30 março 2006

DRA. RUTH FAZ SERVIÇO PÚBLICO

Leitoras:

Considero esta tarefa a que hoje meto ombros um verdadeiro serviço público, a pensar em todas as mulheres, sejam elas alunas, professoras ou psicólogas (de repente, não me lembro de mais profissões...), chamem-se Sophia, Mandylion, Thrombone, Maia, Elástica, Lara, Lua, Lula ou Patareca, tenham que idade ou que interesses tiverem. Trata-se da tarefa de explicar o que é um homem. Não é nada do outro mundo: um homem é um bicho relativamente simples, mesmo que tenha estimulado o cérebro com umas quantas chávenas de café. Mas torna-se ainda mais simples se o compartimentarmos, ou seja, se expusermos, em jeito de dicionário, os «tipos» ou os «modelos» de homem que existem.
Vamos a isso?

POCHATO - É o género de homem que só se preocupa com o físico e com a beleza, embora, por falsa modéstia, finja que até se ofende quando lhe falam de beleza. Mas vai-se a ver, e percebe-se que passa horas no ginásio, remando, bicicletando, abdominando, flectindo, dando pequenas corridas em círculo, com uma camisola interior, uns calções, uma fita de pano turco na cabeça, uma garrafa de água numa mão, uma mariconera na outra. A mariconera, aliás, é mais uma prova da inegável vaidade deste homem completamente voltado para o corpo, para o exercício físico e para o vestuário.

PLANETAZUL - Culto, poético, talentoso, teria de ser, por força, uma alma de lágrima fácil, que se comove por tudo e por nada, e que a mínima palavra grosseira arrasa por completo. Pertence a este tipo de homem o nosso querido Jorge Sampaio, ex-Presidente da República, que, num ou noutro momento, por um ou por outro motivo, todos já vimos chorar. Mas se este género de homem é de uma doçura e de uma sofisticação a que nenhuma mulher resiste, não o queiram ver realmente zangado. Afastem-se! É tipo para sacar do seu Descartes e toma!, que aí vai disto...

GREENLIGHT - O típico fulano que se recusa a crescer, o eterno adolescente, a moderna versão de Peter Pan que, mesmo grisalho, cheio de reumatismo e artrite no joelho, continua a acreditar que uns collants e uma capa verdes fazem dele um verdadeiro super-herói. É um marido complicado, que escapa às responsabilidades e tem pouca utilidade em casa. Em contrapartida, pode ser um excelente pai, sobretudo enquanto as crianças são muito pequenas. Mais crescidas, começam a achar pouca piada que lhes dispute os brinquedos ou que as embarace no supermercado, passando a voar, sobre um carrinho de compras, com a capa no ar. Aos catorze anos, os filhos principiam a tentar admoestar este género de pai: «Agora não, pai, tá toda a gente a olhar para ti», ou «Ao McDonald outra vez, pai? Não podíamos hoje ir a um restaurante a sério?» - ao que ele responde: «Tás maluco? E o brinde? Hoje sai o Action Man...»

GUERRA - Este tipo representa o irredutível sedutor. Acredita que, como o vinho do Porto, os homens melhoram com a idade: agarrado a esta mentira, oferece conselhos a quem passa, fornece tácticas a quem se cruze com ele, conta, a quem o queira ouvir, histórias inacreditáveis dos seus áureos anos e narra fantasias ainda mais inverosímeis acerca do presente. É um pegador de caras, cuja voz atroa os ares, como tiros de canhão, e que nunca passa despercebido. Como uma grafonola, está sempre em «on» e com o volume no máximo.

FANTASMADAOPERA - É o falso brutamontes, o falso neanderthal. Se à primeira vista causa um arrepio de pavor pelos seus modos desabridos e contundentes, cedo passa de urso das cavernas a ursinho de peluche, ansioso para que reparem na sua tristeza, nas suas retiradas, e lhe passem a mão carinhosamente pelo pêlo. É capaz de dar a camisa a um companheiro. Bem. Desde que não seja a camisa do Benfica que usa nos grandes acontecimentos. Essa, tá quieto: nem que o companheiro estivesse nu e a morrer de frio...

Isto é um esboço ainda primitivo, e reconheço que me faltam aqui dois ou três modelos essenciais. (O «Chefe», o «Menino de sua mãe», etc.) Mas falar de homens é uma coisa que acaba por me cansar. Se me apetecer, voltarei à carga noutro dia. Entretanto, já sabem: desejo que as vossas próprias experiências possam iluminar as minhas investigações. Agradeço que contribuam.

Até lá,

sempre desejosa de ajudar,

Ruth

1 comentário:

PLANETAZUL disse...

Obrigado Dra Ruth pelas palavras simpáticas, a senhora descobriu realmente o meu ponto fraco (gostar muito de Descartes).
Tenho os olhos mareados de água e agora mesmo duas lágrimas cairam no teclado (uma na tecla S e outra na tecla I).
Terei de usar óculos, terei de mudar de protector de ecrã ou serei um coração romântico?