22 janeiro 2006

A KOLUNA DE D.J. CARA DANJO: À PROCURA DA VOCAÇÃO

o meu kóta disme k no tempo dêle us meninus k não çabião eskrever não çabião eskrever i ponto d interrugassão. agora não é açim. kuando 1 meninu não çabe eskrever dixçe k ele é dislékeçico. kuando não tá com atenssão ás alas dixçe k é ipérativo. kuando bate nos purfeçores dixçe k é pq tein perubelêmas lá ein caza. o meu kóta disme k estudou antes de tarem na moda eçes nomes e pur iço ein vês de persseberein k ele éra dislékeçico e ipérativo e não çei mais kê xamávãole burro e pergiçozo. não o mandávão au peçikólogo dávãole era uns tabéfes i punhãono de castigo. agora já não é nada açim pq nas eskolas eziste 1 sena de apoio peçikológico k é 1 cazinha bué da pekenina com umas çenhôras k tão çempre a konverçar gostam mto de konverçar i fazer uns inkéritos i iço. a parte dos inkéritos é bacana pq çempre interrounpein as alas i é 1 descanço. o pior é kuando kerem tipo deskubrir a vucassão de 1 tipo tipo eu. bem kuando me xamárão á çalinha delas eu até fui e fui tôdo contente não por cauza das peçikólogas mais kótas mas por cauza de 1 nova k lá tá tôda lôra e k nos fala com 1 vós mto mâiga. çó k ás tantas viasse k ela não tava a atinar com a minha intligênssia tôda i atão até xegô a dezer arre é mais fássil encontrar 1 idâia assertada no menistério de edukassão do k 1 vuçassão ein ti. eu até pudia ter ficado belindrado. çó não fikei pq perssebi k no fundo o k ela keria dizer éra k 1 puto esperto tipo eu não tein uma vucassão particular pq tein jeito pra tudo e tudo o k fizer çerá çempre mto bein feito. é tb o k eu axo.

Em virtude de algumas queixas que se têm feito ouvir acerca da dificuldade de «descodificação» da escrita tão peculiar do nosso querido D. J. Cara Danjo, pedimos à nossa sumidade, senhor José Saramago, que fizesse o favor de traduzir o texto do jovem colaborador do blogue, ao que o ilustre senhor acedeu. Futuramente, contamos pedir a outros autores portugueses que colaborem nessa tradução (Lobo Antunes já se prontificou: «O gajo do Nobel já começa a enervar-me. Se ele faz a tradução, eu também posso fazer. Aliás, qualquer um pode ter o Nobel! A mim, ainda não me apeteceu...»). Sempre às ordens, Abelha Maia.

O meu progenitor diz-me que antes do 25 de Abril os meninos que não sabiam escrever não sabiam escrever e ponto final agora não é assim quando um menino não sabe escrever diz-se que é disléxico quando não está com atenção diz-se que é hiperactivo quando bate nos professores diz-se que tem problemas lá em casa o meu progenitor afirma que quando estudou ainda não havia tais nomes e que em vez disso lhe chamavam burro e preguiçoso e não o mandavam ao psicólogo davam-lhe uns tabefes e punham-no de castigo já não é assim porque nas escolas existe graças à influência do PCP um serviço de apoio psicológico que é constituído por umas senhoras que estão sempre a conversar e que fazem muitos inquéritos os inquéritos são boa ideia porque interrompem as aulas sobretudo as mais reaccionárias e sempre é um descanso o pior é quando querem descobrir a vocação de um tipo que vale por dois como eu quando me chamaram à salinha de atendimento eu fui muito contente não tanto por causa das psicólogas de mais idade mas devido a uma jovem que anda lá muito loira e bonita mas sucede que a rapariga se atrapalhou com a minha inteligência de modo que acabou por dizer É mais fácil encontrar uma ideia acertada no ministério da educação do que uma vocação em ti eu podia ter ficado melindrado o que não aconteceu porque eu percebi que no fundo o que ela queria dizer era que um jovem como eu não tem qualquer vocação particular é um verdadeiro saramago que um dia acabará por ganhar um prémio nobel.

1 comentário:

Anónimo disse...

E isso traduzido pelo Lobo Antunes? Faz muita diferença? Infelizmente é como o resultado eleitoral das presidenciais...Diferença não faz, mas que é uma desilusão, é!...