A Ministra decidiu, está decidido:
De ora em diante, essa cambada de madraços que medra pelo país (não, não, eu disse: «medra»...) ostentando o nome de «professores», passa a estar PERMANENTEMENTE na escola - até mesmo quando os alunos estiverem de férias.
Os alunos merecem, os professores não. Para estes, acabou o Natal, acabou a Páscoa, acabou o Carnaval.
AUGUSTÃO - Sabem que, a mim, não me parece assim tão mal como isso. Eu até gosto de vir à escola. Sempre fui de opinião que o único problema da escola eram realmente os alunos. Assim, sem alunos, a malta reune-se, comemos para aí uns queijinhos...
ZEZÉ TOTÓ - Estás maluco! Escola durante o Natal? E durante a Páscoa? Não me faltava mais nada...
LURDES ORVALHADA - Não sejas sempre tão pessimista. Também não me agrada, é claro, mas é preciso saber tirar partido de tudo. Repara. Podemos aproveitar para fazer uma reuniãozita de grupo. Dessas a que tu andas a faltar... e a faltar um pouco de mais!
ZEZÉ TOTÓ - Reuniõezitas?
LURDES ORVALHADA - Uma reunião todos os dias. Ai, ai, que bom, que bom! Que bom que era...! Não há nada melhor para a saúde. Tu conheces o ditado, não conheces? «Uma reunião por dia, afasta qualquer azia»...
ZEZÉ TOTÓ (quase a chorar...) - Uma reunião por dia!? Oh, meu Deus...
LURDES ORVALHADA - Uma reunião por dia até afasta o médico!
ZEZÉ TOTÓ - Pudera! Se o médico for esperto, nem lá o vemos. A mim afasta, afasta certamente!
LURDES ORVAHADA - As reuniõezitas fazem bem. Tu baldas-te, e por isso é que andas aí com esse ar enfezado, amarelento, cabisbaixo. Olha para mim, que bem que estou, sempre tão coradinha. É das reuniõezitas, homem.
SÔ PEDRÃO - Mas não é só para os professores que se acabam os Natais e afins. Os funcionários também têm de passar a estar na escola. Digo já que acho isso mal. É indecente. Já não basta o que a pessoa tem de fazer durante o tempo de aulas, por exemplo escrever e afixar na porta do Centro de Recursos uns bilhetes a dizer «Fechado, fui matabichar», «Fechado, fui reforçar o mata-bicho», «Fechado, fui petiscar», «Fechado, fui almoçar», «Fechado, fui comer qualquer coisita», «Fechado, fui lanchar», «Volto já, já, já, não demoro mais do que três horas»... Vê-se bem que o pessoal do Ministério não faz ideia do que é estar numa escola. Acabarem-nos com as férias!? Que raio de ideia! Eu gosto de férias, que é a única altura do ano em que aproveito para trabalhar qualquer coisinha...
AUGUSTÃO (Reparando em alguém de vermelho, que chega a coxear)- Olha, aquele ali não é o Pai Natal?
SÔ PEDRÃO - Eia, pá, coitado! A barba toda amarrotada...!
AUGUSTÃO - Cheio de pensos!
ZEZÉ TOTÓ - O braço ao peito!!!
LURDES ORVALHADA - Ó querido Pai Natal, que te aconteceu? (Espera aí, eu sou uma professora de filosofia, culta, consciente, não acredito no Pai Natal, pois não?)
PAI NATAL (falando com dificuldade, por causa da falta de dentes) - Fei lá! Ia a pafar pelo vinásio e um tal Vavconfellos enfiou-me à forfa no grupo de futebol... faltava-lhev alguém prá defeva... nem fei o que me acontefeu... aquilo é violento... aquilo é violento... fão velhotes maf fão tramadov...
LURDES ORVALHADA - Mas que diabo estava o Pai Natal (em que não acredito) a fazer na escola???
AUGUSTÃO - Ai não sabias? A Ministra não quer o Pai Natal a passear por aí de trenó durante as férias. Diz que a partir de agora, tem de passar as férias de Natal... na escola!
1 comentário:
O problema é mais grave do que se possa pensar: com as maternidades a fechar, como pode continuar a haver Natal?! Onde irá o menino Jesus nascer? Agora que já não abundam reis, e muito menos magos, quem irá visitar o Menino? E os professores (prisioneiros nas Escolas nas "pausas lectivas")ainda serão culpados também desta desventura...
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