12 dezembro 2005

OS CARACTERES (I)

Atelier de Escrita Criativa dos Professores da ESLaVMuitos séculos após Teofrasto ter escrito «OS CARACTERES», eis que a Dra. Télia Frasco se prepara para apresentar na Universidad Completense (Madrid) a sua dissertação de mestrado, «OS CARACTERES DOS PROFESSORES PORTUGUESES», de que aqui nos orgulhamos de aprsentar uma brevíssima e incompleta síntese. Talvez o leitor se reconheça em algum destes caracteres, ou se divirta identificando conhecidos seus...

O FOFO - O Fofo é o professor que se vê a si próprio como Mãe-galinha e aos seus alunos como pintainhos. A palavra «fofo» é, precisamente, uma das suas palavras constantes quando se dirige aos alunos; outras, são: «querido», «amorzinho», «pequeno». A maneira como interpreta os actos dos alunos tende a ser excessivamente inocente. Perante um gesto obsceno feito por um deles com o dedo, responderá: «Já vi o teu dedinho no ar, Nuno. Vá lá, querido, dá então tu a resposta...». Ou, sendo professora, é perfeitamente capaz de perceber «fofa» quando lhe chamam... outra coisa qualquer. Tudo comove o Fofo: uma caixinha de bombons no seu aniversário ou um raminho de flores no momento da auto-avaliação...

O ALUNÃO - O Alunão tanto pode ser o professor que não cresceu mentalmente, como aquele que pensa: Se não consegues vencê-los, une-te a eles. Acaba, é claro, por ser mais papista do que o Papa, isto é, do que os próprios alunos. Com piercings, brinco e tatuagem, camisa acima do umbigo, calças a cair, usa, na sua ânsia de se mostrar jovem, palavras que ultrapassam em modernidade os próprios alunos. «O que é que o cota disse?», perguntam-se estes, cruelmente.

O IMPOTENTE - O Profe impotente é o que, pura e simplesmente, se demite: chega vagarosamente, com um ar de absoluta abstracção, e entra na sala alheio de todo aos alunos encapuçados, ou de boné com pala para trás, ou para a frente, às conversas, aos gritos, aos aviõezinhos de papel, aos tombos de carteiras, às cábulas, ao copianço, às lutas no interior da aula, aos simulacros de sismo e, quando sai, aos alunos com cigarro na boca, em cada canto, às bichas para o bar, às bichas para a cantina... É um professor indicado para aulas de substituição, porque não chega a dar por elas.

O SUPERCOORDENADOR - Manda e desmanda, faz e desfaz, põe, dispõe, decide, convence e vence, reúne, responde; está em todo o lado ao mesmo tempo, abraçando mil pastas, sempre com solução para tudo. Os Executivos dependem de professores com esta capacidade de multiplicação de si. Perante uma tal omnipresença, haverá quem se pergunte se não é Deus. Erro crasso: o próprio Deus precisa, às vezes, de lhe pedir conselho. Também Deus depende dele.

O ASSESSOR - É o não-professor típico. Como já não dá aulas há variadíssimos anos ou, pelo contrário, acaba de se licenciar e não faz a mais pálida ideia do que se passa numa escola, o ME percebe que se trata da pessoa ideal para «teorizar» sobre as medidas que temos depois de papar.

Futuramente, serão revelados outros. Mas a Dra. Télia Frasco agradece, desde já, todos os contributos.

1 comentário:

PLANETAZUL disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.