22 março 2006

CARTA DE INGLATERRA: POR JOÃO CARLOS ESPADARTE

Ah, meus leitores, vocês não adoram, como eu, tudo o que é genuinamente «bristish»? Este nevoeiro denso, este frio que nos arruina os ossos, este ar de velhice que aqui impregna a mais pequena parede, chá com scones, Trafalgar Square, ou Woody Allen que, no seu último filme, se tranformou num inglês da mais pura casta, ou Sir Karl Popper (que era austríaco, mas também se converteu aos ingleses)? Não adoram, precisamente, estes estrangeiros (americanos, austríacos, portugueses) que apreendem a essência mais íntima do ser britânico? Não adoram portugueses que vivem em Inglaterra, convivem tu-cá tu-lá com os grandes pensadores de Oxford University, tomando com eles o Five o'clock tea - portugueses com essas características e cujo primeiro nome seja José? Isto é, não me adoram? Ah, adoro tudo isto. Como me adoro!

Puxam-me pela manga. Dizem-me que há outro português nessas precisas condições. «Quem?», pergunto, levemente chocado. «José Mourinho», respondem-me. E eu torno a perguntar: «Quem!?»

Ah, sim, Mourinho. Agora me lembro. Mas esse não conta, porque, em comparação comigo, ele sofre de um grande problema de vaidade, de que deveria tratar-se: é insuficientemente vaidoso. Eu ensinava-lhe...

Já eu, é preciso não esquecer, privei de perto com Sir Popper. E se pouco ou nada disse acerca dele, na altura da sua morte, quando me entrevistaram para um programa chamado «Sir Karl Popper», foi para prestar-lhe um tributo: achei que a melhor homenagem que poderia fazer ao meu mestre seria falando de mim próprio - que ele tanto apreciava...

Posso, no entanto, revelar agora - nunca é tarde - como assisti, uma manhã, ao espectáculo de Sir Popper construindo, digamos assim, diante dos meus ouvidos, uma teoria.
Disse-me ele:
- José Carlos, você nunca deixará de me surpreender.
E como eu fizesse um gesto modesto, concluiu com esta enigmática afirmação, à qual dedicarei um livro:
- O vazio é o sustento de tudo quanto você diz, pensa ou faz.

Um elogio destes, tão subtil que, à primeira vista, nem parece um elogio, é tipicamente inglês. Penso, de facto, que os ingleses são os melhores do mundo, e que fazem tudo melhor do que os outros, sobretudo do que os portugueses: inclusivamente, cantar o fado ou dançar o fandango.

Em nenhum outro lugar consigo que me dêem tanta atenção.
Hoje, por exemplo, tomando chá com Margareth Loane e John Blyth, que mais do que dois deliciosos velhinhos (sei porque, sem querer, provei a ponta do nariz da senhora, quando me preparava para a beijar) são, sobretudo, os sociólogos da moda, pude ouvi-los debater ideias um com o outro, voltarem-se para mim, dirigirem-me a palavra («Cale-se, João Carlos, não nos interrompa!») e, por fim, tive o prazer de a ouvir discutir e contradizer - amistosamente - o meu ponto de vista, dizendo-me:
- Não, não, João Carlos. Lamento, mas não lhe pedi que me passasse a torrada, pedi-lhe que me passasse os scones

8 comentários:

Anónimo disse...

Nem preciso ser Abelha Maia para ficar completamente baralhada!Esse nevoeiro todo toldou-te a mente, Espadarte...Já nem o teu nome sabes? És José ou és João? Ou fugiu-te o teclado um bocadinho pra verdade?!E porquê tanta adoração pelos scones? E as keijadas de Sintra? A paella? Os croissants? O Pannetoni? As wurtz? Ai, esta gastronomia toda tá a abrir-me o apetite...

Abelha Maia disse...

ó sintoma, agora além de confundires a malta tb és narciso?????

Abelha Maia disse...

ó sintoma, agora além de confundires a malta tb és narciso?????

Abelha Maia disse...

para variar 1 bocado estou a repetir me!!!!!!
e tu anónimo, k insinuações são essas?!EU já tenho 1 deçionário, tá bem?!!!!!

Anónimo disse...

Oh José! Perdão, João! Eu já não percebo nada! Esse tal Popper, a Margareth e o John afinal falam português!??

PLANETAZUL disse...

Digito por baixo o texto sobre o António Espadachim...(é para confundir mais o anónimo!)
Mais uma tirada do fulano:
"Uma das professoras da Sorbonne é particularmente expressiva. "Eu poderia ter nascido inglesa", diz ela com veemência: "Adoro todas estas coisas velhas e bonita"" (parece-me que está a por na boca da Sorbonna as suas próprias ideias).
Só lhe falta tomar chá com a Rainha e sua querida nora!

Déjà Loin disse...

"Ah, meus leitores, vocês não adoram, como eu, tudo o que é genuinamente «bristish»?"

(Fora de ironias), SIM, SIM, SIM!

Gil Duarte disse...

O homem é «João Carlos», de facto. As minhas desculpas. O «José» impôs-se-me à força de querer fazer a comparação com o Mourinho. Mas basta que leiam: «Não adoram os portugueses que etc. e tal e cujo primeiro nome começa por J.?»