30 novembro 2005

AS INVESTIGAÇÕES DE AUGUSTO GUERRA. CAPÍTULO IV: HÁ QUE SUSPEITAR DOS SUSPEITOS

Quando o ouviu tossir, Laura surgiu com um aparelhómetro para medir a tensão, o índice de colesterol, várias insuficiências (renais, cardíacas...), problemas urinários, urticária, além de seiscentas pomadas miraculosas. Guerra recusava-se a deixar que lhe apertassem o cinto do aparelho no braço bem nutrido. «Pelo amor de Deus, Laura, estou óptimo. Tenho uma investigação a conduzir, deixa-me trabalhar...»
Reposta a normalidade, Chefe Lucas inteirou-se:
- Dizias que faltava alguém...
- É a Fátima Luzia. A Fátima não é uma das DT que ficaram fechadas? Não é uma das suspeitas? E não estava aqui ainda há pouco? Onde está ela agora???
Conceição Baptista passava, entretanto, com um chapéu cor-de-rosa, com cerejas no cimo. Guerra distraiu-se com isto durante alguns segundos. O chefe voltou à carga:
- Achas portanto, que foi a Fátima Luzia?
- Eu não disse isso. Só reparei que ela se raspou. Na verdade, parece-me a menos suspeita...
Interrompeu-se, porque Conceição passava, agora, com um chapéu lilás, muito bonito, que trazia no alto um cacho de uvas e uma rede que lhe caía sobre o rosto. Mas retomou imediatamente o fio:
- Vamos por partes. Primeiro, temos, portanto, a Teresa Santos. Repara: a sua fome poderia tê-la levado aos piores excessos. Olha que eu já vi esta mulher em estado de carência. E digo-te: não é um espectáculo bonito. Assustador. Muuuuuito assustador...
Conceição passava, de momento, com um chapéu azul enfeitado com um bolo de chocolate. Teresa Santos seguia-lhe o bolo.
- Depois - prosseguia o investigador - temos o João Paulo, a Elvira, o Miguel. Ora é preciso não esquecer que a Mariana era adepta do Futebol Clube do Porto.
Ao ouvir este nome, João, Elvira e Miguel ficaram com os rostos de uma incrível vermelhidão e começaram a espumar. João Paulo tremia, com uma espécie de tiques, como se fosse o fantasma da ópera; Elvira disparava cromos em todas as direcções, como uma verdadeira Lara Koeman, perdão, Lara Croft! Miguel uivava. Guerra prosseguia, imparável na sua destreza mental:
- Restam-nos a Olívia e o Abel. A Olívia poderia perfeitamente fazer isto por um cigarro: lembra-te de que a Mariana era fumadora e tinha por princípio nunca oferecer tabaco.
Teresa lançara-se ao bolo de chocolate do chapéu da Conceição. Esta gritava: Ai, ai, acudam, está doida, está doida! E respondia a Teresa, persuasiva: Vá lá, não sejas assim. Não te como o chapéu todo...
- Vês o que te dizia há pouco? - triunfava o Guerra.
- E quanto ao Abel?
- Não te esqueças de que a Mariana possuía a mais completa colecção de instrumentos oficinais, chaves várias, etc. Sugiro-te que revistemos a pochete do nosso amigo.
Ouvindo tal ameaça, Abel deu um salto:
- A minha mariconera é que nunca. Patas para baixo! Este é o meu mundo secreto. Mordo já quem se atrever a devassá-la. Estão avisados. Larga-me Guerra. Larga-me, Lucas. Não se atrevam...
Entretanto, Conceição chorava, tristíssima: o seu chapéu mais bonito estava reduzido a três migalhas.
Teresa consolava-a, com a boca cheia:
- Vês? Eu não te disse que não te comia o chapéu todo?
(CONTINUA)

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