO:

Sinto que a escola brilha mais no momento em que eu chego. O sol surge para me cumprimentar e, como num musical, alunos e colegas vão entoando belos cânticos à minha passagem, o senhor Gonçalves distribui gratuitamente as sandes e a felicidade irradia de todos os rostos.
Os meus alunos adoram-me. Já me chegaram a dizer (o que pode ser comprovado, trata-se do 7º T): «Stora, a stora é a nossa melhor professora». Comovida, perguntei-lhes: «Meus amores, quem são os vossos outros professores?» - «O Gagá, a Guigui, a Juju, o Abominável Homem das Neves...», responderam-me, estremecendo.
Nunca precisei de pôr um aluno na rua (até porque a maioria não vem às aulas) e, com orgulho o digo, nunca apanhei um aluno a copiar. Uma vez desconfiei de um que vinha para o teste com auscultadores e um microfone, mas ele falava tão baixinho que não posso jurar que estivesse a copiar. Também desconfiei de um outro que vinha com espelhos retrovisores fixados nos óculos, mas ele justificou-se dizendo-me que era para não chocar com ninguém quando fizesse marcha-atrás.
As aulas correm muito bem. Não tenho insucesso. Ou melhor, tenho pouco sucesso com o sexo oposto, mas os meus alunos - que penso que é o que para aqui interessa - não têm negativas.

II PARTE - AVALIAÇÃO DO COORDENADOR DE DEPARTAMENTO:

A participação da colega no trabalho do departamento é nulo. Tem o péssimo hábito de passar as reuniões a comer uns ruidosos amendoins, limpando as partículas que ficam entre os dentes com uma unha que deixou crescer no dedo mindinho, especialmente para o efeito. Nunca se oferece para nada. Aliás, sempre que lhe começa a parecer que há trabalho no horizonte, afivela o seu ar adoentado, começa a queixar-se com uma certa antecedência e, depois, na altura diz que está muito doente. Em suma, aparece sempre adoentada. Algumas colegas do departamento, que não a podem ver, vão ao ponto de afirmar que a Martina não tem qualquer doença, só preguiça. Eu não vou tão longe. Penso que, com efeito, a Martina é doente: a sua doença chama-se preguiça.

III PARTE - AVALIAÇÃO DOS ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO/ DIRECÇÃO EXECUTIVA:

Gostamos muito do trabalho da senhora Dra. Martina Pénacova. Os nossos filhos apreciam o seu método francamente motivador, que consiste em ir para as aulas falar acerca de outros professores. São aulas abertas, em que toda a gente pode dizer abertamente mal de quem não está. A Dra. Martina aprecia todas as informações, ri-se muito de tudo o que lhe contam. Tem o poder de acalmar as crianças, não deixando que elas se enervem a ter de estudar e isso.

IV PARTE - PARECER FINAL DA COMISSÃO:
Propomos um 10 (em 10) para a Dra. Martina Pénacova. (Estudar a penalização da coordenadora de departamento).

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