16 dezembro 2006

NÃO É SOBRE REPOLHOS, MAS PREFERIA QUE FOSSE

No outro dia, ao falar com uma amiga (que não é professora) quase que ia sacando das armas durante a conversa. Acho que estou a ficar doida. D. Lurdes conseguiu mesmo denegrir a imagem dos professores perante a opinião pública. E o pior é que parece que não há nada a fazer. Havemos de ser os eternos madraços, mesmo quando eu vejo colegas ou a cair de cansaço ou a ter de meter baixa psiquiátrica. Já não vale a pena falar sobre o assunto, ou daqui a pouco quem mete baixa psiquiátrica sou eu. Parece que ninguém consegue aperceber-se do desgaste que esta profissão implica e do quão desmotivante se está a tornar.

Hoje falava com uma colega que já é professora há anos, mas que ainda não conseguiu passar da eterna contratada. Saltita de escola em escola, com horários miseráveis. Com a restruturação do estatuto da carreira docente, e ainda fora dela, está a pensar abandonar a ideia de continuar a ser professora. Não porque não goste, não é isso. É que um professor contratado trabalha tanto como os outros, mas ganha mais miseravelmente ainda. E não consegue um mínimo de estabilidade. Ora pode estar aqui, ora pode estar em Freixo de Espada à Cinta. E a família tem que se sustentar. Mais vale arranjar um emprego numa loja, dizia ela. Ao menos posso conseguir ficar perto de casa, não tenho tanta despesa e sempre estou mais perto da família. E assim se perde uma óptima professora.

É isto que vai suceder: o nosso país vai ficar sem professores. Acreditem que esta não é a única colega com quem falei que está a pensar abandonar a profissão. Já vão sendo muitos. E esta que vos escreve está muito desiludida. Continua a trabalhar o melhor que sabe, mas é pelo seu brio e pelos seus alunos. Não consigo respeitar uma tutela que me desvaloriza e me desrespeita.

Gostava mais de ter escrito sobre repolhos. Daqui em diante vou tentar cingir-me aos vegetais, talvez especializar-me em leguminosas. Tristezas não pagam dívidas. E este fim de semana até vou conseguir folgar!

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