CAPÍTULO II
OS VERMELHOS ANOS (AH!)
OS VERMELHOS ANOS (AH!)
A minha juventude ficou marcada por três acontecimentos maiores: o meu ingresso no benfica e ter conhecido o Lucas. Dos três, os dois mais importantes foi ter entrado para o Benfica. Falemos, pois, disso.
Quando conheci o Lucas, era este um pequeno agricultor que produzia um vinho único. Fiquemo-nos por este adjectivo para não ferir susceptibilidades. Ainda hoje, aliás, conservo, como prova de estima, a garrafa que ele então me ofereceu. E como o estimo muito, tenciono continuar a conservá-la. Para todo o sempre. Religiosamente.
O Lucas e eu éramos dois verdadeiros aventureiros, dois grandes malucos. Ai como recordo, agora, aquelas viagens que fazíamos à boleia, de mochila às costas, infatigáveis, duarante dias e dias, pela sua quintarola fora. As viagens eram demoradas - não pela extensão do terreno, que era a de um T-zero, mas porque não havia quem passasse para nos dar boleia, de modo que dávamos cinco ou seis passos e depois sentávamo-nos a petiscar de um farnel, a seguir andávamos mais um pouco e logo após tínhamos de dormir a sesta. Que saudades. Foram as minhas viagens mais selvagens!
Foi numa delas que o Lucas me confessou o seu sonho: mandar. «Mandar o quê? A quem? Ou em quê? Ou em quem?», perguntei. «Mandar», insistiu ele que, obviamente, ainda não pensara nos pormenores.
Propus-lhe que reuníssemos os nossos sonhos, e foi assim que partimos ambos à conquista da escola de Linda-a-velha. Aí chegados, eu desatei a ser professor e o Lucas desatou a mandar. Basicamente, nenhum dos dois fazia nada. Estávamos realizados.
Ainda me lembro do dia em que apareceu, no gabinete do Lucas, um certo sujeito de que, infelizmente, terei ainda de vos falar em próximos capítulos. Eu estava de costas, não o vi logo. Ouvi o Lucas dizer-lhe: «Tenha paciência, bom homem, mas hoje já dei...» Voltei-me: diante de nós estava um tipo com um nariz tão descomunal que só podia ser um complexo de superioridade, e com muito mau aspecto. Estendeu-me gentilmente a mão, e eu pus-lhe uma moeda na palma.
- Perdão, não estou aqui a pedir. Venho apresentar-me. Sou o novo professor de filosofia... -, disse ele, com um ar profundamente indignado mas, em todo o caso, não me devolvendo a moeda.
Na altura, não sabia que aquele indivíduo seria o meu inimigo figadal - o Sindroma, cujo nome não consigo pronunciar sem ranger os dentes.
O tempo passava. E Lucas, entretanto, transformara - como já foi dito noutro lugar pela Mulher Elástico - o seu outrora pacífico gabinete num terrível e ousado laboratório científico. Punha aquele semáforo vermelho à entrada, dizia, cinicamente, «Estamos em reunião», os funcionários passavam por ali em bicos dos pés, não se fazia ruído, falava-se em surdina... mas todos sabíamos que, não olhando a meios, o chefe Lucas se dedicava a perigosíssimas experiências de sono, reagindo muito mal a qualquer ruído que o despertasse.
Um dia, desrespeitei o semáforo. Andava roído de curiosidade. Funcionárias tentavam travar-me, pessoas levavam a mão à cabeça, «Pelo amor de Deus, não entre...!», mas nada me deteve. E de repente, no instante em que punha um pé no interior do antro, um ressonar inumano me transfigurou. O meu rosto contorceu-se, entortou-se. Os botões da camisa e das calças soltavam-se todos, disparando em várias direcções. Fiquei branco como cera. Tentei fugir, mas, cá fora, todos fugiam de mim. «Que horror, um fantasma...!», gritava a Dona Noémia. Nascia, assim, podemos dizer que de uma trágica experiência científica... o FANTASMADAOPERA...!!!
Quando conheci o Lucas, era este um pequeno agricultor que produzia um vinho único. Fiquemo-nos por este adjectivo para não ferir susceptibilidades. Ainda hoje, aliás, conservo, como prova de estima, a garrafa que ele então me ofereceu. E como o estimo muito, tenciono continuar a conservá-la. Para todo o sempre. Religiosamente.
O Lucas e eu éramos dois verdadeiros aventureiros, dois grandes malucos. Ai como recordo, agora, aquelas viagens que fazíamos à boleia, de mochila às costas, infatigáveis, duarante dias e dias, pela sua quintarola fora. As viagens eram demoradas - não pela extensão do terreno, que era a de um T-zero, mas porque não havia quem passasse para nos dar boleia, de modo que dávamos cinco ou seis passos e depois sentávamo-nos a petiscar de um farnel, a seguir andávamos mais um pouco e logo após tínhamos de dormir a sesta. Que saudades. Foram as minhas viagens mais selvagens!
Foi numa delas que o Lucas me confessou o seu sonho: mandar. «Mandar o quê? A quem? Ou em quê? Ou em quem?», perguntei. «Mandar», insistiu ele que, obviamente, ainda não pensara nos pormenores.
Propus-lhe que reuníssemos os nossos sonhos, e foi assim que partimos ambos à conquista da escola de Linda-a-velha. Aí chegados, eu desatei a ser professor e o Lucas desatou a mandar. Basicamente, nenhum dos dois fazia nada. Estávamos realizados.
Ainda me lembro do dia em que apareceu, no gabinete do Lucas, um certo sujeito de que, infelizmente, terei ainda de vos falar em próximos capítulos. Eu estava de costas, não o vi logo. Ouvi o Lucas dizer-lhe: «Tenha paciência, bom homem, mas hoje já dei...» Voltei-me: diante de nós estava um tipo com um nariz tão descomunal que só podia ser um complexo de superioridade, e com muito mau aspecto. Estendeu-me gentilmente a mão, e eu pus-lhe uma moeda na palma.
- Perdão, não estou aqui a pedir. Venho apresentar-me. Sou o novo professor de filosofia... -, disse ele, com um ar profundamente indignado mas, em todo o caso, não me devolvendo a moeda.
Na altura, não sabia que aquele indivíduo seria o meu inimigo figadal - o Sindroma, cujo nome não consigo pronunciar sem ranger os dentes.
O tempo passava. E Lucas, entretanto, transformara - como já foi dito noutro lugar pela Mulher Elástico - o seu outrora pacífico gabinete num terrível e ousado laboratório científico. Punha aquele semáforo vermelho à entrada, dizia, cinicamente, «Estamos em reunião», os funcionários passavam por ali em bicos dos pés, não se fazia ruído, falava-se em surdina... mas todos sabíamos que, não olhando a meios, o chefe Lucas se dedicava a perigosíssimas experiências de sono, reagindo muito mal a qualquer ruído que o despertasse.
Um dia, desrespeitei o semáforo. Andava roído de curiosidade. Funcionárias tentavam travar-me, pessoas levavam a mão à cabeça, «Pelo amor de Deus, não entre...!», mas nada me deteve. E de repente, no instante em que punha um pé no interior do antro, um ressonar inumano me transfigurou. O meu rosto contorceu-se, entortou-se. Os botões da camisa e das calças soltavam-se todos, disparando em várias direcções. Fiquei branco como cera. Tentei fugir, mas, cá fora, todos fugiam de mim. «Que horror, um fantasma...!», gritava a Dona Noémia. Nascia, assim, podemos dizer que de uma trágica experiência científica... o FANTASMADAOPERA...!!!
4 comentários:
Que o J.P. é o Fantasmadaopera ficou claro neste episódio até agora desconhecido. O que não percebo é porque é também «O» Mourinho!?...
Tás a ver, ó Sindroma, o que dá confundires a pura ficção com a realidade???
O COBARDÃO (ONA) do Anonimo já sabe de mais...
Devias ter mais ...faltou-te algo...nao sei se me entendes!!!
as perigosíssimas experiências de sono do chefe Lucas estão famosas....
Já agora para o COBARDÃO (ONA) uma ajuda: se queres saber como o Mourinho surge,PÕE ESSA CABEÇA A JEITO - pode ser a 20 cm do chão - que logo sentirás nela (CABEÇA OU ALGO SEMELHANTE)a verdadeira rsposta...
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