20 maio 2006

RELATÓRIO

De: Gaspar Olhovivo, Detective e Bufo.
Para: T.P.C., meu contacto no ministério.

Minha senhora:

Reporto, conforme solicitado, que na escola que temos vindo a designar prudentemente pelo nome de código «A Velha é Linda», as portas dos pavilhões estavam ontem encerradas com gesso, de modo que não foi possível, até muito tarde na manhã, a leccionação de várias aulas. Quando chamado um senhor serralheiro para tratar deste problema, foi perseguido e vaiado por bandos. De alunos, pensa a senhora? De professores, garanto-lhe eu.

Tornou-se-me imediatamente suspeita de haver perpetrado o crime horroroso a seguinte professora, aqui apresentada sob o código que combinámos.
Fáti da Mesa X: da sua mala já eu vi sairem tesourinhas, bisnagas de cola, correctores, moedas para a máquina de café, pacotes de açúcar, colherinhas, trufas de chocolate. Até um lápis e uma caneta já vi de lá sair. Não é difícil acreditar que daquela mala proviesse a espátula com que, ao que parece, o gesso foi colocado. Porque, precisamente, pareceu-me detectar um brilho (de orgulho e vaidade) nos seus olhos, quando nos disse, como quem se gaba: «O serralheiro afirma que aquilo foi trabalho de um adulto. Usaram espátula e tudo!»
Em todo o caso, estas simples frases permitem eliminar de uma assentada várias hipóteses. Se se trata realmente de um «trabalho de adulto», o criminoso NUNCA poderia ter sido:
1. Pochato.
2. Fantasmadaopera
3. Guerra
4. Aliás, para que enumerar? Não podia ter sido ninguém do sexo masculino em geral.

Já, por outro lado, a Professora-menina Timota chamou a atenção pela alegria que, nessa manhã, lhe rasgava um sorriso de orelha a orelha. Não creio que tenha sido a executora. Distraída como é, se ainda agora, quase no fim do terceiro período, não acerta com o caminho para os pavilhões em tempo de aulas, e a encontramos, muitas vezes, completamente perdida e desorientada no pátio, como raio daria com eles à noite, e carregando às costas sacos de gesso? Em todo o caso, não tendo sido ela, o crime deu-lhe um evidente prazer, o que já é uma forma de culpa, certo?

Vou continuar procurando.
Julgo, entretanto, que já aqui há bom material.

5 comentários:

Anónimo disse...

Se bem que nunca tivesse sonhado colaborar com bufos da D. Lurdes, aqui vai uma sugestão:
Fazer um levantamento de todos os professores que nessa manhã trajavam de branco (quiçá para camuflar possíveis manchas de gesso).

Anónimo disse...

E quanto à OSTRA?!...(feia por fora mas com pérola dentro)Como é que ela consegue passar sempre dissimulada?!Ah!...mas eu topo--a...cada vez mais saltitante,não é?...Creio que um dia destes vi uma cor branca por baixo das calças...ou seria pé de gesso?Investiguem, investiguem...

Anónimo disse...

Penso que deve haver ostras em todas as mesas, nas dos ricos como nas dos pobres. P.S.: Sinto-me comovida com esse interesse todo pelos meus saltitanços. Alguma razão, que me esteja a escapar, para tamanho interesse???

Ana C Marques disse...

Esta semana noticiou-se o aviso de suicídio colectivo de 150 criadores de ostras. Eles aprontavam-se para as comer, envenenando-se.
Eu acho que nem todas as ostras são venenosas. Algumas só produzem pérolas. São preciosas. E não podemos passar sem elas. Ostra! Onde andas?

Anónimo disse...

Eu sou, também, a «Genuina Democrata»; o que se mantém mesmo é eu ser feia por fora com pérola dentro. Obrigada pelas palavras simpáticas,elastigirl. Embora... eu também possa ser bastante venenosa.