As pessoas não acreditam em mim, noto-o perfeitamente. Apesar do meu ar credível, basta começar a contar que fui raptado por extra-terrestres, e pronto, está tudo estragado.
E no entanto, é a mais pura das verdades: uma noite, vi-me sugado por um raio e slurp!, como uma criança a comer uma colherada de sopa, também o raio do raio me absorveu para uma nava espacial, onde me submeteram a diversas experiências. Será isto assim tão difícil de crer, bolas!?
A que género de experiências me submetiam? Bem. De manhã, injectavam-me logo nitro-não-sei-quê nas veias; muitas vezes, obrigavam-me a assistir a um penoso cerimonial religioso, designado por «Berzegun» (que poderíamos traduzir por: Reunião de Sector, de Parcela ou de Departamento), em que me prendiam a uma cadeira, com palitos nos olhos para não os poder fechar, elásticos nos ouvidos, para que nada me escapasse, mãos e pés bem seguros, enquanto umas sacerdotizas falavam na sua linguagem fechada, que eu estava longe de dominar. Também me obrigavam a preencher bz's («fichas») onde absolutamente nada tinha sentido - palavras e números na sua língua que, quanto mais eu aprendia, mais me pareciam nada significar...
Eu conto. Sobretudo nas festas e sobretudo a partir do quinto copo. As pessoas riem-se de mim:
- Este tipo é realmente muito divertido, no género chalupa! Eh, pá, ó Guerra, Ó Abel, cheguem aqui. Ó Guerra, ah ah ah, há aqui um gajo que diz que vem do planeta não sei quê...
Depois, com o correr da noite, quando se apercebem de que eu não me rio, de que não esboço um sorriso sequer e mantenho a coerência do relato, há aqueles que principiam a ficar nervosos. Topo-os logo. É um dom, um poder telepático que ganhei no planeta. Alguém começa a tremer, ou diz: «Eh, caramba, estás a nervar-me...», e eu não preciso de mais nada para intuir de imediato: «Este não me engana. Está nervoso...»
Também há os que gritam.
Certa vez, uma criança saiu a correr, pedindo socorro ao pai:
- Papá, papá! O maluquinho diz que se eu continuo a atirar-lhe oreos de chocolate à cara, vai chamar o Darth Vader e a Juju Ximâun!
- Anda cá, querido. Isso é ficção científica. Achas que tais seres podiam existir mesmo?
Finalmente, quando a história começa a perturbar seriamente as pessoas e a provocar desmaios, expulsam-me.
O miúdo vem atrás, sempre a atirar-me oreos de chocolate e entoando, numa arrogante ladainha:
- A Juju não existe, a Juju não existe!
Sabem lá eles...!
Naquele planeta, onde me deram o nome de ZHHZ# (o meu nome terrestre é Serôdio), os machos são em número reduzido. Mantêm-nos em cativeiro, num espaço mínimo, sem se poderem mover, vendo as barrigas aumentando. Mas é, apesar de tudo, um doce e tranquilo cativeiro, que não mata ninguém.
Algumas fêmeas, chegando ao fim de um ciclo, desaparecem. Mas são, digamos, substituídas: a Substitutrix é sempre alguém muito agitado e estranho, sobretudo cheia de vontade de trabalhar. A vontade de trabalhar é, ali, uma doença, uma espécie de espasmo, de tique nervoso. Eu mantive-me imune - não trouxe de lá doenças desse género, não se preocupem. No que toca a trabalhar, sou são como a Maria Elisa. Evito, evito. Mas, naquele planeta, a Substitutrix vem sempre afectadíssima, ansiosa, correndo atrás dos elementos do seu Sector (ou Parcela, ou Departamento), lamentando-se, e nunca passa despercebida.
Periodicamente, o feixe de luz volta a sugar-me. Ainda não acabaram as experiências. Sequestram-me. Querem por força ver se me pegam o tal tique nervoso. Tenho sido forte. Gostaria que os humanos me ajudassem, que me protegessem. Mas não. Já percebi que me não levam a sério. Ninguém acredita numa palavra. E ainda me atiram oreos de chocolate à cara!
5 comentários:
Ai o que eu gosto de um bom Berzegun!
Bom, deixa-me lá ir ver umas bz's de avaliação... :)
Ah! Então tu acreditas em mim...! Nem tudo está perdido...!
Eh, pá, que básico que eu sou...! (É um dos efeitos das experiências). Atão não havias de acreditar. Tu és uma das fêmeas. Na verdade, de um dos piores Sectores, Parcelas ou Departamentos: Os Diabos Vermelhos. Nããããããoooo!
Este texto deve ser bom. Já vai em quatro comentários. (E não me venham dizer que três deles são do próprio autor, que isso são ninharias)
Tenho sérias dúvias acerca dessa história, Serôdio.
Não é verdade que os extraterrestres fazem lindos círculos nos campos de trigo? Então custava-lhes muito fazer nas ervas um para exterminar as pulgas?
E mais: se essa história fosse verídica, eles já teriam contactado com alguém do Berzegun das Artezzz, para ajudar a fazer círculos porque eles têm os compassos partidos.
ZH#
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