05 dezembro 2006

Esquecer um passado: COMO?

I

Que tristeza. A estas horas da noite constato ser o único a estar presente neste espaço criativo. O que se passa? Que indiferença é essa por uma coisa que é nossa? Só ouço dizer que ninguém lê o que se escreve neste espaço. Mentira. Creio que muitos são aqueles que não perdem uma oportunidade para verem as últimas. Vamos concentrar a nossa parca atenção pelo número de visitantes que têm passado. Mais de doze mil. Então? Será que sou só eu a visitar este espaço cultural? Quantas e quantos já passaram, em segredo por aqui? Quantos procuram descobrir, se alguns dos escribas, dos tempos modernos, se lembrou de citar o seu nome? Quantas das pessoas que falam mal do que por aqui se vai brincando, sim, porque tudo não passa, de um exercício intelectual com as palavras. De colocar mal algumas virgulas e de aqui e ali sair alguma desatenção com este português de Fernando Pessoa. Pelo meu lado até admito alguma ignorância. Mas brinco, rio, dá-me um gozo tremendo partilhar algumas coisinhas do nosso tempo. Tempo que ninguém consegue ter. Conseguir algum e partilhar com os outros constitui um tal prazer que só quem o sente é que de facto dá valor.

II

Confesso que estou profundamente perturbado. É verdade. Não vou saber brincar neste meu escrito. Há demasiados pensamentos a circularem por esta cabeça solta no espaço. Perdida pelas memória ainda e sempre presentes. Não consigo descobrir o botão em que possa desligar as imagens que se repetem em cada noite, em cada barulho, em cada corpo transformado.

III

Passaram-se tantos anos e continuo a verificar que os generais não conseguem mudar de discurso. Continuam fechados em si mesmos. Continuam convencidos que o mundo gira à volta do seu poder.

IV

Passados tantos anos e escutar o mesmo discurso da disciplina, da hierarquia, da obediência cega e da obrigação de calarem opiniões para que tais senhores possam continuar o seu patético poder. Fico fulo. Lembro-me de tantos feridos e de tantas mortes.

V

Cometi o erro de ver um programa que surge de dentro de um dos piores eléctrico - domésticos chamado televisão. Não sei se o programa procurava ser dos prós ou dos contras. Só sei que escutei tanta palermice. Tanta arrogância. Tanto militar que pela sua incompetência deviam ter sido julgados. Mas ali estavam eles, como se nada de mal, tivessem feito. Puros. Genuínos representantes da instituição castrense. Patetas, digo eu Agamemnon.

VI

Lembrei-me, daqueles coronéis que apontando para um mapa, cuja realidade desconheciam, dizerem com toda a arrogância que acabei por escutar naqueles malfadados momentos que fiquei diante do tão maldito eléctrico doméstico
- O Senhor Comandante vai por aqui, desce ali, ataca pelo sul e regressa pela rota do leste.
- Mas Senhor coronel, já viu que essa rota conduz a um possível cruzamento com as nossas tropas que estão em operação nessa mesma zona
Aqui, sempre surgia, a tão famigerada opinião que, pelo que me pareceu, ainda constitui a ideia fundamental, naqueles, que hoje são generais e não só...................
- Só quero disciplina, não admito comentários ao que estou a dizer. Ou o senhor obedece ou então terei de tomar medidas drásticas.

VII

Quem sabe se para uma nova metodologia de gestão das escolas, não está na hora, de sugerir à tia Lurdes que recrute todos esses ditos generais que se encontram na reserva. Alguns também no activo, e os coloque como presidentes dos Conselhos executivos das escolas.
Um momento por favor, naturalmente que alguns almirantes também podem ser recrutados para o mesmo oficio.

VIII

A disciplina irá certamente surgir. Os professores não vão poder manifestar-se. Passearem, ainda vai que não vai. Se falarem vão para a rua. Se respirarem mais profundo e acordarem os generais, almirantes e outros que mais, logo serão deportados. Vão para o quarto escuro onde se guardam os disponíveis.

IX

Passados tantos anos do combate em Tróia, em que pela primeira vez partilhei momentos de prazer com Helena, ter assistido a um programa em que coronéis e alguns generais, temperados aqui e ali por um almirante, a usarem os mesmos argumentos, a mesma linguagem para defenderem as suas pseudo causas, não dá. Não quero voltar ao passado. Não voltei para escutar isto. Zeus não me abandones neste momento de tamanha provação. Quero continuar a ser professor. Sim, aqui mesmo, nesta escola, onde não há aqueles em quem deixei de acreditar..

X

Só um louco deixava de aproveitar este local, visitado secretamente por muitos, para deitar cá para fora, para partilhar, neste momento, aquilo que o faz passar acordado tantas noites. E já lá vão tantos anos. Mas aqueles gritos de dor, aqueles estranhos barulhos, continuam todos bem presentes, numa memória que não consegue ser apagada.

- Vão por ali, cumpram os que vos mando.

Quantas vezes escutamos este palavreado dos oficiais,(atenção do quadro-os tais profissionais) que jamais palmilharam um metro que fosse, no verdadeiro ambiente da guerra.

XI

Quanta hipocrisia, falsidade e incompetência, desses, que agora são generais. Quantas zangas, quanta irritação, quantos palavrões animalmente emitidos, quando recebiam a noticia que um grupo de combate regressava com feridos e mortes.

- Porra! já me lixaram a comissão, estou aqui todos estes meses e já nem vou consiguir um louvor............................estes gajos nem sabem andar no mato....

XII

Caí nesta escola, para ser um professor. Tróia está longe no tempo. Há sempre um perfume agradável que nos mantém acordados. Ainda subsiste uma paixão por descobrir nesta eslav tão criativa. Nesta eslav de sentimentos e sentidos apurados. Despertos pelos caçadores. Aliás os grandes senhores do saber. Da compreensão. Da garantia do futuro.Tenhamos calma.

XIII

Boa noite a todos porque estou só com os meus fantasmas, e ainda mais solitário neste espaço mágico da eslav.

Nota semi final

Desculpem, não tenho vontade de ler e corrigir o que acabo de escrever. Se o fizer tenho a certeza que irá para o lixo.....
Deitei a moeda ao ar e a sorte disse....................................edita..............................então....... aqui vai.

Do vosso amigo Agamemnon

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