14 dezembro 2005

JP E O FANTASMADAOPERA

O homem que vemos no seu quintal, regando as flores, com ar bonacheirão, um bigode, algum ventre, é o mesmo colega simpático que anima, com as suas inocentes caricaturas, a sala dos professores; e que passa horas a resolver as provas de exame de EVT, de régua, compasso e transferidor, suando abundantemente, quando lhe toca ser júri; e que alegra, com a sua viola sempre bem afinada, algumas récitas escolares. Chegámos a lamentar deveras quando, precisamente numa dessas récitas, periclitantemente sentado numa cadeirinha, o senhor, que nos brindava então com a sua música, se desequilibrou e deu um imerecido tombo. Ninguém se riu do acidente (muaaah ah ah ah ah... Desculpem, isto é uma espécie de tosse nervosa que me dá sempre que me lembro do tombo, ih, ih, ih...). É um homem bom e um bom compincha, que apetece ajudar a atravessar a rua. E, no entanto, não se deixem enganar. Este senhor, o pacato JP, gentil e cordato, transforma-se, sob efeito de um xarope que o próprio terá inventado, no terrível... tremo só de lhe pronunciar o nome... as minhas veias gelam - sinto tudo aquilo que julgo que deverá sentir qualquer professor a quem acabem de ameaçar: «És o primeiro da lista para as aulas de substituição e... olha, que giro, hoje só faltou um professor...!» ... mas dizia eu, transforma-se no terrível fantasmadaopera. Ó mães, quando à noite, muito tarde na noite, ouvirdes cantar o hino do glorioso em falsete, e uma sombra barriguda se projectar na parede, trancai as vossas filhas e os vossos filhos. Trancai-vos a vós mesmas. Escondei os próprios maridos. É a hora do fantasmadaopera. É uma alma panada. Não, não me enganei, embora careça de me explicar: existem as almas penadas, sim, mas as piores, a que o mal aqueceu e esturricou de mais, são as almas panadas. É noite. Escrevi o que escrevi. Escondo-me agora sob a mesa do computador. Tremendo. E já oiço, ao longe, aproximando-se... tum! tum! tum! A todos a quem amei, adeus. Adeus!

3 comentários:

fantasmadaopera disse...

...mas os fantasmas não regam flores nos quintais...isso era Vito Corleone, Padrinho dos bem aventurados, antes da fatal síncope k o mandou para os diabinhos,,,
...mas os fantasmas não têm barriguinha...eles são etéreos, voláteis, imateriais...terão outras coisas, sim....
...e eles não procuram, à noite as pobres vestais virgens, que as mães a custo protegem...não!!as ditas vestais matam as mães, escorraçam os pais, pegam fogo aos irmãos e à casa, só para se libertarem e disfrutarem da sua (do fantasma) companhia...
...bem podes tremer, ó ímpio e corrupto ser, pois a tormenta aproxima-se...eh! eh! eh!

Gil Duarte disse...

Tu, um ser etéreo e volátil??? Aaaaah ah ah ah ah... desculpa, não estou melhor da tosse. Não, a minha teoria é que és mais Dr. Jeckil e Mr Hyde: de dia, um pacato JP, um anjo que cai da cadeira a baixo, e à noite, após o xarope, tornas-te num depravado. Mais: uma alma panada é menos etérea e volátil que uma alma penada!

fantasmadaopera disse...

...Dói ver a ignomínia colada nessas tuas palavras...
...dói ver a superficialidade desse argumentos... e penada e panada...bolas precisas de ir ao ESTÁDIO DA LUZ, papar uma bifana mas conhecer a diferença...
...eu até te ofereço um bilhete, malandreco...