10 abril 2006

ZÉ ABREU APONTA O DEDO A UMA CONSPIRAÇÃO DOS INTELECTUALÓIDES CONTRA AS PESSOAS NORMAIS

Querem ouvir esta?
Na outra noite apareceu-me na rulote um senhor com cara de fuínha, que me apresentou um cartão onde estava escrito qualquer coisa que eu nem consegui ler bem, e me disse que vinha fazer uma inspecção às condições de higiene, e coisa e tal.
Depois, lá foi «inspeccionar», torcendo constantemente o nariz: que usávamos o mesmo óleo para fritar tudo (aparentemente, para estas alminhas, é um crime ser-se poupado), que havia produtos fora do prazo (não estamos a falar de medicamentos, valha-me Deus!), que havia ratoeiras ao pé das panelas (crítica que não entendo: será que ele preferia que não caçássemos os ratos - seria isso mais higiénico...?), e mais não sei quê, e coisa e tal...
Não levei muito tempo a perceber que, por detrás desta investida, estava uma manobra dos «intelectualóides» do costume, o senhor azul, a senhora lula espanhola e uma «voyeuse» elástica que adora ir ao cinema só para espreitar os namorados a comer pipocas.
É então assim que esta gente pensa calar-me. É assim que julgam que me amedrontam. Tenho novidades: a mim ninguém me cala! Só mesmo a minha Ivone. Mas isso porque eu tenho paciência e vou consentindo. Quando me enervo a sério, ai!, quando perco a cabeça, bastam-me três palavrinhas para a pôr a bater a bolinha baixa. São elas: «Tens razão, queriducha!». Amansa logo.

É tudo isto, em suma, que me enerva. Trata-se, como é bom de ver, da mesma gigantesca operação que neste momento invade descaradamente o país inteiro contra os restaurantes chineses. É vergonhoso. Pois olhem que já visitei as cozinhas de muitos deles, e posso garantir que as condições até são melhores do que as da minha rulote e, por exemplo, as do restaurante do meu tio.

Sabem o que está por trás disto tudo, não sabem? Promover os restaurantes da moda. Os finos. Aqueles que a dona lula e a dona thrombone frequentam, onde a comida tem de ser caçada à lupa no meio do prato (isso é que está a dar...) e os empregados parece que estão todos com os sapatos demasiado apertados ou com dor de barriga. As expressões macambúzias desses empregados, que devem, aliás, ter comido no próprio restaurante em que servem, dizem mais acerca da qualidade do menu do que diriam centenas de inspecções.
Isto é tudo para promover restaurantes com música ao vivo. Com gente do mais «cultural» que há, como aquele brasileiro de voz fininha que canta todo nu, se excluirmos uma pluma no rabo, umas pulseiras e a cara pintada. Mas é melhor não me alongar sobre este, se não, está aí, está o senhor azul a postar uma letra dele. Livra!
Ora agora vejam o que é irónico em tudo isto: andam essas inspecções todas a fechar restaurantes, e depois oiço as notícias, e que descubro?, que os médicos portugueses não lavam as mãos. Que o principal problema das urgências não é não terem mãos a medir: é terem as mãos por lavar; que o principal perigo não é não terem tempo para nos atenderem: é que nos possam atender...!
A mim, pelo menos, lá disso é que nenhuma inspecção me pode acusar. Como sou muito poupado, faço questão de guardar sempre a água de lavar os pratos, e insisto para que a minha Ivone e as crianças lavem nela sempre as mãos. As mãos, e não só.
Não me lixem a cabeça!

2 comentários:

Gil Duarte disse...

Não sei se leram ou ouviram as mesmas notícias que o Zé Abreu e eu mesmo. São verídicas: um estudo recentemente divulgado pela OMS indica que uma percentagem assustadora de doenças contraídas nos hospitais seriam evitadas no mundo inteiro, se os médicos tivessem o hábito que procuramos incutir nos nossos filhos: lavar as mãos. Mas não se assustem. A situação portuguesa pode não ser tão grave: não há estudos feitos sobre o nosso caso. Seja como for, sabe-se que diversos hospitais portugueses não têm condições adequadas para que os médicos lavem as mãos. É mau ir à roulotte do Zé? É preferível do que cair nas Urgências...

Ana C Marques disse...

É tão difícil encontrar um lava-mãos na rulote das bifanas como numa sala de espera de um centro de saúde. Dão-se alvíssaras a quem o encontrar.