Como uma telenovela a sério, esta blogonovela deixa ao guionista uma série de frentes possíveis. Diante de tantas frentes, prefiro voltar atrás. É que no «Deus nos Valha», Lar para Professores Reformados em Stress, algo não cheira bem. Para além do facto de o «stress» provocar flatulência, aquela casa tem qualquer coisa de suspeito. Voltemos lá.
No momento em que aterramos, o Chefe Lucas está completamente desesperado. Meio-mouco da orelha direita, por causa da Manuela Saraiva que lhe conta a vida aos berros, e tentando livrar-se da Guilhermina, que quer por força que ele faça de Nossa Senhora no presépio vivo - o qual, no entanto, já parece tão morto como esse outro que apodrece na nossa cantina; basta dizer que no presépio do Lar, o senhor que faz de S. José, por exemplo, parece estar francamente pouco vivo, em decomposição até, e há uns bons cinco minutos que o não vemos respirar... - o Chefe Lucas, coitado, só consegue pensar na estranha visita que ontem lhes tinha feito o Cara Danjo.
Cara Danjo era o único que o poderia ajudar. Era a sua ponte para o mundo exterior: e ele tinha de escapar dali, para salvar a escola de um plano de Madame, que concebera uma máquina para transformar todos os professores em réplicas exactas de si: imagine-se, o Garcia, a Judite Simão, o Valdemar, todos entrando por um lado da máquina, e todos saindo depois, por outro lado, como plantiêzinhos: Garcia Plantier, Judite Simão-Plantier, Valdemar Plantier...!
Não. O chefe teria de se opor com todas as suas forças a essa dominação.
Quando se livrou das outras duas colegas de Lar, subiu ao seu quarto. Tinha tentado passar, ontem, uma mensagem ao Cara Danjo. Mas ter-lhe-ia passado o papel correcto? Ou, no meio do nervosismo, teria havido algum engano?
Vasculhou na sua pasta: encontrou um relambório intitulado AAA, muito maltratado pela Elastigirl; uma folha de sumário da Teresa Santos, que começava assim: «Não compareceram alunos...» mas que, como entretanto lhe tivessem aparecido alguns, ficara finalmente da seguinte forma: «Não compareceram alunos durante a maior parte do tempo, salvo nos últimos minutos, em que compareceram alguns dos alunos que não tinham comparecido». E, por fim, uma folha de agenda, em que rabiscara: «Contaca com a Octopeia. Ela dirá o que fazer para me tirarem daqui!» Raios! Aquele é que era o papel que o Cara Danjo devia ter levado. O pedido de que se recorresse à Octopeia. Agora sabia o que Cara Danjo levara por engano: o talão com a conta da limpeza a seco de seis casacos de bombazine bége.
Entretanto, na sala de professores, Octopeia, o oráculo da escola, assistia, divertida, à conversa que alguns alunos mantinham, à porta, com a Directora de Turma.
Octopeia era um ser estranho, mitológico, com oito pernas (daí o nome) e quatro cabeças. O seu nome próprio era Elisa-Paula-Vera-Assunção. A sua intuição sempre se mostrara infalível. As suas profecias eram famosas. Perguntava-se-lhe, por exemplo:
- O que devo fazer?
E a resposta construía-se, cabeça a cabeça:
Elisa- Vai...
Paula- ... passear...
Vera- ... e fecha a porta...
Assunção - ... ao sair...
Ou, então, alguém perguntava:
- Quem sou eu, quem sou realmente eu, diz-me, por favor...!
E a Octopeia:
Assunção - És...
Vera- ... o Garcia.
Paula- Paga...
Elisa- ... à saída...
O Chefe Lucas, naquele deprimente lugar, pensou: «Tenho ainda uma última solução. Vou seduzir a enfermeira. Sou bom nisso de seduzir. Peço-lhe para me deixar usar o seu computador. Envio uma mensagem para o mundo...»
Nem de propósito, lá estava a enfermeira a olhar para ele, com um olhar de carneiro mal morto.
O chefe aproximou-se.
Sentou-se doce e meigamente ao lado dela.
Colocou a mão sobre a mão da mulher. Ela fez um trejeito coquéte.
Já ansioso, pensando na sua libertação próxima, o chefe segredou-lhe:
- Deixa-me ir ao teu site.
Ao que ela respondeu, indignada: «Porcalhão, grande porco, abusam logo!» -, antes de espetar um sonoro bofetão no seu surpreendidíssimo rosto...
(CONTINUA)
4 comentários:
sintomaaa!sabes o k é 1 death wish???
Então o COBARDÃO (ONA) aqui não comenta???
...deve ter medo da picada das abelhas ou DO PONTAPÉ NA CABEXA, CABEXA FORA DO PAXEIO...
O que ainda não foi dito é que o mestre Lucas nutria pela Madame uma paixão assolapada que, precisamente porque só prometia uns valentes sopapos, se foi convertendo numa outra emoção a que eu não me atreveria a chamar ódio, mas talvez despeito...
aaai!como diz o fantasmadaopera PONTAPÉ NA CABEXA, CABEXA FORA DO PAXEIO...
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