21 fevereiro 2006

CEUZINHA NO PAÍS eslavADO DE NOVO

Todas as personagens são inspiradas em colegas maravilhosos desta escola, que adoro. (Até porque são filões inesgotáveis); já acerca dos «inspiradores» de fora da escola, a conversa é outra.


Ceuzinha olhava-se uma manhã ao espelho quando lhe ocorreu esta pergunta: «Que haverá do outro lado? Que mundo será aquele que daqui se vê, semelhante mas invertido?»
Estendeu a mão: e nesse dia, por uma inexplicável magia, qualquer coisa assim que desafia as leis da natureza (como, por exemplo, não ser chamada a entrar de substituto), a sua mão estendida penetrou na superfície do espelho como se entrasse em água.
Ceuzinha pensou: «Que faço agora?»
Tinha algum receio e tinha alguma curiosidade. Sabia que aquele instante era decisivo: se não o aproveitasse, se não saltasse para o outro lado, a magia sumir-se-ia e tudo regressaria ao mesmo de sempre. Por outro lado, se desse o salto, que seria da sua vida? Que descobriria? E se não regressasse? E se...?
Não hesitou mais. Decidiu-se. Saltou.
Durante um tempo longo, não teve noção do que lhe sucedia. Caía, caía, caía, como em certos pesadelos, sem nada a que se segurar, caía, caía, caía, já sem noção do em cima e do em baixo, caía, caía, caía, cansada de cair, cair, cair.

Quando reabriu os olhos, estava estendida num prado.
Logo a seguir viu passar por ali, aos saltos, como se levasse molas nas patas, o coelhinho Nelsinho, às voltas ainda com o tempo, mirando um relógio daliniano.
- Não há tempo, não há tempo - insurgia-se o coelhito, muito indignado -, desde que inventaram os relógios que nunca mais consegui ter tempo para nada...
- Bom dia, coelhinho - cumprimentou delicadamente Ceuzinha -, dizes-me onde vais?
- Não há tempo, não há tempo - queixava-se o coelhinho.
E desapareceu.

Sentindo-se abandonada pelo único ser vivo daquele mundo, Ceuzinha desatou a chorar com um grande alarido.
Nesse momento, ouviu um zumbido.
-Quem és tu? - perguntou Ceuzinha, ainda fungando, a uma abelha de listas verticais (para ficar com um ar mais magrito) que lhe pousara no ombro.
- Sou a Abelha Maia - respondeu-lhe.
- E como se chama este país?
- País Eslavado de Novo...
- Sabes o que me faz tudo isto lembrar? Uma história da minha infância. Havia um coelhinho que tinha a mania das horas, e já por aqui passou também um. Com relógio e tudo. Nessa história, o coelho ia tomar chá a casa de um chapeleiro louco. Também aqui existe o Chapeleiro Louco?
- Não. Nós temos uma chapeleira, que é a nossa querida Xaxão. Tem uns chapéus maravilhosos. Mas não é louca. Chamamos-lhe excêntrica. É a Chapeleira Excêntrica. Aqui, ela é que vai tomar chá a casa do coelhinho. Aliás, lá vem ela. É uma rapariga maravilhosa, «mas» que gosta imenso de conversar.
- «Mas»? Conversar é bom...
- Espera, e vais ver.
- Bom dia - dirigiu-se Ceuzinha à Chapeleira Excêntrica, que acabava de chegar com um maravilhoso chapéu na cabeça.
- Bom dia estás boa eu ando menos bem estou muito cansada desde que me meti a fazer aquele curso de trezentas e trinta cadeiras que me sinto perfeitamente arrasada até porque os professores são uns idiotas chapados e por isso estava a ver que hoje nem me conseguia levantar a horas de ir tomar chá não sei se viste por aqui o coelhinho Nelsito deve estar à minha espera tenho de ir andando - mas a verdade é que não havia maneira de ir andando - espero que o coelhinho Nelsito não esteja aborrecido como da última vez credo olha lá ó menina a propósito não queres vir comigo tomar chá - Ceuzinha ia responder mas depressa se apercebeu de que as perguntas de Xaxão se pegavam umas às outras não dando tempo para que alguém enfiasse alguma resposta entre elas. - Acho que era boa ideia - continuava Xaxão, sem respirar - e tenho a certeza de que o coelhinho não se ia importar por eu levar uma convidada aliás podia levar duas não queres também vir ó abelhinha...
Foram andando as três. Ceuzinha já deixara de a ouvir.
- ... e depois o professor pediu-me um trabalho e blá-blá-blá blá-blá-blá blá-blá-blá e eu tive de lhe responder que antes das férias não contasse com ele e blé-blá-blá blá-blá-blá...
- Chiçazzzzzzzzzzz - zumbia a abelhinha, já zzzzzzzonzzzzzzza.
Chegaram, ao fim do que lhes pareceu uma eternidade, à casa do coelhito.
Lá dentro, em torno da mesa, encontravam-se os amigos: Lagarta da Couve-vermelha, de bigode, que, mal viu aparecer público, desatou a entoar uma ária de ópera, Fafá do Deserto, preocupada com a dieta, separando, cuidadosamente, as bolachinhas dietéticas, dos bolos com creme, e escolhendo, por fim, só os bolos com creme, e o Gato Pochato, que tinha o condão de ficar invisível - embora se soubesse onde ele estava, porque trazia uma pochete que não partilhava da sua invisibilidade - e o Califa Algusto, que não tinha medo senão de uma coisa. Da Ministra-rainha.
Nesse momento ouviu-se, lá fora, um berreiro alarmante.
- Cortem-lhes a cabeça! A todos! São professores? Têm cara de professor? Cortem-lhes a cabeça!!!
Era, vejam lá, nem mais nem menos do que a Ministra-rainha.

(CONTINUA)

2 comentários:

PLANETAZUL disse...

Está óptimo Alicinha!...
Só não gostei das molas nas patas (pelo menos patinhas, vamos lá!).

Abelha Maia disse...

ai!eu adorei a sugestão das riscas verticais para ficar mais esbelta!(então porque é k não ficas)assim já não preciso fazer a dieta das garrafas de água com líquidos amarelos duvidosos...