JOCA XUNGA - Olhó Pai Natal! Feliz Natal, man.
PAI NATAL - Não me digas nada, homem. Feliz Natal? Isto já não é o que era...
JOCA XUNGA - Pois não é, não. Eu, pr'ixemplo. Tou aqui todo o dia a ajudar as pessoas a arrumar os carros, pá, a dar bitaites, «troce, troce, troce, agora destroce tudo», meu, e a dar indicações, «a madame controla ali o redondo e vira na terceira...», e o pessoal depois dá-me umas moedas que são uma miséria. E pior, a bófia ainda anda em cima. No outro dia levaram-me à esquadra porque eu andava a fazer pela vida...
PAI NATAL - Ai sim?
JOCA XUNGA - Tás a ver, meu, só porque eu apontei uma seringa a uma velha que não me queria dar um aéreo, a bófia, trau, deitou-me logo a luva. É não deixar um gajo ganhar o seu.
PAI NATAL - Se calhar fizeram bem. Para que andaste a assustar a velha?
JOCA XUNGA - A assustar? A seringa tinha chá, não fazia mal a ninguém. Nem sequer era chá da dieta 10, que se fosse isso já se percebia, mas não, era um cházinho de cidreira, a velha até devia ficar-me agradecida, aquilo era pós nervos, achei que tava um bocado mal...
PAI NATAL - Mas tu não penses que a minha vida vai melhor. Isto é uma desgraça. A crise deixou o país muito deprimido. Já não há presentes. E, pior, quando me vêem, nos centros comerciais, os putos fogem logo de mim. Anda um clima que nem te digo nada. Um miudo dizia assim para outro: «Não vás ali, que está lá um velho que senta os putos no joelho e põe-se a sorrir muito para eles, e a prometer-lhes prendas e não sei quê...»
JOCA XUNGA - Eh pá. Mas olha, olha ali aquele grupo!
PAI NATAL - Ah, os excluídos. Os marginais!
JOCA XUNGA - Quando os vejo, meu, apesar de tudo o que ando a passar, penso: Aguenta-te, Joca, tu, pelo menos, ainda não chegaste ao fundo da escala social.
PAI NATAL - É verdade. Fica-se com pena deles, mas ao mesmo tempo fazem-nos sentir menos mal connosco e com a nossa vida.
JOCA XUNGA - Olha, queres ver o que lhes digo? VÃO TRABALHAR MALANDROS! A MULHER É QUE VOS VAI PÔR NA LINHA!
PAI NATAL - Coitados, não sejas cruel.
JOCA XUNGA - Professores! Pff, que nojo!
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