13 janeiro 2006

A VISITA DE ESTUDO - UM

1. Após uma repousante auto turtura de sono, o chefe Lukas folheava um maço de folhas formato A4 olhando, sem ver ,a maior parte delas...separava-as conforme o aspecto...as mais bonitas, directas para o fundo da última gaveta...as assim-assim para o arquivo-lixo e as piores pela janela fora, em formato de apetecível bola para os gaiatos do 7º ano testarem as suas habilidades futebolísticas...QUANDO, REPENTINAMENTE, as suas mão param e o seu olhar fixa, demoradamente, um papel com ar de formulário, cujo cabeçalho dizia: VISITAS DE ESTUDO.
Tratava-se um pedido de Visita de Estudo a realizar conjuntamente, pelas turmas do 7º X e do 10º W; o pedido era subscrito pelas professoras FILETE PONTEIRO ( do 10º W) e MÁTIMA FADALENO (do 7º X); o local a visitar seriam umas ruínas arqueológicas no sul do país e, a dita visita, tomaria dois dias e uma noite; seguia-se uma lista de alunos e de outros professores acompanhantes...
2. "Mau, Mau...visitas de 2 dias...ruínas alentejanas...com esta gajada toda...devia levar isto ao Pedagógico...." pensou o duce Lukas com alguma lógica..."Porém, se levo isto ao Pedagógico, com a Plantier, a Lurditas, a Soledade, a Olívia Paliteira e outras quejandas, arrisco-me a ter a decisão lá ....para ...Outubro de 2007, na melhor das hipóteses..." voltou a pensar o caudilho ainda com mais lógica... "Que se lixe!! aviso os outros pelo telefone e autorizo já a visita!!" concluíu, pensando de novo, o fuhrer triunfando, claramente, sobre o dilema.
3. No dia previsto e à hora possível, FILETE e MÁTIMA estavam ao portão da escola, procedendo à reunião da manada e à sua condução para o autocarro que esperava, há já 35 minutos, pela hora da partida..."É sempre isto, caramba...nunca estão a horas..." pensava o pobre motorista da Vimeca, desesperando por nunca ter tido oportunidade de estudar em novo para ser professor...era o seu grande sonho, desde jovem, e nunca pode concretizá-lo...paciência..."...Talvez o meu mais novo, um dia, seja o que eu não pude ser...que o mais velho...aquele gandulo é só noitadas, gajas, copos e trabalhinho...tá quieto..."reflectia, triste, o motorista...
"Tá tudo?? já podemos arrancar, sr. motorista..."- avisou audívelmente FILETE, enquanto MÁTIMA, de sobrolho carregado, acrescentava em surdina..."Já podemos arrancar, sr. motorista..."No interior da escola, junto à porta principal e por entre uma irregular linha fumegante que saía dum meio SG light entre o indicador e médio da mão direita, o olhar atento do dalai lama observava, por trás das lentes escurecidas dumas cangalhas à la mode...
4. A viagem iniciou-se e prosseguiu, sem motivos para reparos...a manada, ainda adormecida, distribuía-se pelos bancos, ouvindo mp3, walkmans, mascando pastilhas e dormitando...um ou outro, de testa no vidro, observava com ar bovino, a travessia do tejo pela ponte...
No banco atrás do motorista MÁTIMA FADALENO e ARMÉNIO MERCALHÃES ocupavam os dois lugares; no banco ao lado FILETE e ZEZE GARE CYA . Queixa-se ARMÉNIO "Pois é MÁTIMA...estas visitas são uma treta...obrigam um gajo a levantar-se com as galinhas, é só passeio e aturar esta canalhada...e eu com tanto pra fazer lá na Junta..." "Ó ARMÉNIO TROLHA, não é bem assim...isto tem muito interesse pedagógico" riposta FADALENO .."TROLHA??? tás-me a confundir com o da Areosa ou quê?? olha que eu sou de Mecânica, ouviste?" ofende-se ARMÉNIO..."Ah. desculpa ó mecânico...sabes... eu tirando a História e a Pedagogia...nada mais me interessa..." desculpa-se MÁTIMA com o olhar vago..."Mecânico??? Mau mau...ó minha...ouve lá...tás marada do cacholete, tás??? de Mecânica mas ENGENHEIRO!!! percebes ?? ENGEENHHAAAIRRROOO!!!" ameaça explodir ARMÉNIO "Tá bem, tá bem...não te zangues.. desculpa..." sussura FADALENO.
No banco ao lado, ZEZE desafia a atenção de FILETE, confidenciando..."Sabes FILETE...isto da reforma aos 65 anos é uma tragédia...já há 20 anos atrás, quando eu pensava em meter os papéis na Secretaria, tive o pressentimento - tal como a minha mãe - que a coisa ia piorar...sabes que a minha mãe disse-me - ZEZE, prepara-te porque a tua reforma é só la para os 80 anos - tás a ver... isto tá mesmo mau, não achas?" "Sim...tens razão... mas sabes, ZEZE, eu por agora ainda não penso nisso...não vale a pena..." responde com pouca convicção FILETE, acrescentando para mudar de asunto.."ZEZE; trouxeste as folhas com os tópicos da visita para dar aos alunos?" - "Oh...que chatice....não queres ver que me esqueci??...foi tudo a correr esta manhã, ...levantar, pequeno almoço para a minha mãe, roupa para a minha mãe, trazer a minha mãe até à escola...sim que ela fez questão de me ver partir...que cabeça a minha..." responde penitente ZEZE..."Bom...teremos que improvisar...que cabeça a tua, ZEZE!!" repreende FILETE "Tens razão...mas sabes que também vão alterar os impressos e os prazos para requerer a reforma..???"questiona, mais aliviado, ZEZE..."STÔRA...tem que parar a caminete...o FININHO tá à rasca pa ...ah...precisa de fazer xixi...tá aflito!!" berra do fundo do habitáculo o GIMBRAS NAVALHINHAS..."Menino, então...calma...já vamos parar dentro de 5 minutos na estação de serviço e, então, podem ir à casa de banho..." acalma FILETE...."Gaita...são só mais 5 minutos...já preciso atestar de combustível...tou com uma certa fraqueza... e cá com uma sede..." pensa para si, ARMÉNIO recordando, com saudade, os penalties e as sandes de coirato das 11 horas no Alberto e na tasca do Dafundo..."Que pena esta paragem...eu cá estou desejosa de chegar às ruínas e sorver todo aquele ambiemte, aquela vivência ancestral, aquela atmosfera pré...pré..." divaga FADALENO... "Cala-te, sim....vais mas é sorver um abatanado e uma dupla de chourição e queijo...ou se preferires acompanhar-me num coiratito...e num penalti..???" interrompe, categórico e com olhar amendoado, ARMÉNIO..."Jesus Maria...livra!!!.. já comi um biscoito integral esta manhã e meio copo de sumo light de cenoura...já tou comida para todo o dia!!" defende-se MÁTIMA..."Comida para todo o dia...ai ai...." suspira, sonhadora, FILETE, enquanto um ligeiro chiar de rodas e travões anuncia a paragem na estação de serviço da auto-estrada para uma breve pausa...
(CONT)

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