07 novembro 2007

FANTASMADAOPERA E O SISMO

Vamos assistir - graças à potente máquina-leitora-de-pensamentos do professor Van Grogue - ao magnífico espectáculo que é o fantasmadaopera apanhado em flagrante delito de pensar. Há quem julgue que estas minhas descrições têm muito de fantasioso. Há quem insinue que estou para aqui a inventar. Bem, confesso. Hoje, aliás, seria muito difícil continuar a negar: o fantasmadaopera-a-pensar, só pode ser mesmo uma fantasia. Puro delírio.

FANTASMADAOPERA [pensando devagarinho] - Eh, que chatice! Hoje não me apetecia ir dar esta aula... oi, que bela professora ali vai a passar... hum, sim senhor, boa perna... ah, onde é que eu ia? Não me apetecia ir dar aula a estes... olááá... a mulher sentou-se... cruzou a perna... mas que estava então eu a pensar? Ah sim... olha, espera... parece que é hoje que há o tal silu... sila... mula... si-mu-la-cro de sismo?! Isso era giro. Já não dava a aula. Era tudo para baixo das mesas! A contar até cinquenta... Oh, pá! Mas a mulher ali está a olhar para mim...? Bem, vamos lá andando. Ai escola, que me matas!

Fantasmadaopera, caminhando muito lentamente, não tem remédio senão chegar à sala de aula. Entram todos.

ZEZINHO - Atão, ó professor, o que é que vamos dar hoje?
FANTASMADAOPERA - Ai, ai. Vem aí o sismo, vem aí o sismo! Todos para baixo, todos para baixo! Vá lá, despachem-se...
TONINHO - Mas não há um sinal? Não são três toques prolongados? Eu cá não ouvi três toques prolongados...
FANTASMADAOPERA - Ó estúpido, o menino não sabe que, nesta situações, a rapidez é essencial? Não?! Ficamos agora à espera de três toques prolongados enquanto a cidade abana por todos os lados e as casas caem? Devemos ser mais rápidos do que os três toques, ou não é? Ainda por cima, prolongados! Isso demora tudo muito tempo. Vá, para baixo das mesas!
GASPARZINHO - E ficamos a fazer o quê debaixo das mesas?
FANTASMADAOPERA - Vocês, não sei. Eu cá vou descansar um bocadinho, que estas situações de stress deixam-me sempre um bocado em baixo. São os sismos, é o Benfica que não ganha um jogo... com licença!
TONINHO - Mas eu não sei o que devemos fazer, professor.
FANTASMADAOPERA - É assim: o professor, que é o pastor dos meninos, deixa-se ficar para trás. É o último a sair, para descansar mais um bocad... não, não, para garantir que os alunos se salvam todos, é uma questão de honra, assim como o capitão do navio deixar-se afundar com o seu navio, estão a perceber?... o professor afunda no sono, não, afunda com a sala, porque é mais corajoso, porque...
Ouvem-se três toques. Prolongados. Ííííín. Ííííín. Ííííín. Muitos gritos provenientes do exterior. Há choro. Fantasmadaopera assusta-se. Estremece. Atropela a rapaziada. Pisa, esmurra, salta por cima. Já há mais estragos e gritos no interior da sala do que lá fora.
FANTASMADAOPERA - DEIXA PASSAR, ANIMAL! SAI DA FRENTE! SAI DAÍ!!! PRIMEIRO, SEMPRE O PROFESSOR!!! SEMPRE OS MAIS VELHOS À FRENTE! ONDE ESTÁ A VOSSA BOA EDUCAÇÃO?!

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