Ignorando as veementes súplicas dos envolvidos (que espírito de Natal já lá vai) aqui se retrata do modo mais fiel possível, toda a verdade. Isto para os cépticos que perderam o evento do ano (passado, claro), assim se ilustram os disparates em que a dita professora reformada meteu inocentes professores e alguns funcionários. Eles, que ainda acreditavam que só a D.Lurdes os deixava em maus lençóis...
Toda a representação ia sendo pontuada pela voz de uma senhora que subiu para uma cadeira, como aliás tem feito todos os anos, apesar de estar reformada. (É que, como se percebe, não há maneira de a reformarem das teatradas natalícias). E a senhora lá ordenava aos actores que se distanciassem das personagens para fazer discursos que nada tinham que ver com estas. Era o toque brechtiano que faltava. Brecht puro!
Tudo começou com a sensacional entrada em palco de um mercador àrabe de tapetes, com a barba por fazer - o mercador é que tinha a barba por fazer, não os tapetes -, o qual se reconhecia imediatamente pelo facto de trazer à cabeça um tapete: tal personagem - o mercador, não o tapete - era brilhantemente interpretado pelo Chefe Lucas, numa representação verdadeiramente inexcedível (sobretudo na parte da barba por fazer).
Eis senão quando surge um professor de Educação Física pela mão de um professor de Filosofia, ambos enfiados nuns trapos estranhíssimos, simbolizando, obviamente, o primeiro actor, um aluno com dificuldades diversas e comportamentos desadequados; e o outro, um professor em sérias dificuldades por causa do aluno com dificuldades sérias.
O menino, por alguma razão que o drama, enigmática e deliberadamente, mantém na obscuridade, não aprovava que o vendedor de tapetes estivesse enganando a pobre senhora loira e, por isso, mandou chamar o seu gang, constituído por dois mariolas com umas toucas de lã e cujo grito de guerra era «Meeeeh Meeeeh!»
Naturalmente, havia que se pôr ordem nesta desordem. Para o efeito, veio um dos vigilantes, o senhor Borrego, fazendo o papel de si próprio, acompanhado por um jovem professor de Matemática que, para assustar o gang (como se já não lhe bastasse ser professor de Matemática), apareceu vestido de pirata e com uma bengala na mão, destinada a correr toda aquela malta à bengalada. Foi um momento de pânico na assistência. Sentia-se o frémito e o suspense percorrendo os convivas, ainda há pouco tão alegres e, de repente, tão atónitos com o inesperado desenrolar da acção.
Até ao professor de Filosofia se ordenou que falasse grego (numa clara alusão ao facto de, para os estudantes, os professores estarem sempre «a falar grego»), o que ele cumpriu conscienciosamente, repetindo: «Rabanadas, rabanadas!»
Reparem: O mercador, repentinamente, tornava-se Presidente do CE e, nessa qualidade, dizia umas coisas ao público que já não cabia em si de riso (porque, onde haja inovação, já se sabe, há sempre uns papalvos e uns ignorantes cujo papel é gozar!).
E, para que conste, até milagres se operaram neste almoço de Natal. Juro que me passou pelas mãos uma garrafa cujo rótulo prometia «Branco» e que tinha, lá dentro, vinho tinto! Não, não era eu que já estava com os copos. Aconteceu. Há testemunhas!
Fotos: Conceição Alpiarça
Texto: Sindroma (desculpa o plágio)
3 comentários:
Não desfazendo das outras personagens, o mercador de tapetes está o máximo!
Ah! Parece que vi um remake da Life of Brian dos Monty Phyton!
Brilhante :')
(porque é que eu não fui convidada? preciso de um tapete!)
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