25 janeiro 2006

SIMPLESMENTE BELÍSSIMA: 11º EPISÓDIO

Agora sim. A blogonovela está suficientemente confusa para se parecer, realmente, com uma telenovela da Globo.
Enquanto a Dt, mesmo fora da sua hora de direcção, se preocupava em substituir a professora, esta, Madame em pessoa, conversava ainda, algures, com Cara Danjo. A cada nova palavra, o rapaz, incrédulo, gaguejava: «A dona madama tá doida!» [Madame não está bem].
Nervosa, agitada, irritada, a mulher ergueu-se da mesa.
- Não me chames doida! Não me chames doida! Não me chames doida!
Empurrando a cadeira, dando um encontrão no empregado, pegando na malinha pontiaguda, de que se servia amiúde como se fosse uma navalha, preparou-se para se retirar, rangendo muito os dentes.
- Onde vai onde vai [Aonde se dirige, Madame?]
- Vou-me embora. Estou farta de tudo e também de ti. Volto para o meu palácio medieval!
- Não para o çeu palhaço não [Não vá, Madame]
Cara Danjo cavalgava a seu lado, pelas ruas fora. Só tinha pensamentos para a sua belíssima: será que ela estaria ainda visível, na cave de Madame, para onde sorrateiramente se esgueirara, prestes a ser apanhada com a boca na botija?
À medida que se aproximavam, Cara Danjo quis dar-lhe o sinal combinado. Mas não se lembrava da canção:
- çó eu çei pq não fiko ein caaaaazaaa [Só eu tenho conhecimento da razão por que me expulsaram da própria casa]
- Cala-te. Que é que te deu?
- táme a apeteser kantar não poço não poço. era ôtra. o meu xapéu tein 3 bicoooos tein 3 bicoooos o meu xapéu [Tal como alguns chapéus de dona Baptista também o meu tem três bicos tralará]
- Mas tu estás doido, Cara Danjo???
Quando chegaram à porta do palácio, o rapaz, completamente desesperado, pediu-lhe que o deixasse entrar para ver a máquina. Vaidosa, Madame consentiu. Mas qual não foi o seu espanto quando, já no interior, descendo em direcção à cave, Cara Danjo desatou a entoar, numa gritaria infernal, o tiroliroliro, de que se lembrara por fim:
- lá ein sima tá o tiroliroliro...
- Cala-te que já me doem os ouvidos!!!
- não konçigo KÁ EIN BAICHO TÁ O TIROLIROLÓÓÓ AJUNTÁRÃOSSE OS 2 ÀSKINA A TUKAR A KONSSERTINA E A DANSSAR O SOLIDÓÓÓÓ... [Para quem não conheça: «No andar de cima encontra-se um senhor tirolês, no de baixo um tal senhor tiroló - tiroló não faz sentido, não sei: cançonetas... - Encontraram-se a meio caminho e cumprimentaram-se efusivamente com uma dança popular.]
Mas era tarde. Muito tarde.
Abriu-se a porta da cave. Sem ter tido tempo para se esconder... Dolores... de martelo em punho... junto à famigerada máquina... olhava-os... com o terror... estampado... no belo rosto...

Entretanto, a trupe regressara já dos desertos. Vinham todos derreados, os alunos meio-drogados a ver se se mantinham tranquilos. No momento em que saíam do avião, viram-se arrastados por um vendaval, uma confusão, uma imensa massa humana, ou melhor, desumana, que entoava loas ao novel Chefe da República, que vinha de ser eleito.
Diante do grupo excursionista, a esfíngica personagem caminhava, hirta, rígida, mecânica, com um sorriso esculpido a canivete.
- Ai - gritou Fatinha, a quem o dito senhor pisara, com um sapato pesado, o pezinho rechonchudo. - Veja onde põe os pés...
A esfíngica personagem olhou-a, cogitando, piscando as pestanas. Fez-se silêncio. A multidão aguardava, em suspenso.
Por fim, o homem sorriu-lhe:
- Obrigado pelo conselho. Tem muita razão. Um presidente não pode dar um passo em falso. Bela imagem.
E a multidão rompeu numa prolongada ovação a Fatinha, a sábia.

(CONTINUA)

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