19 janeiro 2011

OS CONSELHOS [ATRASADOS] DA DRA RUTH

Queridos leitores:

Venho hoje responder à carta de uma senhora desesperada. Uma senhora brasileira, embora não seja esse o único motivo do seu desespero.
A questão é que ela se apaixonou por um colega de serviço. Sentando-se, num almoço de Natal da sua empresa, diante do objecto de seu amor, percebeu que este não lhe ligava especialmente. Não é que a ignorasse. Ou que chegasse a entornar-lhe vinho para cima, servindo-a por educação enquanto mirava o decote de outra. É que as solicitações abundavam, e o gentil senhor mal sabia para onde se voltar.

Eu compreendo-a, boa amiga. Pelo que deduzo, na sua empresa, um jovem ainda apresentável, gentil, bem vestido, há-de ser caso raro, daí atrair o mulherio. E há que compreender: não vivemos tempos propícios à apresentação de homens apresentáveis. O género masculino anda por baixo. Desde há algum tempo. (Em Portugal, desde, sei lá, Dom Afonso Henriques). Pessoalmente, não consigo lembrar-me, de repente, de três amigos meus que não sejam carecas, ou gordos, ou obcecados pela bola e em mamas, ou bebedolas, ou tudo isso ao mesmo tempo. Aparece-lhe na empresa um sujeito cheio de charme, queria o quê?
Eu tenho um conselho para lhe dar, minha amiga. Pede-me um conselho para o conquistar? Dou-lhe um conselho: desista dele. E console-se com uma ideia: um homem tem de ter defeitos. Uma mulher poderá não os ter, mas um homem tem por força de os ter. Os defeitos da maioria são visíveis: mais vale ficarmo-nos por esses, porque quem não tem defeitos à vista, pode ter, secretamente, um dos piores. E se fosse um serial killer? Ou um poeta? Já viu bem..?

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