16 abril 2006

O CÓDIGO DÁ VINTES - CAPÍTULO DOIS: O DESCODIFICADOR

Sobre os acontecimentos imediatamente subsequentes é, ainda, muito cedo para se acrescentar algo ao seguinte resumo:
Alertado pelo telefonema do senhor Grená, o Doutor Omar Mota dirigiu-se rapidamente ao palácio dos Aciprestes; entrou - e, pelos vistos, terá sido surpreendido por alguém ou por alguma coisa, no momento em que chamava pelo guarda, gritando assim: «Grenááá! Hu-huuu! Onde estás? Aparece onde quer que estejas...»
Mas, antes que o pudessem matar - porque, é verdade, lamento ter de vo-lo dizer, o Doutor Omar Mota foi assassinado -, teve tempo (é estranho, não é?) de escrever enigmáticas palavras no chão com um pau de giz e de encenar com o seu corpo, tombado no chão de forma estranhíssima, e com vários objectos, uma mensagem codificada. Também havia, no seu bolso, uma folha garatujada.
Para concluirmos este resumo, acrescente-se que o quadro do professor Mário tinha desaparecido.
E que, coitado, o guarda, Jorge Grená, que não morrera mas estava com muito sono e «alegava» não se lembrar de nada, se tornou imediatamente o principal suspeito.

Posto este resumo, avancemos.

A polícia foi, às cinco da manhã, a casa de Alelelex, conhecido por saber muito pouco acerca de computadores - estragava todos aqueles em que punha a mão - mas, em contrapartida, ser um eminente perito em códigos.
Ele próprio se dedicara à invenção de códigos que, ainda hoje, ninguém coonseguiu quebrar. Por exemplo, tentem interpretar a seguinte frase codificada, que Alelelex repetia constantemente: «O Ben-ben-ben-fi-fi-fi-ca é o me-me-me-lhor!». Não é só da confusa repetição de sons que vive este código, não. É também de inexplicáveis contradições - quem sabe o que é o «Benfica» e conhece o significado da palavra «melhor» percebe facilmente que uma frase destas é muito enganadora, e interpretá-la daria água pela barba ao mais afoito.

Quando o Agente Talhinhas (um senhor baixinho e míope, que se reformara de professor há cerca de oitenta anos e se dedicara, entretanto, à investigação policial, aparentemente com bastante sucesso) chegou a casa de Alelelex para pedir a sua contribuição, estava este, precisamente, a ensaiar um novo tipo de código, a que chamava zapping.
Pegava no controle remoto e ia mudando velozmente de canal. Em cada canal, fixava uma ou duas palavras antes de passar ao seguinte, procurando construir, com as diversas palavras, uma mensagem que fizesse sentido.
- Es-es-es-tá a per-per-ce-ber o sis-sis-tema?
E mostrava-lhe uma folha onde anotara as palavras registadas ao longo do zapping:
«Bacalhau demolhado Riberalves Preservativos veio ao sítio certo Purpurinas vou já telefonar à Bé Morangos com Açúcar»
- E o que significa a mensagem? - perguntou-lhe o Agente Talhinhas.
- Bem, nã-não se-se-sei. Se ca-ca-ca-lhar na-na-na-da, mas é gi-gi-gi-ro...
À porta da casa de Alelelex, um polícia que ficara de guarda suspirou, como se dissesse: «Isto promete!»
- Precisamos que venha connosco. O Doutor Omar Mota foi assassinado, mas tentou comunicar connosco.
- Es-pi-ri-ri-tis-tis-mo nã-não é co-co-co-mi-mi-go!
- Não. Tentou comunicar ANTES de ter sido assassinado. Deixou uma mensagem. Em código.
Lá fora, ao frio, o polícia tornou a suspirar.

CONTINUA

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