20 março 2006

PARA UMA NOVA VISÃO DAS COISAS, PÁ!: POR ZÉ ABREU

Eh lá! Hã? Eu penso que o bló de uma escola deveria ser representativo de todos os sectores culturais dessa mesma escola. Um gajo devia poder ir ao bló e reconhecer-se em alguma coisa, hã?, sentir que algum dos textos era feito por alguém como ele para alguém como ele. Ora não me parece que esteja a acontecer isso. A tendência é, cada vez mais, para um estreitamento cultural. Como se só uma elite de pessoas a armar ao fino e ao intelectual é que ali tivesse voz. Homessa! Por um lado é a dona trombone, com os seus chiques e os seus chiliques, que não diz quem é e ainda bem para ela, porque senão já lhe tinham ido com certeza à trombeta: sei que centenas de mulheres a odeiam. Homens, também, alguns. Ah, sim, é cá um pressentimento que tenho, chamem-lhe intuição masculina: é que eles mo disseram!!! Claro, como os homens são mais pacatos, entre eles não há assim muitos, muitos, muitos a odiá-la; não devem chegar a uns dez, isto é, são só todos os professores da eslav.
Por outro lado, é a lula espanhola, finíssima, que, pelo que escreve, parece que passa a vida no cinema. Mestre Visconde para aqui, não sei quem para ali. (E, já agora, «mestre» porquê, ó planeta? O homem também era cozinheiro?) Aliás, deixem-me dizer-vos que fui atrás do conselho da senhora e paguei um balúrdio para ir ver O LEOPARDO, e só vos digo: que grande barrete! Eu que estava à espera de um filme de caça - gosto muito de caça e de pesca! - e nada, nem um leopardo para amostra, só uns salões, e umas danças, e um tipo de bigodes com uma mulher histérica... uf!!! Quem vê daquilo? Hã? Deve ser mesmo para armar, como a tal de missilástica que também veio gabar imenso um filme chamado virimanha, ou lá o que é, embora a seguir confessasse que não conseguiu perceber patavina porque estavam a comer pipocas na cadeira ao lado. (Quer dizer, o filme era tão interessante, tão interessante, tão interessante, que até o espectáculo de uns namorados a comer pipocas teve mais sucesso...).
Devem pensar que são umas rainhas, está visto. Ora rei sou eu e não me ando para aí a gabar. E é que sou. Tenho uma rulotezinha, quando há jogo de futebol estaciono-a diante do estádio ou, noutras alturas, à noite, à entrada da marginal, e vendo ali umas bifanas que são de chorar por mais. Todos me conhecem pelo «REI DAS BIFANAS» - e ando por aí a armar ao pingarelho? Não ando.
Ora, para as pessoas como eu, com o meu gosto, com as minhas preferências, também venho hoje dar uns conselhos e falar de umas coisas.
Em primeiro lugar, no que toca à música. Eu não sou cá de kuduros nem de hip-hops. Isso irrita-me e gasta-me os ouvidos. Prontos! O meu género é mais o clássico. (Pensavam que era algum labrego, não? Já vos disse, sou um rei...). E dentro do clássico, recomendo-vos um cd que nunca me canso de ouvir, e que é um verdadeiro clássico português: o fado «Emigrante, Vem Devagar», que alerta para os cuidados que os nossos bons emigrantes, que andam a fazer pela vida lá fora, devem ter quando regressam ao seu cantinho, durante as férias. Nada de pressas, as estradas são más, os acidentes ocorrem. Fala-se ali de famílias inteiras enlatadas por causa da pressa de chegar. Nunca oiço esse fado sem ficar com os olhos cheios de água.
Outro conselho. Já que vimos que não vale a pena ir ao cinema - a não ser para comer pipocas - por que é que não pega na família e não vai jantar ao restaurante do meu tio Matias, «O TAGARELA»? Ambiente sportinguista, leões empalhados por todo o lado...! O meu tio é fino, não é uma paula trombone mas tem guita, e para o mostrar até faz questão de servir à mesa enquanto fala ao telemóvel - último modelo. Ali toda a gente pode fumar à vontade (parece a escola). A única vez que me lembro de alguém ter sido posto fora foi por estar a gritar que não amandassem fumo para cima da avó fraca dos pulmões...
E uma coisa: se forem, hão-de querer, com certeza, dizer ao tio que vão da parte de alguém. Acho muito bem. Nós, na família, somos todos muito unidos e o nosso lema é «Amigo do nosso amigo nosso amigo é». Digam, pois, que vão da parte de quem quiserem - menos da minha, porque eu devo uns aéreos ao tio e ele, à conta dos amigos dos amigos serem seus amigos, é pessoa para acrescentar a minha dívida à vossa conta.
E prontos! Por agora vou. Mas não se esqueçam: há cultura e cultura.

7 comentários:

Anónimo disse...

De acordo, gostei mesmo e até acho que fazia cá falta este elevado intelecto, porque há cultura e coltura; há mar e mar, há ir e voltar... mas, ó Zé Abreu diz lá onde se compra esse faducho de fazer chorara as pedrinhas da calçada?!?! Parece-me um excelente presente para alguns anti-heróis!
Já agora, também te digo que adorei essa da Lula Espanhola!!! É mesmo o que está a pedir...Just great! Genial!!!

Anónimo disse...

Deixa-me acrescentar ainda que essas pindéricas que andam aí de volta do Visconti e de outros contabilistas da corda, fariam melhor se ficassem em casa a coser meias... Não te parece?
Que perda de tempo e de energia!!... Com tantas novelas mexicanas que há na TV e...

Anónimo disse...

Realmente quem fala assim do Leopardo de Visconti não percebe mesmo nada de História...nem quer perceber...que tristeza de comentários!!
São mesmo tão intelectuais que querem parecer o contrário...
ora abóbora!!!

Gil Duarte disse...

Mas uma pessoa tão culta devia, pelo menos, exprimir-se mais claramente: afinal o que criticas? Que os intelectuais sejam ignorantes («Quem fala assim não percebe nada, etc. etc.»)? Que os ignorantes sejam intelectuais? Ou que ousem usar uma ironia que te escapa? O quê, afinal? Que pobreza de comentários sobre comentários...

Anónimo disse...

Oh sindroma, não te melindres! Tenho para mim que a ironia é uma manifestação superior da inteligência, logo não está ao alcance de todos ...

Gil Duarte disse...

Como diria o outro: eu nunca me melindro. Em mim, os melindres são outras tantas ironias...

Anónimo disse...

LINDO! isto todos os dias fica melhor... :)