13 julho 2007

UMA PÁGINA DO MEU DIÁRIO

Querido Diário:

Espero que não pareça demasiado amaricada esta maneira de me dirigir ao meu diário.

Hoje, Sexta-feira 13, foi um dia complicado.
Passei a manhã a trabalhar como um doido e, quando se aproximou a hora do almoço, comecei a perceber uma interessantíssima agitação em meu redor. Era o grupo de homens da escola que preparava o almoço no refeitório. « Já compraste o vinho?», e tal, «Eu, comprar? Bolas, tenho lá em casa uma caixa com seis garrafas», e tal, «Mas que é que isso interessa se não trouxeste nenhuma...?», e tal, de maneira que me fui encostando ao bando. Não só por causa do vinho, e tal, mas sobretudo porque roubaram a pochete ao pochato e isso seria parte do prato.
PLANETAZUL (convidando-me) - Sim, pá, o gajo está inconsolável, ah ah ah, portanto já estás a ver que o almoço vai ser um consolo para o pessoal, no fim o pochato até chora, e a gente obriga-o a beber para esquecer...
Toda a temática do almoço parecia, pois, imperdível.

Mas já era tarde para ir marcar.
Quando se aparece tarde para marcar, as senhoras ralham um bocadinho, e dizem «ai ai ai ai ai», e, o que é pior, depois avisam que vão ter de chamar o sr Gonçalves, o que é uma ameaça assustadora. Mas só para não perder o almoço subordinado ao tema «Roubo da Pochete», preparei-me para enfrentar tudo.
Ameaçaram-me que chamavam o sr. Gonçalves. Lá veio ele, palitando pesadamente. Arrancou-me o cartão das mãos ansiosas. Passou-o. E... e... e...
Sirenes!
Letras vermelhas num monitor ao alto, à vista de toda a gente: ESTE GAJO NÃO TEM SALDO NEM PRA MANDAR CANTAR UM CEGO!!!
Vozes em redor.
Sussurros.
SÔ GONÇALVES - Boxemexê nã tem xaldo!!!
Fujo, corrido.
Ainda oiço, ao longe, a voz de Juju Ximon.
JUJU - Vê lá, queres que te empreste???

Vou almoçar sozinho, lá fora, uns pastéis de bacalhau...
De longe, chegam-me ecos de risos, odor de vinho. O almoço temático brilha. Oiço o Pochato a contar pela quinquagésima vez como é que lhe desapareceu a Pochete

1 comentário:

Anónimo disse...

Desde pequenos temos os nossos terrores. Quando crescemos, disfarçamos... Mas, todos sabemos que, no local de trabalho há (pelo menos)um monstro que evitamos, fingimos que não existe!... (Somos como crianças convencidas que se fecharmos os olhos os monstros desaparecem; que se não espreitarmos debaixo da cama, e não pusermos os pés no chão, estamos salvos).
Porém, há sempre um adulto disposto, a explicar-nos, tim-tim por tim-tim, que estamos enganados e que as coisas não são como pensamos.
Na Eslav sabemos como é! Basta ir almoçar sem ter anunciado previamente a nossa presença... Aí, todos os nossos medos se concretizam, e o pesadelo abate-se sobre nós.