19 janeiro 2006

PURO TEATRO: DIÁLOGO OBSESSIVO-VENENOSO

PERSONAGENS E INTÉRPRETES:

SINDROMA - J. PAXÊKHU
FATINHA - FÁTIMA FRANCO
PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA - UM PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

(Pancadinhas de Molière. Silêncio na sala. Ou quase: ouvem-se umas últimas tossicadelas e toca, algures, o telemóvel do Lucas, que, envergonhadíssimo, sopra: «Perdão! Perdão», e sai da sala para atender. Sobe o pano. Sindroma e Fatinha estão sentados na mesa dos fundos)

Fatinha: Tu andas um bocado obcecado com essa história da minha dieta, não é? É que quando te referes a mim, é sempre com a história do meu peso, e o meu peso para a frente e o meu peso para trás... não te ocorre mais nada a propósito da minha pessoa? Por que não falas da minha inteligência, ou de...?
Sindroma (doutoral): Porque isso não tem graça. O que tem graça é pegar nestas coisas das pessoas e andar à volta disso. Não devemos ter complexos, Fatinha. Devemos ser superiores a essas coisas. Olha para mim, por exemplo. Já viste como o fantasmadaopera se mete com o meu nariz? E então, pensas que me importo? É que nem ligo. A solução é rir-me de mim próprio também.
Fatinha: Com o teu nariz é diferente. Isso é uma coisa incontornável. E não podes fazer uma dieta para minorá-lo. Tens de viver com ele. Mais vale rires dele. Agora, isto do peso não tem nada de risível...
Sindroma: Não, não, não. Não podes ligar, pá. A propósito, o que é que queres dizer exactamente com isso de o meu nariz ser incontornável?
Fatinha: Deixa isso. É que vocês quando pegam numa coisa, parece que já não sabem sair de lá: é a pochete do outro desgraçado, as minhas dietas, as maldades da Madame...
Sindroma: Não te preocupes com isso, sê superior. Mas ouve lá. O meu nariz...? Hã? Achas que...?
Fatinha: Até porque eu já nem sou gorda. Bem nutrida, como diz o outro, não digo que não. Percebeste?
Sindroma: Hum?
Fatinha: Tu não estás com atenção. Nem ouviste o que te disse.
Sindroma: Ouvi, ouvi.
Fatinha: Não ouviste, não.
Sindroma: Ouvi, sim.
Fatinha: Não, não.
Sindroma: Sim, sim, sim.
Fatinha: O que é que eu disse, então? Vá lá, que é que eu disse?
Sindroma: Disseste nariz... aaah... não... disseste que...
Fatinha: Estás a ver? Não tinhas ouvido. Só pensas na porcaria do teu nariz. Tens um ego quase tão grande como o nariz.
Sindroma: Mas é assim tão grande como isso? É hiperbólico?
Fatinha: Ó Sindroma, por favor. Não tens espelhos lá em casa?
Sindroma: Na verdade, não. Tinha vários, mas sempre que olhava de repente, partia-os, um por um, com uma narigada.
Fatinha: Olha quem aí vem...
Sindroma: Quem é?
Fatinha: Disfarça, disfarça. É um professor de Educação Física. Destes é que devias ter coragem de falar no blogue.
Sindroma: É verdade...
Fatinha: As notas que alguns dão. Topa-se um aluno de dezoitos, e a E.F., já se sabe: dez. Estavam à espera do Einstein ou do Fernando Pessoa a ser bom em saltos no pelinto? A ganhar corridas? A marcar golos?
Sindroma: E que tal o corta-mato num dia frio e chuvoso?
Fatinha: Mas tens medo, não é? Tens medo deles, não é? Todos músculo, agilidade... Portanto, ficas-te pelo mais fácil: é a pochete, eu atrás de árabes, o fantasmadaopera a fazer não sei quê... coitado do fantasmadaopera. Esse não faz nada. É que nada. Nada, nada, nada. Nunca. Zero.
Professor de Educação Física: Boa tarde. Estão ocupados?
Sindroma (receoso, protegendo imediatamente o nariz): Aaaaaaaah...
Professor de Educação Física: Faltava-me um par para as danças de salão. Comecem a dançar, tá bem?
Fatinha (ofendida, porque gosta de danças de salão, mas não gosta de ser mandada): Desculpe lá!
Sindroma (cobardemente, tremendo muito, suando por todos os poros ao mesmo tempo): Vá lá, ó Fatinha. Que mal faz? Temos tempo. Dá cá a mãozinha, querida, rodopiemos, rodopiemos...
Fatinha (dançando com Sindroma): ... Em vez de te referires a estas coisas, não. É sempre a pochete e a dieta. Narigudo!
Sindroma (suando muito, tropeçando, pouco habituado a dançar, muito pata de chumbo): Gorda!
Fatinha: Ainda por cima é mentira. Sabes quantos quilos perdi? Narigudo!
Sindroma: Magriceela!!!

1 comentário:

Anónimo disse...

Fáfá tem razão! Tu só te metes com os mais fracos. Não consegues (não queres, seu cobardolas!) atacar os poderosos, os instalados,os lobys... Fraco! Gelatinoso! Verde!