31 janeiro 2006

SIMPLESMENTE BELÍSSIMA: 14º EPISÓDIO

Fatinha ainda remoía um não quero ir mas ninguém lhe ligava peva. Arrastada, agastada, estafada e ainda extenuada pelas andanças no deserto, esperava vir-se livre da Madame depressa.
Não se conseguia esquecer do que JP lhe dissera acerca do afastamento. Ele falava muitas vezes daquilo, afastamentos, cotas, planos, faziam parte do seu vocabulário, mas agora aquele afastamento tinha outro significado. Oh! O Chefe tinha sido afastado, agora recordava-se - os efeitos do jetlag só agora se dissipavam.
- Afastado? Como assim?! Quem o substitui? Não estava lá eu… alguém se lembrou de criar uma lista de substitutos? Ó rapaz! Passa aí o teu telemóvel!
Cara Danjo torceu-se, atado à Das Dores esticou o braço.
O seu saldo é inferior a 1 euro, aparece-lhe no ecrã.
Fatinha não suportava mais o ambiente sinistro da mansão da Madame; pouco habituada à bossa nova, desesperada por um samba, começava a ter demasiadas saudades das incursões na noite lisboeta.
Está-me a parecer que nem uma músiquinha tem por aqui, pensava olhando as pilhas de circulares, ordens de serviço e diários da república. A um canto, uma destruidora de papel e um caixote azul com um rótulo: Só papel - Já disse: SÓ PAPEL! Em cima da secretária um cinzeiro a transbordar e na sala um intenso cheiro a tabaco.
-Isto é só o trabalho de ontem à tarde! Conto contigo para analisares comigo o correio que chegou hoje e traduzir tudo para inglês. Tenho esperança que desse modo regresse a paz às nossas reuniões e todas percebamos aquilo que estamos a dizer. Do you understand?
-Entendi-te, retorquiu Fatinha! Tá-se mesmo a ver, ai tá-se, tá-se! Somos praí umas vinte e logo me havia de calhar a sorte a mim!
Madame enfureceu-se - Eu sabia que não podia contar contigo! Bam! Fecha a porta com estrondo.
-I'll be back!

(CONTINUA)

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