20 dezembro 2006

OUSADIA E INOVAÇÃO NO TEATRO NATALÍCIO: A ESLAV, UM EXEMPLO A SEGUIR

Este ano, o almoço natalício da eslav teve, como ponto triste, a ausência de Lara Croft, e como ponto alto, um auto de Natal pós-moderno, de um arrojo invulgar, que eu passo a narrar para benefício dos que não viram (ou dos que viram mas não estavam intelectualmente preparados para tão revolucionária arte). Esqueçam o menino, S. José, a Virgem. Esqueçam o burro e a vaca. Esqueçam tudo o que já viram em matéria de teatrada natalícia...

Tudo começou com a sensacional entrada em palco de um mercador àrabe de tapetes, com a barba por fazer - o mercador é que tinha a barba por fazer, não os tapetes -, o qual se reconhecia imediatamente pelo facto de trazer à cabeça um tapete: tal personagem - o mercador, não o tapete - era brilhantemente interpretado pelo Chefe Lucas, numa representação verdadeiramente inexcedível (sobretudo na parte da barba por fazer).
O dito vendedor começou logo a tentar impingir os seus tapetes a uma senhora loira, papel executado, e bem!, pela colega Su7.
Eis senão quando surge um professor de Educação Física pela mão de um professor de Filosofia, ambos enfiados nuns trapos estranhíssimos, simbolizando, obviamente, o primeiro actor, um aluno com dificuldades diversas e comportamentos desadequados; e o outro, um professor em sérias dificuldades por causa do aluno com dificuldades sérias.
O menino, por alguma razão que o drama, enigmática e deliberadamente, mantém na obscuridade, não aprovava que o vendedor de tapetes estivesse enganando a pobre senhora loira e, por isso, mandou chamar o seu gang, constituído por dois mariolas com umas toucas de lã e cujo grito de guerra era «Meeeeh Meeeeh!»
Naturalmente, havia que se pôr ordem nesta desordem. Para o efeito, veio um dos vigilantes, o senhor Borrego, fazendo o papel de si próprio, acompanhado por um jovem professor de Matemática que, para assustar o gang (como se já não lhe bastasse ser professor de Matemática), apareceu vestido de pirata e com uma bengala na mão, destinada a correr toda aquela malta à bengalada. Foi um momento de pânico na assistência. Sentia-se o frémito e o suspense percorrendo os convivas, ainda há pouco tão alegres e, de repente, tão atónitos com o inesperado desenrolar da acção.

Toda a representação ia sendo pontuada pela voz de uma senhora que subiu para uma cadeira, como aliás tem feito todos os anos, apesar de estar reformada. (É que, como se percebe, não há maneira de a reformarem das teatradas natalícias). E a senhora lá ordenava aos actores que se distanciassem das personagens para fazer discursos que nada tinham que ver com estas. Era o toque brechtiano que faltava. Brecht puro! Reparem: O mercador, repentinamente, tornava-se Presidente do CE e, nessa qualidade, dizia umas coisas ao público que já não cabia em si de riso (porque, onde haja inovação, já se sabe, há sempre uns papalvos e uns ignorantes cujo papel é gozar!). À senhora loira pedia-se, também, que dissesse umas quantas coisas. E mesmo ao aluno mal-comportado. Até ao professor de Filosofia se ordenou que falasse grego (numa clara alusão ao facto de, para os estudantes, os professores estarem sempre «a falar grego»), o que ele cumpriu conscienciosamente, repetindo: «Rabanadas, rabanadas!»

Fomos uma autêntica vanguarda na arte teatral. Nada nos detém. Chora, Croft, o que perdeste!

E, para que conste, até milagres se operaram neste almoço de Natal. Juro que me passou pelas mãos uma garrafa cujo rótulo prometia «Branco» e que tinha, lá dentro, vinho tinto! Não, não era eu que já estava com os copos. Aconteceu. Há testemunhas!

Feliz Natal!

6 comentários:

Lara Croft disse...

Buááááááá!!!

Gil Duarte disse...

E não m quero envaidecer, nem falar demasiado da minha modesta pessoa. Mas repara, Lara, que já fui quatro num (Galileu + Pai Natal + Marco Paulo + Conde Drácula) e acabo, nesta peça, encarnando Pega Bobo, perdão, o pedagogo de Jesus. Para mim, é a glória! (Espero que não seja a Glória de Matos). Tenho pena dos que ficam no ensino. O meu futuro é o teatro!!!

Lara Croft disse...

És um verdadeiro e multifacetado artista, Sindroma. Quanto à Glória (sim, a de Matos) pelo menos tem o mérito de ter feito com que o nosso agora Presidente (o da República) já não acumule baba nos cantos da boca quando fala. Uma mulher que consegue isto, merece o nosso respeito.

Ana C Marques disse...

Posso aproveitar e ser mazinha? É que acumular baba nos cantos da boca não é proeza apenas desses dois. Eu bem vi no almoço de natal, com os meus olhos, ali bem perto de mim, (está bem, na pontinha da mesa) quem o faz com igualmente bastante desenvoltura - embora nem precisasse do almoço para o confirmar.
Quanto ao artista supracitado, concordo, é verdadeiramente multifacetado; ele é cabazaes de natal a saírem-lhe em rifas, ele é o Pedagogos a mando da Guilhermina. Quem é que se pode gabar de tantas benesses?

Gil Duarte disse...

E às vezes também me babo. Mas nem sempre...!

Abelha Maia disse...

ó elástica, não podes fazer o desenho da pontinha da mesa para eu perceber???é k não tou mm nada a ver??!!