28 janeiro 2006

SIMPLESMENTE BELÍSSIMA: 13º EPISÓDIO

Votou desconcentradamente, porque não tinha mais cabeça senão para o jovem professor de Educação Física. Votar era complicado. As listas tinham letras, aquilo era muita letra para a sua cabeça, a «K», a «S», a outra...! Já parecia uma aula de Português.
Quando o viu dirigir-se, de loura melena ao vento, para o campo de jogos, seguiu-o à distância. Sentou-se num daqueles degraus de pedra, observando uma turma a chegar e a aquecer com uma corridinha, enquanto o seu idolatrado os dirigia como um verdadeiro maestro, muito louro, o cabelo revolteando no ar, um apito dourado na boca. Tudo tão exacto, tão bem feito, tão rigoroso, tão melodioso - o som do apito no momento preciso, sem falhas...
(Ela não podia, naturalmente, adivinhar que não era o seu ídolo, o belo professor, que soprava o apito mas, na verdade, o apito que o soprava a ele. Porque não se tratava de um apito qualquer, não, era um apito inteligentíssimo. No momento certo, pfffft, soprava, e então, pelos ouvidos do professor saía a apitadela correcta, que comandava correctamente os alunos...)

Enquanto isso, Madame amarrara Cara Danjo e Dolores um ao outro. Não é que a experiência desagradasse a Cara Danjo, pelo contrário. Mas percebia que estavam em mau lençóis. E que, muito provavelmente, se seguiria a morte.
- Eu não sou uma vilã - afirmava, serenamente, Madame. - Tratam-me todos como se fosse uma vilã. Sou uma diva.
- Olhe dona divã - tentava Cara Danjo - eu çe fôçe á çenhôra pençáva duas vêzes pq eu tenho amigos em puzissões muito altas. (E pensava, por exemplo, no seu colega Maike, que limpava vidros em part-time, e chegava a ter de limpar janelas de prédios de seis e de mais andares...)
- Não me ameaces, ouviste? Tu não me ameaces. Chegou o momento da verdade! Vocês vão ser os primeiros a entrar nessa máquina.

Entretanto, o novo presidente do país, seguido ainda pela multidão, com Fatinha arrastada a contragosto, parava diante do palácio medieval de Madame.
Fatinha gritava:
- Qual conselheira qual carapuça. Não quero ser conselheira de ninguém, muito menos de si, deixem-me.

(CONTINUA)

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