14 janeiro 2006

PRIMEIRO A GRIPE DAS AVES, AGORA AS ESCUTAS TELEFÓNICAS, QUE MAIS NOS IRÁ ACONTECER?

Há quem, ao telefone com certas pessoas ou um certo tipo de pessoas, não consiga meter uma única palavra. Quando muito, algumas exclamações. Fora disso, ali se fica à escuta, com um ar de tédio infinito, lançando, a tempos: «Hum-hum... pois... ah... pois... ai sim?...»
Poderia pensar-se que é isso a «escuta telefónica». Mas não. O conceito de «escuta telefónica» refere-se, hoje em dia, a uns tipos que intersectam conversas alheias; imagino eu que as intersectem do interior de umas carrinhas com antena: aí passam o tempo, de óculos escuros, auscultadores, comendo Donuts. Ora isso é inadmissível. Estamos em Portugal, que diabo, e os agentes portugueses deviam comer queijadinhas de Sintra ou pãezinhos saloios. Isto é o fulcro da questão. Depois, há ligeiros pormenores a considerar: ouvir-se conversas alheias parece pouco democrático.
Esta moda das escutas invadiu o país. Chegou à nossa bem-amada Eslav. Há conversas que têm sido minuciosamente ouvidas por agentes infiltrados, a fingir que são professores (porque já repararam em professores que Não podem ser professores: Não é possível...!), ou por um senhor que faz limpeza à máquina de café, ou por uns tipos que fingem que vão consertar as fotocopiadoras (o que é um péssimo disfarce, porque raramente as fotocopiadoras aparecem consertadas). Possivelmente, um dos espiões é o tal anónimo que tem intervindo no blogue, e até já teve o deslize de falar dos telefonemas móveis da Fátima Luzia, garantindo até que não havia ninguém a responder-lhe do outro lado. Ora como é que o anónimo podia sabê-lo? Hein?

Chegaram às nossas mãos algumas gravações que atestam a teoria que defendemos. Não identificámos ninguém. Mas segue uma advertência: Cuidado! AS PAREDES DA ESCOLA TÊM OUVIDOS. O presépio decadente não sai nem sairá tão cedo do refeitório, porque está cheio de microfones. Os insectos que ali se vêem são, na verdade, «bugs».

GRAVAÇÃO 1:

Trrriiim!
- Estou? Quem fala?
- [Silêncio comprometido]
- Quem é?
- Olá.
- Tu outra vez, abelhuda? Que é agora?
- Não precisas de ser tão agreste, Elasticazinha. Estou com dificuldades. Ainda não consegui entrar no blogue para escrever sem ser nos cantos dos comentários...
- Ó Abelhuda! Mas já te fiz desenhos. Já te expliquei tantas vezes...
- Tantas? É que nem foram trezentas. Talvez duzentas e noventa, mas nem isso, nem isso. Tu também não nasceste ensinada, pois não?
- Bom. Vá lá. Vamos recomeçar. Primeira lição: sentas-te.
- Onde?
- Numa cadeira.
- Ah!
- Segunda lição: ligas o computador...
- Estás a ver? Estás a ver? Da última vez não era assim. Da última vez, primeiro tinha de ligar e depois é que me sentava. Como é que queres que me entenda se és tão confusa?

GRAVAÇÃO 2

Trrriiim.
- Estou!?
- Dona Páscoa?
- Ah, é a senhora dona ministra. Como está, senhora dona ministra?
- Bem. Mas temos de falar. Temos andado aqui a conversar, o Válter e eu, e o Válter convenceu-me de que mais duas horas é muito pouco para pôr os professores a trabalhar a sério, esses madraços. Andamos a pensar em subir para seis horas.
- Seis, senhora dona ministra? Mas olhe que duas já era um disparate, com as minhas sentidas desculpas à palavra disparate. Os professores estão cansadíssimos. Trabalham como doidos (embora alguns, de facto, já antes fossem um bocadinho doidos, como a [nome suprimido] e a [nome suprimido] e o [nome suprimido] ou o departamento de [nome suprimido, mas não faltará quem enfie a carapuça]. Aqui trabalha-se, minha senhora. Aqui não se dorme em serviço.
- Chiu. Nem mais uma palavra. Estamos sob escuta.
- Sob escuta???
- Sim. Não ouve uma espécie de zumbido, um ruído estranho? São escutas!
- Ah, este barulho? É o Lucas a ressonar. Não, a tossir, a tossir, queria eu dizer. Pára de tossir, Lucas. Acorda, vá!

GRAVAÇÃO 3:

- Olá meninos. Está lá? Estão a ouvir-me bem?
- [Palavrões irreproduzíveis. Gritos.]
- Hoje vamos inaugurar uma experiência giríssima. Uma aula de substituição por telefone. Que me dizem?
- [Palavrões. Gritos. «Não quero, não quero». Alguém diz: «A professora não nos pode ver!»]
- Ai isso é que eu posso.
- Então que é que eu estou a fazer, que é que eu estou a fazer?
- A pôr dois dedos no ar, em forma de V, sob a nuca de um coleguinha croata.
- [Palavrões, exclamações de espanto. «Será bruxa?»]
- Vamos trabalhar?
- Só se for jogar... - Não, só se for bater nos colegas... - Não, vamos cantar, cantar é que é bom...
- Sim senhor. Então vá lá, todos em coro: AAA Minha Machadinha...

GRAVAÇÃO 4:

- Então, que é que estiveste a fazer esta noite? Estás com um ar cansado. A corrigir testes?
- Não. Estive a instruir-me. Um professor também tem de se manter informado, não é só passar informação. Estive a ver uns videozitos.
- O quê? Os do José Hermano Saraiva?
- Nááá! Olha, um é o «Ratinhas ao Sol». Outro, com os gemidos todos dobrados em castelhano, é o «Bragas Humedas». Mas o meu preferido ainda é o clássico «Carimbe-me Toda, Senhor Carteiro».

Atenção: há mais gravações. Não se metam muito comigo, ou desato a passá-las. Isto não é uma ameaça. É um aviso.

7 comentários:

Anónimo disse...

Seria possível indentificarem-me os senhores que foram gravados no último diálogo? É que gostava de proceder a um intercâmbio de vídeos instrutivos. Verifico que faltam, à sua lista, peças essenciais, como o imperdível BRANCA DE NEVE E OS SETE MATULÕES.

Abelha Maia disse...

ostra, ostra isso cheira-me a conversa de homem!!

Anónimo disse...

Erro. É que os vídeos me interessam por causa dos matulões, ou julgavas que era por causa da Branca de Neve? Sabes, quando se anda carente...!

Anónimo disse...

Os espiões não devem ser procurados nos disfarces mais óbvios! Deve-se antes interrogar metodologicamente os pretensos Encarregados de Educação que quer pelo telefone, quer presencialmente procuram Directores de Turma, prof.s de disciplinas várias, a pretexto de lhe serem justificadas as notas que foram atribuídas aos seus rebentos. (Lembrem-se que o Valter nunca perdoou às Escolas e aos Prof.s terem feito greve quando o seu filho se dispunha a iniciar a Odisseia dos Exames a Português do 9º ano).

Abelha Maia disse...

estás carregado(a) de razão ostra, qd se É carente, qq matulão ou não importa k branca de neve, serve para o efeito...

Anónimo disse...

São verdadeiras pérolas senhores!!!
O que será que se passa nas "cabecitas" destes(as) senhores(as)???
Vamos ter de consultar listas de filmes mais adequados, não é? A Lurditas anda a fazer um mal terrível, será preciso "colonar" muitos D. Sampaio nos próximos anos!! Será essa a jogada????

Anónimo disse...

Separemos as coisas. Não posso realmente culpar o Ministério pelas minhas carências. Nem estou tão mal, tão mal, tão mal, que espere, da senhora ministra, que mas resolva. Livra!