18 dezembro 2005

CANTINHO «A REPOSIÇÃO DA VERDADE HISTÓRICA». POR DR. HERMAN JOSÉ SARAIVA

Porque muita imprecisão (quando não mesmo falsidade) tem sido propalada a propósito dessa fascinante e inesgotável figura histórica, Paxêku, há que iniciar-se de uma vez por todas a reposição da verdade. E propomos uma incursão à Antiguidade greco-romana, onde, pela primeira vez, deparamos com o nome em causa. Meus senhores, queiram por favor colocar os cintos de segurança: a verdade é chocante.

Pensa-se que o primeiro Paxêku fosse um Grego de estirpe divina. Podem comprová-lo observando o seu perfil que é, contrariamente ao que se tem por aí insinuado, um indiscutível perfil grego. Alguns historiadores, de má-fé, insistem em referir o tamanho do seu apêndice nasal. Temos, a bem do rigor, de o reconhecer: trata-se de um perfil grego, sim, mas para o grandito! Foi sempre, porém, esse um dos atributos que fizeram dele um eleito entre as mulheres. Por um lado, o nariz avantajado seria o sinal visível de outras vantagens. (Pode parecer um remoque machista: mas se há que se repor a verdade, que se a reponha sem tabus). Mas, mais do que isso, a própria penca era, já de si, um órgão activo, a que chamavam o «Apêndice Prodigioso» ou a «Nariganga das Delícias».
Adiante.
Sabe-se que Paxêku, grande sábio e incansável viajante, foi feito escravo e posto ao serviço de um grupo de matronas romanas que o não deixavam descansar. Passava-se isto num dos peíodos mais desconhecidos da História romana - período esse que, em geral, se oculta e de que poucos livros falam. (Cf., contudo, o genial Was Paxeku a Man or a God?, de L. Armstrong, Penguin Books, 1973). O Poder romano era, então, exercido por um triunvirato de que também pouco se sabe: o sanguinário César Lucas, que costumava passear pelas ruas, na sua elegante toga e com uma coroa de louro à cabeça, de mãos nas ancas, para assustar os cidadãos; Ana Festas-Saturninas (a qual, depois da sua conversão tardia, adoptaria o nome cristão de Ana Páscoa) e o famigerado Carolus, dito o Guerreiro.
Tanto quanto se sabe, Paxêku terá liderado várias revoltas de escravos.
Foi, aliás, por causa disso, chamado à presença de César Lucas, que, no seu antro, o recebeu semideitado, apanhando, no ar, com a boca, bagos de uvas que lhe lançavam mãos femininas. Entre dois bagos, manteve com Paxêku um diálogo impressionante, em que lhe perguntava: «Mas és tu o Nazareno? És ou não és? O que se intitula Filho de Deus? És tu?» «Não», respondia-lhe modestamente Paxêku. «Sou só um ser humano...»
Como persistisse firmemente nas suas ideias, como não tivesse cedido nem um milímetro relativamente à sua filosofia e às estranhas profecias, onde aparecia sempre um leão trucidando uma águia, César Lucas fez um gesto para que o levassem dali, enquanto dizia «Lavo aqui as minhas mãos», porque estava, efectivamente, com as mãos muito pegajosas das uvas. (Há quem queira ler na sua frase, hoje em dia, um qualquer enigmático sentido. Mas não me parece. Ele queria mesmo lavar as mãos em virtude da pegajice das uvas...).
Paxêku foi, pois, transformado em gladiador.
No célebre circo que se designava por Stadium Lucis, lançaram-no à mais temível fera que se arranjou: um tal de fantasmadaopera, monstro selvagem, intratável, considerado imbatível, que usava como armas um lápis de ponta muito aguçada e uma folha de papel. Paxêku, coitado, não tinha para combatê-lo mais do que o seu nariz. Mas esse nariz abriu na cabeça do fantasmadaopera um rombo, de que ainda hoje padecem os monstruosos descendentes do monstro. A massa associativa gritava «À morte, à morte, à morte». Pediam assim a Paxêku que o matasse. O que, tanto quanto se sabe, sucedeu nessa tarde soalheira.

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