07 março 2006

CEUZINHA NO PAÍS eslavADO DE NOVO: VII

Bruscamente, o chão cedeu sob os pezinhos com sapatinhos de boneca de Ceuzinha e esta desapareceu, de um momento para o outro, da vista das meninas e dos malogrados balonistas.
Deslizava, como por um escorrega, até ao ventre da terra.
Quando chegou ao fundo, queixando-se de que nesta história a faziam cair demasiadas vezes para seu gosto, deparou outra vez com a trupe: Arménio, a toupeira, tinha-os ido salvar, abrindo galerias subterrâneas, túneis profundos, por onde o grupo se movia em direcção à liberdade.
- Tenho muito medo do escuro - queixava-se Algusto. Mas, pensando que podia ficar mal visto, emendou. - Nem é medo, é respeito. Trato o escuro como exijo que me tratem: com respeito, é tudo.
Andaram muito tempo sem luz, até que Arménio disse:
- Agora, atenção aos pés. Vamos principiar a subir.
Subiram.
Mal o gato Pochato pôs a cabeça fora do buraco, com a sua mania de querer ser sempre o primeiro, surgiu uma aia a correr:
- Senhor Pochato - gritou ela - o Grande Buda quer vê-lo imediatamente.
- A mim? - defendeu-se Pochato. - Há-de ser engano. Deve tratar-se de outra pessoa qualquer.
- Não, não - insistiu a aia. - É mesmo consigo. Só há um Pochato e já é de mais.
Antes que o gato tivesse tempo de se pôr invisível - o que só acontecia quando não estava demasiado nervoso - surgiram diversos guardas que o rodearam e levaram.
- Bem - rejubilou Ceuzinha. - Pelo menos, já não vamos para as AAA.
- Tás maluca? - indignou-se Algusto. - Isto é muito pior.
- Pior?
- Anda. Vais ver...

Pochato foi conduzida à presença do Grande Buda, que era um homem gordíssimo, sentado sobre as pernas cruzadas em posição de lótus, completamente calvo e sem um único pêlo no rosto pálido. A sua boca era um parêntesis de seriedade :( Não havia ali o mais leve vestígio de um sorriso.
- Quem é? - segredou Ceuzinha.
- Sht! Vais ver, vais ver...
- Gato Pochato - falou o Buda, com voz profunda e cava - és acusado de ter dito três graças esta semana.
- Ah, mas aquilo não era nada, messire, eu nunca tive muita graça...
- O que conta não é que se tenha graça ou não. É que se tente. E tu tentaste fazer humor...
Da assistência horrorizada saiu um prolongado Ooooooooh!
- Vais ter de pagar por isto. Não há AAA que te cheguem para expiar. Vais para o inferno. É por essa e por outras que nunca este país será como a Finlândia. Na Finlândia são sérios. Não se riem. Não fazem caricaturas. Nem sátiras. Nem faltam. Nem adoecem. Nem dançam. Nem há Carnaval. Nem...

Ceuzinha estava angustiadíssima por se descobrir, de repente, num país onde o humor era tão severamente punido. Disse «Não!» Os amigos mandaram-na calar. O Buda já olhava para ela. Mas Ceuzinha repetiu: Não! - E depois: Não! - e cada vez mais alto: Não! Não! NÃO!!! NÃÃÃÃÃOOO!!!

E despertou. Despertou do seu sonho - primeiro com espanto, depois com alívio. Por fim, com um imenso suspiro.
- Meu Deus - disse, limpando o suor. - Que pesadelo! A ministra-rainha! As AAA! A interdição do humor! Ainda bem que nada disto é real. Uf!

Na televisão, entretanto, a ministra da Educação concedia uma entrevista acerca do alargamento de não sei quê ao Secundário.

FIM - FIM - FIM - FIM - FIM - FIM - FIM - FIM

5 comentários:

Anónimo disse...

Ó genial Sindroma: adorei esta história da Ceuzinha. Mas devo confessar-te que o fim abrupto me incomodou. Senti-me traída com este fim. Amargaste de novo? É a incompreensão de alguns leitores que te dói? Tens de consultar a Dra Ruth, homem, olha que essas crises de amargura são sindromáticas.

Anónimo disse...

Sorrir, brincar, gargalhar... esta capacidade lúdica de achar graça, curtir este lado da vida, é muito bom! Muitos, infelizmente,não sabem rir e esquecem este ingrediente tão importante que nos deixa descontraídos e que aumenta o fluxo sanguíneo para o coração.
Há alguns anos, afirmar que existia uma relação directa entre o humor e a boa saúde era quase uma heresia para a ciência. Hoje em dia, a medicina em geral e a psiquiatria, em particular, estudam muito a importância do bom humor, dos bons sentimentos e da afectividade sadia na qualidade de vida, tanto pessoal como profissional, bem como na saúde global da pessoa. Rir é o melhor remédio - o riso melhora o estado de saúde, trata a depressão e ajuda a curar doenças. Ajuda-nos a ultrapassar dificuldades e, tendo em conta os momentos difíceis que estamos a viver, nada melhor que passar os olhos pelo blog e descontrair... Ele é mais uma razão para poder dizer que tenho orgulho em ser docente na eslav. Obrigado bloguistas ( é assim que se escreve?)

Anónimo disse...

mnhé!!! que giro :') isto é q é produção.

Abelha Maia disse...

parece-me k estou a reconhecer este discurso...até parece k estou a ouvir a voz do admirador!

Anónimo disse...

Estás muito longe de reconheceres a minha voz abelhinha..... mas, não custa nada tentar...
Já agora...Um Feliz dia para todas nós mulheres!!!!!