José António acordava lentamente do torpor em que caíra depois que a porta da sala de professores lhe batera na cabeça com força por ter sido arremessada pela saída impetuosa da Isabel Timóteo.
Sonhara que a D.Cristina o tinha convocado para uma aula e substituição e que se tinha refugiado na Capa-Azul para escrever no blogue da escola em jeito de desabafo. Afinal essa parte não tinha existido; mas o que o atormentava eram os longos momentos que passara no gabinete do chefe. Olhou para as unhas roídas que nunca tinha tido; ele que sempre adorou aqueles bombons do Lidl agora tinha enjoos só de pensar no dourado das moedas com que o aliciaram. Aquelas horas no Conselho Executivo pareciam não ter fim. Esperava que, tão cedo, não tivesse que conviver de perto com casacos beges.
Ufa, agora estava livre das tormentas. Desde que o João Paulo não viesse disparatar a falar do Benfica...
-Vou tentar esquecer tudo isto, pensou. Vou ver se me arranjam uns trocos pra tomar um cafezito.
Lurdes Geada aproxima-se dele entregando-lhe um papel e uma caneta. Tremeu. Era uma convocatória. Tinha que assinar. O papel convocava-o para fazer parte duma investigação: analisar a pochete do Abel.
-Outra vez? Esse assunto não estava arrumado?
-Não! Enquanto existir esse objecto na escola, será sempre o maior alvo de suspeita! Temos que investigar.
Augusto Guerra demonstrava agora as suas infindáveis qualidades; mexia os seus cordelinhos - por um lado aproxima-se do suspeitíssimo guarda nocturno; por outro, manobra equipas para o ajudarem na investigação. Estava muito bem visto.
-É por isso que tem tantos admiradores. O Moita Flores ao pé dele é uma formiga.
Qualquer dia ainda o vamos ver a escrever uma novela.
(CONTINUA)
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