24 janeiro 2006

O FIO DA NAVALHA: A COLUNA DE DUARTE PARADO COM-ALHO

Atelier de Escrita Criativa dos Professores da ESLaV
1. Sim, é verdade que fiquei estarrecido quando soube da vitória «sonora» (como a qualifica um jornal italiano, vá-se lá saber porquê...) do Professor Aníbal Silva. Mas tenho vindo a digerir, apesar de as minhas digestões nunca terem sido fáceis. Ler os jornais que têm saído ultimamente contribuiu para que eu principiasse a ver, em Aníbal Silva, um homem, com as suas limitações, as suas manias, as suas obsessões e algumas qualidades que reserva, avaramente, para os amigos mais íntimos. Talvez lhes revele, até, algumas ideias. Sim, sim, sim, acredito nisso.

2. Por exemplo, o jornal 24 Horas expunha, hoje, tudo acerca da sua mulher. Contava que Maria Silva é uma senhora de uma extrema simplicidade em todos os capítulos. É, verdadeiramente, uma simples. Mas - atenção - divertidíssima na intimidade. (Não me perguntem que tipo de intimidade lhe dará tanta vontade de rir. Mas anotem, como eu advertia, que a intimidade cavaquina pode ser, de facto, surpreendente. Discreta e pudicamente, desçamos então o pano sobre esse assunto!)

3. Do que se pode entretanto divulgar, ficamos a saber, pelo mesmo jornal de referência, que dona Maria Silva cozinha e lê ao mesmo tempo. O que não soa tão chocantemente como poderia parecer a uma análise superficial: na verdade, a leitura não tem de ser necessariamente uma tarefa exclusivista e absorvente. Mesmo eu, que sou quem sou no seio da inteligentzia portuguesa, tenho o hábito de ler na casa de banho, como, aliás, muitos outros génios. E, aí, a única coisa que espero que seja absorvente, é o papel higiénico.

4. Contudo, pareceram-me enigmáticos alguns comentários de amigas da nova Primeira Dama. Dona Glória de Matos afirma que se «diverte a ouvir Maria declamar Fernando Pessoa». Diverte-se a ouvi-la declamar Fernando Pessoa? Não é a contar anedotas, é mesmo a declamar Fernando Pessoa? Significará isso que dona Maria declama um pouco para o malzote, e que os pseudo-amigos, rindo-se à sua custa, não se cansam de lhe pedir: «Vá lá, querida, declama aquele de que tu gostas, sim, sim, sim, esse mesmo, o do menino de sua mãe...» - só para, enquanto a ingénua senhora o recita, trocarem olhares cúmplices, prestes a explodirem de riso, escondendo os rostos vermelhos e eufóricos nas chávenas de chá?

5. Outra amiga, a Isabel Silveira Godinho, confessa que dona Maria Silva é uma excelente dona de casa e uma cozinheira de mão cheia - apesar de, o que sempre é suspeito, não conseguir lembrar-se de nenhum prato de que goste, confeccionado pela senhora. De maneira que, perante estes tristes e pouco abonatórios exemplos, o meu primeiro conselho é que o casal presidencial repense os seus amigos.

6. Neste espírito, venho, entretanto, apresentar-me como potencial novo frequentador do seu círculo. Ainda apareci na sede da candidatura do Professor, para festejar, logo que me recompus dos resultados catastróficos, isto é, assim que me lembrei de que tudo tem dois lados, e de que o catastrófico pode tornar-se óptimo, desde que se saiba mudar a tempo de lado. Sem nos trairmos a nós próprios: se tudo tem dois lados, nem a coisa deixa de ser o que é qualquer que seja o lado por onde a olhemos, nem nós deixamos de ser nós, quando se trata de se escolher o lado que melhor nos fica na altura. E, no meio da multidão festiva, gritando «Cavaco! Cavaco!», encontrei muitos amigos que me tinham acompanhado na campanha do poeta Alegre, e que haviam sido, todos eles, cem por cento alegristas, bem como alguns da campanha do Soares, como o Dr... e o sr...., que me abraçavam, agora, retumbantemente, quase entornando o champagne, enquanto me berravam, comovidos: «Vitória! Vitória! Vitória! Cavaco! Cavaco! Cavaco!»

7. Senhor Professor, inteiramente ao seu dispor, conte, por favor, comigo, com o meu saber, a minha cultura refinada, a minha vocação para estar onde melhor lhe parecer, desde que seja em França. Viva Cavaco.

6 comentários:

Lara Croft disse...

Não esquecer o pai, Teodoro, que a propósito da chegada do seu filho à presidência, nos informa: "Nem eu nunca pensei que ele tivesse capacidade para isso...", ontem no telejornal da rtp1. Mas pronto. Dias Loureiro também nos informou entretanto que Cavaco gosta de ler policiais. Agatha Christie, ou uma coisa assim, pensa ele.

Anónimo disse...

ó sindroma...tudo tem dois lados???
e um triângulo,pá?? e um pentágono??
A tua refinada cultura não deve conhecer estes artefactos geométricos de cariz mais popular...

Gil Duarte disse...

A violência e má-criação da resposta que tenho para te lançar às ventas, exige que me resguarde, também, sob o manto prudente do anonimato. Mas para não me confundirem com outros anónimos, vou designar-me como Anónimo II, tá bem? Agora não se ponham a tentar identificá-lo, vejam lá...

Anónimo disse...

Olha, pá, cocó para ti

Anónimo disse...

yuppie caro amigo... que alegre ou louçã estou... hã, hã.
na verdade penso e digo: cava-cu!

Anónimo disse...

Fico estupefacto pelas noticias postas a circular e que são incisivas na forma de deturpar o professor e a sua querida esposa, pessoas do que mais fino vai aparecendo por aí. É meu conterrâneo e muito amigo das gentes algarvias, quiça futuro impulsinador do MIA.
Eu avisei-os
Joaquim Vila Real S'António