27 fevereiro 2006

CEUZINHA NO PAÍS eslavADO DE NOVO: II

Criou-se, na toca do coelhito, um enorme sururu: todos queriam ocultar-se atrás de Ceuzinha para não terem de enfrentar a Ministra-rainha.
Ceuzinha sentiu-se indignada com tamanha cobardia:
- Então, eu acabei de chegar a esta terra, não conheço aqui nada, nunca vi a tal rainha, e está tudo a esconder-se atrás de mim? Não há direito...!
- É que eu deixei uma coisa ao lume - disse o coelhinho Nelsito, e desapareceu como se levasse molas nas patinhas fofas (assim está melhor?)
- Agora me lembro que tenho de ir ao dentista... - esclareceu o gato. - É preciso coragem para se ir ao dentista. Felizmente que eu sou muito corajoso. - E pôs-se imediatamente invisível.
- Eu ando um bocado em baixo. Não tenho paciência para me meter em aventuras. Estou, digamos, retirado - falou, com voz de ópera, a Lagarta da Couve-vermelha. E, do mesmo modo, mas mais cabisbaixo que os demais, desapareceu.
Um por um, todos se foram ausentando, com as mais esfarrapadas desculpas:
- Tenho um chapéu para provar...
- Devia ter-me ficado pelos bolos com creme. Infelizmente, comi também um biscoito dietético e acho que ele me caiu mal. Com licença...
- Eu recebo hoje uns vagos professores universitários que vieram de muito longe por causa de uns inquéritos. É coisa importante. De nìvel. Depois telefono.
- Eu não estou a perceber nada do que zzzzzzze passa aqui... mas acho que é pouco zzzzzzzzsaudável...
No lugar onde, ainda há pouco se vivera um lanche ajantarado (sempre desejei usar esta expressão...), não existia, agora, senão um pouco de fumo largado pelos abandonos precipitados.
Ceuzinha saiu da toca. Diante de si estava a Ministra-rainha, pavorosa, irreal - só mesmo numa fantasia inspirada em «Alice no País das Maravilhas», ou num pesadelo, é que uma tal personagem teria possibilidade de existir -, gritando, com as veias do pescoço muito salientes, «Cortem-lhes o pescoço, coretem-lhe o pescoço!»
Nesse momento, do alto de um alto muro, ouviu-se uma voz:
- Tenho um castigo bem pior, Majestade!
Todos olharam para o alto, tentando descortinar a fonte da voz. «Todos» eram, para além da Ministra-rainha e dos seus soldados - cartas de jogar -, o coelhito, Xaxão, Fafá, Algusto, Lagarta, Maia, Pochato, que, curiosos, tinham voltado ao ponto inicial, amontoando-se, erguendo os olhos.
Em cima do muro encontrava-se Cabeça-de-ovo: na verdade, todo ele era um ovo, com dois braços muito fininhos, duas pernas finíssimas e uns quantos caracóis no cimo da casca.
- Qual é o castigo que tens em mente, Vavá? - atroou a rainha.
- AAA! - respondeu o ovo.
- O quê? - perguntou a rainha.
- AAA! - insistiu o ovo das pernas.
- Aaaah! - exclamou a rainha, radiante com a ideia.
- Aaaaah! - gritaram todos os outros, desesperados perante uma tal monstruosidade.
- Clemência, majestade! - gritava-se de todos os lados, perante o espanto de Ceuzinha, que não percebia nada daquilo. - Isso não. Corte-nos a cabeça. Antes a cabeça fora do pescoço. Cortada com uma cimitarra ferrugenta. Seja bondosa connosco, majestade: corte-nos a cabeça...

(CONTINUA)

1 comentário:

Anónimo disse...

A Ministra-rainha que se cuide e...AAA.Força Ceuzinha!