INTRODUÇÃO
Tinha proposto ao meu editor um título mais apropriado a esta autobiografia, o qual seria: JP Coelho, «o» Mourinho que o Mourinho Gostaria de Ter Sido.
Por razões que não são para aqui chamadas, consenti em que ficasse como está: um título que deve ser lido ironicamente, como é evidente, porque, por muitas voltas que se lhe dê, eu não sou nem quero ser o Mourinho da Educação - um homem que treinou o... blaaaargh... Futebol Clube do Porto -, o Mourinho é que, pelo contrário, almeja ser o JP Coelho do futebol.
Quero desde já deixar registado que, se vierem a fazer um filme baseado nesta autobiografia, George Clooney deverá interpretar o meu papel. Aliás, já tive ocasião de abordar o próprio e ele, assim que percebeu que não se tratava de um assalto, achou muita piada à ideia: tive de me vir embora porque porque não consegui que o homem parasse de rir...
Por razões que não são para aqui chamadas, consenti em que ficasse como está: um título que deve ser lido ironicamente, como é evidente, porque, por muitas voltas que se lhe dê, eu não sou nem quero ser o Mourinho da Educação - um homem que treinou o... blaaaargh... Futebol Clube do Porto -, o Mourinho é que, pelo contrário, almeja ser o JP Coelho do futebol.
Quero desde já deixar registado que, se vierem a fazer um filme baseado nesta autobiografia, George Clooney deverá interpretar o meu papel. Aliás, já tive ocasião de abordar o próprio e ele, assim que percebeu que não se tratava de um assalto, achou muita piada à ideia: tive de me vir embora porque porque não consegui que o homem parasse de rir...
CAPÍTULO UM: OS VERDES ANOS («VERDES», SALVO SEJA!)
Principiei a falar, muito cedo: ainda nem nove horas da manhã seriam quando meu pai me ouviu a primeira palavrinha. Tinha eu para aí uns seis anitos, e o bondoso progenitor pegou em mim pelo bigode, que era também já precoce, e correu até à sala, onde se encontrava a mãe recebendo umas visitas.
- Querida, querida! O Dentolas [era assim que me tratavam os meus papás] disse a primeira palavra. Disse «Papá»!
Pediram-me que repetisse. A mãe escutou atentamente.
- Olha que o bruto do teu filho não disse «papá». O que ele disse foi «papa». Já quer comer outra vez! Livra! Mais vale sustentar um burro a pão de ló...
Proverbial ignorância de adulto. O que eu realmente quisera dizer fora «Papa», como em «Sua Eminência». Ser Papa foi o meu primeiro sonho de grandeza, a minha ambição primordial.
Mas com o tempo, percebi que um Papa faz muito pouca coisa e passa demasiado tempo sentado. Só que nem tudo era bom na sua função: teria também de usar saias. De modo que fui mudando de ideias - resolvi tornar-me professor: assim, segundo o meu entendimento, que é o da Sra. Ministra da Educação, como professor também teria de fazer pouca coisa, também passaria o tempo sentado - e ninguém me obrigaria a usar saia. Melhor, pois, do que ser Papa. Com essa opção principiou o meu glorioso destino.
Quando me encontrava com os meus amigos, que felizmente mantenho, havia sempre discussões por causa das brincadeiras. Eu já queria brincar aos professores. «E como é isso?», perguntava-me o Augustinho. «Bem», explicava eu, «sentas-te». «E depois?», insistia o Augustinho. «Depois», esclarecia eu, «enquanto os que fazem de alunos brincam, como se estivessem no recreio, eu, o professor... continuo sentado!»
O Augustinho, muito activo, não gostava da ideia. Contrapunha logo com a sua brincadeira das touradas, que já era uma mania.
«Vamos a uma pega, Dentolas? Vá lá, tu rabejas.»
«Eu???»
«Não queres ser o rabejador? Então, fazes de boi...»
Eu detestava fazer de boi. Portanto, mudava logo a direcção da brincadeira.
«Vamos jogar mas é aos índios e aos cóbois...»
E dizia de lá o Nelsinho, que já topara o meu desagrado pelas boisices:
«E tu eras o grande chefe índio Boi Sentado...»
Já desesperado, eu ainda tentava:
«Nada de bois, pá, nada de bois. Vamos brincar aos homens do espaço...»
«Sim», lembrava-se o Abelinho, que usava sempre uma mochila muito pequenina, onde nem lhe cabiam os livros. «Tu eras um extraterrestre meio-bovino.»
Eu ameaçava, então, que já não queria brincar com eles, que me ia dali embora.
E um:
«Eh, pá, não BOIcotes. Ah! Ah! Ah!»
TODOS (menos eu) - Ah! Ah! Ah!
OUTRO - Pronto, pá, tens razão, é chato. Chega de BOIcas. Ah! Ah! Ah!
TODOS (menos eu ) - Ah! Ah! Ah!
AINDA UM OUTRO - Não te zangues. Não tens nada ar bovino. És até bem BOInito. Ah! Ah! Ah!
TODOS (menos eu) - Ah! Ah! Ah!
MAIS UM - És BOI, desculpa, bué da BOInito... Ah! Ah! Ah!
Se hoje revelo estas partes mais tristes, é para que os meus leitores percebam como é que o meu carácter teve de se moldar na adversidade, contra a incompreensão, a estupidez e a patetice dos outros. Muitas lutas tive de travar até me tornar no professor que hoje sou. Sentado como um Papa. Não fazendo rigorosamente nada - e sem saias!
Nos próximos capítulos, saiba como me transformei no terrível Fantasmadaopera
- Querida, querida! O Dentolas [era assim que me tratavam os meus papás] disse a primeira palavra. Disse «Papá»!
Pediram-me que repetisse. A mãe escutou atentamente.
- Olha que o bruto do teu filho não disse «papá». O que ele disse foi «papa». Já quer comer outra vez! Livra! Mais vale sustentar um burro a pão de ló...
Proverbial ignorância de adulto. O que eu realmente quisera dizer fora «Papa», como em «Sua Eminência». Ser Papa foi o meu primeiro sonho de grandeza, a minha ambição primordial.
Mas com o tempo, percebi que um Papa faz muito pouca coisa e passa demasiado tempo sentado. Só que nem tudo era bom na sua função: teria também de usar saias. De modo que fui mudando de ideias - resolvi tornar-me professor: assim, segundo o meu entendimento, que é o da Sra. Ministra da Educação, como professor também teria de fazer pouca coisa, também passaria o tempo sentado - e ninguém me obrigaria a usar saia. Melhor, pois, do que ser Papa. Com essa opção principiou o meu glorioso destino.
Quando me encontrava com os meus amigos, que felizmente mantenho, havia sempre discussões por causa das brincadeiras. Eu já queria brincar aos professores. «E como é isso?», perguntava-me o Augustinho. «Bem», explicava eu, «sentas-te». «E depois?», insistia o Augustinho. «Depois», esclarecia eu, «enquanto os que fazem de alunos brincam, como se estivessem no recreio, eu, o professor... continuo sentado!»
O Augustinho, muito activo, não gostava da ideia. Contrapunha logo com a sua brincadeira das touradas, que já era uma mania.
«Vamos a uma pega, Dentolas? Vá lá, tu rabejas.»
«Eu???»
«Não queres ser o rabejador? Então, fazes de boi...»
Eu detestava fazer de boi. Portanto, mudava logo a direcção da brincadeira.
«Vamos jogar mas é aos índios e aos cóbois...»
E dizia de lá o Nelsinho, que já topara o meu desagrado pelas boisices:
«E tu eras o grande chefe índio Boi Sentado...»
Já desesperado, eu ainda tentava:
«Nada de bois, pá, nada de bois. Vamos brincar aos homens do espaço...»
«Sim», lembrava-se o Abelinho, que usava sempre uma mochila muito pequenina, onde nem lhe cabiam os livros. «Tu eras um extraterrestre meio-bovino.»
Eu ameaçava, então, que já não queria brincar com eles, que me ia dali embora.
E um:
«Eh, pá, não BOIcotes. Ah! Ah! Ah!»
TODOS (menos eu) - Ah! Ah! Ah!
OUTRO - Pronto, pá, tens razão, é chato. Chega de BOIcas. Ah! Ah! Ah!
TODOS (menos eu ) - Ah! Ah! Ah!
AINDA UM OUTRO - Não te zangues. Não tens nada ar bovino. És até bem BOInito. Ah! Ah! Ah!
TODOS (menos eu) - Ah! Ah! Ah!
MAIS UM - És BOI, desculpa, bué da BOInito... Ah! Ah! Ah!
Se hoje revelo estas partes mais tristes, é para que os meus leitores percebam como é que o meu carácter teve de se moldar na adversidade, contra a incompreensão, a estupidez e a patetice dos outros. Muitas lutas tive de travar até me tornar no professor que hoje sou. Sentado como um Papa. Não fazendo rigorosamente nada - e sem saias!
Nos próximos capítulos, saiba como me transformei no terrível Fantasmadaopera
2 comentários:
Já que entraste em pormenores de infância que tinhamos prometido nunca revelar...quero aquí corrigir a ideia das saias do papa ...Tu não gostavas de ser papa, não por ele usar saias, mas sim, porque as saias eram muito compridas...puxa lá pela memória. Sempre gostaste de usar mini-saia e nesse tempo também tinhas uma pochete.
Como é que adivinhaste, anónimo COBARDE???
Tu nem tinhas pinta pra me ver as pernas de mini saia...ficavas logo a tremer...
Cuida-te, meu (ou minha)!!!
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