03 dezembro 2005

DESCULPA, J.P.: TIVE DE CONTAR TUDO. MAS FOI SOB TORTURA

Há uma enorme confusão em redor dos textos do blogue. E até mesmo pessoas com óculos novos, pequeninos, sofisticados, catitas, têm revelado uma inépcia, digamos grotesca, nos palpites sobre quem escreveu o quê. Por outro lado, assinaturas perfeitamente ridículas procriam e pululam: quem é o «Fantasma da Ópera», sinistro ser acossado de um ódio insano, que eu só tinha visto em adeptos do Bin Laden e em adeptos do Ronald Koeman? Quem é a «Ostra», com tantos complexos de inferioridade em relação ao físico, como de superioridade em relação ao intelecto? Quem é o «Anónimo», que tanto intervém?
O Conselho Executivo, sentindo-se, talvez, ameaçado por esta fúria criativa e anarquizante, sequestrou-me naquele gabinete triplo que tanto pavor e respeito infunde. Sentaram-me entre sacos de berlindes do Carlos Guerreiro, um megafone que a Lúcia comprou para se fazer ouvir melhor nas suas conversas amenas, um cabide cheio de casacos bege de bombazina.
Queriam arrancar-me nomes. Queriam que eu confessasse tudo.
Ana Páscoa era a polícia boa, de voz suave e relaxante. Aproximava-se de mim com um frasco cheio de moedas de chocolate. «Então?», insistia, persuasiva. «Vá lá. Diz-me nem que seja um nome. Toma, deves estar com fome. Pobre rapaz...»
Lucas era o polícia mau. Com a barba meio feita e uma voz gutural, apontando-me a luz do candeeiro ao rosto, chegava o nariz contra o meu nariz e, colérico, cuspia ameaças terríveis.
- Se não contas tudo, e já, obrigo-te a fazer a dieta dez. Vê em que estado elas ficam. Olha que poucas pessoas resistem...
Eu tremia. Suava. Lucas parava para respirar e reatacava imediatamente:
- Obrigo-te a dar uma volta à escola com a pochete do Abel sob o braço!
Meu Deus! Isto estava a acontecer pecisamente a mim, que nunca fui conhecido pela resistência ao sofrimento, à tortura. Em pequeno, qualquer par de tabefes era suficiente para me pôr a denunciar todos...
- Vá lá, Lucas, vá lá - confortava-me a voz paciente da Ana. - Ele conta tudo, não contas, pequeno? Não queres que eu te deixe aqui a sós com ele, pois não?
Mas Lucas estava imparável. A sua imaginação levava-o ao delírio:
- Se não contas tudo, vais representar, numa récita escolar, o papel de Galileu, com uma capa de Zorro, a peruca do Marco Paulo e as barbas do Pai Natal. - Esta ameaça teve, curiosamente, o condão de me serenar. Percebia que Lucas não podia estar a falar a sério; tal tortura raiava a ficção científica: estávamos no campo de uma impossibilidade física, de uma perversidade já inumana. Mas ele prosseguiu. Veio com a machadada final. - Olha que vais cumprir pena numa aula de substituição...
Uma aula de substituição? Tremi. Ouvíamos, às vezes, falar disso aos mais velhos. Era qualquer coisa presente na mitologia eslavense, tal como os touros de Alpiarça e outros demónios. Algumas pessoas, porém, asseveravam que era verdade, que tinham tido essa experiência. Não muitas, porque alguns nunca haviam voltado. Existiria tal coisa? Eu não podia mais. Já não podia mais. Não suportava tanta pressão. Cedi:
- Confesso tudo. É o fantasma da ópera o único culpado. O culpado inteiro. O blogue é ele, fritem-no. Ele é a mulher elástica, ele é a Lara Croft, ele é tudo, é todos. Ele é o Sindroma. O quê? Pensavam que o Sindroma era eu, pobres desgraçados? Eu ia lá escrever textos tão espirituosos, quando há mais de dez anos que toda a gente sabe que não tenho graça nenhuma...!? É o fantasma. Aula de substituição para ele. Eternamente!!!

3 comentários:

Anónimo disse...

Não tenho complexos. A minha fealdade é deliberada: serve para melhor esconder o meu brilho.

Ana C Marques disse...

Que Ostra lamechas.

fantasmadaopera disse...

...coitadinho deste sindrominha....tão vítima...a sacudir a água do seu capotinho...tadinho...POIS PREPARA-TE QUE AINDA AGORA OS TEUS TORMENTOS COMEÇARAM!!!! E A VERDADE É MAIS FORTE QUE AS ALGEMAS!!!!E MAIS VALE UM PÁSSARO NA MÃO QUE UMA GIBÓIA!!!
Quanto à ostra...gostava de lhe puxar o brilho à pérola...