28 novembro 2005

AS INVESTIGAÇÕES DE AUGUSTO GUERRA. CAPÍTULO III.B: O NOSSO DETECTIVE SEMPRE EM CENA, E AINDA A PROCISSÃO VAI NO ADRO

Vários outros professores tinham, entretanto, chegado, muito surpreendidos pelo facto de não haver aulas. «Que será que o Ministério preparou desta vez?», era a pergunta mais comum.
Chefe Lucas pastoreou, então, para o canto escolhido, pessoas que eram imediatamente suspeitas: o Guarda-nocturno, Abel, Teresa, Miguel, Elvira, João Paulo e Olívia. O chefe e Augusto Guerra, no centro desse grupo, preparavam-se para interrogar todos, um por um. Noutro canto, duas pessoas tentavam, com certa dificuldade, explicar uma à outra o que se passara. Eram as professoras que falam mais baixinho nesta escola, ou seja, Anabela e Lúcia. A primeira inclinava-se para a frente e, quase em surdina, dizia bzz bzz bzz bzz, ao que a outra perguntava «hã?»; em seguida, Lúcia explicava, por sua vez, bzz bzz bzz bzz, ao que Anabela retorquia «hã?». Estavam nesta tentativa há uns vinte minutos.
Ainda mais longe, Lurdes tentava encontrar por força alguém com quem pudesse fazer uma reunião de grupo. Mas mostrava-se-lhe impossível, porque a Teresa era uma das suspeitas, a Anabela continuava, com a Lúcia, no seu insistente bzz bzz bzz-hã?, o Zé António passava por ali, apardalado, à procura da sua pasta, a Isabel chorava sobre o corpo da Mariana, que alguém cobrira com um lençol, ah, e a Ana Páscoa raramente podia reunir com o grupo. «Mas que raio de grupo este», pensava a Lurdes, «tudo lhes serve de pretexto para escaparem a reuniões. Até a morte da Alicate. E eu que gosto tanto de reunir...»
No centro dos suspeitos, Augusto Guerra decidira finalmente iniciar o interrogatório. Pigarreou dramaticamente:
- Parece-me que não está aqui neste momento presente alguém que ainda há pouco eu vi...
«Quem?», perguntou o coro.
Augusto recontava os suspeitos. Ia responder, quando entrou a Saudade na sala, furiosa, porque há mais de meia hora que haviam soado os três toques que deveriam ter dado início à simulação de um sismo, e ninguém fizera caso.
- Isto assim não pode ser. Estes professores são perfeitamente irresponsáveis. Primeiro deviam ter-se escondido todos sob as mesas, depois contavam pausadamente até cinquenta, a seguir saíam ordeiramente... isto é uma balda! Que irresponsabilidade. Que irresponsabilidade!
- Estou a fazer uma investigação, Saudade, importas-te? Isto agora é muito importante!
- Uma investigação?
- Sim. E parece-me que já sei quem é que desapareceu. Foi...
Mas o seu raciocínio foi cortado por um acesso de tosse.
(CONTINUA)

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