04 dezembro 2005

AS INVESTIGAÇÕES DE AUGUSTO GUERRA. CAPÍTULO WHATEVER: A SURPRESA DA MINISTRA

Blogue da Escola Secund�ria de Linda-a-Velha
José António refugiou-se então, histérica e cobardemente, num canto que, por ser tão canto, tão canto, tão canto, estivera sempre ocupado sem que se desse por isso: era o canto do Zé António e «sus muchachas», o seu fã-clube. Ali se debruçavam todas sobre a mesa, falando baixo mas rindo alto, o que é sempre muito enervante e suspeito, como se estivessem a passar a escola toda a pente fino.
Augusto Guerra sentiu-se desconfortável. Porque a verdade é que ele, que, no entanto, tantas pegas de caras fizera em novo, e tanto rabejara, receava aquele canto, onde, possivelmente, se falava também de si. Sabia que não viam na sua grande pessoa o grande detective que era. Entretanto, ia descrevendo ao guarda-nocturno (que já conseguira convencer a tornar-se o seu Watson pessoal) todas as qualidades que julgava possuir e gostaria de ver imortalizadas em livro: «inteligente, perspicaz, arguto, sensível...» Ouviu-se, nesse ponto, uma prolongada gargalhada proveniente do tal canto muito canto. E, de lá, a voz da Paula Santos:
- Ó Guerra! Uma mulher até poderia ter essas qualidades. Agora um homem com essas qualidades não é um homem: é uma fantasia!
Mais risos, vários pfffffts de riso contido, que também são muito enervantes, rostos vermelhos do esforço para não explodirem de todo.
Guerra empertigou-se e falou de frente para o José António, já meio escondido entre as mulheres.
- Estás a fugir às tuas responsabilidades ou quê? Estás a negar-te à investigação da pochete?
A isto respondeu Fátima Franco, que assim se vingava de estar reduzida a uma bolachinha por causa de uma maldita dieta:
- Essa pochete tem o mesmo problema daquelas qualidades a que te referias. Também não se ajusta a um homem...
Outros pffffts enervantes de riso contido até que, por fim, explodiam em sucessões várias de gargalhadas.
Anabela ainda acrescentou: bzzz bzzz bzzz. E todos riram muito, mesmo os que não tinham conseguido ouvir. Ou seja, todos.
Nesse momento apareceu a senhora dona Lurdes, ministra de todos os professores, que vinha de visita à escola, acompanhada de acessores e jornalistas. Reconhecendo-a, um pouco surpreendido, convencendo-se de que todos aqueles ministros e repórteres tivessem vindo pessoalmente inteirar-se dos avanços da sua investigação, o nosso detective aproximou-se.
Ao observar a sala praticamente deserta, com várias fitas amarelas a demarcar o lugar onde estivera- e já não estava - o corpo de Mariana, ao mesmo tempo que, pelas janelas, se entreviam, numa enorme confusão, professores que jogavam ao berlinde, outros que trocavam cromos, uma certa professora correndo atrás do chapéu de outra, que chorava, e alguém berrando «Vamos lá fazer o sismo, malta, assim não brinco mais...», a ministra exclamou:
- Oh Meu Deus!
Modestamente, Guerra respondeu-lhe:
- Ora, ora. Sou apenas Augusto Guerra, ao seu serviço...
(CONTINUA MAS POUCO...)

1 comentário:

Anónimo disse...

Dona Lurdes sabia que toda a actividade intelectual da ESLAV se concentrava actualmente no bloge da Escola.
Havia que impedir estas actividades subversivas, passando a acrescentar o tempo gasto nestes tempos, definitivamente não lectivos, na componente de tortura individual.
Debilis