05 janeiro 2006

O GRANDE CONGRESSO - 1 - A viagem

1. ANA PENTECOSTES, em pleno cento do seu gabinete, questiona LURDES ORVALHADA..." Lurditas, já compraste os bilhetes?? sempre sacasta 10% de desconto através da neT??" - " Pró Ballet Nacional de Espanha no CCB...??" - responde LURDES ORVALHADA com ar um pouco confuso e ausente... " Não, sua cabeçuda...pró combóio...irra...Para a nossa ida ao Porto..."- " Ah...ao Porto...mas é claro , ao Porto...ao nosso Congresso...que cabeça a minha...Mas sim já fui ao Multibanco e comprei para todos; dia 10 arrancamos de manhã e voltamos a 14" - "Óptimo! temos que avisar os outros e combinar as horas de nos encontrarmos na estação...é no Oriente ou Sta. Apolónia?" - "É Sta Apolónia, ANA", confirma LURDES.
2. Dia 10, pelas 9,30h da manhã, no cais de embarque nº4 de Sta. Apolónia, encontra-se um grupo de curiosos personagens, a saber: ANA PENTECOSTES, LURDES ORVALHADAS, TERESA PRANTOS, ANABOLA MAOÍSTA e PAXÊKU...-Diz este último para o grupo.."Tou ansioso por chegar ao Porto e participar no nosso Congresso de Druídas PsicoFilosóficos...Este ano vai ser grandioso..." "Sim. grandioso como o apêndice que te nasce de entre os olhos..." pensou, sem dizer, TERESA PRANTOS..."Vamos meninos, entremos na nossa carruagem antes que venha a maralha toda...isto não é o refeitório lá da escola..." - ordenou ANA PENTECOSTES. Todos subiram, calmamente, ocupando os seus lugares e instalando-se confortavelmente em 1ª classe. Após o sinal, o alfa pendular arranca em velocidade moderada, para logo depois, qual cavalo de crina ao vento, galopar vertiginosamente, galgando léguas atrás de léguas...
3. São 10.30 h; a lezíria vai passando, aos olhos dos nossos personagens, como um filme...ANABOLA MAOÍSTA pergunta tímidamente..."Trouxe aqui umas coxinhas de frango e uns salgaditos pra entreter...alguém quer? "Sim, passa aí uma coxa, que já mando uma certa larica" - estendeu a mão, gulosa, TERESA PRANTOS; Ninguém mais tinha fome. LURDITAS ORVALHADA lia, concentrada, um infólio de 840 páginas chamado "Crítica da Razão Impura"...ia na página 10....ANA PENTECOSTES, com óculos postos, alinhavava umas notas num pequeno bloco, extraídas da sua leitura atenta de "A Idiosincrasia das Abetardas nos Primeiros Anos de Vida"...TERESA PRANTOS, folheava, nervosamente e com os dedos engordurados da coxa já deglutida, o último nº da revista "PsikeFilos", e comenta: "Diz aqui, no artigo do Dr. AlmaLimpa Penaguião uma coisa muito interessante...ora oiçam: os fundamentos do pensamento filosófico são como as fundações dum prédio de 12 andares: são só betão...isto , numa perspectiva psicofilogenéto-desenvolvimentista, conduz-nos, por certo ao âmago da ARGAMASSA...é espantoso, não acham???"Tretas..." atalha, convicta, ANA PENTECOSTES... " Eu cá acho que o gajo tem uma certa razão...não te parece??" intervém ANABOLA questionando PAXÊKU...mas este, embalado pelo suave ronco das rodas nos carris, já dormitava, com a cabeça bamboleando de um lado para o outro, enquanto no seu colo jazia, aberto na página 764, um magnífico exemplar de " Eu, Zaratustra, Miguel de Vasconcelos e Pedro Homem de Mello - Cartas"
4. Nisto entra no compartimento o revisor - pica bilhetes - para executar o seu controlo; PAXÊKU olha fixamente a personagem e é acometido de um súbito tremor...nas mãos, nos joelhos e nos dentes...a vista tolda-se....a atmosfera adensa-se insuportavelmente...ele vislumbra uma face morena, adornada com um lustroso bigode um pouco grisalho que remata uma boca que sorri para ele, mostrando dois apelativos e sexy dentinhos afastados...."Não... não acredito... é ele...também aqui...larga-me, assombração fantasmagórica...VAI-TE...VAI-TE...SOCORRO...SOCORRO.....AI..AI..AI...."- "Acorda,PAXÊKU...GAITA...tavas a sonhar e a fazer um escarcéu dos diabos..." diz TERESA PRANTOS abanando vigorosamente o sonhador... "Além disso, tens uma poça de urina junto aos pés...bolas...que vergonha...eu nem te conheço..." confirma ANA PENTECOSTES... "E babaste o livro todo...até está amarelo....que nojo..." - acrescenta ANABOLA ..." Caramba, pá...o teu suor pingou pra cima de mim.. e tou toda molhada na cabeça e nos ombros...é demais...devias tomar qualquer coisa...livra!!" remata LURDITAS ORVALHADA. PAXÊKU estava incrédulo...sonhara...tinha sido uma visão..."enfim, felizmente não era real...." - Começava a ficar mais calmo, limpando-se como podia...fechou o livro, arrumou-o na prateleira por cima da sua cabeça, junto à andrajosa pasta preta e encostou a ovalóide forma que se apoia no pescoço, no encosto do assento...o combóio estava a chegar a Coimbra B.
(CONTINUA)

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