Atelier de Escrita Criativa dos Professores da ESLaVO sol começara a pôr-se em Cactus city. O silêncio imperava. Talvez em algumas janelas assomassem rostos amedrontados, por trás de resposteiros velhos, no momento em que, cataclop-cataclop-cataclop, o forasteiro atravessou a rua principal, se aquilo era uma rua, levantando nuvens de poeira sob os cascos do seu cavalo. Secas Kid desmontou elegantemente, amarrou o cavalo junto ao bebedouro e entrou no saloon, com as esporas tilintando. Abriu as portas com um safanão - daquelas, estão a ver, de ripas, que vão e vêm - e, num instante, penetrava no espaço reservado. Numa mesa, escreviam-se actas. Um velho batoteiro, Bafodeonça, via, por um espelho na parede, as actas do adversário. Tinha bom jogo - pouco insucesso a justificar. Que fazer? Zumbiam moscas no ar. De uma pianola desafinada saíam uns sons verdadeiramente pavorosos: era o sempiterno fantasmadaópera, que ainda não desistira de fazer daquela pacata cidade uma cidade fantasma. Num palco que já tinha conhecido melhores dias Dolores, Irene e Judites ensaiavam os passos do can-can para essa noite, em que se esperava a visita da proprietária do rancho «All Mine», a famigerada Missy Lurdes.
Secas Kid aproximou-se de um homem sombrio que, debruçado sobre o balcão comprido bebia um copo de leite por uma palhinha. Era Boss Lucas: a barba por fazer, o sorriso apagado, o chapéu de bombazina bege sobre a fronte, a mão apoiada ao cinto, a estrela de sheriff refulgindo ao peito davam, ao conjunto, o ar de que estava ali um tipo com quem era melhor que se não metessem.
Secas Kid disse-lhe:
- Encontrei-te, por fim. Chegas ali fora um instantinho? Não tens medo, não?
Os olhares de um e de outro cruzaram-se. Os batoteiros detiveram as canetas no ar: as actas tinham perdido o interesse. Não houve um sorriso. Saíram. Pessoas espreitavam mais afoitamente. O cangalheiro, com uma pochete sob o braço, assistia a tudo, enigmaticamente feliz.
Secas Kid gritou, enquanto o sol se punha ao fundo, lentamente, como se também não quisesse perder aquele espectáculo:
- Aposto que sou mais rápido que tu.
- Aposto que não.
- Hum!
- Humpf!
Frente a frente, não se perdendo de vista, iam ver quem sacava do sorriso primeiro. Embora o do sheriff não fosse usado há muito e estivesse enferrujado, ele tinha boas hipóteses. Tinha novas munições: o Benfica vencera.
Três... dois...
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